Wednesday, November 28, 2012

e la nave va

























caminhei alguns calvários
tive tristeza alegria
desafios desenganos
porém nada permanente
quando a vida vira a página
quando amanhece de novo
o que deve ser será
vive-se

um olhar
um outro canto
o choro outras palavras
eu deixo a porta sem trava
se um amor quiser partir
outro por certo virá
é a vida seu compasso
a medida do possível

eu sorvo cada momento
eu bebo cada gotinha
eu choro rio padeço
repenso minhas fraquezas
aliso as marcas do tempo
deixo a vida dar os passos
voe ou rasteje
prossigo

sofres eu sofro junto
alegro-me quando te alegras
sou aquela caravela
que em plena calmaria
encontrou um outro rumo

se a bonança acabar
voltarem o vento a chuva
um dia chega o estio
:
haverá amanhãs

 

(líria porto)

 

 


Monday, November 26, 2012

Voar é com os pássaros



Onde eu vivi os primeiros anos chamavam de campo de aviação aquilo que o mundo já chamava de aeroporto.
Para o sãoraimundense todo avião era a jato.
Em São Raimundo - no meio das minhas precariedades - havia a certeza de que eu jamais entraria em um avião.
Primeiro, porque voar era com os pássaros.
Segundo, porque a grana era curta.
Minha mãe gosta de relembrar que eu, filho único, gritava para o céu sempre que os teco-tecos sobrevoam a cidade:
- Ô avião, joga um irmãozinho pra mim.
Antônio Carlos nasceu quando eu tinha seis anos e não veio pela Varig.
Varig, Vasp e Transbrasil: alguém se lembra delas?
Em 1984 apenas três companhias aéreas operavam no eixo Rio/São Paulo-Nova York.
Varig, Aerolineas Argentinas e Panam.
Hoje são muitas, mas a concorrência ao invés de estimular uma melhoria nos serviços de bordo e a qualidade da experiência do voo, teve um efeito inverso.
Mudou tudo.
Fundem-se e fornicam-se – nos fornicando junto - o tempo todo.
Recentemente, a Lan Chile comprou a Tam e o seu jeito Tam de voar.
No céu “doméstico”, a Gol comprou a Webjet.
Gol, no meu tempo, era outra coisa.
Aposto que o cara que fundou a Gol - dono dos ônibus da Itapemirim - nem jogava futebol.
À medida que viajar de avião foi ficando mais acessível ao cidadão comum, foram banalizando a coisa.
Acabaram-se os lanchinhos e a cervejota por conta da casa. Agora, abundam os saquinhos de amendoim e os biscoitinhos de água e sal.
Cobram pela bebida, por todo e qualquer excesso de bagagem e diminuíram o tamanho dos assentos, que é para caber mais gente.
Recordo-me que no primeiro voo encantei-me com o sorriso da aeromoça.
Impressionou-me também a maneira cordial com que me apresentaram o menu do jantar, uma opção honesta de carne, peixe ou pasta.
Hoje, as aeromoças e "aeromoços" mais se parecem funcionários de repartição pública.
Em sua grande maioria antipática, as tripulações introduzem o jantar oferecendo duas opções: vai ou não vai?
E com talheres de plástico, rescaldo do excesso de cuidados pós- atentados de 11 de Setembro.
Nos bons velhos tempos, recebia-se uma charmosa embalagem contendo miniaturas de produtos de higiene de primeiríssima necessidade.
Hoje, o que oferecem é quase nada e ainda existem algumas companhias com o descaramento de cobrar pela utilização de um fone de ouvido previamente usado, e de assepsia duvidosa.
Em uma viagem mais recente recebi da aeromoça uma embalagem contendo um "plug" de ouvido e uma máscara de poliéster.
Deve ser para não ver nada. Não ouvir nada.
Eu, que definitivamente não gosto de voar, já dei pequenos vexames, como o de segurar a mão de um passageiro no momento de uma aterrisagem mais trepidante.
Nunca penso coisa boa, confesso:
Como posso me sentir confortável num objeto mais pesado que o ar e, ainda por cima, inventado por um mineiro?
Mas fico bastante religioso sempre que vou viajar.
Rezo, beijo a medalhinha de São Judas Tadeu e, só para “garantir”, bebo uns três uisquinhos antes.
Recentemente, uma senhora se apiedou de minha agonia durante uma turbulência e me consolou:
- Já está pertinho de São Paulo -, disse ela.
Ao que respondi:
- Não é a distância daqui até São Paulo, o que me trucida. O que me preocupa é a distância daqui até o chão.
Ela não achou graça. E começou a roer as unhas junto comigo.
Tenho notícias de muitas estórias engraçadas envolvendo brasileiros de origem humilde em sua primeira aventura aérea.
Uma delas foi protagonizada por um dos membros de uma Banda de Pífanos de Pernambuco, que vinha a Nova York para uma apresentação no Central Park, num evento produzido por uma destas Ongs modernetes.
Desacostumado a voar e aparentemente alérgico a comida de avião, um dos pifeiros passaria boa parte da viagem no banheiro.
Logo em sua primeira incursão ao toalete ele protagonizou uma cena insólita, duas horas após a decolagem, mal acabaram de servir o jantar.
Fez o que tinha que fazer e, ainda grudado ao vaso sanitário, apertou o botão de descarga de água.
Foi-lhe assustador.
A novidade do barulho e força da sucção, fez com que Severino saísse aos berros pelo corredor da aeronave, as calças pela altura dos joelhos, em visível agonia.
Apavorado e suando frio, avisou à aeromoça, ainda correndo e se recompondo, que “a privada estava avariada e que tinha acabado de lhe roubar um bago".






