Muito se falou, muita gente ficou esperando a chegada de Cristo para o julgamento final, mas ficou tudo na base do dito pelo não dito e a vida continuou.
O que você fez, enquanto esperava o mundo acabar?
Não acreditou e ficou na sua, tocando o o seu dia?
Ou ficou ressabiado, meio que duvidando, meio que acreditando?
Conheço uma moça que foi ao cabeleireiro e vestiu roupa de baile de gala para o encontro com o Senhor.
Ela pintou as unhas de encarnado, gastou tanto laquê que destruiu metade do que resta da camada de ozônio no penteado, enfiou-se num longo vermelho, justíssimo, e subiu nuns salto-altos de fazer inveja a uma atriz de Hollywood.
Como se não bastasse, pintou a boca de batom: rubra flor, escandalosa cereja.
Outro amigo meu, lá na Bahia, fez sua última ceia.
Ele tomou umas cervejas, entupiu-se de acarajé e vatapá, acendeu um cigarrinho do capeta e se deitou numa rede e ficou ali, de butuca.
De minha parte, garanto que não acreditei nas previsões do pastor Harold Camping, mas a obrigação de jornalista falou mais alto.
Sintonizei a CNN lá pelas 4 da tarde e fiquei aguardando, horas a fio, quase achando que assistiria ao vivo e a cores, a chegada do nosso momento final. E estava cheio de dúvidas.
Seria uma espécie de Big Brother em que todos sairiam da casa e ninguém ganharia um milhão?
Seria um novo Armagedon?
Seria como num filme de ficção científica de Spielberg, ou como uma novela das oito?
Seria uma explosão nuclear?
Um tsunami?
Um carnaval?
Um pregão da Bovespa?
Um gol do Bangu?
Fui dormir bem tarde, extenuado, frustrado e vencido pelo impiedoso cansaço. Na manhã seguinte, no outro extremo da cama, minha mulher dormia o sono mais justo.
Levantei, desconfiado, fui até a janela do quarto, pé ante pé e olhei pela greta da veneziana: sim, estava tudo no mesmíssimo lugar.
Consegui escutar a algazarra da passarinhada fazendo festa e um caminhão barulhento, queimando óleo diesel numa rua adjacente.
Desci, fiz café, pratiquei os gestos universais de todo o ser humano e pus-me a pensar.
Não, nada mudou.
Mas poderia ter mudado.
Já imaginaram se a humanidade encarasse essa nova manhã como uma segunda oportunidade?
Já imaginaram se cada pessoa que vivesse neste planeta resolvesse, de comum acordo, mudar tudo?
- Sim, o mundo acabou. Mas vamos reconstruir um outro novinho em folha. Vamos passar a humanidade a limpo!
Seremos nós, homens e mulheres do planeta, os criadores deste novo lugar.
Nunca mais seremos homem-lobo-do-homem.
Nunca mais seremos canibais de nós próprios.
Seremos uma extensão de Deus - qualquer Deus! - e todos os credos serão respeitados.
Todas as raças. Todas as cores.
Desaparecerão os tiranos, os truculentos e os vendedores da salvação.
Será um lugar melhor, mais justo, tolerante e sem desigualdades.
Um lugar em que as palavras fome e guerra serão apagadas do dicionário.
Deste mesmo dicionário desaparecerão também o preconceito, a ganância e a violência.
Leveza, generosidade, gentileza, cordialidade e solidariedade virarão verbos.
Neste novo mundo, homem e mulher serão iguais.
Será um lugar em que crianças e idosos serão respeitados e cuidados.
Um lugar em que a vida será preservada acima de tudo e terá valor superior ao de qualquer comodidade de mercado.
Vida valendo mais que petrodólares, mais que qualquer ação de Wall Street.
Mais que ouro. Mais que prata. Mais do que qualquer vil metal.
Neste novo mundo sem fronteiras e de bandeira única, a consciência ecológica e o respeito aos direitos humanos serão praticados com a naturalidade dos que respiram o ar mais puro.
