Thursday, May 3, 2012


Um grande menino

Hoje eu acordei com saudade de Fernando Sabino, um dos escritores mais injustiçados do Brasil.
Sabino escreveu coisas lindíssimas e possui uma das mais brilhantes carreiras das letras brasileiras, mesmo não sendo lembrado com o respeito que lhe é devido.
Dizem que começou a definhar depois de ter vendido a alma ao diabo, quando aceitou escrever Zélia, uma paixão, mistura de romance-biografia, em que abordava a trajetória de Zélia Cardoso de Melo, ex-ministra do alto escalão do governo Collor.
Tudo uma grande bobagem.
Puro preconceito.
Preconceito contra um profissional da palavra escrita que pode e deve escrever sobre o que bem entender.
E contra uma brasileira que chegara a uma das posições mais importantes naquele Brasil pós-ditadura militar e onde, até então, nenhuma outra mulher havia chegado.
Se o livro, em si, não representou para mim um marco literário, a trajetória de Fernando Sabino, não.
Para mim, Fernando Sabino foi mais que vital.
Esta manhã, fiz uma pesquisa e separei alguns momentos do escritor, que compartilho aqui com vocês:

"Liberdade é o espaço que a felicidade precisa."
“Democracia é oportunizar a todos o mesmo ponto de partida. Quanto ao ponto de chegada, depende de cada um.”
“No dia em que a mulher descobre que o homem, pelo simples fato de ser seu marido, é também seu cônjuge, coitado dele”.
“Os homens se dividem em duas espécies: os que têm medo de viajar de avião e os que fingem que não têm”
“O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis”.
“De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que ele estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar. Fazer da interrupção um caminho novo. Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro”.
“Para os pobres, é dura lex, sed lex. A lei é dura, mas é a lei.
Para os ricos, é dura lex, sed latex. A lei é dura, mas estica”
“No fim tudo dá certo, e se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim.”
“O menino é o pai do Homem”
“Façamos da interrupção um caminho novo".
“Brigamos com os outros porque são exatamente aquilo que queríamos ser e não somos”.
“Em arte não há nada mais velho do que o futurismo”.
“O diabo desta vida é que entre cem caminhos temos que escolher apenas um, e viver com a nostalgia dos outros noventa e nove”.
“O ar não é silencioso? O vento não faz barulho? E que é o vento senão ar? A música é o silêncio em movimento”.
"Tem gente que é só passar pela gente que a gente fica contente. Tem gente que sente o que a gente sente e passa isto docemente. Tem gente que vive como a gente vive, tem gente que fala e nos olha na face, tem gente que cala e nos faz olhar. Toda essa gente que convive com a gente, leva da gente o que a gente teme passa a ser gente dentro da gente. Um pedaço da gente em outro alguém."
“São vidas. Sendo vidas, nada mais nos resta fazer senão irmos vivendo”.
“Viver devagar é que é bom, e entreviver-se, amando, desejando, sofrendo, avançando e recuando, tirando das coisas ao redor uma íntima compensação, recriando em si mesmo a reserva dos outros e vivendo em uníssono. Isso é que é viver, e viver afinal é questão de paciência”.
“A gente sofre muito: o que é preciso é sofrer bem, com discernimento, com classe, som serenidade de quem já é iniciado no sofrimento. Não para tirar dele uma compensação, mas um reflexo”.
“Só é sincero aquilo que não se diz”.
“Mas a convivência é feita também de silêncio, e distância”.
“O importante não é dizer, é saber. Certas coisas não se dizem, porque dizendo, deixam de ser ditas pelo não-dizer, que diz muito mais”.
“A consciência é inútil, sem uma convicção adquirida.”
“Há pessoas que têm o dom de inspirar-me uma fulminante simpatia à primeira vista - quase sempre aliás, injustificada”.
“Vou escrever alguma coisa que não sei o que seja, justamente para ficar sabendo. E que só eu posso me dizer, mais ninguem”.
“Quando eu era menino, os mais velhos perguntavam: o que você quer ser quando crescer? Hoje não perguntam mais. Se perguntassem, eu diria que quero ser menino”.
“Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso."

O autor faleceu dia 11 de outubro de 2004 na cidade do Rio de Janeiro.
A seu pedido, seu epitáfio foi esculpido na lápide:
"Aqui jaz Fernando Sabino, que nasceu homem e morreu menino".


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20 comments:

ÍndigoHorizonte said...

