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Onde está Osama Bin Laden?
Estará no fundo do mar, enrolado numa túnica branca?
Estará no paraíso dos fundamentalistas de Alá, rodeado pelas setenta e uma virgens prometidas aos mártires muçulmanos, e beijando os anéis do profeta Maomé?
Onde estará Osama Bin Laden, esse homem nascido em berço de ouro e de pés feitos de ódio, poeira e fuga?
Ele, que estava em tantos lugares e estava em lugar nenhum.
Que não estava em cavernas seculares.
Que não estava nas nuvens.
Que não estava em um oásis ou na bagagem de um jipe.
Que estava num lugar onde não estava.
Ele, que jamais esteve ou estará.
Ele e seu ódio escancarado ao mundo ocidental e sua sede de matança.
Ele e sua barba comprida, suas sandálias de beduíno, seus cabelos feitos de vento, areia e dunas de sangue do seu deserto.
Ele.
Onipresença diabólica, um dogma, um pecado, um haram.
Ele, um cidadão árabe. Uma vingança. Uma causa.
O árabe mais conhecido do mundo. E nem por isto, popular.
Odiado por tantos, amado por quantos?
Onde ele está?
Posso afirmar que Osama Bin Laden está no coração de um homem-bomba, meus senhores.
Ele está dentro da burca de uma afegã, minhas senhoras.
Está na alma e na ferrugem dos precários jihadistas da Al Qaeda.
E na perigosa cintura da odalisca dançando a dança-do-ventre.
Ele está na tristeza dos camelos que vagueiam pelo Saara, nas montanhas paquistanesas e nas tempestades desavisadas.
Está no doce traiçoeiro das tâmaras e nas palmeiras de um oásis fincado numa miragem.
Onde estará Bin Laden?
Estará no fundo do mar, lavado, enrolado numa túnica branca?
Estará na cama de Barack e Michelle Obama?
Estará na minha cama? E na sua?
No luto das viúvas do Marco Zero?
Tudo isto dito, posso dizer que sei onde ele está.
Osama Bin Laden reside no nosso medo e habita nossos pesadelos.
Ele balança a nossa confiança, sentimento esmagado entre os debris das Torres Gêmeas.
Dá expediente, sete dias por semana, no nosso rachado sentimento de indestrutibilidade e nos desejos mais reprimidos.
Está no nosso pensamento todas as vezes que entramos num avião e ficamos olhando sobre os ombros, tentando adivinhar os demais passageiros.
Está no meu olhar confuso, todas as vezes que olho para o sul da ilha de Manhattan e vejo - onde existiu um dia os dois prédios mais altos do mundo - uma boca banguela.
Como repor esses dentes? Como recuperar o sorriso e o sorrir.
Osama Bin Laden está no inferno, meus amigos.
E o inferno também é aqui, bem dentro de mim, bem dentro de todos que se descuidam de si, dos outros e de tudo o mais.
A Música Que Toca Sem Parar:
Dele e de João Donato, A Paz, na interpretação de Gilberto Gil.
56 comments:
Praticamente um poema. Excelente!
Beijo.
praticamente uma cronica...rs
é tão bom te ver voltando a este cantinho, sobrinha favorita em brasília. rs
beijao,
r.
Caraco, Bob.
Texto espetacular.
Pertinho da perfeição.
Voltaste em grande estilo ao comentar sobre esse emblema chamado Osama Bin Laden.
Parabéns e bem-vindo de volta.
você, PJ, dos amigos mais doces.
eu não conseguiria ficar tanto tempo longe de amigos como você.
sim, acho que voltei.
me sinto menos farsa, hoje, do que um mês atrás.
abraço garantido do
r.
...e onde estava Roberto? Voltou em sua melhor forma, escrevendo melhor do que nunca, que você nasceu cronista e dos bons!
Muito bom, Roberto!
Quem sabe sua volta me d~e ânimo para também voltar...
Beijo,
Olá amigo!
Não sei onde Osama está, mas sei onde está meu amigo de tantas boas palavras...está de volta ao seu blog!
Que bons ventos o tragam...e sem o Osama!
