Saturday, November 27, 2010

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Limando o Lima

Fosse aqui nos Estados Unidos, alguém com o sobrenome Lima iria procurar quem inventou a expressão “Mandar o Lima” e processá-lo. O bordão é sinônimo de descaso e é usado toda vez que alguém não quer ir a algum compromisso, e resolve mandar o Lima em seu lugar. Dizem que Tim Maia mandou o Lima a muitos de seus shows, e que teria sido ele o cunhador do mote.
Estivesse vivo e morando nos Estados Unidos, algum distante parente meu arranjaria um jeito de processá-lo, demandando milhões. Aqui se processa por tudo. Teve uma dona que ganhou uma grana porque uma lanchonete McDonalds serviu-lhe um café quente. Já no carro, o copo de café caiu-lhe sobre o colo, queimando parte das coxas. Isto talvez explique o cafezinho morno que andam servindo por aí.
Nos anos noventa, “Bráulios” do Oiapoque ao Chuí bem que poderiam ter se manifestado em tribunal. Foram injustamente estigmatizados.
Fosse o Brasil os Estados Unidos, o processo teria sido movido contra o ministério da Saúde, que na campanha de prevenção contra a aids, sugeriu que se plastificasse, encapuzasse, encamisasse os suscetíveis a doenças sexualmente transmissíveis, Bráulios de todo o país.
Os imprudentes burocratas da Saúde teriam facilitado as coisas sem traumatizar ou ofender ninguém, tivessem escolhido um nome que não quisesse dizer outra coisa, que não o próprio dito-cujo. Qualquer slogan simpático resolveria:
“Não corra riscos desnecessários! Na hora da transa, plastifique o seu Bilau”.
Não conheço ninguém com esse nome. Bilau da Silva; Bilau Osório; Bilau de Andrade.
Essa de mandar o Lima é uma bossa relativamente nova. Mas existem registrados alguns casos bem antigos. Dizem que o Lima fez muitos dos exames anti-dopings de Diego Maradona, quando este jogava no Napoli. Aliás, era o Limone quem fazia o xixi no lugar do baixinho.
Aldir Blanc narra em seu livro Rua dos Artistas & Arredores, uma preciosidade, que conto aqui com algumas “adaptações”.
Um rapaz do bairro havia combinado de fazer uma serenata junto à janela de uma moça. Seria uma serenata em que pediria a mão da beldade em casamento, e para a qual já estavam confirmados alguns dos melhores músicos da região.
Os preparativos corriam dentro dos conformes e houve até quem consultasse a folhinha Mariana para ver se seria noite de lua cheia. Afinal, serenata e lua cheia ficam perfeitas juntas.
A uma semana da grande serenata, no entanto, o candidato a noivo classificou-se para as semifinais de um campeonato de sinuca no bairro vizinho. A partir daquele momento criou-se um impasse. E ele teria que tomar uma decisão importante.
Uma decisão que denotasse responsabilidade e bom senso.
Foi assim que ele acabou em terceiro lugar no campeonato, sem fazer feio na serenata.
Um amigo dele – provavelmente de sobrenome Lima – fez um emocionado discurso, declamando versos românticos e pedindo a mão da noiva em nome do ausente, informando que este tivera um “compromisso inadiável”.
Foi muito aplaudido e o pai da moça não só permitiu o namoro, como ainda abriu uma garrafa de uísque, que guardara durante muitos anos para uma ocasião especial.
Se aconteceu, verdadeiramente, eu não sei, mas o certo é que todos estamos sujeitos a levar um bolo. E muitos destes bolos são involuntários. Aconteceu, muito recentemente, comigo.
Kiko Sales descobriu que seria aniversário de César Augusto, amigo querido de ambos. Precisávamos homenageá-lo.
Combinamos com outros amigos comuns de sairmos juntos, e celebrarmos a data magna do jornalista. Só que César e a esposa Luciana estavam de viagem marcada para as Bahamas naquele dia, e não poderia participar. Na ausência deles, remarcamos para a volta.
Quando ligamos novamente para avisar da nova farra, ficamos sabendo que na data escolhida, eles estariam a trabalho em Boston.
Não desanimamos.
Saímos, jantamos, festejamos e ligamos para ele na hora do parabéns, com todos soltando a voz em desafinado uníssono. Até os garçons ajudaram a engrossar o coro ligeiramente alcoolizado.
No dia seguinte, logo pela manhã, encontro no celular uma mensagem do aniversariante:
- Foi minha melhor festa de aniversário de que não participei. Muito obrigado!
Espirituoso, César Augusto não perdeu a piada e nem os amigos.
E ainda ganhou, de presente, esta crônica aqui.

