A música é tamanha, cabe em qualquer medida...
Na sua mão sobe o ar ao infinito, de lá treme.
A música por um lado vê-se, por outro não se vê.
Nada da música se improvisa por acaso.
A música corre nas gargantas e pode ser tocada com um só dedo.
A música mostra-se feia para os seus pares e bela para os seus ímpares.
A música emudece por vezes os cantores e deixa-os a sós nos camarins à esper...a do amigo do carrasco.
A música não é a mesma quando ouvida de longe ou quando ouvida de perto.
A música não tem explicações a dar a si mesma. Isso explica tudo.
A música dá asas a quem voa, a quem tem asas para voar.
A música faz aos poemas aquilo que os poemas quiseram fazer dela: render-se. E aos outros propõem; rendam-se. Tréguas e batalhas sem ordem de aviso.
A musica referenda a liberdade? Sim ou não?
A música depende de um botão da liberdade e desunha-se a mostrar os efeitos de num dedo a voz humana.
A musica faz orelha moucas.
A música não se esquece no silêncio, por isso nos lembramos dela. Permanece em mais que um som.
A música vai por vezes mais alto e de uma torre afunda o eco no centro da terra.
A música aguenta-se de pé, dorme sentada, dança e escorrega na cama.
A música pausa e pausa, faz das malas a viagem mas se acena, já de longe, a música atira os seus poemas ao mar e recebe-os nas ondas do dia seguinte, nas garrafas outro povo.
A música perdeu muitos bons poemas no vento contrário, quem sabe era bons.
A música é uma cópia de uma cópia, cara aberta vai ao fundo e vem à tona por respiração.
A música é uma revolução de estilos, é do passarinho herdeira orfã.
A música é orfã.
Quando nasceu os seus pais tinham morrido há pouco. É orfã.
A música esfrega os dedos em tudo o que der som.
A música nunca teve em si mesma uma moral, pensa que não pensa e que não perdura.
Diz-se que faz muito bem ouvi-la alguém que pense e que perdure por ela.
A música não tem barreiras mas o amor por ela, sim.
A música prepara-se, destroçada, mas vaidosa para confessar tudo ao cair do sol.
A música chora e ri ao mesmo tempo, uma criança por razões não exactamente compreensíveis.
A música quer ser perfeita, sempre que por escolha é imperfeita. Por talento dá-se a todas a bondade, a presunção, ressentimento e mais não fosse a quatro tempos.
A música de repente é a mesma nota repetida e outras vezes. A música mede-se com caneta e gravador. É maior e é menor.
A música quando se encontra já lá está.
A música nasceu antes de nós termos nascido com ela.
A música segue a sua sombra e pela sombra é fácil, não há espelho. Ou é ritmo ou é pausa. Ambos dúbios mas reconhecíveis.
A música é feita à janela e aberta vê-se da rua.
A música eriça-se ao menor vento, arranha-se a si mesma, ladra ao ar, risca a terra. Gosta mesmo.
A música quando a chuva cai com barulho de entre as nuvens vê-se o mar em dia de acalmia o que não é explicável nem por norma nem por excepção dos deuses. Digamos que são os sons em dia de ofertório.
A música vai de rio e desagua. Aquece a água doce, rebenta no mar salgado, larga os seus bichos no mar.
A música tem duas mãos, é tocada com um só peito, um só dedo. Da música sobe o ar ao infinito. A música tem um só dedo e um só dedo.
A música tem um só dedo e um só dedo.
Nada da música se improvisa por acaso.
(Sérgio Godinho)
Na sua mão sobe o ar ao infinito, de lá treme.
A música por um lado vê-se, por outro não se vê.
Nada da música se improvisa por acaso.
A música corre nas gargantas e pode ser tocada com um só dedo.
A música mostra-se feia para os seus pares e bela para os seus ímpares.
A música emudece por vezes os cantores e deixa-os a sós nos camarins à esper...a do amigo do carrasco.
A música não é a mesma quando ouvida de longe ou quando ouvida de perto.
A música não tem explicações a dar a si mesma. Isso explica tudo.
A música dá asas a quem voa, a quem tem asas para voar.
A música faz aos poemas aquilo que os poemas quiseram fazer dela: render-se. E aos outros propõem; rendam-se. Tréguas e batalhas sem ordem de aviso.
A musica referenda a liberdade? Sim ou não?
A música depende de um botão da liberdade e desunha-se a mostrar os efeitos de num dedo a voz humana.
A musica faz orelha moucas.
A música não se esquece no silêncio, por isso nos lembramos dela. Permanece em mais que um som.
A música vai por vezes mais alto e de uma torre afunda o eco no centro da terra.
A música aguenta-se de pé, dorme sentada, dança e escorrega na cama.
A música pausa e pausa, faz das malas a viagem mas se acena, já de longe, a música atira os seus poemas ao mar e recebe-os nas ondas do dia seguinte, nas garrafas outro povo.
A música perdeu muitos bons poemas no vento contrário, quem sabe era bons.
A música é uma cópia de uma cópia, cara aberta vai ao fundo e vem à tona por respiração.
A música é uma revolução de estilos, é do passarinho herdeira orfã.
A música é orfã.
Quando nasceu os seus pais tinham morrido há pouco. É orfã.
A música esfrega os dedos em tudo o que der som.
A música nunca teve em si mesma uma moral, pensa que não pensa e que não perdura.
Diz-se que faz muito bem ouvi-la alguém que pense e que perdure por ela.
A música não tem barreiras mas o amor por ela, sim.
A música prepara-se, destroçada, mas vaidosa para confessar tudo ao cair do sol.