Tuesday, November 20, 2012

Um pombo sem asas

 
 
No que pensa o goleiro Bruno, neste momento em que ele está sentado na cadeira do fórum de Contagem-MG?
Vejo-o daqui, enfiado em seu uniforme penitenciário vermelho-sangue, e ele se lembra de que também são encarnadas as listras horizontais da camisa do Flamengo, seu último patrão.
Bruno olha para os olhos da juíza e repara na túnica preta do promotor que o acusa.
 
- Onde está Elisa? - pergunta o magistrado.
 
Bruno maneia a cabeça, olha para a janela da rua e vê - no canto mais alto - uma nuvem ligeira e livre, que se desloca para outra direção.
Os olhos de Bruno já não estão ali, e ele pensa nas ruas de casebres tristes de Ribeirão das Neves, cidade em que sua infância se arrastou em casa de parentes.
Pensa na filha que teve com a esposa Dayanne.
E no filho que teve Elisa Samúdio, esta que lhe acusam de ter assassinado e servido como almoço a cães.
Nos olhos de Bruno, menino e menina brincam num canto imaculado e puro de sua memória.
E Bruno pensa numa bola de meia.
Numa bola de plástico.
Pensa nos campinhos de terra batida de Ribeirão das Neves, única rota de libertação possível entre a miséria e a glória.
Bruno pensa no pai que não conheceu.
Pensa na mãe biológica, esta que veria pela primeira vez - já adulto e famoso - num programa de tv, num daqueles quadros do tipo "Arquivo Confidencial", de Fausto Silva.
 
O promotor repete a pergunta, mas Bruno parece escutar outra coisa.
Ele escuta o seu nome gritado pela torcida do Atlético, clube que o revelou.
- Brunoooooooooooo! - Brunoooooooooooo! - Brunoooooooooooo!
Mil milhão de vezes, Brunoooooooooooo!
Grito que vai ficando cada vez mais alto dentro de sua cabeça e que agora sai da boca do bando de loucos corintianos, para quem também jogou.
Mas é na voz dos flamenguistas - onde conheceria céu e inferno - que este seu nome gritado foi ficando ensurdecedor:
- Ô-ô-ô, Bruno, seleção!
- Ô-ô-ô, Bruno, seleção!
 