E cada cidadão será livre para pensar, se expressar e se ser.
Já imaginaram se o mundo – esse novo mundo! – estivesse apenas começando...
Já imaginaram?
A Música Que Toca Sem Parar:
O Dia Que a Terra Parou, de Caulio Roberto e Raul Seixas, na voz do maluco beleza Raul Seixas.
Essa noite eu tive um sonho
de sonhador
Maluco que sou, eu sonhei
Com o dia em que a Terra parou
com o dia em que a Terra parou
Foi assim
No dia em que todas as pessoas
Do planeta inteiro
Resolveram que ninguém ia sair de casa
Como que se fosse combinado em todo
o planeta
Naquele dia, ninguém saiu saiu de casa, ninguém
O empregado não saiu pro seu trabalho
Pois sabia que o patrão também não tava lá
Dona de casa não saiu pra comprar pão
Pois sabia que o padeiro também não tava lá
E o guarda não saiu para prender
Pois sabia que o ladrão, também não tava lá
e o ladrão não saiu para roubar
Pois sabia que não ia ter onde gastar
No dia em que a Terra parou
No dia em que a Terra parou
No dia em que a Terra parou
No dia em que a Terra parou
E nas Igrejas nem um sino a badalar
Pois sabiam que os fiéis também não tavam lá
E os fiéis não saíram pra rezar
Pois sabiam que o padre também não tava lá
E o aluno não saiu para estudar
Pois sabia o professor também não tava lá
E o professor não saiu pra lecionar
Pois sabia que não tinha mais nada pra ensinar
No dia em que a Terra parou
No dia em que a Terra parou
No dia em que a Terra parou
No dia em que a Terra parou
O comandante não saiu para o quartel
Pois sabia que o soldado também não tava lá
E o soldado não saiu pra ir pra guerra
Pois sabia que o inimigo também não tava lá
E o paciente não saiu pra se tratar
Pois sabia que o doutor também não tava lá
E o doutor não saiu pra medicar
Pois sabia que não tinha mais doença pra curar
No dia em que a Terra parou
No dia em que a Terra parou
No dia em que a Terra parou
No dia em que a Terra parou
Essa noite eu tive um sonho de sonhador
Maluco que sou, acordei
No dia em que a Terra parou.
37 comments:
Cada um de nós é um mundo,
que pode acabar ou recomeçar
a qualquer segundo.
"Mundo, mundo vasto mundo..." CDA
é verdade, claudia.
onde é mesmo que eu assino?
abração do
roberto.
tu esqueceu de dizer que ainda teve uma sobremesa porreta de cocada puxa, aquela que fica tão grudada que quando a gente consegue limpar o dente vem junto a obturação, rs,rs,
abração
Encarar cada frustrado anúncio de fim de mundo como uma nova oportunidade, a chance de reconstruir...seria interessante, Roberto, estaríamos já bem melhores, porque faz tempo que o fim do mundo é anunciado. Por outro lado, ainda bem que baiano não acredita muito nessas coisas, pois creio que seria diferente das suas previsões e fariam o tal do "Último Carnaval do Planeta" e cantariam em coro o tal do "vou não, quero não, minha mulher não deixa não...", esse refrão que doeu no ouvido de tanto ouvir no carnaval que não foi o último (infelizmente!)...março passado...
Como sempre, sua crônica é uma delícia de ler!
assis,
faltou a cocada, que lá em minas chamamos quebra-queixo, que faz a alegria dos dentistas de plantão.
dé como disse o seu amigo Papa-Capim, se começou na Nova zelândia, ia demorar uma cara pra chegar em Feira.
Abração,
R.
taninha,
o que cê escreve me faz lembrar um peço de cnção de vitor ramil em que ele diz que a paz do indivíduo é a paz do mundo.
e é!
beijao, o carinho de sempre do
roberto.
Eu fui ao salão, como eu disse, mas não pq era fim do mundo e sim pq eu fico bonita sempre!(oía!!!)
E fiz canjica pra receber uns amigos pq aqui tá frio pra danar!
