Saturday, January 8, 2011














A verdadeira mão que o poeta estende
não tem dedos:
é um gesto que se perde
no próprio acto de dar-se

O poeta desaparece
na verdade da sua ausência
dissolve-se no biombo da escrita

O poema é
a única
a verdadeira mão que o poeta estende

E quando o poema é bom
não te aperta a mão:
aperta-te a garganta



Ana Hatherly
O Pavão Negro
Assírio & Alvim, 2003


A Música Que Toca Sem Parar:
Little Wing (porque são imensas as asas do poema)... Jimmy Hendrix.

22 comments:

Ana SSK said...

Uau!
Sem ar.

Luciana Marinho said...

aff... que belo!
a poesia é corpo e ação.

beijoca, roberto!

Primeira Pessoa said...

é quase um polvo, luciana: um poema de muitas mãos.

beijo grande

r.

Primeira Pessoa said...

é verdade, ana.
um bom poema sempre nos tira o ar.

abraço grande do

r.

Jorge Pimenta said...

amigo de primeiríssima casta,
não sei bem porquê, mas associo a poesia, antes que a qualquer outro elemento, à mão, no plural. à que se atreve, à que teme, à que rouba e dá, à que foge e reaparece, à que bate e leva, à que sabe sorrir e chorar... mesmo que sem tinta... mesmo que quase morta.
um abraço de primeiríssima linha, amigo. daqui te estendo as mãos e os braços!
p.s. a propósito do comentário que deixaste no viagens de luz e sombra:
berenika tem na objectiva as lentes de uma melancolia serena, doce, que acalenta, não destrói. os acordes pseudo-poéticos que a fotografia me arrancou teriam de ser na mesma linha, obviamente. curiosamente, há, na minha mão, uma espécie de reacção compulsiva que tende a resgatar o mar como figura estética a percorrer a escrita. não sei bem porquê. só que agora, um pouco como na fotografia: com outros elementos a pairar no fundo que cobre o horizonte. e esta árvore com raízes a agarrar-se ao oceano é tudo aquilo que sentia no momento em que escrevi.
abraços renovados!

Primeira Pessoa said...

jorgíssimo,
tem muito de ilha aquele arvoredo. leio o que escreve e essa idéia se faz maior em mim.

sim, poeta bracarense, um poema tem muito de mão.
e de pés, posto que certos poemas são potentes pontapés nos fundilhos de quem lê.

com você e sua pessoa sou todo abraços, bardo de braga.

r.

Luiza Maciel Nogueira said...

aperta a garganta - expande a consciência :)

beijos

Primeira Pessoa said...

luiza,
sou partidário da idéia que o poema expande muito mais o sentir.

estarei errado?

abração,

r.

Unknown said...

Belíssimo, Roberto!

Adoro esse arcaísmo de "acto".Um poema com um portugues arcaico, não sei porque me prende mais.

ANA HATHERLY! Guardarei esse nome!

Bela pescaria!

Beijos, amigão!

mirze

O que Cintila em Mim said...

Fiquei com a garganta por um fio.

Unknown said...

estou de mãos estendidas,


abração

Primeira Pessoa said...

e eu, de braços abertos.

me abraça, assis?
rs


aqueeeele abraço,

r.

líria porto said...

pudesse, passava a vida a te enforcar... risos
besos

Primeira Pessoa said...

ah, lírica linda...
cê já deixou muitos hematomas em meu pescoço com essas suas mãos de estivador...rs

beijos,
r.

Marcantonio said...

Dizer mais o que, não é? Perfeito. Para que serve um poema que nos lisonjeia, cordial, cordato, cortês, gentil? Para ser esquecido.
Quando estava ainda no antigo ginásio, um professor escreveu no quadro um poema e o recitou para a turma. Era o VERSOS ÍNTIMOS de Augusto dos Anjos. Uma porrada que nunca mais esqueci, mesmo para um moleque que não o compreendia inteiramente. Ainda hoje sinto na minha garganta aquela mesma mão que afaga e apedreja.

A poesia é insolente!

Grande abraço, Roberto.

Primeira Pessoa said...

marquinho,
versos íntimos foi instrumental na minha inclinação pelas escrevinhações. escutei-a dentro de um presídio da boca de um cara que tava puxando mais de 2300 anos de cana (um pistoleiro de aluguel).

mudou minha vida.

abração do

r.

Anonymous said...

Que as verdadeiras amizades continuem.
Que as lágrimas sejam poucas, e compartilhadas.
Que as alegrias estejam sempre presentes e sejam festejadas por todos.
Que o carinho esteja presente em um simples "Olá",
ou em qualquer outra frase mesmo que digitada rapidamente.
Que os corações estejam sempre abertos para novas amizades,
novos amores, novas conquistas.
Que Deus esteja sempre com sua mão estendida
apontando o caminho correto.
Que as coisas pequenas como a inveja ou desamor,
sejam retiradas de nossa vida.
Que aquele que necessita de ajuda encontre sempre em nós,
uma animadora palavra amiga.

Que a verdade sempre esteja acima de tudo.

Bjs.

Vanessa Souza said...

Dizem que os escritores são o seu melhor em seus livros. Não nas suas vidas.

Zélia Guardiano said...

Maravilha, Roberto!
Lindo demais!
Como tudo que divides conosco...
Abraço bem apertado!

Primeira Pessoa said...

não necessariamente, vanessa.
alguns nem se são, quando se transformam em escritores.
e existem mais escritores medíocres que são cidadãos exemplares, do que o contrário.

abração do

r.

Primeira Pessoa said...

fátima,
bom rel6e-la no PP.

retribuo os votos de um ano novo nos "trinques".

abração do

r.

Primeira Pessoa said...

se cê gostou, zélia, já ganhei meu dia.

beijo grande

r.