O advogado de acusação desloca-se na frente de Bruno, mas este já não o vê.
Diante dos olhos de Bruno chovem os confetes e serpentinas dos estádios, espoucam flashs dos fotógrafos dos jornais e ele quase sorri para as câmaras de televisão.
Bruno sente a falsidade dos tapinhas nas costas e se recorda de todos os autógrafos que deu na vida.
Lembra-se das fotos que tirou com os fãs e da frieza dos microfones dos repórteres de rádio e tv.
Lembra do carrão novo.
E do novo carrão novo.
Pensa nos jantares que não pagou nos restaurantes e no sorriso fácil das moças.
Pensa nas moças. Nas coxas das moças. Nas festas com as moças.
E Bruno pensa na liberdade que a sirene da ambulância que passa na rua, anuncia.
E que ele consegue escutar de dentro do fórum de Contagem, onde é é julgado por um crime que jura que não cometeu.
No que pensa Bruno, agora?
Ele pensa no pênalti mal apitado, no centroavante em impedimento e no placar adverso, registrado no letreiro luminoso do Maracanã?
Ou será que ele pensa na liberdade, este chute cara-à-cara, à queima-roupa, em pleno Fla-Flu?
Ela, a liberdade, é esta bola indefensável, chutada com violência bem "na gaveta".
Bruno se espicha todo, mentalmente, tentando interceptá-la.
Ele salta, corpo arqueado, os olhos postos na bola que vai em direção à forquilha.
A liberdade é um pássaro sem asas - pensa Bruno -, no que se espicha todo tentando alcançá-la.
Ela é esta bola que está indo, cruel e indefensável, contra o seu gol.
Ela é esta que vai morrendo agora - mansa e pela última vez - no fundo das redes do cidadão Bruno Fernandes, já não mais um goleiro de futebol.
 
Foto de Wilton Júnior/AE

Sunday, November 18, 2012

Um poemaço de Herberto Helder


Dai-me uma jovem mulher com sua harpa de sombra
e seu arbusto de sangue. Com ela
encantarei a noite.
Dai-me uma folha viva de erva, uma mulher.
Seus ombros beijarei, a pedra pequena
do sorriso de um momento.
Mulher quase incriada, mas com a gravidade
de dois seios, com o peso lúbrico e triste
da boca. Seus ombros beijarei.

Cantar? Longamente cantar,
Uma mulher com quem beber e morrer.
Quando fora se abrir o instinto da noite e uma ave
o atravessar trespassada por um grito marítimo
e o pão for invadido pelas ondas,
seu corpo arderá mansamente sob os meus olhos palpitantes
ele - imagem inacessível e casta de um certo pensamento
de alegria e de impudor.

Seu corpo arderá para mim
sobre um lençol mordido por flores com água.
Ah! em cada mulher existe uma morte silenciosa;
e enquanto o dorso imagina, sob nossos dedos,
os bordões da melodia,
a morte sobe pelos dedos, navega o sangue,
desfaz-se em embriaguez dentro do coração faminto.
- Ó cabra no vento e na urze, mulher nua sob
as mãos, mulher de ventre escarlate onde o sal põe o espírito,
mulher de pés no branco, transportadora
da morte e da alegria.

Dai-me uma mulher tão nova como a resina
e o cheiro da terra.
Com uma flecha em meu flanco, cantarei.

E enquanto manar de minha carne uma videira de sangue,
cantarei seu sorriso ardendo,
suas mamas de pura substância,
a curva quente dos cabelos.
Beberei sua boca, para depois cantar a morte
e a alegria da morte.

Dai-me um torso dobrado pela música, um ligeiro
pescoço de planta,
onde uma chama comece a florir o espírito.
À tona da sua face se moverão as águas,
dentro da sua face estará a pedra da noite.
- Então cantarei a exaltante alegria da morte.

Nem sempre me incendeiam o acordar das ervas e a estrela
despenhada de sua órbita viva.

- Porém, tu sempre me incendeias.
Esqueço o arbusto impregnado de silêncio diurno, a noite
imagem pungente
com seu deus esmagado e ascendido.
- Porém, não te esquecem meus corações de sal e de brandura.

Entontece meu hálito com a sombra,
tua boca penetra a minha voz como a espada
se perde no arco.
E quando gela a mãe em sua distância amarga, a lua
estiola, a paisagem regressa ao ventre, o tempo
se desfibra - invento para ti a música, a loucura
e o mar.