Bjs Roberto.
uai, mas não era você, mulher... rs...
é ficção, como o discurso do pastor.
beijão procê,
r.
Você tá tomando aqueles chás da Era de Aquarius novamente Beto? rsrs
Brincadeiras a parte, tomara que nós não tenhamos o poder de criar um mundo novo! rs Já pensou o hino nacional com ritmo de rebolation? rsrs
Beijão pisqüila!
ô, xunda... qualé?
com esse hino nacional aí eu mesmo aperto o botãozim que detona o fim dessa era.
ninguem merece, véio.
sartei!
abração, FT.
r.
Uai,
eu num achei que a moça lá do texto fosse eu não sô! Só dei rumo pra prosa.
Procurei e procurei e achei pra te enviar:
O Mundo Não Se Acabou
Assis Valente
Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar
Por causa disso a minha gente lá de casa começou a rezar
E até disseram que o sol ia nascer antes da madrugada
Por causa disso nessa noite lá no morro não se fez batucada
Acreditei nessa conversa mole
Pensei que o mundo ia se acabar
E fui tratando de me despedir
E sem demora fui tratando de aproveitar
Beijei na boca de quem não devia
Peguei na mão de quem não conhecia
Dancei um samba em traje de maiô
E o tal do mundo não se acabou
Chamei um gajo com quem não me dava
E perdoei a sua ingratidão
E festejando o acontecimento
Gastei com ele mais de quinhentão
Agora eu soube que o gajo anda
Dizendo coisa que não se passou
Vai ter barulho e vai ter confusão
Porque o mundo não se acabou
Tem no YouTube com a Rita Ribeiro, Carmen Miranda e outros.
Bjs pro cê.
Delima,
Verbo que também te quero verbo: generosidade, gentileza, cordialidade, solidariedade, leveza...
E a verdadeira amizade acima de tudo, de todo tolo vil metal: tipo um amigo que me ligou ontem pra me presentear com um cd de Paulo Matricó (que eu ignaramente ainda não conheço) em troca do Flávio Henrique e do Thelmo Lins que eu lhe 'apliquei'...
Bom demais da conta ler crônica nova de Roberto Lima, pintada com as tintas de Renoir e as cores de Rubem Braga...
Abraço Grandhi,
Dellas Ramas.
Beleza de crônica, Roberto Lima!
Esses crentes falam isso quase todo ano. Aí vai ficar igual a estória do mentiroso. Quando for verdade e ninguém acreditar, acaba. ACABA????
Claro que não!
Beijos
Mirze
fátima,
eu adoro a rita ribeiro. cê ja escutou a versão que ela fez praquelazinha de caetano "oração ao tempo"?
se nao tem, eu mando pra você.
beijao do
r.
da rama,
voce nao ta sozinho, pois tambem nao conheço paulo matricó.
com um nome artístico desses, é mió que seja bom demais da conta, sô!... algo do tipo arrigo barnabé, o pior nome de guerra que ja vi na vida vivida...rs
da rama, quando ce vem aqui, toca um frevo em meu coração.
abraçao do
r.
mirze, eu sou um crente.
creio em tanta coisa... rs
creio até em saci pererê.
cê acredita num trem desses?
beijao do
r.
Meu Mano!
Claro que todos somos crentes. Falei dos "FANÁTICOS", que adoram "fim do mundo" para atrair fiéis;
Eu não acredito em Saci Pererê, mas acredito que na época da Páscoa, certa raça de coelha, põe ovo de chocolate, mesmo os coelhos não sendo ovíparos.
Beijos
Mirze
e eu que ainda acredito em bobagens do tipo amor e amizade, lealdade e solidariedade...
mirze, a gente vai sendo assim. até que se apague a luz, um dia.
que tarde muito.
Roberto,
eu também acredito num monte de coisas.
E aqui em Pernambuco também é quebra-queixo,a tal da cocada que é uma delícia!
E esse post vale um abraço!
Linda Simões
Manda pra mim Roberto.
Não tenho não!