A Música Que Toca Sem Parar:
porque César Augusto (foto) é fã de Vander Lee, uma canção do último disco (Faro) do cantor e compositor do bairro Olhas d'Água, em Belo Horizonte.
De Vander Lee, a delicada e melódica Farol.

Você é meu farol
Meu talismã, meu sol
Meu dia, meu dial

Você é meu astral
Meu mapa virtual
Meu raio-x emocional

Você é minha foz
metade de nós
Meu adubo meu sal

você é minha e só
E nunca vai ser só
nem de fulano de tal

Quando caminho no escuro
É por você que procuro
Somando tudo é tão raro
Meu paladar e seu faro

Monday, November 22, 2010










há dias em que acordamos e percebemos tudo
o recorte das cidades no horizonte
a distância que há nos caminhos que rasgam os corações
como se fossem searas de trigo
o nome de certas coisas que só sentimos num abraço

depois percorremos a mão pelo granito
como se fossemos o tempo
e como se a vida não fosse mais do que uma claridade
que invade pela frincha da porta o quarto escuro

é então que descobrimos
num desses rostos com que cruzamos o olhar
que a vida podia ser outra
e que seríamos felizes num outro sorriso
se lhe entregássemos inteiros os nossos lábios

há dias assim
em que acordamos e percebemos tudo
como se tudo nos estivesse imensamente próximo
como se cada dia nascesse e morresse num abraço
como se a vida coubesse num poema

José Rui Teixeira

* José Rui Teixeira nasceu no Porto, em 1974. É licenciado em Teologia pela Universidade Católica Portuguesa e mestre em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. É professor no colégio Luso-Francês e teólogo do Centro Catecumenal da Igreja do Porto.
É autor de Vestígios (2000), Quando o Verão Acabar (2002 - Quasi Edições), Para Morrer (2004 - Quasi Edições), Melopeia (2004) O Fogo e outros utensílios da Luz (2005 - Quasi Edições) e Assim na Terra (2005 - Quasi Edições). Participou ainda na antologia Poesia à Mesa (Quasi Edições).

A Música Que Toca Sem Parar:
de Leo Masliah e Clara Sandroni, este manfesto... Guardanapos de Papel, na voz especialíssima de Milton Nascimento.



