Tuesday, January 25, 2011

Alô, doçura!

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Alô, doçura! Assim começava o email da suposta ucraniana de 24 anos, que perguntava se eu gosto das moças nascidas na Ucrânia.
Objetiva, ela esboçou mais duas frases falando de seus atributos físicos e valores morais e se despediu, decretando: a hora de nos encontrarmos é agora.
Quem assinou o email foi uma agência de matrimônio internacional.
É óbvio que o destinatário estava equivocado.
Não estou procurando casamento. E processo quem estiver espalhando por aí o contrário.
Este é apenas um dos muitos emails que recebo todos os dias, entre os que conseguem driblar o filtro de lixo eletrônico de minha caixa de emails.
Deve ser uma cilada. Mais uma.
Durante muito tempo recebi uma mensagem de uma mulher que dizia-se viúva de um príncipe africano.
Na mensagem quilométrica, ela abria dizendo que herdara uma fortuna de alguns milhões de dólares do marido, e encerrava me pedindo conselhos sobre como investir o seu dinheiro.
Logo eu, que pouco ou nada sei destas coisas.
Eu, que nunca investi um centavo na bolsa de valores, e que não investiria mesmo se tivesse o que é necessário para se brincar de roleta-russa em Wall Street.
Não me manifestei, óbvio, e leria num jornal americano, algum tempo depois, que uma operação do FBI havia desbaratado uma quadrilha nigeriana que lesava incautos mais ambiciosos do que eu.
E, claro, não havia viúva alguma.
Confesso que, ultimamente, sinto-me desestimulado a abrir meus emails.
Passo mais tempo separando lixo eletrônico da correspondência diária com leitores e colaboradores do jornal, do que propriamente lendo e respondendo a cada um deles.
Sou do tempo em que se escrevia cartas e esperava-se pela passagem do carteiro.
Abrir o envelope era um ritual indizível.
Só quem é do meu tempo entende e sabe do que estou falando.
Uma carta de mãe, por exemplo, transboradava amor materno e trazia até um cheirinho de bolinho de chuva.
A carta de uma namorada trazia seu perfume e uma marca de batom no lugar da assinatura.
As correspondências de cunho triste traziam a essência dos cravos do luto e as badaladas do sino da igreja.
As que vinham de amigos traziam abraços afetuosos, energias solidárias e muito da certeza de que tudo daria certo.
Mas os tempos mudaram e a rapidez e comodidade de um email fizeram com que extinguíssimos a magia e o charme das cartas.
Voltando a falar do grande supermercado em que transformaram minha caixa postal eletrônica, é incrível a quantidade produtos que anunciam.
Como conseguiram o meu endereço eletrônico, até hoje eu não sei, mas tenho certeza de que existem companhias que vendem estas listas.
E que meu nome baila de um lado pro outro, como pau de enxurrada.
A imaginação da turma parece cartola de mágico e nada escapa ao faro das empresas que descobriram nesta inovadora forma de marketing, um novo e eficiente canal.
Já comprei um monte de coisas que não precisava, coisas do tipo fatiador de ovo cozido, aparador de pelos nasais e um ridículo par de pantufas de ursinho.
E tem ainda aqueles produtos em que mostram fotografias do “antes” e do “depois”, que são um verdadeiro engodo.
A promessa do abdome de "tanquinho" após três meses com o aparelhinho iônico recomendado não se concretizou, e até hoje não recebi o meu dinheiro de volta.
E eles diziam na propaganda: satisfação garantida ou o seu dinheiro de volta.
Mas nada desinquieta mais do que a turma que oferece comprimidos para desfunções eréteis, ou os que oferecem aumentar em apenas algumas semanas, o tamanho do "apetrecho" do freguês.
Para embasar com “fatos”, mostram o resultado de uma pesquisa realizada com um número xis de mulheres que atestam que, nos dias de hoje, tamanho é documento, sim.
O leitor que lê, fica inseguro na hora, coça o queixo e se pergunta:
- Será que andaram reclamando por aí?

A Música Que Toca Sem Parar:
de Sivuca e Glorinha Gadelha, este retrato do Brasil do interior: Feira de Mangaio.

