Saturday, January 25, 2014
Super-Homem
O filósofo alemão Friedrich Nietzsche explica os passos através dos quais o Homem pode tornar um 'Super-Homem' em Assim Falou Zaratustra.
Mais adiante na história os estudantes norte-americanos Jerry Siegel e Joe Shuster criaram o Superman, personagem das revistas de quadrinhos, que posteriormente ganharia as telas na pele de Christopher Reeve.
Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, eu sei.
O Superman de Christopher Reeve acabou se tornando um dos maiores fenômenos do cinema em todos os tempos.
A suposta origem dos poderes do Superman é o Sol amarelo da Terra.
Em Krypton o astro é vermelho, e essa diferença de freqüência eletromagnética entre ambos os astros faria com que, de alguma forma, as células do corpo de Kal-El fossem "carregadas" como verdadeiras baterias vivas.
Descobri isto na Internet, a mãe de todos os burros.
O homem de aço voava, atravessava estruturas, conseguia evitar o tombamento de um edifício, desentortava uma ponte de ferro, prendia bandidos com bravura e charme.
Seu corpo era impenetrável às balas e à inveja.
Quando não estava salvando a humanidade de inescrupulosos bandidos, era um esforçado repórter do jornal Planeta Diário.
Ironia do destino, o ator que deu a vida ao super-herói no cinema teve um fim trágico.
Amante da equitação, caiu de um cavalo num momento de lazer, ficando paralisado numa cadeira de rodas.
Seus últimos dias foram marcados pelo sofrimento.
Minha idéia de super-homem, no entanto, é diferente.
Em sua certidão de nascimento não consta Krypton, mas Mutum, um vilarejo remoto no Leste de Minas.
Meu super-homem trabalhou na roça até ser grande o suficiente para tentar a sorte na cidade grande.
Não se sentou num banco de escola, porque desde menino, ao invés de um lápis, empunhou uma enxada.
Ele plantou café, feijão, milho, hortaliças, cuidou da criação e amansou cavalos.
Ele, que calçou um par de sapatos pela primeira-vez aos 17 anos.
Ele, que na cidade grande, trabalhou em troca de comida e pelo direito de dormir num cubículo no fundo de um quintal.
Sua gratidão pela acolhida foi tamanha, que todos os seus filhos tiveram o nome do homem que o abrigou em sua chegada à civilização.
Conseguiu se alistar na polícia militar de Minas Gerais enxergando ali uma possibilidade única de sobrevir e criar a família.
Seu uniforme, de cor cáqui e sem nenhuma divisa nos braços, em nada se assemelhou à malha azul e vermelha dos grande herói dos quadrinhos e das telas.
Ele, que não possuía capa que lhe permitisse vôos mais altos e tinha passos miúdos, mas firmes.
Caminhou miúdo, chegou longe.
Ele, que casou e teve filhos, todos eles Carlos.
Ele, o meu pai.
A sua figura indestrutível tem sido pra mim, desde a mais tenra infância, um referencial e uma fortaleza.
Graças a ele, andei e ando de cabeça levantada pelas ruas de onde quer que meus pés pisem.
Sua honestidade era (e é!) um dos super-poderes.
A firmeza, a lealdade e a persistência eram (e são!) outros.
Hoje, meu super-homem vive momentos difíceis.
Aos 74 anos, ele trava agora uma das mais difíceis batalhas de sua vida.
Nenhum deles se chama Lex Luthor, Bizarro, Mongul, Metallo, Darkseid, Brainiac ou o Ultra-Humonóide, que foi o primeiro adversário do herói dos quadrinhos e das telas.
Seo Antônio, ou melhor, Seo Totoca, tem diante de si o desafio de nocautear um derrame cerebral que tem lhe deixado impossibilitado de caminhar e duplicou-lhe a visão.
E eu, como no tempo em que devorava com voracidade as aventuras de meu herói das revistas em quadrinhos, quero chegar ao final desta história com a sensação de que meu mito maior venceu seu inimigo.
Meu super-herói, meu superpai, tem em mim muito mais que um admirador, ele tem em mim um crente.
Meu coração e minhas preces estão com ele lá no Brasil, aqui, e em todo o lugar.
O bem vencerá.
Tenho fé.
* Crônica escrita em 2004. Superman venceu mais uma vez.
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14 comments:
Bacana demais! Excelente e oportuna crônica. Valeu, mano! Abração.
Linda crônica! O meu super-homem venceu há muitos anos a sua última batalha na terra e se foi, então. Deu saudades dele lendo aqui...
Beijos, Beto.
Ah, acho que meu comentário não foi. Ou foi? Deu erro depois. Vou esperar e comentar de novo, se falhou. Essa crônica é tão linda, deu saudades do meu pai...
beijos,
Saiba você que por pior que seja o "inimigo" o bem sempre o vence o mal.
Boa sorte pro seu super herói!
Bom pai, bom filho, bom pai...
Quisera-o eu!
Alípio
Pai e mãe, ouro de mina.
Como sempre crônica muito bem escrita, Bob.
Ótimo que o filme do seu Super-homem tenha tido final feliz.
Parabéns.
robertílimo,
difícil chegar até aqui com mil e uma coisas para te dizer e apenas encontrar lugar para um abraço silencioso, desses onde cabe tudo o que não sendo dito preenche o espaço de todas as palavras.
ei-lo aqui, o abraço, carregado de amizade, esperança e silêncios... porque o bem triunfa sempre e não precisa de legendagem.
crónica escrita em 2004... ufa.
abracílimo!
Tão bonito e tão comovente...
Creio (mesmo)que Seo Supertotoca só poderia ter criado muitos Super Carlos.
Beijos, lindo!
Rossana
Intensamente terna tua homenagem ao teu super-homem, Roberto.
Emocionada.
E aliviada na atualização do asterisco.
Sorrio daqui com esta batalha vencida.
Abração!
Emocionante a sua declaração de amor a esse pai muito mais poderoso do que o Super-Homem. Vida longa a Seu Totoca.
bjs
cara
ler você é um presente
emocionado presente
abs mano
Roberto, suas palavras tocaram bem fundo. vinha falar de Elis, mas acabei marejando silêncios...
abraço!
Adorei ler este texto tão maravilhoso, carregado de tanto amor.
O seu pai é um herói real de carne e osso, ainda por cima um ser carregado de gratidão e afecto.
Tenho pena de não ter tido um pai como o seu, que me fizesse deslumbrar de ternura e admiração, mas em contrapartida tive uma mãe que excedeu em coragem, luta, dedicação e amor pelos filhos tudo o que se possa imaginar.
Tenho a certeza que seu pai vai ultrapassar esses problemas de saúde.
xx
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