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Sei que o homem lavava os cabelos como se fossem longos
Porque tinha uma mulher no pensamento
Sei que os lavava como se os contasse
Sei que os enxugava com a luz da mulher
Com os seus olhos muito claros voltados para o centro
Do amor, da operação poderosa
Do amor
Sei que cortava os cabelos para procurá-la
Sei que a mulher ia perdendo os vestidos cortados
Era um homem imaginado no coração da mulher que lavava
O cabelo no seu sangue
Na água corrente
Era um homem inclinado como o pescador nas margens para ouvir
E a mulher cantava para o homem respirar
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Quero a Fome de Calar-me
Quero a fome de calar-me. O silêncio. Único
Recado que repito para que me não esqueça. Pedra
Que trago para sentar-me no banquete
A única glória no mundo — ouvir-te. Ver
Quando plantas a vinha, como abres
A fonte, o curso caudaloso
Da vergôntea — a sombra com que jorras do rochedo
Quero o jorro da escrita verdadeira, a dolorosa
Chaga do pastor
Que abriu o redil no próprio corpo e sai
Ao encontro da ovelha separada. Cerco
Os sentidos que dispersam o rebanho. Estendo as direcções, estudo-lhes
A flor — várias árvores cortadas
Continuam a altear os pássaros. Os caminhos
Seguem a linha do canivete nos troncos
As mãos acima da cabeça adornam
As águas nocturnas — pequenos
Nenúfares celestes. As estrelas como as pinhas fechadas
Caem — quero fechar-me e cair. O silêncio
Alveolar expira — e eu
Estendo-as sobre a mesa da aliança
in "Dos Líquidos"
A Música Que Toca Sem Parar:
meu grupo pop de língua portuguesa favorito, o Trovante... Perigo.
Sai debaixo das pedras
E vai
Vai
Vai mais longe mais fundo
Não mudes de assunto
Só porque é mais fácil
Vai
Vai mais longe vai
Vai ao fundo do fundo
Não mudes de assunto
Há sempre um perigo
22 comments:
poeta de uma beleza que vai além de minhas possibilidades de qualificá-la. sempre que o leio "dispersamente" (não tive acesso a seus poucos livros) sinto alegria - por ser tomada por tanta sensibilidade e doçura - e, ao mesmo tempo, um certo pesar - por não dissociar da leitura a imagem de sua morte, de sua vida tão breve. como foi bom lê-lo agora, nesta madrugada..
beijos.
Lindo de doer, meu querido Roberto!
Enquanto a gente lê vai dando aquele friozinho na espinha, que acaba por arrepiar os cabelos...
Você é um garimpeiro bem sucedido!
E reparte comigo a lavra...
Grata!
Abraço da
Zélia
dos líquidos raros, embebidos na lira do delírio
abraço
Soberbos os poemas do Daniel Faria, caro Bob.
Grande achado seu que divide com os amigos.
Obrigado pelo presente e poste sempre essas maravilhas de versos.
Excelente fim de semana e aquele abraço.
lu,
daniel faria morreu cedinho, novo demais.
mas ja tinha escrito seu nome com uma tinta permanente.
daniel faria é uma tatuagem em minha nuca.
e essa tatuagem é inapagável.
bom te reler aqui, entre os meus.
beijo grande do
roberto.
zélia,
já que não produzo nada que mereça sua leitura, que minha garimpagens justifiquem este espaço.
beijão do
roberto.
assis,
quero um porre desse "líquido".
na sua agradável companhia ainda desce mais suave.
beijão, poeta de feira.
r.
pj,
poeta da ponta do calcanhar, sua presença nesse minifúndio de afetos é bálsamos para minha alma dolorida.
beijão do seu amigo do vale do rio mais doce, o
roberto.
"Na água corrente
Era um homem inclinado como o pescador nas margens para ouvir
E a mulher cantava para o homem respirar..."
Gostei dessa parte!
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Vc deveria chamar-se
Roberto "Pimenta" rsrs...
:P
uai, marcia, entendi não...
roberto pimenta? a quá.... por que?
acho que o nosso amadíssimo jorge me processaria...
daniel faria é fera?
seus poemas são geniais.
beijão,
r.
"Pimenta" de bravo... ehehehehehe
Posso dizer que tbm eu, sou pimentinha... ahahahahaha
Aquele tal abraço! ;-)
marcia... aí é que cê se engana... sou mansim, mansim...
esse povo brabo dá medo.
beijão,
r.
Bela e rica entrevista no Blog da Tânia!
Um abraço!
"Coisas importantes nesta entrevista, principalmente quando ele demonstra que os “blogs”, são verdadeiros livros de portas abertas, haja vista que em meu “blog” estão grafados parte dos meus sonetos que voam através dos últimos anos. A lembrança da música brasileira, colocando-a patamar superior. Vale lembrar que dentro da mente de um compositor existe grande alma poética.
Grande entrevista. Aprende-se muito com ela."
machado,
bom te ceber nesse minifundio de afeições.
faça-se em casa.
encurtou-se o caminho.
abraço grande do
roberto.
Oi Roberto,
Seguindo suas letras...
Abraço afetuoso do Gato e da Rosa( e da mineira perdida em Santa Catarina , por trás desses dois)
http://ogatoarosa.blogspot.com/
afeto retribuído...
é o milagre da palavra que une.
viva minas gerais!
abração do
roberto.
´Menino...
Com o frio e a chuva que tá aqui por esses dias...Viva Minas Gerais mesmo!
Lareira não tem graça!
Quero é um fogão "de roça" , que enquanto alimento ele de lenha,ele me alimenta de comidinhas...hum....Quero nem ficar falando muito! hehe...
abraço quentim...
Do Gato e da Rosa e da mineira perdida e achada (aqui no seu blog!)
ah... Convida seus amigos para uma visitinha no meu glob!Tá bom?
é um barato esse lance do fogão de lenha. por mais que parecá que não (e não devereia) a comida fica com um outro sabor.
pode deixar que, sim, a turma vai prestigiar o seu blog. afinal, a propaganda é a alma do negócio...
abraçao do
roberto.
Valeu Beto!
Posso tomar essa liberdade do apelido?
È verdade, fogão de lenha deixa um tempero diferente na comida.Acho que éo tempo que demora... vai processando melhor cada ingrediente.
Ainda não me apresentei, mas vc tb não perguntou meu nome!!!
outro abraço!( ô trem que vicia!)
eu nao decifrei o misterio do fogão de lenha. perguntarei um amigo, chefe de cozinha la de bh... ou pergunto pro google...
ah, sim, claro... pode chamar de beto, sim.
meus amigos me chamam desta maneira.
uai, pensei que seu nome fosse rosa. de minas gerais, morando em santa catarina.
abração do
r.
soberba a escrita do daniel faria, como já aqui o havia testemunhado.
coincidência: na bela lagos, apanhei uma preciosidade dele ("dos líquidos"), da agora extinta editora quasi, num alfarrabista de rua, por apenas 3€!? :)
abração, seu roberto e primeiríssima pessoa!
jorgíssimo,
da próxima vez que achar esse livro num sebo, compra pra mim.
tem um lugar pra ele na minha parca biblioteca.
fazemos os acertos financeiros no depois.
tão bom te ler por aqui.
abração do
roberto.
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