Toco o peso da tua vida: a carne que fulge, o sorriso,
a inspiração.
E eu sei que cercaste os pensamentos com mesa e harpa.
Vou para ti com a beleza oculta,
o corpo iluminado pelas luzes longas.
Digo: eu sou a beleza, seu rosto e seu durar. Teus olhos
transfiguram-se, tuas mãos descobrem
a sombra da minha face. Agarro tua cabeça
áspera e luminosa, e digo: ouves, meu amor?, eu sou
aquilo que se espera para as coisas, para o tempo -
eu sou a beleza.
Inteira, tua vida o deseja. Para mim se erguem
teus olhos de longe. Tu própria me duras em minha velada beleza.

Então sento-me à tua mesa. Porque é de ti
que me vem o fogo.
Não há gesto ou verdade onde não dormissem
tua noite e loucura,
não há vindima ou água
em que não estivesses pousando o silêncio criador.
Digo: olha, é o mar e a ilha dos mitos
originais.
Tu dás-me a tua mesa, descerras na vastidão da terra
a carne transcendente. E em ti
principiam o mar e o mundo.

Minha memória perde em sua espuma
o sinal e a vinha.
Plantas, bichos, águas cresceram como religião
sobre a vida - e eu nisso demorei
meu frágil instante. Porém
teu silêncio de fogo e leite repõe
a força maternal, e tudo circula entre teu sopro
e teu amor. As coisas nascem de ti
como as luas nascem dos campos fecundos,
os instantes começam da tua oferenda
como as guitarras tiram seu início da música nocturna.

Mais inocente que as árvores, mais vasta
que a pedra e a morte,
a carne cresce em seu espírito cego e abstracto,
tinge a aurora pobre,
insiste de violência a imobilidade aquática.
E os astros quebram-se em luz sobre
as casas, a cidade arrebata-se,
os bichos erguem seus olhos dementes,
arde a madeira - para que tudo cante
pelo teu poder fechado.
Com minha face cheia de teu espanto e beleza,
eu sei quanto és o íntimo pudor
e a água inicial de outros sentidos.

Começa o tempo onde a mulher começa,
é sua carne que do minuto obscuro e morto
se devolve à luz.
Na morte referve o vinho, e a promessa tinge as pálpebras
com uma imagem.
Espero o tempo com a face espantada junto ao teu peito
de sal e de silêncio, concebo para minha serenidade
uma ideia de pedra e de brancura.
És tu que me aceitas em teu sorriso, que ouves,
que te alimentas de desejos puros.
E une-se ao vento o espírito, rarefaz-se a auréola,
a sombra canta baixo.

Começa o tempo onde a boca se desfaz na lua,
onde a beleza que transportas como um peso árduo
se quebra em glória junto ao meu flanco
martirizado e vivo.
- Para consagração da noite erguerei um violino,
beijarei tuas mãos fecundas, e à madrugada
darei minha voz confundida com a tua.

Oh teoria de instintos, dom de inocência,
taça para beber junto à perturbada intimidade
em que me acolhes.

Começa o tempo na insuportável ternura
com que te adivinho, o tempo onde
a vária dor envolve o barro e a estrela, onde
o encanto liga a ave ao trevo. E em sua medida
ingénua e cara, o que pressente o coração
engasta seu contorno de lume ao longe.
Bom será o tempo, bom será o espírito,
boa será nossa carne presa e morosa.
- Começa o tempo onde se une a vida
à nossa vida breve.

Estás profundamente na pedra e a pedra em mim, ó urna
salina, imagem fechada em sua força e pungência.
E o que se perde de ti, como espírito de música estiolado
em torno das violas, a morte que não beijo,
a erva incendiada que se derrama na íntima noite
- o que se perde de ti, minha voz o renova
num estilo de prata viva.

Quando o fruto empolga um instante a eternidade
inteira, eu estou no fruto como sol
e desfeita pedra, e tu és o silêncio, a cerrada
matriz de sumo e vivo gosto.
- E as aves morrem para nós, os luminosos cálices
das nuvens florescem, a resina tinge
a estrela, o aroma distancia o barro vermelho da manhã.
E estás em mim como a flor na ideia
e o livro no espaço triste.