Bjs.
ma manda seu email, fatima. mando na hora.
e seu comentário vale uma dúxia deles, linda.
voce, sempre generosa, sempre bacana demais.
obrigado!
primeiro amigo,
inspiradíssima esta tua crónica, a espreitar-nos pela veneziana do teu olhar. o brado da segunda oportunidade impõe-se-nos mesmo que para lá dos arautos da desgraça ou dos profetas do apocalipse. residirá, sobretudo, na consciência ética, cívica,e política [no sentido genuíno da etimologia - polis/cidade], esse gigante adormecido pelo ópio e o torpor de uma sociedade prostituta: seduz, acenando com o prazer imediato, a troco de uns cobres que nos mantêm reféns pela eternidade.
abraço, querido amigo!
p.s. essa do golo do bangu é, no mínimo, cruel :)
jorgíssimo,
poderia ser muito pior. já pensou se fosse "um gol do FC do Porto"?
aqui, pelo menos, faz um tempão que ninguem sofre (ou comemora) um gol do bangu...rs
putz, vi na internet um video em que um árbitro banido do futebol português denunciava as maracutaias de pinto da costa. e a primeira coisa que pensei foi em você. pô, tripudiam com nossa paixao pelo futebol.
pinto da costa é mafioso, corrempedor, trapaceiro... aquele ali vai pro inferno...rs
abração, querido amigo
do roberto.
tu me pegaste pelo riso já nas primeiras linhas com essa história do dito pelo não dito... e assim foi até (n)o dia em que a terra parou.
beijão, roberto!
ainda bem que te fiz sorrir, luciana.
e eu também sorri, ao te ver retonando ao blog. afinal, cê andava mais sumida que dindim, no meu bolso...rs
beijao domingueiro do
r.
Olá, Roberto,
moço, amei amei sua crônica, achei graça, fiquei emocionada com tudo que você escreveu que poderia ser mais diferente ainda se as pessoas de dispusessem a ser, ah, Roberto a gente sonha e luta e espera e acredita e quer e levanta as bandeiras e sofre e ama e vai às ruas e grita e escreve e canta, e bom demais o Raul que toca sem parar, tenho umas viagens com esta música, desde pequena que ouço o Maluco Beleza, adoro
beijo de parabéns e tudo de bompra você e pr@s querid@s
vais,
eu não gostava da musica dele. coisa mais estranha, esse raul seixas. depois que ele morreu, eu enviuvei tambem.
sim, a gente sonha.
e quem tem um sonho não dança, ja dizia cazuza, outro maluco beleza.
beijão de bom domingo proce.
r.
Oi Roberto, gostei muito do que li aqui, se não se importar vou voltar pra ler mais. Estou te seguindo pra não te perder de vista. Um bj carinhoso
cinha,
seja muito bem vinda.
sua presença nos honra.
abração do
roberto.
Quase tudo ficou no lugar, Bob.
No máximo, um Golpe de Estado na África.
Mais um.
No geral, suportamos bem o dia do Juízo Final.
Coloquei Raul pra tocar no CD Player e toquei fogo no do Capeta.
Depois fui dormir.
Simples, não?
Beijos, querido amigo.
esse mundo nem é tão ruim assim, paulo poeta.
só precisamos de uns ajustes.
toca, raullllllllll!
abração desse seu amigo, o
roberto.
Pois é, Roberto: acabou não acabando, fato que nem sei se reputo bom ou ruim...
Já, a sua crônica, sei muito bem: espetacular!
Abraço forte, amigo!
uai, a vida é boa demais, querida zélia.
vivamos.
e tentemos, cada um de nós, melhorar as coisas por aqui.
beijao,
r.
sonhemos mais alto hein primeiríssima pessoa, sonhemos com classe dessa vez - sem coisa ruim :)
bjs
sonhar, sempre, luiza...
sonhos bons.
sonhos de paz.
abração do
roberto.
tentei postar seu comentario, jader, mas devo ter feito algo errado. ainda bem que nao acabou, ne?
ainda da tempo de consertar muita coisa.
abraçao do
roberto.
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