Na minha cidade tem poetas, poetas
Que chegam sem tambores nem trombetas
Trombetas e sempre aparecem quando
Menos aguardados, guardados, guardados
Entre livros e sapatos, em baús empoeirados
Saem de recônditos lugares, nos ares, nos ares
Onde vivem com seus pares, seus pares
Seus pares e convivem com fantasmas
Multicores de cores, de cores
Que te pintam as olheiras
E te pedem que não chores
Suas ilusões são repartidas, partidas
Partidas entre mortos e feridas, feridas
Feridas mas resistem com palavras
Confundidas, fundidas, fundidas
Ao seu triste passo lento
Pelas ruas e avenidas
Não desejam glorias nem medalhas, medalhas
Medalhas, se contentam
Com migalhas, migalhas, migalhas
De canções e brincadeiras com seus
Versos dispersos, dispersos
Obcecados pela busca de tesouros submersos
Fazem quatrocentos mil projetos
Projetos, projetos, que jamais são
Alcançados, cansados, cansados nada disso
Importa enquanto eles escrevem, escrevem
Escrevem o que sabem que não sabem
E o que dizem que não devem
Andam pelas ruas os poetas, poetas, poetas
Como se fossem cometas, cometas, cometas
Num estranho céu de estrelas idiotas
E outras e outras
Cujo brilho sem barulho
Veste suas caudas tortas
Na minha cidade tem canetas, canetas, canetas
Esvaindo-se em milhares, milhares, milhares
De palavras retrocedendo-se confusas, confusas
Confusas, em delgados guardanapos
Feito moscas inconclusas
Andam pelas ruas escrevendo e vendo e vendo
Que eles vêem nos vão dizendo, dizendo
E sendo eles poetas de verdade
Enquanto espiam e piram e piram
Não se cansam de falar
Do que eles juram que não viram
Olham para o céu esses poetas, poetas, poetas
Como se fossem lunetas, lunetas, lunáticas
Lançadas ao espaço e ao mundo inteiro
Inteiro, inteiro, fossem vendo pra
Depois voltar pro Rio de Janeiro

Wednesday, November 17, 2010



Há Mais de 20 anos não escrevo um único poema. Foi como se a poesia tivesse desertado de mim. Da última vez que fui a Belo Horizonte, no entanto, vi que em um canto mais reservado da casa, meu pai rezava. Murmurava de olhos fechados - no ouvido de Alguém -, seus pequenos e grandes segredos, inconfidências...
Eu, que saí de casa aos 21 anos de idade sem sabê-lo temente.
Eu, que, tinha absoluta certeza de que meu pai era ateu.
Eu, que emocionei-me tremendamente com a visão que se repetiria todas noites, durante todo o tempo que ficaria em BH.
Foi desta imagem reveladora que nasceu um poema.
Esta miudeza, aqui:



REZA
meu pai
nasceu
cresceu
e viveu
ateu.

no que envelheceu,
deu de cochichar
todas as noites
no ouvido
de Deus.

(12 de novembro de 2010)

A Música Que Toca Sem Parar:de Fernando Brant e Tavinho Moura, Paixão e Fé, na voz inconfundível de Milton Nascimento.


Já bate o sino, bate na catedral
E o som penetra todos os portais
A igreja está chamando seus fiéis
Para rezar por seu Senhor
Para cantar a ressureição

E sai o povo pelas ruas a cobrir
De areia e flores as pedras do chão
Nas varandas vejo as moças e os lençóis
Enquanto passa a procissão
Louvando as coisas da fé

Velejar, velejei
No mar do Senhor
Lá eu vi a fé e a paixão
Lá eu vi a agonia da barca dos homens

Já bate o sino, bate no coração
E o povo põe de lado a sua dor
Pelas ruas capistranas de toda cor
Esquece a sua paixão
Para viver a do Senhor