Abraços
Lhú Weiss
Obs: Sua interpretação na crônica, diz bem o que todos pensam no mmomento!
pra mim também é como um poema, não entrega as respostas, só dá pistas do paradeiro de sentimentos ambíguos... excelente!
beijos
Meu querido, linda como sempre! Sou tua fãzona, sabes disso!!
marcie, eu é que sou seu fã. fico muito feliz quando um escrito meu é do seu agrado. conheço o seu crivo.
abraçao,
r.
essa ambiguidade é da própria vida, mê.
fico feliz que tenha gostado.
abração do
r.
lhu,
esta volta minha é uma tentativa, uma renovaçao de compromisso com a crônica.
não é fácil, amiga. principalmente quando se é limitado, mero arbusto.
rastejar é doloroso.
abração do
r.
ah, taninha,
tenho certeza de que você nem saiu de cena, pra voltar.
seu lugar é cativo. na prateleira de cima.
beijão do
r.
↓
Grande PESSOA, Roberto!
"Ele está dentro de mim!"
Se ELE n.Os ama está Bin no Laden esquerdo de nosso peito...
:o)
"Bode Parak Ob!bama"
SERÁ!?
é buraco é mais em cima, amigo tonho.
bem mais em cima.
abração do
roberto.
Que bom que o cronista voltou.
Você é dos melhores!
Excelente texto.
Dá um medo...
bj
rossana
o homem não é senhor dos seus medos, rossana.
a poesia é bálsamo.
abração do
r.
bravo beto
voltou poemando
e bonito
boca banguela,
não tema seu sorriso!
sejamos felizes
e pronto
abs, irmão
marquinho,
o homem que nào tem medo, é um fraco...rs
beijão do
roberto.
Grande Roberto, ali bem na esquina mora o perigo... relativo de acordo com os nossos barulhos... a sua sensibilidade, a sua genialidade poetica retratam com fidelidade este momento...Contnue retratando o mundo...
meu querido guru...
quando você fala, fico quieto.
escuto e aprendo, desde o começo das coisas.
beijão do
r.
Belíssimo texto! Parabéns!
Beijos!
você é muito gentil, lou.
aceito com carinho o elogio.
obrigado!
Tua crônica, Roberto, transborda sentimento & opinião.
O dom de escrever tens, indiscutilvelmente, bem como o de ter uma posição sincera sobre os fatos.
No entanto, a minha é um pouco diferente das demais.
Sou espiritualista, Roberto.
Bin Laden, morto ao natural ou sendo alvejado, tinha como destino o umbral, onde iria pedecer anos ou séculos em meio ao que de pior a mente humana pensou. Provavelmente com todos os mortos do WTC a lhe obsidiar dia e noite.
No entanto, vejo o caso como uma execução. Os EUA tiveram muita pressa em exibir a cabeça, como diz aquela música de Raul Seixas e Paulo Coelho chamada Al Capone.
O que as leis internacionais preconizam é a prisão e o julgamento. Fora disso é um passo para a barbárie.
Gosto de tua escrita e de ti como pessoa, apenas não poderia deixar de dar minha opinião. Dissonante como a música que gosto de ouvir...
Abs.
Ricardo Mainieri
ricardo,
respeito muitíssimo a sua opiniào. Idiossincrasia é um trem bão demais. e ser tolerante, como somos, é saudável. é muito mais que bom.
tudo (absolutamente tudo) se discute. até prefeência por time de futebol.
a fumaça e a poeira das torres ainda moram em meus pulmões.. vi de perto. não vi pela tv, por mais surreal e filme que me parecesse ser naquele momento. ficaram sequelas que nem pink floyd poderia me ajudar. cortou fundo demais.
se observar, na crônica, verá um sujeito dividido. sei o que vi e vivi. e o que continuarei vivendo.
sua amizade é uma das coisas boas que tenho.
abraçao do
roberto.
Osama, morto - se é que de fato viveu -, ressuscita dentro de cada um dos que o criaram: todos nós -- os que por covardia não assumimos os nossos medos e o transformamos em terror ou os que por sordidez nos alimentamos do medo alheio multiplicando o terror.
abraço
Está tudo tão dito, meu querido Roberto que dizer mais, por certo soaria de menos.
Você, com a sua imensa sensibilidade, além de um puta talento para a escrita, leu a alma de cada um de nós.
