Wednesday, October 18, 2017

Sangue novo na crônica



Jorge Sanglard
Jornalista e pesquisador. Escreve em jornais em Portugal e no Brasil

   A crônica é uma das vertentes literárias cultuadas no Brasil por ter sido terreno por onde pontuaram e/ou pontuam nomes como Machado de Assis, José de Alencar, Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga, João do Rio, Nelson Rodrigues, Affonso Romano de Sant’Anna, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, Otto Lara Resende, Humberto de Campos, Ciro dos Anjos, Sérgio Porto, Rachel de Queiroz, Diná Silveira de Queirós, Henrique Pongetti, Alcântara Machado, Marques Rebelo, Lúcio Cardoso, Lygia Fagundes Telles, Mário Prata, Lêdo Ivo, Moacyr Scliar, Millôr Fernandes, Artur da Távola, Ivan Lessa, Martha Medeiros, Antonio Torres, Ignacio de Loyola Brandão, Luis Fernando Veríssimo, Tatiana Belinky, Marcos Rey, Carlos Heitor Cony, Vinicius de Moraes, Rubem Alves, Alcione Araújo, Maria Rita Kehl, José Castello, Frei Beto, Marcelo Rubens Paiva, João Ubaldo Ribeiro, Jose Roberto Torero, Joaquim Ferreira dos Santos, Xico Sá, Fernanda Takai, Fernando Brant, Eduardo Almeida Reis, entre muitos outros escritores e escritoras.
   Estes são apenas alguns exemplos da versatilidade da crônica brasileira ao longo do tempo, perpassando o século XIX, todo o XX e este início de XXI. Afinal, a crônica tem a ver com o termo gregochrónos, ou tempo, e pode ser entendida como uma escrita que lança mão de aspectos do cotidiano, mas não perde a veia literária.
   Mas não é todo dia que surge um novo cronista ou uma nova cronista na literatura. A tarefa não é das mais fáceis e requer talento e criatividade. Trabalhar literariamente com fatos do dia a dia pode até parecer simples, mas não é tão simples assim. E, ao longo do tempo, a imprensa tem sido um canal para que cronistas se expressem e deixem suas impressões sobre quase tudo e sobre todos. Neste início de século XXI, com a ampliação do alcance das mídias sociais, os blogs tomaram conta do território livre da internet e acabaram sendo uma nova forma de comunicação direta entre cronistas e os leitores. Portanto, é de se esperar que gente nova surja no pedaço e passe a não ser mais difícil de ser encontrada e/ou lida.
  Muito do que se tem lido em jornais ou blogs por aí afora sobre os acontecimentos do dia a dia em diversas partes do mundo é fruto da iniciativa de escritores, pensadores, pesquisadores, filósofos, sociólogos, antropólogos, professores e jornalistas. Os cronistas ou as cronistas da atualidade procuram revelar a sua versão a respeito da insatisfação com a realidade violenta e assustadora que ronda o mundo em muitos setores e procuram ainda mostrar a capacidade de inspirar outros e outras a escrever a sua visão dos fatos que sacodem o cotidiano das cidades seja no Brasil seja nos EUA ou ainda na Europa e/ou na Ásia, África ou no Oriente Médio.
 Assim, quando surge uma nova voz e que se lança ao universo da crônica para escrever sobre questões que incomodam e/ou impulsionam as pessoas, é preciso ficar atento, pois o desafio é grande. Principalmente, quando essa nova voz que faz da crônica seu instrumento de expressão é um jornalista mineiro e brasileiro radicado desde 1984 em Newark, nos Estados Unidos, e que junta seus escritos criados ao longo dos últimos três anos num volume intitulado “Papoulas de Kandahar”. Pois é, Roberto Lima lançou um livro de crônicas cutucando a onça com a vara curta e está percorrendo cidades aqui, ali e acolá com a missão de, ao lançar seus escritos abordando a dualidade da vida, debater fatos do cotidiano, que marcaram e/ou marcam a vida brasileira, norte-americana ou de onde for. É sangue novo na crônica e os leitores daqui ou de lá agradecem.
   A fonte de inspiração para o livro é a dualidade da vida expressa pela papoula, uma flor cultivada principalmente na Ásia e no Oriente Médio, e que produz tanto a resina de que é feita a morfina, um medicamento que ajuda a reduzir a dor extrema e a salvar vidas, como também a heroína, uma potente droga que corrói e destrói vidas, principalmente, na sociedade norte-americana, onde uma onda de consumo de heroína está no centro do debate atualmente em grandes cidades. Essa dualidade permeia as crônicas de Roberto Lima e instiga o leitor a procurar entender aspectos do sonho norte-americano e do pesadelo brasileiro, ou do pesadelo norte-americano e do sonho brasileiro. Essa dualidade depende do ponto de vista. Roberto Lima, como muitos brasileiros que embarcaram para os Estados Unidos já foi lava-pratos, ajudante de cozinha, garçom e servente de pedreiro, até fazer do jornalismo seu meio de vida, ao criar e manter na ativa o Brazilian Voice, um jornal em língua portuguesa que circula entre os imigrantes brasileiros da região polarizada por Newark.                                  
   Roberto Lima já publicou anteriormente outros dois livros em parceria com o poeta e professor universitário Bispo Filho, que é um amigo do peito desde a adolescência vivida em Governador Valadares. Trata-se de “Colosso Ciclone”, um volume de poesia, de 1982, e “Meninos de São Raimundo”, reunindo poesia e prosa, de 2013, além de assinar ainda o livro de poesia “Tango Fantasma”, lançado em 1988. Agora, desde abril de 2017, o escritor está em tour de lançamento de “Papoulas de Kandahar”,  pelos Estados Unidos, Brasil, Portugal, Espanha, Açores, Ilha da Madeira e Japão. E o autor ainda promete para 2018 um novo livro de poesias, intitulado “Caixa de Suspiros”, e outro volume de crônicas, “Pequeno Mapa do Medo”. Como se vê, a dualidade é a marca de Roberto Lima.

3 comments:

Alan Costa said...

Poética pérola um agregador talentoso!

Anonymous said...

👏👏👏👏

Emiliana Vaz

Unknown said...

Massa! !!