Fumo de rolo arreio e cangalha
Eu tenho tudo pra vender, quem quer comprar
Bolo de milho broa e cocada
Eu tenho pra vender, quem quer comprar
Pé de moleque, alecrim, canela
Moleque sai daqui me deixa trabalhar
E zé saiu correndo pra feira de pássaros
E foi pássaro voando em todo lugar
Tinha uma vendinha no canto da rua
Onde o mangaieiro ia se animar
Tomar uma bicada com lambu assado
E olhar pra maria do joá
Cabresto de cavalo e rabichola
Eu tenho pra vender, quem quer comprar
Farinha rapadura e graviola
Eu tenho pra vender, quem quer comprar
Pavio de cadeeiro panela de barro
Menino vou me embora
Tenho que voltar
Xaxar o meu rocado
Que nem boide carro
Alpargata de arrasto não quer me levar
Porque tem um sanfoneiro no canto da rua
Fazendo floreio pra gente dançar
Tem zefa de purcina fazendo renda
E o ronco do fole sem parar

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Saturday, January 22, 2011

3 Poemas de Juan Gelman

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claro que morrerei

claro que morrerei e hão-de levar-me
em ossos ou cinzas
e dirão palavras e cinzas
e eu hei-de morrer totalmente

claro que isto acabará
minhas mãos pelas tuas alimentadas
hão-de pensar-se de novo
na humidade da terra

eu cá não quero caixão
nem roupa

que o barro aceite minha cabeça
e que os bichos me devorem
agora
despido de ti


Mi Buenos Aires querido

Sentado na borda de uma cadeira sem tampo,
enjoado, doente, vivo por pouco,
escrevo versos previamente chorados
pela cidade onde nasci.
Tenho de segurá-los, também aqui
nasceram doces filhos meus
que me adoçam belamente no meio de tanto castigo.
É preciso aprender a resistir.


Não a partir nem a ficar,
mas a resistir,
embora seja seguro
que hão-de vir mais penas e olvido.


Chuva

hoje chove muito, muito,
dir-se-ia que estão a lavar o mundo.
o meu vizinho do lado vê a chuva
e pensa em escrever uma carta de amor
uma carta à mulher com quem vive
e lhe faz a comida e lava a roupa e faz amor com ele
e se parece com a sua sombra
o meu vizinho nunca diz palavras de amor à mulher
entra em casa pela janela e não pela porta
por uma porta entra-se em muitos sítios
no trabalho, no quartel, na prisão,
em todos os edifícios do mundo
mas não no mundo
nem numa mulher / nem na alma
quer dizer / nessa caixa ou nave ou chuva que chamamos assim
como hoje / que chove muito
e me custa escrever a palavra amor
porque o amor é uma coisa e a palavra amor é outra coisa
e só a alma sabe onde as duas se encontram
e quando / e como
mas que pode a alma explicar

por isso o meu vizinho tem tempestades na boca
palavras que naufragam
palavras que não sabem que há sol porque nascem e morrem na
mesma noite em que ele amou
e deixam cartas no pensamento que ele nunca escreverá
como o silêncio que existe entre duas rosas
ou como eu / que escrevo palavras para regressar
ao meu vizinho que vê a chuva
e à chuva
ao meu coração desterrado


In
No avesso do mundo


A Música Que Toca Sem Parar:
Milton Nascimento e Fito Paez, pai da canção, Yo Vengo a Ofrecer Mi Corazón gravada ao vivo no Museu de San Telmo, em Buenos Aires.

¿Quién dijo que todo está perdido?
Yo vengo a ofrecer mi corazón
Tanta sangre que se llevó el río,
yo vengo a ofrecer mi corazón

No será tan facil, ya sé que pasa
No será tan simple como pensaba
Como abrir el pecho y sacar el alma, una cuchillada de amor

Luna de los pobres, siempre abierta,
yo vengo a ofrecer mi corazón
Como un documento inalterable,
yo vengo a ofrecer mi corazón

Y uniré las puntas de un mismo lazo,
y me iré tranquilo, me iré despacio,
y te daré todo y me darás algo,
algo que me alivie un poco nomás

Cuando no haya nadie cerca o lejos,
yo vengo a ofrecer mi corazón
Cuando los satélites no alcancen,
yo vengo a ofrecer mi corazón

