A
ansiedade é a véspera do medo.
E o medo é um homem-bomba que vive dentro de nós.
E o medo é um homem-bomba que vive dentro de nós.
Quando
não domesticado, o medo pode se transformar em uma grave doença,
péssima companhia que nos influencia e transtorna, e que nos leva a viver um
lugar árido e frio, uma espécie de cidade pavimentada pela tristeza.
Sou
defensor da tese de que em doses homeopáticas o medo pode até
jogar a nosso favor.
Ele
pode demarcar limites benéficos e nos dar uma sensação – nem sempre verdadeira
- de segurança.
Na
infância eu tive um amiguinho que tinha medo de borboletas. Foi o
primeiro caso de motefobia de que tive notícia.
A
borboleta que enfeitava a primavera e que pousou em flores o aterrorizava.
Vista por seus olhos microscópicos ela era um monstro horrendo e que só ele
via.
Ele
percebeu, ali, que de perto ninguém é perfeito. Ninguém é tão bonito. Ninguém.
Naqueles
mesmos dias passariam por mim a mula-sem-cabeça e o lobisomem. E eu sobrevivi.
E
eu ainda temia o caboclinho d’água, uma lenda do rio que corria pela minha
infância.
Por
isto nunca pescava sozinho.
Veio
daí essa tendência gregária - já adulto-, esse hábito de só andar em bando.
A
vida tem tantos outros medos, constataria, à medida que molhava os pés em suas
águas.
Mais
medos do que certezas, concluiria.
Medo da
cuca, que vem pegar.
Medo de
andar de avião.
Medo de
andar.
Medo de
lugares fechados.
Medo de
o elevador despencar.
Medo de
dirigir um automóvel.
Medo de
entrar na multidão.
Medo do
escuro, da chuva, do relâmpago e do trovão.
Medo da
violência urbana, de parar no sinal de trânsito e ver aproximar aquele
motoqueiro com um garupa.
Medo de
seguir em frente.
Medo do
pivete, do sequestrador-relâmpago e das polícias.
Medo das
milícias.
Estereotipamos,
já perceberam? É o medo nos manipulando.
Temos medo de
qualquer um. Às vezes temos medo de nós próprios.
Medo.
Muito medo.
Medo de
cair para a segunda divisão.
Medo de
cair e não levantar.
Medo da
mão pesada de Deus.
O
tal temor a Ele, anunciado nas escrituras.
Medo de
morrer e ir para o inferno.
Da
chapa quente do inferno, do chifrudo de olhos vermelhos e seu tridente
pontiagudo.
Estereotipamos.
Medo do
fracasso.
Medo de
broxar.
Medo de
arriscar, mesmo sabendo que quem não arrisca, não petisca.
Medo da
libertação.
Medo da
autonomia.
Ablutofobia,
Acrofobia, Belonefobia, Bienofobia, Claustrofobia, Lalofobia, Lactofobia,
Motefobia, Nasofobia, Queimofobia, Tafefobia e Xenofobia.
Tudo
é medo, medo, medo, como cantou o cearense Belchior, em Pequeno Mapa do
Tempo.
E
existem muitos outros, comprova a ciência.
O
pior de todos, no entanto, é o medo de ser feliz.
Posso
garantir e passar recibo, meus amigos, que não existe medo pior.
.
* Pequeno Mapa do Medo é o nome de meu próximo livro e será dedicado à memória de Belchior e a José e Ana, dois amigos de Minas Gerais.
6 comments:
Bonito texto. Bonita referência. Apavorante perda. Tenho medo da música sem ele. Márcio Ares.
Brilhante texto. Fácil identificar várias situações como nossas também.
Texto impecável, o "rapaz latino-americano" fará falta no cenário.
"Vai, e se der medo, vai com medo mesmo" . Sei lá quem disse, mas é isso aí 😊
E sim, ser feliz é um pesadelo.
Sem palavras. Engasgada. Belchior sempre será um grande ídolo pra mim. Uma crônica tua a Belchior: não poderia terminar o dia sem ela! <3
Tenho medo de te ler, quando me preciso forte,
Medo de sua pena que alquebra,emociona, desmonta...
Eu num dia ousei sentir, admito...
É preciso "... ter medo de ser feliz..."
É isso mesmo. Depressão mata. Procure ajuda não deixe o medo interromper sua cminhada.
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