Tuesday, December 22, 2015

Papai Noel


Todo ano é a mesma ladainha e você já deve estar de saco cheio e não é, certamente, de presentes.
Pedem-lhe tanto, Papai Noel.
Pedem roupas, brinquedos, perfumes, e grandes 'modernagens'.  Foi-se o tempo em que apenas crianças faziam pedidos.
Hoje elas ganharam a companhia inconveniente dos adultos, o que aumentou o grau de dificuldade do seu ofício.O trenó ficou pequeno depois que as miudezas foram inchando e deixaram de caber debaixo de uma árvore de natal.
Sua profissão é das mais difíceis, meu amigo. Aliás, tão difícil, que acho que você é um super-herói, destes de capa e espada.
Sua missão é quase tão complicada quanto a de um engenheiro da Nasa ou de um neurocirurgião.
Fazer feliz, contentar, requer ciência e coração.
Como você consegue? Qual é o seu segredo?
Tenho tanta pena de você.  Pedem-lhe tanto. Dão-lhe nada.
Pedem video-games, computadores e celulares de última geração.
Celulares destes que mandam cartas eletrônicas, tiram fotografias panorâmicas, fazem filmes e até servem para ligações telefônicas.
Pedem coisas impossíveis, velho Noel.
Pedem um emprego novo, um patrão que não encha a paciência e um aumento de salário.
Pedem um carro zero quilômetro, um inverno sem neve e um título de campeão no futebol.
Pedem uma viagem à Europa com direito a um cappuccino em Roma e uma taça de beaujolais nos Champs-Élysées, assim, com sotaque bem francês.
Pedem-lhe uma casa-própria, com muros brancos e jardim de flores que permanecem vivas mesmo quando não for mais primavera.
Pedem uma carreira.
Imploram por uma aposentadoria.
No tempo em que apenas os pequeninos deste mundo pediam presentes, era tudo imenso e a infância parecia maior que a própria existência humana.
Você levava na algibeira bonecas de pano, bolas de futebol feitas de borracha e carrinhos de matéria plástica.
Já vi menino ganhar papagaio de papel, pião de cedro e até uma caloi.
Já vi menina ganhar bailarina que rodopiava sem ficar tonta, diademas de esmeraldas de araque e caixas de lápis de cor.
Um vizinho meu ganhou um porquinho da Índia, que acabou sendo de todos nós.
Eram outros os tempos, eu sei.
De todos os presentes do mundo, Papai Noel, a presença é, hoje, o que faz maior falta.
Não é qualquer presença. É determinada presença. Às vezes no plural.
Para mim, que vivo há tanto tempo fora do lugar onde nasci, o natal é sempre vazio de algumas presenças imprescindíveis.
Não que eu não me contente com a proximidade de minha mulher e minhas filhas, e de meu irmão Antonio e sua família, que vivem a algumas quadras de mim.
Não que os amigos que fiz aqui não preencham um espaço importante e que não sejam fundamentais no meu existir.
Ou que eu seja um sujeito ingrato, destes que nunca se contentam com o que têm.
Mas é que, às vezes, falta-me um abraço de pai, um beijo de mãe.
E este ano, mais que em todos os outros, tudo o que eu queria de presente era um abraço do meu pai e um beijo de minha mãe.
E isto não cabe no seu trenó.

12 comments:

Luciana Marinho said...

que lindo, roberto. o presente mais belo e acolhedor não é o papai noel quem traz e a gente que tem que ir buscar... que bom!! meu beijo grande e meu abraço imenso seguem pela ponte do invisível até você! feliz natal!!

Primeira Pessoa said...

Luciana,
esta ponte invisível é maior que a Golden Gate e do que a Rio-Niterói. É nela que atravessamos distâncias e estamos sempre juntos: S-E-M-P-R-E!
O nosso abraço é outra daquelas pequenas imensas coisas. Anota aí.

Beijão,
R.

Tania regina Contreiras said...

Os presentes mais desejados são os simples e os impossíveis...

Beijo, Beto!

Primeira Pessoa said...

transformar impossibilidades em coisas possíveis, fazer do delírio a experiência real.
2016 promete, taninha.

beijos tantos

r.

cirandeira said...

Papai Noel? Tenho pena é dos "filhos" que restaram dele, Roberto: foram transformados em mercadorias, e nem se aperceberam! Essas "festas natalinas" de hoje em dia (aliás, já faz muito tempo!) não me dizem mais nada. Pra mim, é um dia como outro qualquer. Todo dia é dia pra se fazer confraternização com a família, com os amigos, ou até com pessoas que eventualmente encontramos alhures. O que me restou foi uma tremenda saudade de uma época onde as amizades eram mais importantes do que os "presentes".

Olhe, não deixe de ler as crônicas de Machado de Assis, são maravilhosas, ele era realmente genial. Seus contos, também. Leio e releio o que ele escreveu, e cada vez que o faço, é uma leitura renovada! Não é preciso "parar de beber", nem "perder peso", não, viu? Tenho certeza que vais gostar muito, ainda mais um cronista como você.
Ah, ía me esquecendo: achei o vídeo do Belchior, no you tube gosto muito das letras dele, talvez seja um dos melhores daqui. Obrigada.

E pra não perder o "costume", envio daqui os meus votos de FELIZ NATAL, e um leque de possibilidades para as coisas possíveis.

Um beijo

Murillo Altafine said...

Muito bom!

ana p said...

Feliz Natal Roberto

na vinha do verso said...

Desejar profundo já é, como o seu, um grande presente para a vida. Belo, como sempre!

Primeira Pessoa said...

Desejar profundo é um desejar maior.
Bem maior.

Beijão,

R.

Primeira Pessoa said...

Feliz natal procê também, Ana.
E um ano novo supimpa.

Beijão

R.

Primeira Pessoa said...

Grato pela visita, Murillo.
Volte sempre.

Abração do

R.

Primeira Pessoa said...

Ci, eu sei: é tudo comércio. Sempre foi. Mas, pelo menos nesta festa grandona, existem sentimentos bons, abraços que não são meramente sexuais (rs), como os do carnaval, por exemplo. Se tiver que escolher uma das grandes festas 'comerciais" que o homem organiza, optaria pelo natal.

belchior é demais, né? sempre me lembro dele. é bom ter com quem compartilhá-lo.

desejo que seu ano novo seja iluminado, cirandeira minha.

beijão

r.