Hablo de países y de esperanza,
hablo por la vida, hablo por la nada,
hablo por cambiar esta, nuestra casa,
de cambiarla por cambiar nomás

¿Quién dijo que todo está perdido?
Yo vengo a ofrecer mi corazón

Tuesday, January 18, 2011

O presente maior

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(para tonico, pepê e bocão)

O que dar de presente a um menino no dia de seu aniversário?
Das minhas recordações da infância salta uma bola de futebol, presente de uma tia de Belo Horizonte.
Cresci achando ter ganhado menos presentes do que mereci.
Adulto, entendi que recebi muito mais do que puderam me dar.
O que dar a um filho, menino, no dia de seu aniversário?
Um futuro brilhante?
Um lugar garantido em Princeton, quando ele crescer?
Um poema?
Uma canção?
O gol da vitória numa final de campeonato na escola?
Um dez em matemática?
Um pai e uma mãe honestos e de bom coração?
Estes últimos são, a meu ver, um presente imprescindível.
Tudo o mais, vem junto, a reboque, dentro dos limites de cada um.
Eu, se pudesse, daria uma professora carinhosa e meiga, quase uma extensão da avó.
E um carrinho de madeira, com capô de lata e rodas recortadas de uma velha sandália havaiana.
Um pião, uma pipa e um carrinho de rolimã.
Um embornal com um estilingue e muitas bolinhas de gude.
E frutas maduras, cheirosas, suculentas, tiradas diretamente do pé.
Daria ainda manhãs de grama orvalhada.
Uma estrela que nunca se apaga.
E uma fogueira de São João.
Daria férias inesquecíveis na fazenda.
E um piau prateado, daqueles que dançam no extremo da linha que pende da ponta da vara de pescar.
Daria ainda um passeio no lombo de um cavalo troteiro.
E a visão confortante, ao longe, de uma chaminé fumegando na paisagem.
Construiria uma estrada margeada por flores silvestres, margaridas, cravos, lírios e jasmins.
Daria um conselho de avô.
Um biscoito da avó.
Um mergulho no riacho.
Uma ducha na cachoeira.
Uma lua cheia.
Noites sem pesadelos, sem bruxas malvadas ou dragões cuspindo fogo.
Chuvas?
Só se fossem as de verão, cantando “sol e chuva, casamento de viúva”.
E o ar com cheiro da terra molhada e um arco-íris, com seu pote de ouro, bem no fim.
Daria-lhe ainda uma festa de aniversário coalhada de balões coloridos num dia ensolarado, bem no começo da primavera.
E um bolo de chocolate com uma vela numeral em cima, e um coral de amiguinhos do peito, puxando um desafinado mas, entusiasmado, ‘parabéns’.
Mas os tempos mudaram, eu sei.
E hoje só se fala em videogames, bicicletas cibernéticas, rollerblades, Ipods, celulares, roupas de grife, viagens a Disney e bonecos de super-heróis, daqueles que lançam raios laser de seus olhos.
Não existe nada de errado nisto.
Mudaram os tempos e as prendas que damos aos meninos.
O que não podemos mudar é aquilo que acredito ser o presente maior.
No meu relicário, que é onde guardo as coisas de maior valor, estão o respeito e a admiração por um cara que sempre me deu muito mais do que pôde dar:
O amor pelo filho, esse sim, é um presente que dura para sempre. Herdei do meu como lição.
O resto, todo o resto, também é importante.
Mas é coisa menor.
Bem menor.
Grande é a infância.

A Música Que Toca Sem Parar:
Bola de Meia, Bola de Gude, de Milton Nascimento, e interpretada pelo 14 Bis.


Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
Ele vem pra me dar a mão

Há um passado no meu presente
Um sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assombra
O menino me dá a mão

E me fala de coisas bonitas
Que eu acredito
Que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito
Caráter, bondade alegria e amor
Pois não posso
Não devo
Não quero
Viver como toda essa gente
Insiste em viver
E não posso aceitar sossegado
Qualquer sacanagem ser coisa normal

Bola de meia, bola de gude
O solidário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança
O menino me dá a mão
Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto fraqueja
Ele vem pra me dar a mão

Saturday, January 15, 2011

Três Poemas de Herberto Helder

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Não toques nos objectos imediatos.
A harmonia queima.
Por mais leve que seja um bule ou uma chávena,
são loucos todos os objectos.
Uma jarra com um crisântemo transparente
tem um tremor oculto.
É terrível no escuro.
Mesmo o seu nome, só a medo o podes dizer.
A boca fica em chaga.