Tiene tanta belleza, sensibilidad y delicadeza acumuladas que, si me lo permites, alguna vez, elegiré algunas de tus citas escogidas para colgarlas, traducidas, en mi casita en el aire. ¿Te he dicho ya que siempre disfruto, siento y aprendo contigo? Bueno, pues te lo repito. Eso y un abrazo enorme, Roberto, y añil, por supuesto.

MA FERREIRA said...

Que lindo este post.Bela lembrança.
E que belo legado ele deixou, com seus tantos livros publicados.
Bela e merecida homenagem.

Muitas dessas frases eu ja em alguma época ouvi, mas nem me atentava ao autor.

Grande homem com alma de menino!!

bjs

Tania regina Contreiras said...

Com Fernando Sabino se aprende até hoje, Beto. Boa lembrança. Quem chega perto de você não morre. Você não deixa morrer aquilo que é pra existir sempre. Eu ia destacar uma das frases que você citou do Fernando, mas não, tudo aqui é grande...E pra falar dos bons tem que ser bom. Você é.

Beijos,

Anonymous said...

Nas páginas de Fernando Sabino eu vivenciei momentos de muita ternura...
O menino Fernando é inesquecível e eu assino todas as palavras de seu post!

Luciana Marinho said...

linda homenagem, roberto.
viva sabino!

beijos!

mais beleza aqui, "o homem nu":

http://www.releituras.com/fsabino_homemnu.asp

Unknown said...

as cronicas de Fernando Sabino foram alguns dos meus alumbramentos na descoberta da escrita,



abração

Linda Simões said...

Roberto,

Tu escreves de tal forma,que também sinto saudade. Compartilhada.
E as palavras ficam presas no silêncio do não saber dizer nada à altura.


"Isso vale um abraço,companheiro"


Linda Simões

Bípede Falante said...

“Vou escrever alguma coisa que não sei o que seja, justamente para ficar sabendo. E que só eu posso me dizer, mais ninguem”

Mais que boa frase. Necessária!

Beijo

BF

Primeira Pessoa said...

mulher de la mancha,
o mundo precisa de gentileza e de pessoas gentis como você.
vamos aprendendo juntos, trocando informações e afeto.
e assim seremos melhores.
assim construimos um lugar melhor pra se viver.


abraço grande do

roberto.

ananomundo said...

Perfeito. Adorei esse post-homenagem-aprendizado!

Luciana Marinho said...

(por onde andará roberto?)

:)

Primeira Pessoa said...

o roberto anda por aqui, Luciana... meio acanhado, é verdade... mas anda...

beijão,

r.

Primeira Pessoa said...

ananomundo,
sabino nos ensinou tanto.
foi um dos maiores. entre os maiores.

abração do

roberto.

Primeira Pessoa said...

é verdade, bípede. uma frase mais do que essencial.
sabino tinha destas coisas, isso de escrever aquilo que gostaríamos de ter dito.

ou ainda temos por dizer.

beijão,

r.

Primeira Pessoa said...

a amizade vale muitos abraços, linda simões.
o abraço é irmão da amizade e do bemm querer.

abração do

r.

Primeira Pessoa said...

assis,
assim como nós dois, muitos de nossos contemporâneops beberam naquelas águas ali.

sabino era do tamanho de nossa sede.

abração do

r.

Primeira Pessoa said...

o homem nu é genial, luciana, mas o meu faforito mesmo foi O Encontro Marcado, um de meus livros favoritos em todos os tempos.
aliás, ando precisando relê-lo.
urgentemente.
preciso comprar um novo exemplar, o meu, ficou dentro de um avião da extinta varig.

abração do

roberto.

Primeira Pessoa said...

taninha,
sinta tanqto que, para tantos, o livro que escreveu sobre Zélia tenha apagado tudo o de essencial e bonito ele escreveu antes.

as pessoas tem memória curta.
muito curta.

beijão do

r.

Primeira Pessoa said...

Isa,
é bom saber que não estou sozinho, e que Sabino deixou marca na vida de muitas outras pessoas do meu convívio.
é como se ele nos irmanasse.

abração do

roberto.

Primeira Pessoa said...

Ma Ferreira,
Fernando Sabino deixou-nos um legado e uma obra delicosa de se ler, inspiração para muitos jojens que abraçariam as letras como uma possibilidade de ganhar o pão.

abraçp grande do

Roberto.