Se te apreendessem minhas mãos, forma do vento
na cevada pura, de ti viriam cheias
minhas mãos sem nada. Se uma vida dormisses
em minha espuma,
que frescura indecisa ficaria no meu sorriso?
- No entanto és tu que te moverás na matéria
da minha boca, e serás uma árvore
dormindo e acordando onde existe o meu sangue.

Beijar teus olhos será morrer pela esperança.
Ver no aro de fogo de uma entrega
tua carne de vinho roçada pelo espírito de Deus
será criar-te para luz dos meus pulsos e instante
do meu perpétuo instante.
- Eu devo rasgar minha face para que a tua face
se encha de um minuto sobrenatural,
devo murmurar cada coisa do mundo
até que sejas o incêndio da minha voz.

As águas que um dia nasceram onde marcaste o peso
jovem da carne aspiram longamente
a nossa vida. As sombras que rodeiam
o êxtase, os bichos que levam ao fim do instinto
seu bárbaro fulgor, o rosto divino
impresso no lodo, a casa morta, a montanha
inspirada, o mar, os centauros do crepúsculo
- aspiram longamente a nossa vida.

Por isso é que estamos morrendo na boca
um do outro. Por isso é que
nos desfazemos no arco do verão, no pensamento
da brisa, no sorriso, no peixe,
no cubo, no linho, no mosto aberto
- no amor mais terrível do que a vida.

Beijo o degrau e o espaço. O meu desejo traz
o perfume da tua noite.
Murmuro os teus cabelos e o teu ventre, ó mais nua
e branca das mulheres. Correm em mim o lacre
e a cânfora, descubro tuas mãos, ergue-se tua boca
ao círculo de meu ardente pensamento.
Onde está o mar? Aves bêbedas e puras que voam
sobre o teu sorriso imenso.
Em cada espasmo eu morrerei contigo.

E peço ao vento: traz do espaço a luz inocente
das urzes, um silêncio, uma palavra;
traz da montanha um pássaro de resina, uma lua
vermelha.
Oh amados cavalos com flor de giesta nos olhos novos,
casa de madeira do planalto,
rios imaginados,
espadas, danças, superstições, cânticos, coisas
maravilhosas da noite. Ó meu amor,
em cada espasmo eu morrerei contigo.

De meu recente coração a vida inteira sobe,
o povo renasce,
o tempo ganha a alma. Meu desejo devora
a flor do vinho, envolve tuas ancas com uma espuma
de crepúsculos e crateras.

Ó pensada corola de linho, mulher que a fome
encanta pela noite equilibrada, imponderável -
em cada espasmo eu morrerei contigo.

E à alegria diurna descerro as mãos. Perde-se
entre a nuvem e o arbusto o cheiro acre e puro
da tua entrega. Bichos inclinam-se
para dentro do sono, levantam-se rosas respirando
contra o ar. Tua voz canta
o horto e a água - e eu caminho pelas ruas frias com
o lento desejo do teu corpo.
Beijarei em ti a vida enorme, e em cada espasmo
eu morrerei contigo.

(Herberto Helder)

Friday, November 16, 2012

A obra-irmã de António Ramos Rosa


Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas

Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio

Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o rneu amor
nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração


 

António Ramos Rosa,

in "Viagem Através de uma Nebulosa"

Thursday, November 15, 2012

O genial Eugénio


Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mão à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.



Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.



Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.



Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.


(foi mantida a grafia original)


Eugénio de Andrade
(José Fontinhas) é um inspirado poeta português nascido em Póvoa de Atalaia (Fundão), a 19 de Janeiro de 1923. Aos sete anos vai para Lisboa com sua mãe, lá residindo até 1950, exceto nos anos de 1943 a 1946, quando viveu em Coimbra. Em 1947 ingressa nos quadros dos Serviços Médico-Sociais, do Ministério da Saúde, onde desempenhará durante 35 anos a mesma função - a de inspetor administrativo - pois nunca se dispôs a fazer concursos de promoção. A sua transferência para a cidade do Porto, por razões de serviço, deu-se em Dezembro de 1950, e quando houve oportunidade para voltar a Lisboa, motivação já não havia pois sua mãe falecera. Apesar do seu prestígio, face ao reconhecimento internacional de sua obra, o poeta vive extremamente distanciado do que se chama vida social, literária ou mundana, avesso à comunicação social, arredado de encontros, colóquios, congressos, etc., e as suas raras aparições em público devem-se a "essa debilidade do coração, que é a amizade", devendo encarar-se do mesmo modo o fato de ser membro da Academia Mallarmé, de Paris. Cabe aqui referir que nunca concorreu aos prêmios que lhe foram atribuídos, como nunca ninguém o viu usar usar qualquer insígnia das condecorações com que foi agraciado. A poesia que escreve é honra que lhe parece suficiente.