Poesia Toda
Assírio & Alvim, 1996


Quero um erro de gramática que refaça
na metade luminosa o poema do mundo,
e que Deus mantenha oculto na metade nocturna
o erro do erro:
alta voltagem do ouro,
bafo no rosto.


Ofício Cantante - Poesia Completa
Assírio & Alvim, 2009



É amargo o coração do poema.
A mão esquerda em cima desencadeia uma estrela,
em baixo a outra mão
mexe num charco branco. Feridas que abrem,
reabrem, cose-as a noite, recose-as
com linha incandescente. Amargo. O sangue nunca pára
de mão a mão salgada, entre os olhos,
nos alvéolos da boca.
O sangue que se move nas vozes magnificando
o escuro atrás das coisas,
os halos nas imagens de limalha, os espaços ásperos
que escreves
entre os meteoros. Cose-te: brilhas
nas cicatrizes. Só essa mão que mexes
ao alto e a outra mão que brancamente
trabalha
nas superfícies centrífugas. Amargo, amargo. Em sangue e exercício
de elegância bárbara. Até que sentado ao meio
negro da obra morras
de luz compacta.
Numa radiação de hélio rebentes pela sombria
violência
dos núcleos loucos da alma.


Ofício Cantante
Assírio & Alvim, 2009


A Música Que Toca Sem Parar:
Same Deep Water of Me... I'm Kloot, uma banda alternativa de Manchester, Inglaterra.