Penso e sinto assim. Aliás, pensamos e sentimos assim.
Grande beijo,
I.
inês,
as convergências aproximam as pessoas. assim se fazem os amigos.
e os amigos costumam ser generosos, brandos, lenientes... rs
os amigos possuem esse incrivel dom de nos alegrar o coraçao com palavras doces, com carinho.
é assim que sinto.
abração do
roberto.
wilden,
o medo é uma das piores invenções do homem.
qualquer di destes escrevo um tratado sobre o tema.
abração do
roberto.
O inferno, meu amigo, são os outros e somos nós mesmos.
Bonito inventário, meio prosa, meio poesia...
Beijo de fã.
maria paula,
quando descobri rubem braga achava que era aquilo ali (e era, e é) o caminho das pedras para um tipo de cronica maior, mais "elevada".
a poesia tem que estar no romance. no conto. na crônica. e na propria poesia. (muita gente faz poesia sem sequer saber o que ela é)
digo mais: mesmo se for um texto de humor, tem que receber nem que seja uma pitadinha, senao nao fica do tamanho que pode ficar.
juro que tento colocar uns dois punhados de poesia em quase tudo o que escrevo.
(e, se nao consigo é por deficiencias naturais, por carencias e falta de lastro... e tao somente por isto... por ausencia de talento... coisas assim)
eu tento, minha amiga querida.
eu tento.
beijo grande,
roberto.
Não o conheço, vim aqui a convite de uma amiga, e devo concordar com ela: "Belíssimo texto!". você expressou com maestria e sutileza sentimentos indizíveis. Abraços de nosso Goiás e serei sua seguidora, meu caro poeta (ou devo dizer "cronista"?) mineiro.
hosamis,
mineiro, sim.
aprendiz de cronista. poeta, não? pa ser poeta tem que fazer poesia. e isto é assunto de gente grande. gente maior.
sua presença aqui, muito me honra. faça uso e gáudio dessa casa.
ela é sua também.
abraço grande do
roberto.
Nossa! Dois punhados de poesia nesse texto? Muito mais! Salvo se forem os punhos de um gigante.
Abração, Roberto.
marcantonio,
to tentando voltar à blogagem.
aos punhadinhos, mesmo. e é muito gostoso, logo na primeira postagem, encontrar uma mensagem sua.
sua presença me traz alegria. aos montões. aos baldes.
abraço meu,
r.
bem vindo de volta zé güela!
seus fãs (rs) aqui estavam ávidos pelo seu retorno...
comentei essa crônica lá na tertúlia!
beijão!
orêia seca,
será que voltei?
difícil, mesmo, vai ser paria a próxima.
e a próxima após a próxima.
beijo grande do seu fã, o
roberto.
É isso aí Érre... lindo texto...
E o inferno é isso mesmo... mora dentro de cada um de nós, no momento que deixamos de cuidar de nós mesmos, dos outros e do mundo. E quando digo cuidar, é cuidar mesmo, com carinho...
Uma vez alimentado, esse inferno cresce, e passa a governar com pulso de ditador. Seus governantes? Há quem os conheça como capetas, cramunhões, demos, coisa ruim... Seus nomes de batismo, na realidade são: medo, intolerância e ambição.
Bj
Diubs
diubs,
tenho visto a discussao no FB e participado dela. é incrivel a dondade de muitos dos nossos com uma cara que tinha ódio pela humanidade.
é fácil ver da poltrona, pela tv.
é tao fácil?
é diferente ver uma ferida aberta, de se ter uma ferida.
pimenta no olho alheio, eterno refresco.
beijão, manucha.
r.
Fui contemplado com a leitura do seu texto (indicação de Lou Aubergaria - Facebook).
Fiquei muito feliz em poder ler algo sobre culturas de maneira imparcial, apesar do cunho fatídico do contexto.
Um abraço.
Osama realmente está no inferno, entre todos nós.
Ao ler o seu texto me senti contemplado, pois apesar do cunho fatídico do contexto, pude ver culturas distintas tratadas de maneira imparcial. Tudo isso independente do peso religioso ou midiático de cada concepção.
Osama está realmente no inferno, junto com todos nós.