A obra de
Eugénio de Andrade, além de sua poesia, prosa, livros infantis e traduções, é também engrandecida pelas antologias que organizou, em sua maioria sobre a terra portuguesa,caracterizadas por uma total ausência de preconceitos e sectarismos literários. Traduzido em cerca de vinte línguas, a poesia de Eugénio de Andrade tem sido estudada e comentada por, entre outros, Vitorino Nemésio, Gaspar Simões, Oscar Lopes, António José Saraiva, Eduardo Lourenço, Jorge de Sena, Eduardo Prado Coelho, Arnaldo Saraiva, Joaquim Manuel Magalhães, Ángel Crespo, Carlo V. Cattaneo, e suscitado o interesse de vários músicos, entre os quais Fernando Lopes-Graça, Jorge Peixinho e Filipe Pires. O poeta foi o distinguido com a edição do ano 2000 do Prêmio Vida Literária, instituído pela Associação Portuguesa de Escritores (APE).

No dia 10 de julho de 2001, aos 78 anos, foi agraciado com o
Prêmio Camões 2001, considerado o mais importante prêmio da língua portuguesa, pelo conjunto de sua obra. Passa a fazer companhia a outros grandes nomes de nossa literatura, já premiados, como José Saramago e Sophia de Mello Breyner (portugueses), e Autran Dourado, João Cabral de Melo Neto, Rachel de Queiroz, Jorge Amado e Antônio Cândido (brasileiros).

O poeta faleceu na cidade do Porto, em Portugal, no dia 13 de junho de 2005.
 
 
 
 
 

Wednesday, November 14, 2012

Vinícius, eterno presente













Ausência

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.
(Vinícius de Moraes)

Tuesday, November 13, 2012

Enquanto isto, em Feira de Santana....


Um grande escritor - pessoa maior ainda - lança seu livro "O Ano que Fidel foi excomungado".
É hoje, em Feira de Santana-BA, e quem estiver na região e não for é "mulher do padre".
Quero propor uma corrente pró-livro  de José de Assis Freitas, o nosso Assis.
Cada amigo compra três exemplares e presenteia três outros amigos da blogosfera.
Que engatam três outros amigos.
Que repassam a outros três.
E assim vai...
E assim, vamos.
O homem que quebrar a corrente, nem Viagra no café da manhã e Cialis no almoço o salvarão.
E é garantido que seu time cairá para a segunda divisão.
Se o quebrador de corrente for mulher, engordará dez quilos em dez dias.
Quem leu, mas fingiu que não leu, acabará se apaixonando platônicamente por um Big-Brother e terá, pelos próximos dez anos, um prefeito do PFL.

Bora participar?
Eu ainda não paguei, mas já comprei os meus três.

