Wednesday, December 6, 2017

O mel


Vamos falar do mel das coisas boas. De mais encontros e menos despedidas. Mais delírios e menos porradas. Mais afeto e menos truculência.
Vamos falar do mel das palavras bonitas e benfazejas. E esquecer o fel daquelas que envenenam e coalham o sangue.
Vamos tecer alegrias e dissolver o rancor. A hora é agora. Afinal, mágoas passadas não movem moinhos.
Precisamos jogar no ralo da vida as amarguras e tristezas que, às vezes, nos fazem sentir como se tivéssemos pregado Jesus Cristo à cruz.
Esse calvário não é nosso. Essa conta já foi quitada há mais de 2 mil anos.
Para que viver com um pé no presente e o outro no anteontem?
É sabido que o passado é uma roupa velha que não nos serve mais. Então, para que insistir em vesti-lo, se as traças do tempo puíram seu vestido e as costuras do terno não resistiram ao tempo.
Para que mastigar reminiscências que magoam?
Por que ruminar o vidro moído do ressentimento?
Aprendamos.
Reconheçamos a proximidade do perigo.
Precisamos nos desviar dele, sequer olhá-lo nos olhos, ignorá-lo, simplificando o ofício de viver.
Recomeçar do zero, se preciso.
Toda manhã é um convite ao recomeço. Cada nascer do sol traz consigo a possibilidade de se reescrever a história a partir de uma página em branco.
Estejamos atentos. Aprumemo-nos. 
Acertemos nossos passos. 
Desviar do que ficou para trás faz-se necessário.
Enxotemos o fantasma que insiste em voltar quando dormimos, transformando nossas noites em pesadelos. Aprendamos a assustá-lo.
Expulsemos esse verdugo para longe de nós.
Reinventemos as noites, se preciso. O que seria da raça humana sem a capacidade de sonhar?
Sonhemos dias sem tempestade, de céu claro e sol brilhante.
Dias que começam com a grama orvalhada e se encerram com uma lua cheia.
Dias de sorvete de limão para aliviar o calor, de algazarra de crianças brincando e pipa colorida rabiscando o vento.
Dias de música bonita tocando no rádio e notícias boas. 
De abraços sinceros e do calor das verdadeiras amizades. Dia de visita de irmão. Dia de colo de mãe.
Dias de sessão de cinema, de pipoca, de chope com os amigos e conversa leve no bar.
Dia de sonhar acordado com um amanhã melhor que o hoje. Esse hoje, que já foi bom.
Vamos falar de futuro.
De quintais embandeirados. De flores de laranjeira e serenata entre amigos.
Tempo de bibliotecas acolhedoras, camas confortáveis, lençóis perfumados, macios, e travesseiros de penas de ganso.
Tempo de quintal com pomar, horta e canteiros coloridos. Tempo de açucenas, margaridas e girassóis. Sonhemos…
Sonhemos poemas e canções. 
Sonhemos o companheirismo e a amizade. 
Sonhemos com flamboyants sangrando e mangueiras em flor. 
Sonhemos…
Sonhemos a cumplicidade das coisas boas, a gargalhada solta, o afago gratuito e o olhar sincero. 
Sonhemos…
Sonhemos aquela reparadora viagem a Matchu Pitchu, a Paris, a Havana ou para onde a vontade apontar.
Tomemos coragem para fazer as malas e embarcar no primeiro avião.
Deixemos que o vento nos afague o rosto e nos percamos no azul.
É muito provável que neste se perder resida o se encontrar.