Monday, January 10, 2011

De Biritas e Bitrucas















Não me lembro do nome do "filósofo" que cunhou essa frase, mas concordo plenamente: gosto é igual pescoço.
No final, todo mundo se entende.
E, feliz daquele de quem os amigos conhecem seu gosto e tentam agradá-lo.
Digo isto, porque Fábio Portugal me fez uma gracinha.
Ele convidou-me para a inauguração de seu bar.
Não, Fábio Portugal não está abrindo um bar, um estabelecimento comercial, daqueles convencionais, imóvel de esquina, com letreiro luminoso da Skol na janela, pôster de cigarros Hollywood na parede e uma juke box num canto, onde pode-se ouvir de Frank Sinatra a Reginaldo Rossi.
Ele pediu ao artista Artur Moreira que projetasse um bar para a sua casa, e o trem ficou danado de bonito.
Particularmente, eu não gostaria de ter um barzinho em casa.
Talvez por saber do perigo iminente de ter, tão pertinho de mim, um convite às tentações e à cirrose.
Sempre biritei. Faz tempo que sou do ramo. E não estou contando "vantagem".
Comecei novinho, escondido de meus pais, com a prosaica cuba-libre (aquilo que aqui nos EUA chamam de rum and coke e que nada mais é do que isto mesmo, rum misturado com coca-cola), que era uma espécie de reverência a Cuba e à revolução cubana.
Minha geração inteira, filhos da ditadura militar, bebeu cuba-livre ferverosamente e sem sequer imaginar que, um dia, Fidel Castro se tornaria tão tirano quanto Fulgêncio Batista.
Beber é bom, admito, sem precisar que apontem uma arma à cabeça ou que me levem para um porão de uma ditadura qualquer.
E até digo mais: compartilho daquela máxima de que mais vale um bêbado conhecido, do que um alcoólico anônimo.
Pode ser uma cachacinha, um rabo-de-galo, um uisquinho ou mesmo uma cervejota gelada. Mas há quem goste dela quente.
Lembro-me de que o compositor Gonzaguinha pedia a cerveja gelada e a deixava esquentando sobre o balcão.
Só começava a beber, quando ela estava na temperatura do seu paladar, ou seja: quase um chá de cevada. Mas, gosto, repito, é igual pescoço...
Há também quem goste de champanhe.
Tenho uma amiga que só bebe da marca Crystal e acho bonitinho ela gostar de champanhe dessa marca.
Na minha cabeça pequena, para tomar um porre de Crystal, o cidadão teria que hipotecar a casa.
Mas ela fala de uma forma tão poética e convincente sobre o prazer da "coceguinha" gostosa das borbulhas efervescendo em seus lábios, do cheiro levemente adocicado subindo pelas narinas, que dá vontade de, realmente, hipotecar a casa e encarar uma Crystal bem de frente.
Não que eu entenda dessa modalidade, posto que champanhe, bebi poucas na vida.
Eu, que achava que champanhe era a cidra Cereser, que serviam nas festas de juventude lá em São Raimundo.
Não era. Não é.
Para acompanhar o ritual da birita, Deus criou os tira-gostos. Aliás, não deveria ter esse nome.
Deveria chamar-se "realça-gosto", as moelas com molho de tomates (adequadas pra comer com pão murcho, dormido), o torresminho, a dobradinha, a linguicinha, a carne de sol com mandioca, o lambari frito e o fígado acebolado.
Chego junto quando o combustível da prosa é uma bebidinha. Mas não consigo beber sozinho.
Acho absolutamente inverossímil beber sozinho.
O cara que bebe sozinho, é como se dançasse só. Não vejo a menor graça.
Ganhei a reputação de bom de copo e o presente que mais recebo é bebida. Seja lá qual for a data festiva, sempre vem alguém com uma garrafa na mão. Humilde, aceito todas.
Tenho mais de 80 garrafas de cachaça, quase todas recebidas de presente de amigos e leitores.
Cachaças que vão desde a raríssima Havana (auspiciada pelo compositor Celso Adolfo... essa eu ainda abrirei numa situação especial, entre amigos, num terreiro embandeirado, com cheiro de flor de laranjeira no ar, solos de violão entorpecendo os ouvidos e estrelas no céu) às menos cotadas Amansa Corno, Sossega Leão, Arriba Saia e Providência.
Tem gente campeoníssima em tomar "providências".
O bom de biritar é a prosa que ela desenrola.
A birita afrouxa a língua e libera os pensamentos mais reprimidos.
Tem cara que, quando bebe, torna-se uma grande autoridade em qualquer tema, vira filósofo.
A bebida aguça a discussão sobre política, futebol ou mulher.
Por mais santo que seja o caboclo, ele acaba entrando na eleição das melhores pernas da tv Globo, ou dando um pitaco sobre a boca carnuda de Angelina Jolie.
Dependendo do número de cervejas, Maradona foi melhor que Pelé, o fusca é que é o carro e a camisa do São Paulo é a mais bonita do Brasil.
Só não pode é dizer que Fernando Collor foi um bom presidente, ou confessar que votou no Maluf para prefeito.
Pelo menos na minha roda, o caboclo é expulso sem direito à saideira.
E ainda ganha a fama de bebum chato.


Conversa de Botequim:
de Noel Rosa o clássico Conversa de Botequim. Ninguém melhor do que Bezerra da Silva para retratar este papo.
Seu garçom, faça o favor de me trazer depressa
Uma boa média que não seja requentada,
Um pão bem quente com manteiga à beça,
Um guardanapo e um copo d'água bem gelada.
Feche a porta da direita com muito cuidado
Que eu não estou disposto a ficar exposto ao sol.
Vá perguntar ao seu freguês do lado
Qual foi o resultado do futebol.

Se você ficar limpando a mesa
Não me levanto nem pago a despesa.
Vá pedir ao seu patrão
Uma caneta, um tinteiro,
Um envelope e um cartão.
Não se esqueça de me dar palitos
E um cigarro pra espantar mosquitos.
Vá dizer ao charuteiro
Que me empreste umas revistas,
Um isqueiro e um cinzeiro.

(Refrão)
Seu garçom faça o favor de me trazer depressa...

Telefone ao menos uma vez
Para três quatro, quatro, três, três, três
E ordene ao seu Osório
Que me mande um guarda-chuva
Aqui pro nosso escritório.
Seu garçom me empresta algum dinheiro,
Que eu deixei o meu com o bicheiro.
Vá dizer ao seu gerente
Que pendure esta despesa
No cabide ali em frente.

(Refrão)
Seu garçom, faça o favor de me trazer depressa
Uma boa média que não seja requentada,
Um pão bem quente com manteiga à beça,
Um guardanapo e um copo d'água bem gelada.
Feche a porta da direita com muito cuidado
Que eu não estou disposto a ficar exposto ao sol.
Vá perguntar ao seu freguês do lado
Qual foi o resultado do futebol.