Sunday, November 14, 2010















Com um salutar pedido de desculpas

Adorava o som de Kleiton e Kledir, a então jovem dupla gaúcha que enchia auditórios de todo o Brasil.
Era início dos anos oitenta e eu respirava música. Eu os vi pela primeira vez abrindo um show do MPB4, no ginásio Arnóbio Pitanga, em Valadares. Eu devia ter uns 16 anos e fiquei encantado com a energia dos guris.
Saí de lá falando "bah"e "tchê", doidinho para beber chimarrão. Encantei-me.
Adotei um ritual - quando servia o exército em Juiz de Fora -, de todas as vezes que ia visitar meus pais em Valadares, deixar tocando na vitrola, no momento da saída, a música Deu Pra Ti.
Era como se dissesse aos meus pais que, assim que baixasse o astral na caserna, estaria de volta ao convívio familiar.
Curiosamente, deixei essa canção tocando na vitrola no dia 9 de abril de 1984, dia em que embarquei para a capital mineira e de lá para Nova York, definitivamente.
Lembro-me claramente de minha mãe enxugando os olhos com as costas da mão, enquanto os guris enchiam de som o ar da casa da Rua Topázio.
Desde então, essa canção ficou reverberando dentro de mim, como um daqueles tangos-fantasma, que nunca deixam de tocar dentro da cabeça e do coração da gente.
Passaram-se os anos, tornei-me um operário da notícia e eles construíram uma carreira sólida, interrompida por um hiato que nos deixou, fãs, muito decepcionados.
Eu não conseguia conceber o Kleiton sem o Kledir e vice-versa.
Sabe aquela coisa de quando dois são um?
Felizmente, soprou um minuano lá pelas bandas de Paris - onde Kleiton se exilou estudando música -, e ele resolveu voltar ao Brasil e retomaram a dupla.
Há algum tempo, juntamente com os empresários Kiko Salles e Fábio Portugal, criamos o MPB Club, projeto que trouxe aos palcos americanos muitos artistas brasileiros de primeira grandeza. Kleiton e Kledir foram incorporados e, não apenas fizeram espetáculos inesquecíveis, como acabaram se tornando grandes amigos e parceiros.
Sim, parceiros, pois os guris musicaram Água e Vinho e A Outra Metade, dois poemas meus.
Hoje nos frequentamos, a gente dá sempre um jeitinho de se ver e o Kledir escreve (bem!) para o Brazilian Voice.
Paralelamente à música, ele editou dois livros que foram sucesso de publico e crítica no Brasil (Tipo Assim - um fenômeno na Internet - e O Pai Invisível).
Kledir costuma dizer que sou padrinho de sua carreira literária, o que me enche de orgulho, embora não seja verdade.
Kledir já era um escritor feito quando nos conhecemos.
Estava apenas esperando o momento certo de sair da casca.
Em julho passado estivemos juntos no Rio de Janeiro. Hospedei-me uns dias na bela casa na Joatinga.
Enquanto ele tentava me converter ao vegetarianismo, levei-o para a noite, tentando convencê-lo a freqüentar o meu mundo: o da esbórnia.
Durante um breve período, ele chegou mesmo a cheirar rapé, um hábito mineiro que ainda não abandonei, e que o seu médico desaconselhou peremptoriamente.
O doutor diz que dá taquicardia.
Não sei se é verdade.
Afinal, meu coração sempre desafinou.
Sempre bateu fora do tom.
Desnecessário dizer que ninguém convenceu ninguém.
Quando saí de sua casa para o aeroporto, parei numa churrascaria e ataquei um rodízio. Sem o menor remorso.
Sabe lá o que é ficar cinco dias numa casa onde jamais se fritou um bife?
E ele não deve estar com saudade da cerveja sem álcool, que praticamente o obriguei a beber enquanto me escoltava pela noite carioca. Não devo ser boa companhia.
E eu ainda o provocava, dizendo que beber cerveja sem álcool é o mesmo que dançar com a irmã. Quando Julia (sua primogênita) veio fazer um intercâmbio nos EUA, tomou o primeiro porre da vida, e o Kledir entrou em desespero.
Ligou-me, todo aflito, pedindo conselhos ao cara que ele diz ser a "maior autoridade em pileques fora do Brasil". Não é bem assim.
Mas o tranqüilizei.
Ressaca não mata ninguém.
E Julia sobreviveu lindamente.
Começo a falar dos guris e acabo me perdendo em recordações.
Essa crônica iniciou-se, na verdade, com o propósito de ser lida como um envergonhado pedido de desculpas.
Kledir aniversariou semana passada e esqueci completamente desse que, desde que nos tornamos amigos, é sempre um dos primeiros a ligar para os nem sempre merecidos parabéns.
Portanto, Kledir, que você seja muito feliz nessa nova idade.
E que continue sendo esse sujeito fantástico que é.
E que nunca se esqueça desse meu amor por você.
Aceite meus atrasados, mas sinceros parabéns. E uma pitada exagerada de carinho desse seu irmão, nascido estranhamente do ventre de uma outra mãe.

