Tuesday, August 2, 2011

Um Petardo de Romério Rômulo

.





















não acredite na suavidade dos poetas
cujos versos,
por simples,
são um cavalo em pêlo, no cerrado.

(fuja do poeta
como se foge da doença que se estampa longe.
seu fígado é visgo:nada lhe corrói as entranhas.)

os aços mais duros
não conseguiram lhe desmontar as peças.
seu olhar, sempre sobre,
há que ser medido em trovões.

um poeta qualquer, por mais frágil,
faz terremotos parecerem grilos.


(Romério Rômulo)


A Música Que Toca sem Parar:
do uruguaio Léo Masliah e da brasileira Clara Sandrone, Guardanapos de Papel. Canta, Milton Nascimento.

Na minha cidade tem poetas, poetas
Que chegam sem tambores nem trombetas
Trombetas e sempre aparecem quando
Menos aguardados, guardados, guardados
Entre livros e sapatos, em baús empoeirados


Saem de recônditos lugares, nos ares, nos ares
Onde vivem com seus pares, seus pares
Seus pares e convivem com fantasmas
Multicores de cores, de cores
Que te pintam as olheiras
E te pedem que não chores


Suas ilusões são repartidas, partidas
Partidas entre mortos e feridas, feridas
Feridas mas resistem com palavras
Confundidas, fundidas, fundidas
Ao seu triste passo lento
Pelas ruas e avenidas


Não desejam glorias nem medalhas, medalhas
Medalhas, se contentam
Com migalhas, migalhas, migalhas
De canções e brincadeiras com seus
Versos dispersos, dispersos
Obcecados pela busca de tesouros submersos


Fazem quatrocentos mil projetos
Projetos, projetos, que jamais são
Alcançados, cansados, cansados nada disso
Importa enquanto eles escrevem, escrevem
Escrevem o que sabem que não sabem
E o que dizem que não devem


Andam pelas ruas os poetas, poetas, poetas
Como se fossem cometas, cometas, cometas
Num estranho céu de estrelas idiotas
E outras e outras
Cujo brilho sem barulho
Veste suas caudas tortas


Na minha cidade tem canetas, canetas, canetas
Esvaindo-se em milhares, milhares, milhares
De palavras retrocedendo-se confusas, confusas
Confusas, em delgados guardanapos
Feito moscas inconclusas


Andam pelas ruas escrevendo e vendo e vendo
Que eles vêem nos vão dizendo, dizendo
E sendo eles poetas de verdade
Enquanto espiam e piram e piram
Não se cansam de falar
Do que eles juram que não viram


Olham para o céu esses poetas, poetas, poetas
Como se fossem lunetas, lunetas, lunáticas
Lançadas ao espaço e ao mundo inteiro
Inteiro, inteiro, fossem vendo pra
Depois voltar pro Rio de Janeiro

28 comments:

romério rômulo said...

obrigado, roberto.
poeta é isso mesmo.
romério

Primeira Pessoa said...

poeta é você, romério rômulo!

abraço e admiração do

roberto.

Luiza Maciel Nogueira said...

Gostei demais da poesia desse Romério com Primeira Pessoa, poesia de poeta cometa, luneta, lunático - bárbaro! Beijos!

Primeira Pessoa said...

um poemaço, luiza.
escrito a ferro e fogo.

romério, quando alia técnica e emoção e imenso.

beijào do

roberto.

Unknown said...

Roberto!

É pecado roubar. Mais ainda meus ídolos.

Romério!

Lindo poema, como sempre. Ainda bem que continuas galopando à mil por hora!

Beijos aos dois

Mirze

Primeira Pessoa said...

dos cavalos de romério, este, um dos puro-sangue.

beijão, mirze.

r.

EMEB Lauro Bittencourt said...

Vim conferir quem era o cara que virou meu seguidor e me encantei com os dizeres do seu perfil...imagine então com seus poemas?....resultado?...virei seguidora também...

Primeira Pessoa said...

uai, nao ganhou muito de me sentir...rs
mas, me manda um pão com linguiça e ja terá valido a pena.

manda um mate-couro, pra "moiá" a palavra...
e ficamos zero a zero...

fouad talal said...

orêia,

em primeiro lugar, saudades. você fez falta por demais na última tertúlia.
fiquei bebim bebim, mais prolixo que uma manicure com gagueira...

sobre o romério, o cara tem uns poemas de tirar o sossego que nem grilo na madrugada.

beijão irmão!
ft

Zélia Guardiano said...

Roberto, meu amigo

Que lindeza!
Obrigada, querido.

Abraço apertado.

Jorge Pimenta said...