A música chora e ri ao mesmo tempo, uma criança por razões não exactamente compreensíveis.
A música quer ser perfeita, sempre que por escolha é imperfeita. Por talento dá-se a todas a bondade, a presunção, ressentimento e mais não fosse a quatro tempos.
A música de repente é a mesma nota repetida e outras vezes. A música mede-se com caneta e gravador. É maior e é menor.
A música quando se encontra já lá está.
A música nasceu antes de nós termos nascido com ela.
A música segue a sua sombra e pela sombra é fácil, não há espelho. Ou é ritmo ou é pausa. Ambos dúbios mas reconhecíveis.
A música é feita à janela e aberta vê-se da rua.
A música eriça-se ao menor vento, arranha-se a si mesma, ladra ao ar, risca a terra. Gosta mesmo.
A música quando a chuva cai com barulho de entre as nuvens vê-se o mar em dia de acalmia o que não é explicável nem por norma nem por excepção dos deuses. Digamos que são os sons em dia de ofertório.
A música vai de rio e desagua. Aquece a água doce, rebenta no mar salgado, larga os seus bichos no mar.
A música tem duas mãos, é tocada com um só peito, um só dedo. Da música sobe o ar ao infinito. A música tem um só dedo e um só dedo.
A música tem um só dedo e um só dedo.
Nada da música se improvisa por acaso.
(Sérgio Godinho)
26 comments:
Só a música é capaz de deixar a minha alma em silêncio...
Adorei o seu blog.
Um abraço!
A música é o som que minha alma faz quando está em silêncio.
Belo texto!
Sua opinião, além de muito bem-vinda, seria muito importante no meu mais recente texto em prosa postado.
E música és tu também. Conheci tanta música bonita contigo.
Bjo, Beto
:)
Muito bom!
Parabéns!
Beijos!
Sérgio Godinho em seu melhor. Belíssima escolha!
beijos
Querido amigo, bom te ler. Li o que diz no seu perfil e achei grande em simplicidade. Para mim, é um prazer ter o meu "rostinho" no seguidores.
Sempre que possível, estarei por aqui.
Um grande abraço! PAZ
Admiração ampla à você.
...é do passarinho herdeira orfã - que bonito isso! Sim, e é tu também, como disse a Dani, que eu também já recebi algumas tão e tão lindas vindas de ti!
Beijos,
taninha,
esse cara é um dos meus letristas favoritos. depois vou te mandar umas cançoes dele, parcerias com milton, chico e ivan lins.
é fera!
beijao,
r.
Keyla,
faça-se entre os seus.
minha casa é a sua casa.
seu retrato pendurado na parede é motivo de orgilho, de júbilo.
abração do
roberto.
luiza,
cê sabe tudo e mais alguma coisa.
sua opinião é importante pra mim.
beijão do
r.
seja mais que bem-vinda, janice.
puxe uma cadeira, sente-se entre os meus.
abração do
r.
dani,
depois mando umas cantigas do sergio godinho pra ti.
sigo mandando cantigas, até cês mandarem parar.
beijão do
r.
Roberto!
Uma definição quase perfeita da música. Esta linguagem universal, só comparada à matemática é a mais bela ciência da vida.
Beijos, mano! Feliz Páscoa.
Mirze
Manim,
Que bonito isso hein?
Nada mais há pra se dizer sobre a música... tudo aí.
"Nada na música se improvisa por acaso"...
Gostei...
Beijo e saudades
a música que nos deixa sem fronteiras.. essa é das esferas da alma.
beijinho, roberto.
Oi Roberto
Lindas palavras, sem mùsica a vida não seria completa (ou seria mais incompleta ainda..rs). Uma das artes mais encantadoras, senão a maior.
Obrigada pela visita. Fique a vontade
Beijo meu
La música va trazando sendas azules en las yemas de nuestros dedos y nos teje y nos desteje y nos arrulla. Bellas palabras de Sérgio. Un beso grande para ti, Roberto.
mulher de la mancha,
sergio godinho é da cidade do porto, aí perto de sua galícia.
suas letras sempre foram poesia, o que tem se tornado cada vez mais na canção.
abraço grande do
roberto.
fátima,
fica o dito pelo dito...rs
sinta-se em casa. faça-se em casa.
grande abraço do
roberto.
Luciana,
música é tão essencial que fiquei sem dormir no outro dia, após uma pessoa me perguntar que caso se fizesse necessário e eu tivesse que optar por visão ou audição para continuar vivendo... qual das duas escolheria?
e eu morri a noite inteira.
beijão,
r.
manuncha,
achei genial o texto dele.
não se improvida por acaso.
e não se faz musica (ou se é músico) impunemente.
o preço é alto.
altíssimo.
mas a recompensa... tão maior.
beijão,
r.
mirze,
espia só que doideira:
essa semana eu me perguntava por Beethoven, surdo e gênio da música.
Beethoven fazia sexo virtual com as notas musicais.
abração do
roberto.
ena, pá,
mais um mesito e fazíamos o pleno: trovante, caetano com gadu e o grande grande sérgio godinho, verdade, robertílimo?
abraço, meu amigo!
já viste o programa do canal 2 que te falei?
já viste o livro com ilustrações a partir dos poemas dele?
desconfio que ias gostar...
beijo e um abraço cheio cheio de saudades
<3
vi o programa, laura.
e me deliciei.
adooooooooooooro esse tripeiro.
aliás, vocês tripeiros são lindos.
beijão do
r.
ficasse eu por um mês, perdiríamos asilo na tasca de dona helena, em gaia.
certo, jorgíssimo???
abração,
r.
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