A Música Que Toca Sem Parar:
aquela canção-fantasma que ficava tocando quando eu saía de casa no início dos anos 80 e que nunca mais deixou de tocar dentro do meu coração. De Kleiton e Kledir, Deu Pra Ti.

Friday, November 12, 2010

Três Poemas de Manoel de Barros (e um dele é dito)

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Retrato quase apagado em que se pode ver perfeitamente nada
(I)


Não tenho bens de acontecimentos.
O que não sei fazer desconto nas palavras.
Entesouro frases. Por exemplo:
- Imagens são palavras que nos faltaram.
- Poesia é a ocupação da palavra pela Imagem.
- Poesia é a ocupação da Imagem pelo Ser.
Ai frases de pensar!
Pensar é uma pedreira. Estou sendo.
Me acho em petição de lata (frase encontrada no lixo)
Concluindo: há pessoas que se compõem de atos, ruídos, retratos.
Outras de palavras.
Poetas e tontos se compõem com palavras.


Glossário de transnominações em que não
se explicam algumas delas (nenhumas) - ou menos


Poesia, s. f.
Raiz de água larga no rosto da noite
Produto de uma pessoa inclinada a antro
Remanso que um riacho faz sob o caule da manhã
Espécie de réstia espantada que sai pelas frinchas de um homem
Designa também a armação de objetos lúdicos com empregos de palavras imagens cores
sons etc. geralmente feitos por crianças pessoas esquisitas loucos e bêbados

Poeta, s. m. e f.
Indivíduo que enxerga semente germinar e engole céu
Espécie de um vazadouro para contradições
Sabiá com trevas
Sujeito inviável: aberto aos desentendimentos como um rosto

Boca, s. f.
Brasa verdejante que se usa em música
Lugar de um arroio haver sol
Espécie de orvalho cor de morango
Ave-nêspera!
Pequena abertura para o deserto

Sol, s. m.
Quem tira a roupa da manhã e acende o mar
Quem assanha as formigas e os touros
Diz-se que:
se a mulher espiar o seu corpo num ribeiro florescido de sol, sazona
Estar sol: o que a invenção de um verso contém

Árvore, s. f.
Gente que despetala
Possessão de insetos
Aquilo que ensina de chão
diz-se de alguém com resina e falenas
Algumas pessoas em quem o desejo é capaz de irromper
sobre o lábio, como se fosse a raiz de seu canto

Apêndice:
Olho é uma coisa que participa o silêncio dos outros
Coisa é uma pessoa que termina como sílaba
O chão é um ensino.



Manoel de Barros
Gramática Expositiva do Chão
Editora Civilização Brasileira, 1990

In, O Guardador de Águas


A Música Que Toca Sem Parar:
Pedro Paulo Rangel
recita Matéria da Poesia, de Manoel de Barros.

Tuesday, November 9, 2010

Chico Buarque recebe o Prêmio Portugal Telecom de Literatura


















Chico Buarque ganha mais um prêmio com 'Leite Derramado'


Na noite desta segunda-feira (8), o cantor, compositor e escritor Chico Buarque de Holanda levou mais um prêmio com seu último livro Leite Derramado. Depois do Prêmio Jabuti, conquistado na semana passada, Chico Buarque recebeu agora o Prêmio Portugal Telecom de Literatura - troféu e R$ 100 mil, recebidos das mãos de Pilar del Rio, viúva do escritor José Saramago.

Em segundo lugar, e com um prêmio de R$ 35 mil, ficou Rodrigo Lacerda, com o livro Outra vida. Armando Freitas Filho conquistou a terceira posição e um prêmio de R$ 15 mil com seu livro Lar.