"os poetas mentem, sei-o bem" - adolfo luxúria canibal

"Vai-te poesia!
Deixa-me ver friamente
a realidade nua
sem ninfas de iludir
ou violinos de lua."
josé gomes ferreira

ainda hoje me pergunto qual a fronteira que separa[?] o poeta do louco: se aquela que aponta aos grilos onde estão terramotos, se o contrário...

forte abraço, primeiro amigo do mundo e de minas, cruzeirista como só deus!

p.s. o meu benfica joga hoje a segunda mão da pré-eliminatória da champions, na turquia. receio bem que doa, apesar dos 2-0 de vantagem na primeira mão.
p.s.2. sigo sexta-feira para a costa alentejana onde me esperam sol, praia e boa música em concertos até às tantas da madrugada. só não há trovante. alinhas? :)

Primeira Pessoa said...

zélia,
fico feliz quando arranco um sorriso seu.

beijao,
roberto.

Primeira Pessoa said...

fouad,
na próxima estarei aí.
saudades grandes de você, também.

de certa forma, estive aí com vocês.

saiba disot.

o romério?
é cachorro grande.

beijão,

roberto.

CANTO GERAL DO BRASIL (e outros cantos) said...

Delima,
Romério tem a senha, não se prenha de um poema desse - deverasmente um petardo - sem se ter nascido para o fictício exercício de causar tremores e terremotos...
"Calma violência" dá aquela saudade de antigamente, quando o futuro era incerto ainda. Hoje sabemos mais ou menos o roteiro, se bem que novidades sempre hão de pintar...
Bão demais passar uns minutos presentes aqui no PP, cronista dos bãos...

Abração, da rama.

Primeira Pessoa said...

da rama,
o mais engraçado é que, quando postei, lembrei-me da sua casa. foi lá que escutei "calma violência" pela primeira vez.


vi o poema do romério no blog da mariana botelho, no outro dia, e não tive como não passar pra frente.

é um daqueles deveres cívicos.

beijão do seu amigo de são raimundo, o

roberto.

Primeira Pessoa said...

jorgíssimo,
luís almeida, um grande amigo daqui, lusitano (sportinguista... ninguém é perfeito), seguiu hoje praí. e você me falar do alentejo de florbela espanca, dá até um arrepio na alma. vou com você, em pensamento.

e hoje, logo mais, em minas, tem cruzeiro x flamengo. meu time, apontado como grande favorito ao título no início da temporada, pegou um treinador retranqueiro e está nos matando de desgosto.

e a poesia?
e o poeta?
e a loucura?

não existem fronteiras.
é tudo vinho da mesma pipa.
beijão, azul e encarnado do seu amigo

roberto.

Débora Dourado said...

Adorei conhecer este espaço também.

Isso sim é suavidade com as palavras!

Também voltarei!
Com certeza!

Tania regina Contreiras said...

Estou em recolhimento forçado, vou abrir uma exceção aquisó pra falar que o poeta Romério é estupendo!!!
beijos,

Primeira Pessoa said...

espero que esteja bem, taninha...
qualquer coisa que precisar, é só apitar, que estamos à postos.

enquanto isto, meu time perde em casa, de novo.


tudo roxo, pro meu lado.

roxo e vileNto...r


beijao,
r.

Primeira Pessoa said...

debora, essa casa é sua, também.
faça uso e gáudio.

abração do

roberto.

Anonymous said...

só posso suspirar....essa certeza do poeta em me mostrar sonhos é inigualavel (comunhão)

[contem 2 beijos]

Primeira Pessoa said...

margoh,
romério é um dos bons poetas vivos em nosso brasil.

que bom que curtiu.

beijao do

roberto.

Vais said...

Saudações, Roberto
que coisa boa você tem feito nas postagens de poemas que dão gosto de ler, este do Romério, Nina, Líria, Adriana e esses em cima, do Daniel, além de ler, algo mais e também né, nas crônicas de sua autoria :)

adorei esta música que toca sem parar

Grande abraço e tudo de bom

Primeira Pessoa said...

vais,
me deixa feliz que tenha gostado.
a música que toca sem prar é do trovante, uma de minhas bandas favoritas.

e cantando em bom português.


bom te ver por aqui.

abração do

roberto.

OutrosEncantos said...

Romério é o poema petardo, ele mesmo!
adoro os seus cavalos!
e você Roberto, é pessoa/poeta de coração bem doce.
hoje roubei teu post de Daniel Faria e teus Trovante, paixão minha desde que eles "nasceram".

beijão p'ra você.

Primeira Pessoa said...

que o romério não saiba que gostamos tanto dele, moça do outrosencantos...

ele vai ficar insuportável, com sua tropa de cavalos-doidos. rs

trovante?

amo.
muito.

beijão,

r.

Andrea de Godoy Neto said...

Alguns poetas cusam em mim esta sensação de por o pé no absurdo...
Poemaço esse, desses que se lê sem esperar e grudam na gente para sempre (ainda bem!!)

Roberto, saudade muita daqui!

Um abraço daqueles, daqui das terras do sul

Primeira Pessoa said...

andra,
sentia sua falta por aqui.

cê sumiu demais da conta, sô!

cê tem uma cadeira cativa entre os meus.


beijão do

roberto.