Thursday, November 29, 2018

O presente maior


O que dar de presente a um menino no dia de seu aniversário?
Das minhas recordações da infância salta uma bola de futebol, prenda de uma tia de Belo Horizonte.
Cresci achando ter ganhado menos presentes do que mereci. Adulto, entendi que recebi muito mais do que podiam dar.
O que dar a um filho, menino, no dia de seu aniversário?
Um futuro brilhante?
Um lugar garantido em Harvard, quando ele crescer?
Um poema?
Uma canção?
O gol da vitória numa final de campeonato na escola?
Um dez em matemática?
Pais amorosos e honestos?
Eu, se pudesse, daria também uma professora do primário carinhosa e meiga.
E um carrinho de madeira, com capô de lata de óleo de cozinha e rodas recortadas de uma velha sandália havaiana.
Adicionaria um pião, uma pipa e um carrinho de rolimã.
Um embornal com um estilingue e muitas bolinhas de gude.
E frutas maduras, suculentas, tiradas por ele do pé.
Daria ainda manhãs de grama orvalhada.
Uma estrela que nunca se apaga.
E uma fogueira de São João.
Daria férias inesquecíveis na fazenda.
E um piau prateado, daqueles que dançam na ponta da linha.
Proporcionaria um passeio no lombo de um cavalo troteiro.
E a visão confortante, ao longe, de uma chaminé fumegando na paisagem.
Construiria para ele uma estrada margeada por  margaridas, cravos, lírios e jasmins.
Daria um conselho de avô.
E um mergulho no riacho.
Uma ducha na cachoeira.
Uma lua cheia.
Noites sem pesadelos, sem bruxas malvadas ou dragões que cospem fogo.
Dias de chuva?
Só se fossem aqueles de verão, cantando “sol e chuva, casamento de viúva”.
E o cheiro da terra molhada com arco-íris em technicolor, o pote de ouro ao alcance das mãos, bem no fim.
Daria ainda uma festa de aniversário coalhada de balões coloridos e doze meses de primavera.
E um bolo de chocolate, com uma vela numeral em cima, rodeado de amiguinhos do peito, puxando um desafinado - mas entusiasmado - ‘parabéns’.
Os tempos mudaram, eu sei.
E hoje só se fala em videogames, bicicletas de titânio, rollerblades, laptops, celulares, roupas de grife, viagens a Disney e bonecos de super-heróis, daqueles que lançam raios laser dos olhos e punhos.
E não há nada de errado nisto.
Mudaram os tempos e os mimos que damos aos meninos, isso é normal.
O que não podemos mudar é aquilo que acredito ser o presente maior.
No meu relicário - que é onde guardo as coisas de maior valor -, estão o respeito e a admiração por um cara que sempre deu muito mais do que pôde dar:
O amor pelo filho dura para sempre, é fato. Herdei do meu como prenda e lição.
O resto, todo o resto, também é importante.
Mas é coisa menor.
Bem menor.
Grande é a infância.

Tuesday, November 13, 2018


o nome deles
bordado dentro
do arco de ouro
na falange
do anelar


são dois
os dedos
enfiados
na argola
que sustenta,
em vão,
o pino frágil da granada
pronta para explodir
na mão.