A Música Que Toca Sem Parar:
na voz de Chico Buarque escolhi Sinal Fechado, que é da autoria de Paulinho da Viola.

- Olá! Como vai?
– Eu vou indo. E você, tudo bem?
– Tudo bem! Eu vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro... E
você?
– Tudo bem! Eu vou indo, em busca de um sono tranqüilo...
Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é, quanto tempo!
– Me perdoe a pressa - é a alma dos nossos negócios!
– Qual, não tem de quê! Eu também só ando a cem!
– Quando é que você telefona? Precisamos nos ver por aí!
– Pra semana, prometo, talvez nos vejamos...Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é...quanto tempo!
– Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das
ruas...
– Eu também tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança!
– Por favor, telefone - Eu preciso beber alguma coisa,
rapidamente...
– Pra semana...
– O sinal...
– Eu procuro você...
– Vai abrir, vai abrir...
– Eu prometo, não esqueço, não esqueço...
– Por favor, não esqueça, não esqueça...
– Adeus!
– Adeus!
– Adeus!

Saturday, November 6, 2010

Na tela do teto
















Durante muito tempo tive o costume de avaliar o dia quando me deitava para dormir. Desnecessário dizer que muitas vezes perdi o sono, dependendo de uma ação errada minha, ou de alguém para comigo.
Perdoar é uma dádiva.
E não ser dadivoso com alguém pode pesar tanto quanto não o terem sido com você.
De uma forma ou de outra, as consequências são sempre cruéis. Exercitar o perdão deveria ser uma obrigação. E não uma opção.
E foi assim que o perdão foi, muitas vezes, o meu calcanhar de Aquiles, motivo de grande frustração.
Preciso aprender a perdoar.
E a exercitar um monte de outras virtudes, que deveriam fazer parte da cartilha de toda pessoa do bem.
Mas eu falava do costume de avaliar as ações ao fim de cada dia, hábito que deixei de praticar.
Tão logo me deitava, projetava uma tela no teto do quarto e esmiuçava as últimas 24 horas com o compenetramento de um legista que disseca um cadáver:
Fui ríspido com alguém? Sim ou não?
Mas abri a porta para uma senhora bem velhinha no correio. E paguei sozinho a conta do restaurante.
Comprei ingressos para um show que só vai acontecer daqui a seis meses.
Estarei vivo até lá?
Morrerei?
De que morrerei eu?
Ficarei doente no dia?
Darei os ingressos antecipadamente a algum amigo?
Hoje fiquei triste porque meu time perdeu.
Fiquei feliz demais com a vitória de meu time.
Não deu os 15% de gorjeta ao garçom.
Emprestei o carro a um amigo. Sorri para uma criança na rua.
Não disse eu te amo a quem de direito.
Não fui afetuoso o suficiente.
Fui rude nesta ou naquela situação.
Mostrei o dedo médio - sim, aquele infame dedo médio! - a alguém no trânsito? Passei uma luz amarela? Andei acima do limite de velocidade?
Dei a vez a uma pessoa no trânsito, apesar de ser minha a preferência.
Fui gentil com alguém. Fui atencioso. Fui dócil e doce com quem de direito.
Fiz que não vi um antigo desafeto na rua, apesar de ele ter me cumprimentado com cara de quem queria fazer as pazes.
Dei dinheiro a um veterano de guerra, que esperava no frio pessoas de coração generoso.
Mesmo não possuindo coração tão generoso e fraterno, enfiei a mão no bolso e colaborei, impressionado, talvez, com as pernas mutiladas e o estado precário de suas roupas.
Mas dei. E dei de bom grado. Mas ainda preciso amolecer meu coração.
No trabalho, a crônica não saiu boa. Agredi a gramática com erros grotescos, por pura desatenção?
Ou, não, hoje a crônica saiu dentro dos conformes. Não preciso me envergonhar dela.
Exagerei no chope? No macarrão e no açúcar? Extrapolei no uísque?
Prolonguei o horário do almoço jogando conversa fora no restaurante?
Deixei de retornar um telefonema? Deixei de retornar vários telefonemas?
Não respondi ao e-mail de fulano ou fulana?
Não fiz caminhada pela manhã?
Telefonei para Minas Gerais e disse à minha mãe da saudade que sinto de todos? Há quantas semanas não ligo para Minas Gerais, deixando a impressão de que não sinto saudades de ninguém? Nem de pai, nem mãe...
Deixei de ir a este ou aquele lugar?
Adiei para o futuro esta ou aquela ação? E por aí a fora...

