Quando o telefone silenciou
olhei em volta,
olhei para dentro
e vi o tamanho do caos.
Contabilizei
uma Hiroshima, duas Nagazakis
um Columbine e três tsunamis
que chegaram varrendo tudo.
Duas fukushimas e um Chernobyl desabrocharam
no vaso de anturios;
nasceram trifoliums repens
entre os azulejos
e uvas com gosto amargo de lima
se espalharam pelos quartos.
Desde então, ficou este
coração radiotivo e burocrático
com cercas eletrificadas muito altas
e um hálito de tango brotando do chão.
Ontem, nasceram rosas de arame farpado,
lírios de césio e mercúrio,
acácias que não disseram nada
e a visão de um sorriso de Marlene Dietrich.
Quando o telefone silenciou,
olhei em volta
olhei para dentro
e somente o seu perfume
persistiu.
(29 de julho de 2016)
2 comments:
Poemaço!! Genial!
O apocalipse da alma.
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