Quero a Fome de Calar-me
Quero a fome de calar-me. O silêncio. Único
Recado que repito para que me não esqueça. Pedra
Que trago para sentar-me no banquete
A única glória no mundo — ouvir-te. Ver
Quando plantas a vinha, como abres
A fonte, o curso caudaloso
Da vergôntea — a sombra com que jorras do rochedo
Quero o jorro da escrita verdadeira, a dolorosa
Chaga do pastor
Que abriu o redil no próprio corpo e sai
Ao encontro da ovelha separada. Cerco
Os sentidos que dispersam o rebanho. Estendo as direcções, estudo-lhes
A flor — várias árvores cortadas
Continuam a altear os pássaros. Os caminhos
Seguem a linha do canivete nos troncos
As mãos acima da cabeça adornam
As águas nocturnas — pequenos
Nenúfares celestes. As estrelas como as pinhas fechadas
Caem — quero fechar-me e cair. O silêncio
Alveolar expira — e eu
Estendo-as sobre a mesa da aliança
Daniel Faria, in "Dos Líquidos"
.
12 comments:
Daniel Faria es inmenso, inmenso, querido Roberto, como tú bien dices. y este poema de silencio y recogimiento, de naturaleza, de refugio, de universo... inmenso, sí, inmenso.
Besos, Roberto.
Lindissimo
Duro. Doído. Mas não.
...
Vou com fé,
acredito no invisível.
Nos sinais.
abç
Poeta místico..
misterioso... Beto..
e olha o verso profético...
Caem — quero fechar-me e cair. O silêncio
Alveolar expira — e eu
Estendo-as sobre a mesa da aliança
e faleceu ao cair...
Mistério dos mistérios..
beijão
Era tudo que eu precisava para esse momento.
Beijo!
a intacta ferida de quereres que se não sabem.
daniel faria e dos líquidos: muito bom, verdade, robertílimo?
abraço!
euriquíssimo,
estou lendo "ilíquidos" (rs...)
e me deleitando.
só a dedicatória, já reli pelo menos trinta vezes.
abraços do seu amigo
r.
a palava tem este poder, Ari...
chega na hora certa. em alguns casos, a palavra lambe as nossas feridas.
beijão,
r.
mariângela,
já vi que você leu daniel e sobre daniel.
ele caiu da escada e "subiu".
queria ser padre, o nosso poeta.
virou anjo.
beijão do
r.
magnólia,
aprendi a gostar de vários autores portugueses no seu blog, um dos mais qbelos que existem.
beijão,
r.
indigo,
poeta imenso, sim.
deixou-nos jovem demais.
já imaginou se ainda estivesse entre nós?
abração do
roberto.
margoh,
também sou dos que acreditam e seguem os sinais, sem saber, no entanto, o que me espera dentro do pote ao final do arco-íris.
abração do
r.
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