Saturday, November 10, 2012



Frágil coração de poeta

Coração de poeta é um objeto frágil, peça de cristaleira que, se cair, pode quebrar.
O meu deu um grande susto na semana que passou.
Estava deitado, encafifado com um mote qualquer, pintando na tela branca do teto mais um impossível Renoir.
Foi quando senti aquela pontadazinha no peito.
Ignorei, pensei que fosse prisão de ventre.
Não era.
Fui ficando assustado.
Diante daquela súbita ameaça, dei um salto da cama e fiz a coisa mais sensata que qualquer homem faria num momento desses: gritei por mamãe.
E ela veio.
Dona Rute, de visita, correu pra me socorrer.
Fez massagem, compressa de toalha molhada, rezou para São Judas Tadeu, mas o suadouro não parava.
O jeito foi rumar para o hospital mais próximo, antes que fosse tarde demais.
No hospital, demorou a cair a ficha.
Veio a bateria de exames de coração e a coleta de sangue suficiente para escrever um poema num muro qualquer.
O eletrocardiograma indicava que estava tudo bem, mas o exame de sangue não deixava dúvidas: eu havia enfartado.
Enfarte é uma palavra tabu. Como a broxada, o exame de próstata e a “freada de bicicleta”. Homem evita tocar nesses assuntos.
No escuro do quarto de hospital depois que todos se foram, chorei miúdo. Afinal, quem tem coração, costuma chorar numa situação dessas.
Pensei nas pessoas que dependiam de meu trabalho para ter sobre suas mesas um pedaço de pão, nos que verdadeiramente me queriam bem e nos que não mereciam participar daquele pensamento dolorido na solidão de meu corner.
Custou a amanhecer.
Sabino Torre, um médico italiano de aproximadamente 50 anos, bigode à Barão do Rio Branco, considerado uma das maiores autoridades em cardiologia em New Jersey, cuidou do caso.
Antes de entrarmos na sala de procedimento cirúrgico - enquanto uma enfermeira filipina muita bonita depilava a minha virilha -, Sabino chegou ao meu ouvido e cantou a bola:
    - "Deixa comigo, meu chapa. Você não poderia estar em melhores mãos. Vai ser uma viagem suave”.
Mais um calafrio.
    - "Viagem?"
Felizmente, o cateterismo mostrou que não havia bloqueamento das artérias.
Eu não havia, verdadeiramente, enfartado.
Tratou-se de um vírus que se espalhara por várias partes do corpo e tentou, num momento de suprema audácia, se alojar no lugar sagrado onde só deveriam entrar as musas, os familiares, os bons amigos e as letras do alfabeto usadas na composição de poemas e canções.
O músculo da emoção, diante da ameaça de invasão, expele uma enzima que só é dectada através de exame sanguíneo. Trata-se da mesmíssima enzima que anuncia o enfarte.
Após uma semana sob observação e transformando minha ala do hospital numa Marquês de Sapucaí, fui liberado.
As enfermeiras, acostumadas a lidar com velhinhos já 'descendo a serra', abandonaram por alguns dias a sisudez e o pragmatismo pelos quais elas são conhecidas, e entraram no samba do mineiro doido.
Foi quase uma festa.
Fazia muito que as moças do Saint Barnabas não cuidavam de um paciente tão pirado.
Uma delas chegou a sugerir que eu estaria na ala errada.
A de psiquiatria ficava no outro extremo do grande complexo hospitalar de Livingston.
Se não deixei saudades, terei deixado alívio. Vou enviar flores e chocolates qualquer dia destes. Junto com meu pedido de desculpas, obviamente.
Conversando sobre o assunto com Kledir Ramil, recebi algumas recomendações, que deverei seguir à risca.
Para quem não sabe, além de inspirado cronista e cantor, ele é também dublê de proctologista e consultor de informática para leigos de todos os credos.
Usando seu método infalível irei cortar radicalmente o consumo de bebidas alcóolicas, sexo, rapé e alimentos gordurosos, como o torresmo de armazém e o pé-de-porco de botequim.
Passada essa fase de abstenção, entrarei na fase da prática de hábitos saudáveis. Caminhada na esteira, um litro de chimarrão por dia e vegetarianismo.
Vegetarianismo vem a ser um tipo de alimentação praticado por antigos povos afeminados, como os espartanos e os pelotenses, que sabidamente desenvolve a resistência das coronárias e a sensibilidade artística. Com sorte, serei parceiro de Kleiton & Kledir numa penca de canções.
Irei cortar os açúcares, as massas e, em caso supremo, os pulsos.
Se tudo isso não adiantar, instalarei um antivirus no coração.
Segundo Kledir, se dá certo no computador, deve dar certo na gente também. Pode ser um Norton, um McAfee, ou de uma outra marca qualquer.
Embora eu preferisse, caso já existissem no mercado, os da marca Drummond, Rimbaud ou Baudelaire.
Esses, sim, os antivírus mais adequados para coração de poeta.