Era assim que tratava de buscar soluções para situações cotidianas antes da chegada do sono. Dependendo do tamanho da encrenca ou da dúvida, o sono não aparecia e eu ficava ali, rolando de um lado para o outro, penitenciando-me por este ou aquele pecado, independente de seu calibre ou teor.

O medo de me tornar um zumbi e não conseguir mais dormir fez com que eu interrompesse o hábito de pesar os prós e os contras do meu dia, adiando para o futuro a possibilidade de me tornar uma pessoa melhor. E de fazer, assim, a minha parte para um mundo melhor. Afinal, a paz do indivíduo é a paz do mundo.


A Música Que Toca Sem Parar:
passei o dia inteiro com Vítor Ramil tocando dentro do meu coração. De seu disco A Paixão de V Segundo Ele Próprio retirei Satolep (Pelotas, lugar que o viu nascer, de trás para a frente), porque tudo o que eu queria hoje era estar em paz. Eu, e o mundo.

Sinto hoje em Satolep
O que há muito não sentia
O limiar da verdade
Roçando na face nua
As coisas não têm segredo
No corredor dessa nossa casa
Onde eu fico só com minha voz
A Dalva e o Kleber na sala
Tomando o mate das sete
A Vó vem vindo da copa
Trazendo queijo em pedaços
Eu liberto nas palavras
Transmuto a minha vida em versos
Da maneira que eu bem quiser
Depois de tanto tempo de estudo
Venho pra cá em busca de mim.

E o céu se rirá d'amore
No olho azul de Zenaide
Outrora... lembras flam(ingos)
Jê ne se pá, singulare
Yê na barra uruguaia
E letchussas no Arroito
Marfisas gemerão de paz
No The Lion!
La Jana torpor vadio
Cigarra sem horizonte
Lia, Alice e a lua
Num charque sem preconceito
O CISNE NEGRO APRISIONA
O bélICo AmoR perdidO
E a Esma num bissaje só
Cativa alguém
Nessa implosão de signos e princípios
Eu guardo o Joca e ele a mim.

O teu nome, Ana, escrito
No braço da minha alma
Persiste como uma estrela
Nas horas intermináveis
Chuva, vapor, velocidade
É como o quadro do Turner
Sobre a parede gris da solidão.
So-to-me-lo te verás-me
Como-lho-me verte-ás-nos
Solo te quiero dizer-te
Que me sinto mui contento
Porque vou na tua casa
E lemos cousas bonitas juntos
No silêncio eu pego em tua mão
Tu do meu lado e eu no teu quarto quieto
Teu ser se confunde no meu.

Vitorino de La Mancha
Minha luta se resume
No compasso de um tango
Na minha triste figura
Meu piano Rocinante
A YOGA e o chá no fim da tarde
E depois a noite e meu temor.
Eu converso com o Kleiton
Na mesa da casa nova
Sobre a vida após a morte
Sobre a morte após a vida
Vencedor é o que se vence
E a falta do Kleber é dura
O que a gente quer é ser feliz
A paz do indivíduo é a paz do mundo
E viva o Rio Grande do Sul!

Só, caminho pelas ruas
Como quem repete um mantra
O vento encharca os olhos
O frio me traz alegria
Faço um filme da cidade
Sob a lente do meu olho verde
Nada escapa da minha visão.
Muito antes das charqueadas
Da invasão de Zeca Netto
Eu existo em Satolep
E nela serei pra sempre
O nome de cada pedra
E as luzes perdidas na neblina
Quem viver verá que estou ali.