Um abraço.
jairo,
fico feliz que tenha vindo ao primeira pessoa e curtido o texto.
esta casa é sua. sinta-se bem aqui.
o contemplado, permita-me, sou eu.
grato pela presença e pelo comentário carinhoso.
abração do
roberto.
Saudações, Roberto,
Belo retorno com o poema de Nuno, as músicas que tocam sem parar e esta crônica tão cheia de sentimentos de alguém que viveu um fato tão marcante.
Parabéns!
Abração
Roberto!
Voltastes com TUDO!
Vamos, diga-me...ele está aí? Escondestes o BIN? Eu gostava dele. Ele era produto de consumo americano.
Se quiser, manda pra cá que pelo para esconderem ele.
Beijos, mano!
Mirze
voce ja tem o fernandinho beira-mar, mirze... tem o sarney, o maluf... e tantas duplas sertanejas pra cuidar....
deixa o bin laden arder no inferno. é lá o habitat natural do demo.
beijo grande.
seu carinho é sempre um bálsamo.
r.
vais,
melhor ainda é descobrir que meus amigos continuam por aqui, firmes.
meu porto seguro.
abraço grande do
roberto.
Beto,
Os debris das Torres Gêmeas...
Tua escrita é bem alta, poeta. Do tamãe delas...
E não há Osama - que não amava ninguém - Bin Laden que possa destruir as palavras que um poeta da crônica planta no coração do mundo, no pulmão das pessoas...
Respiro melhor sempre que venho aqui... que fundo! como diria Dru-mundo...
Abraço de quem te admira e ama muito,
Dellarrama.
da rama?
to em falta com voce. fruto do meu momento, que ta se acertando. to achando o fio da minha meada e acharei, certamente, o caminho de volta aos que me querem bem..
qualquer dia acho o caminho de volta a você, meu amigo querido.
abre mão de mim, não.
ta bem?
abração,
r.
Olá, Roberto, bom ver vc de volta com um texto lúcido. Bin Laden realmente vive nos descuidos, nas sombras, na ferida exposta da vingança, da crueldade. Pena que ele será lembrado, pra sempre, e pena também que terá seguidores...porque assim caminha a humanidade.
Um grande abraço, meu amigo.
campanella,
algumas pessoas encontram formas extremas na busca da imortalidade.
abraço recebido e retribuído, na intensidade bonita de nossa amizade.
o bem querer também é eterno, sabia?
evoé!
r.
Fantástico texto,Roberto.Assim mesmo.Nem mais.Parabéns.
Obrigada pela visita e pelo elogio aos filhotes.
Um abraço,bom domingo,boa semana.
imagina, linda... é um prazer e uma honra. e, sim, seus filhotes são lindos.
to tentando voltar ao blog, moça. a ver vamos.
abração do
r.
Felizmente retornou meu genro e abordando o afundamento da uma alma má.
Com certeza os habitantes do fundo do mar não se consideram agraciados com o alimento que lhes foi ofertado.
Há de ser recusado por impuro e restará ignorado, desfazendo-se pelas bacterias que o proprio corpo produz para que nada reste da maldade e das infamias que praticou bin laden enquanto se escondia da dignidade.
Grande abraço do ataliba
Caro Roberto,
Fico feliz por tua companhia lá no rejaneando. Que texto lindo tu tens!
Além dos conhecidos, gosto por futebol e pão com linguiça, ao que parece, temos mais coisas em comum. :)
Bom dia por aí, estarei por aqui te acompanhando, é certo.
por alguma falha cósmica só tive contato com vosso texto, ora posto, nesta segunda-feira cinzenta de maio. de uma coisa tenho certeza, Osama não foi visto na feira de livre de Santana passeando sua barba de profeta e senhor dos anéis, alguns rumores falam numa pescaria de bomba no rio Jacuípe, mas os peixes me confiaram em segredo que nada houvera, eram apenas artifícios ou fogos.
grande abraço
assis,
dizem que foi visto lá pelas bandas do jardim de alá.
mas essa notícia também não confirmada.
não ainda.
abraço tardio do
roberto.
rejane,
esse é o grande barato da partilha, visita de compadres e comadres, cafezinho e quitutes feitos de palavras.
abraço do
roberto.
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