Saturday, January 8, 2011














A verdadeira mão que o poeta estende
não tem dedos:
é um gesto que se perde
no próprio acto de dar-se

O poeta desaparece
na verdade da sua ausência
dissolve-se no biombo da escrita

O poema é
a única
a verdadeira mão que o poeta estende

E quando o poema é bom
não te aperta a mão:
aperta-te a garganta



Ana Hatherly
O Pavão Negro
Assírio & Alvim, 2003


A Música Que Toca Sem Parar:
Little Wing (porque são imensas as asas do poema)... Jimmy Hendrix.

Tuesday, January 4, 2011

Lampejos que entraram para a história























Roberto Drummond tinha o costume de garimpar frases soltas que ia bateando pelos livros que lia na vida. Não sei se era um artifício que ele usava quando a inspiração não lhe batia à porta, ou se era uma genuína vontade de compartilhar essas pérolas. Confesso-lhes que o faço pelo primeiro motivo, e também por um atavismo que tem tomado conta de mim nas duas últimas semanas.
Reagirei.
É tudo o que posso prometer.


Enquanto isto não acontece, quero repartir com vocês um bocado bom da inspiração alheia:

"O único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário."
- Albert Einstein, físico de origem alemã

"No futuro, todas as pessoas serão famosas por 15 minutos."
- Andy Warhol, artista americano, pai do movimento pop

"Como se pode governar um país que tem 246 espécies de queijo ?"
- Charles de Gaulle, político francês sobre a França

"Se dentro de três dias não divisarmos terra firme, regressaremos."
- Cristóvão Colombo, 2 dias antes de descobrir a América

"Se Deus não existe, então tudo é permitido."
- Dostoievski, romancista russo

"Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena."
- Fernando Pessoa, poeta português

"Senhor, concede-me a serenidade para aceitar as coisas que não posso modificar; coragem para modificar aquelas que eu posso e sabedoria para perceber a diferença."
- São Francisco de Assis

"Entretanto, se move."
- Galileu Galilei, astrônomo e físico italiano

"Saio da vida para entrar na História."
- Getúlio Vargas, político brasileiro, na carta-testamento

"Elogie em público. Critique em particular."
- H. Jackson Brown Jr

"Se não houve frutos, valeu o perfume das flores
Se não houve flores, valeu a sombra das folhas
Se não houve folhas, valeu a intenção das sementes."
- Henfil

“Não fui chamado a dar as mãos a Hitler, mas também nunca me convidaram para cumprimentar o presidente americano na Casa Branca."
- Jesse Owens, campeão norte-americano de atletismo

"O acaso não existe."
- Kardec

"De cada um, conforme sua capacidade; para cada um conforme suas necessidades."
- Karl Marx, filósofo e político socialista alemão,

"Vocês podem me acorrentar, torturar e até destruir meu corpo, mas nunca aprisionarão minha mente."
- Mahatma Gandhi, religioso indiano

"Apenas duas gotinhas de Chanel no. 5."
- Marilyn Monroe, atriz norte-americana, sobre o que usava para dormir

"Eu tenho um sonho de que um dia meus quatro filhos vivam em uma nação onde não sejam julgados pela cor de sua pele, mas pelo seu caráter."
- Martin Luther King, pastor protestante norte-americano

"Um pequeno passo para o homem, um salto gigantesco para a humanidade."
- Neil Armstrong, astronauta norte-americano

"Toda a unanimidade é burra."
- Nélson Rodrigues, dramaturgo, romancista e jornalista brasileiro

"Na vida há quatro coisas que não voltam: a palavra pronunciada, a água corrida, a seta atirada e... a oportunidade perdida."
- Omara Cain

"Só sei que nada sei."
- Sócrates, filósofo grego

“A democracia é a pior forma de governo, exceto todas as outras que têm sido tentadas de tempos em tempos."
- Winston Churchill, político inglês

"A Terra é azul."
- Yuri Gagarin, cosmonauta soviético

Semana que vem eu volto. Se a inspiração voltar. Até lá!


A Música Que Toca Sem Parar:
dele e de Capinam, Flor da Memória... na voz de Roberto Mendes.