Tuesday, November 2, 2010

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solta-te
como se ainda fosses
um peixe a fugir da morte
e houvesse
por entre os dedos da noite
uma escada
de sereno veneno
por onde pudesses
mentir ao medo
e acordar numa hora
possível de dizer sim
um luminoso sim
e as marés
te olhassem nervosas
como se a palavra
ou o segundo
que tudo pode secar
te roesse a mão nua
e esse fosse
o instante da dor
ou o momento
de partir

deixa
que te durmam nos lábios
os velhos tambores
que te queimem os pés
as nuvens gastas
e que um outro lugar
rompa a areia do tempo
e rasgue o coração
como o céu do deserto
um lugar
que fosse como o ventre
dos sinos
e soasse almas sem lama
olhos sem raiva
que poisassem no mundo
sem o cegar



gil t. sousa


A Música Que Toca Sem Parar:
do recém-lançado cd/dvd Papo de Passarim, Zé Renato e Renato Braz cantam Ponto de Encontro, da autoria de Zé Renato e Milton Nascimento.


Corro ao portão
Que esperança
Correio já passou e não deixou nada
Segura essa coração
Vamos ver se amanhã a coisa...muda
O telefone diz
A voz é outra...
Fala do trivial
Não faz mal. Agrada...
Olhar não mente e se mostrou
Narrando uma ansiedade
Quase louca
É muito amor que se viveu
Pra se apagar na sombra
Da saudade... Que saudade

Onde se perdeu...
Onde se esqueceu...

Tudo tem seu momento, é tudo ou nada...
E lá no fundo sei talvez seja tarde
Só a imagem que ficou
Virá me visitar o pensamento
Virá me embriagar de fantasia
O teu perfume então estará na vida
A hora certa já passou
E o tempo não curou essa ferida
O muro cresce já subiu
E corro atrás da porta de saída...
A saída...

De te respirar...
De reconquistar...
De te respirar...
De reconquistar...

Corro ao portão, que esperança.
Correio já passou e não deixou nada
Segura essa coração, vamos ver se amanhã a coisa muda.

Jorge Amado e Paulo Coelho são os autores brasileiros mais traduzidos na Alemanha
























Na Alemanha, os autores brasileiros mais reconhecidos pelo público são Jorge Amado e Paulo Coelho. Ambos têm vários títulos traduzidos do português para o alemão. O cônsul-geral do Brasil em Frankfurt, embaixador Cézar Augusto de Souza Lima Amaral, disse à Agência Brasil que é necessário ampliar o leque de opções a ser oferecido em alemão.

O diplomata lembrou que na Feira do Livro de Frankfurt são vendidos cerca de 100 milhões de exemplares a cada edição do evento. “Infelizmente, as nossas projeções de pensamento ainda não estão bem apresentadas na Alemanha, uma das dificuldades é o idioma. Há casos, como Os Sertões [de Euclides da Cunha, publicado em 1902], cuja tradução demorou três anos”, disse.O embaixador afirmou que a feira atua em várias frentes, como o apoio às editoras e aos autores, assim como no suporte para negociações mundiais relativas à questão dos direitos autorais. Amaral disse que o fato de o Brasil ser homenageado na feira facilita a penetração das editoras e autores no cenário internacional. Isso vale para as publicações literárias, técnicas e nas áreas de ciências sociais, além de literatura infantil.Durante a Feira do Livro de Frankfurt ocorrem vários eventos paralelos, como ciclo de leituras com autores, oficinas de tradução, debates e mesas-redondas, além de festivais de cinema. Pelo acordo assinado entre o Ministério da Cultura e a organização da feira, será criado um comitê – com integrantes do Brasil e da Alemanha – para definir as atividades que serão apresentadas em outubro de 2013.