Tuesday, November 6, 2012



Os Estatutos do Homem
(Ato Institucional Permanente)

A Carlos Heitor Cony


Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo único:
O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino.

Artigo V
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.

Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.

Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.

Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida,
uso do traje branco.

Artigo XI
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo XII
Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.

Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.

Artigo XIII
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.

Artigo Final.
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.


Thiago de Mello
Santiago do Chile, abril de 1964


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Friday, November 2, 2012


Luan Santana,
não venha a Newark


Eu não sei se você virá a Newark, Luan Santana.
Não sei se lerá este desabafo em forma de crônica.
Batuco estas mal traçadas no teclado do computador e me recordo que ainda ontem vi um cartaz com a sua bonita figura, e que seu charme de estrela da canção iluminava um poste.
O cartaz resistiu ao furacão Sandy, mas não sei se você passará incólume ao desapontamento de milhares de conterrâneos seus.
Eu não sei se a sua produção permitirá sua vinda a esta cidade que você, indiretamente, desmereceu e ofendeu durante participação no programa da Eliana, há não muito tempo.
Você poderá ser vaiado e não deveria haver para nenhum artista, castigo maior do que uma vaia.
E você merece ser vaiado em Newark, Luan.
Nós não somos menores ou piores do que nenhuma outra plateia para a qual já tenha se apresentado na vida.
Não somos cidadãos de segunda classe.
Não somos audiência de terceira.
Somos tão brasileiros quanto você, e muitos de nós desejaram estar na sua companhia durante um espetáculo seu.
É óbvio que você tem o direito, como artista e cidadão de ir aonde bem entender.
Que você tem o direito de sonhar com uma plateia americana gritando o seu nome e cantando de cor as suas canções.
Que você tenha na plateia moças louras, saxônicas, se descabelando por você, menino bonito nascido no centro-oeste do Brasil, que é.
Que elas cantem na língua de Camões - com sotaque e tudo -, cada uma de suas canções mais tocadas nas rádios.
É lógico que você tem a liberdade de sonhar com os letreiros luminosos do Madison Square Garden, como um dia teve Ivete Sangalo, num momento de ilusão e glória.
Que você queira encantar os americanos como um dia encantou Tom Jobim, fazendo dueto com Frank Sinatra no templo sagrado do Carnegie Hall.
Mas não é isto o que você tem aqui nos Estados Unidos, Luan Santana. Ainda não. Sejamos lúcidos.
As suas canções não tocam nas rádios daqui.
Por mais audiência que tenha quando vai ao Mais Você, de Ana Maria Braga, ainda não o vimos com Matt Lauer, no Today Show.
Você foi quantas vez quis ao programa da Eliana, mas não existe registro de uma única passagem sua pelos seriados destinados aos adolescentes deste país, estes que primam por ter sempre uma jovem estrela da música pop na lista de convidados.
Aqui nos Estados Unidos você tem palcos acanhados, mas honestos.
Palcos menores aos seus olhos, mas que um dia foram dignificados por artistas da MPB como Djavan, Elba Ramalho e Gilberto Gil.
Por sambistas como Jair Rodrigues, Beth Carvalho e Jorge Aragão.
Por sertanejos de outra geração como Pena Branca & Xavantinho e Chitãozinho & Xororó.
Ou contemporâneos seus como Victor & Léo ou Gusttavo Lima.
Que fique claro: eu não falo em nome de ninguém.
Falo em meu nome, como imigrante brasileiro que eu sou.
E nesta condição quero lhe informar de que estou cansados de discriminação.
Que estou cansado de ser desprestigiado, preterido, colocado de lado pelo poder público deste país.
Nós –  e aqui falo por uma legião -  já somos humilhados cotidianamente e a maior parte de nós é chamada de “ilegal”, quando somos, na verdade, trabalhadores honestos e que, neste momento da história estamos sendo desvalorizados e perseguidos por não termos nascido aqui.
Portanto, ser esnobado por um compatriota meu, que vê na minha comunidade um público desimportante e menor, ofende e entristece.
Fique no Brasil, Luan Santana. Você não precisa de nós.
E nem nós de você.