Saturday, February 25, 2017
Antropônimos esdrúxulos
Li em algum lugar que os nomes mais populares de 2015 foram Alice, Sophia e Julia para as meninas e Miguel, Artur e Davi para os garotos, repetindo o mesmo resultado do ano anterior, mudando apenas a ordem das preferências.
Tuesday, February 21, 2017
Três poemicos sem a menor importância
(I)
Desorizonte
Em Belo Horizonte
Enterrei minha avó
E seu filho, meu pai
Em Belo Horizonte
Enterrei o sonho
De transformar
O inverno da vida
Em feliz verão
Belo Horizonte
É o cemitério
Onde estão enterrados
Passados e futuros
Meus.
(II)
Desmágica
No que acendo a luz,
apago o silêncio
do quarto.
(III)
Desastre
Vasculham a alma, os dois,
Tentando achar a caixa-preta
daquele grande amor.
Tuesday, February 14, 2017
Os gauloises de Brigitte
Parei de fumar no dia 1º de dezembro de 2011, após tentar escalar um poste da South Street. Bati a cabeça no painel do carro e até hoje não lembro de nada relativo ao acidente.
No dia seguinte, entrando numa máquina de tomografia do hospital, fiz um pacto com Deus.
Entendi que havia recebido uma segunda oportunidade e tinha que dar algo em troca. Dei os cigarros.
Por que não o álcool, principal fator causador do acidente?
Porque achei que o cigarro estava me fazendo mais mal do que a bebida, o que pode parecer um ato de negação, observada a gravidade do acidente, mas que para mim fazia mais sentido naquele momento.
Achei que controlar a bebida era mais fácil do que o cigarro consumido compulsivamente, quase quarenta todos os dias.
Talvez tenha sido influenciado pelas campanhas anti-tabagismo na televisão.
O tabaco é um assassino silencioso, que mata aos pouquinhos. Mas quem tem pressa de morrer?
Quando comecei a fumar o cigarro ainda não causava câncer. Nem enfizema ou impotência sexual, como apregoam os maços de cigarro dos dias de hoje.
Todo mundo fumava.
Meus amigos, meus ídolos e até o padre da paróquia. E eu achava lindo ver os intelectuais falando aquelas coisas todas entre uma baforada e outra, as pérolas que iam dizendo se misturando à fumaça.
Nas novelas de televisão, nas telas do cinema e até mesmo dentro destes, as pessoas se esbaldavam na névoa esbranquiçada.
Fumava-se dentro dos bares, em praças de esportes e até no interior dos aviões.
Não havia esta irritação jihadista contra os tabagistas de agora, nem leis proibindo sua prática em lugares fechados.
O cigarro fazia companhia, aplacava a ansiedade e era uma maneira de aproximar as pessoas.
– Tem fogo?
O sujeito arrancava do bolso um isqueiro ou uma caixa de fósforos e começava ali uma amizade. Ou algo mais.
Pedir fogo já resultou em muitos romances.
Como esquecer Brigitte Bardot com um gauloises entre os lábios carnudos?
Ou o escritor franco-argelino Albert Camus na capa de O Estrangeiro, um de meus livros favoritos?
As pessoas ainda não tinham a consciência dos malefícios do tabagismo como agora, não eram estes cruzados capazes de atitudes tão rudes, tão paladinas.
Desde o primeiro de dezembro de 2011, nada de cigarro para mim. Necas! Mas não existe um único dia que eu não tenha saudade dele.
Uma saudade aguda, quase física.
No outro dia, vinha com Edilberto Mendes à caminho do consulado brasileiro, em Nova York, e deparei com o tamanho da minha fraqueza.
Descíamos a rua 46 em direção à sexta avenida, quando vi um mendigo de cabelo rastafari, o peito nu, acocorado com seu marlboro em brasa, o nike todo fodido, e aquela expressão imperturbável de prazer. Ainda nem eram 9 da manhã.
Olhei para o homem sem disfarçar a admiração e relatei ao amigo o tamanho da inveja que ele despertara em mim.
– Inveja de um mendigo, Roberto?
Sim, inveja da durabilidade, da incorreção política e sua absoluta ausência de fé ou desejo de eternidade.
Um homem livre e que não faz pacto com ninguém.
Nem com Deus.
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