Ele é louro e tem os olhos azuis.
Ele, que não conviveu com a pobreza, com a fome, ou outro flagelo de equivalente natureza.
Ele, que é louro e tem os olhos azuis.
Ele, que não entrou na fila da sopa, do cobertor de flanela ou da água, geralmente distribuída em caminhões-pipa nas regiões castigadas pela miséria e pela seca.
Ele, um homem louro e de olhos azuis.
Ele, que não cresceu com a pele tostada pelo sol escaldante do deserto, que não viu sua família sofrer torturas em mãos de cupinchas de uma ditadura ou foi doutrinado para ser um homem-bomba.
Ele...
Ele, que não foi menino de rua.
Que não esmolou pelas ruas.
E não vendeu chicletes num sinal de trânsito.
Esse homem que nasceu e cresceu num dos lugares mais civilizados da Terra, que frequentou boas escolas e bem poderia ser um médico, um cientista, um poeta, um professor ou um jogador de hóquei sobre o gelo, tão abundante no lugar em que veio ao mundo.
Ele, que é louro e tem os olhos azuis.
Ele que escolheu o caminho que quis escolher, e a livre escolha é uma benesse, uma conquista ainda disponível nos países democráticos do chamado Primeiro Mundo.
Ele que, entre tantas escolhas, optou pelo ódio.
Pela intolerância.
Pelo terror.
Ele que optou pelo egoísmo e que não calçou – por um segundo que tenha sido – o sapato daqueles que vitimaria com seu desatino.
Ele que não pensou na ferida que abriria no peito de famílias inteiras, hoje, inconsoláveis.
Ele, que espalhou uma dor interminável.
Ele, que separou de uma vez por todas, pais, filhos, mães, irmãos, amigos…
Ele que, com seu egoísmo, sua inconsequência, sua irresponsabilidade, não pensou duas vezes antes de explodir um prédio em sua insuspeitável Noruega.
Ele que nos ensinou que o ódio e a intolerância campeiam, panfletados pelo demônio.
E que o demônio do ódio e da intolerância está recrutando dentro de nossas próprias casas, no seio de nossos lares.
O dono das trevas já não faz adeptos entre miseráveis mal-nascidos, revoltados com as injustiças sociais - infelizmente ainda abundantes neste planeta (o que talvez até nos fosse compreensível -, por civilizada compaixão).
Ele, que plantou o luto.
Que plantou a interminável dor.
E que sorriu diante das câmeras de televisão, esta manhã, em seu caminho para o tribunal.
Vaidoso, fez reluzir seus dentes brancos.
Flash!
Ele, que nos mostrou (de uma vez por todas) que o mal já não possui uma face, e que nosso preconceito erroneamente estigmatizou.
O mal não usa uma burca, um turbante, uma calça furada nos joelhos ou nas nádegas.
O mal que não é mulato e não é cafuso e não é mestiço. Jamais foi.
Somos, todos, ou quase todos, uma semente do mal.
Ele, o demônio, é bem-nascido.
Ele come e bebe e tem abundância de tudo.
Ele, o mau, é você e sou eu, escondidos nesta pele de cordeiro.
Ele, o diabo, é louro e tem os olhos azuis.
Ou castanhos-avermelhados, como os meus.
A Música Que Toca Sem Parar:
de um dos discos que mais me marcaram recolhi Calma Violência, de Fagner e Fausto Nilo.
Calma violência, violência calma
E a pureza da minh alma
E a minha inocência
Calma violência, violência calma
Calma violência, violência calma
E a pureza da minh alma
E a minha inocência
Calma violência, violência calma
Minha mão não tem mais palma
Dói a irreverência
Violência, calma
Brasileira é minha alma
A experiência, violência
Calma violência
A experiência, violência
Calma violência
Ele, que não conviveu com a pobreza, com a fome, ou outro flagelo de equivalente natureza.
Ele, que é louro e tem os olhos azuis.
Ele, que não entrou na fila da sopa, do cobertor de flanela ou da água, geralmente distribuída em caminhões-pipa nas regiões castigadas pela miséria e pela seca.
Ele, um homem louro e de olhos azuis.
Ele, que não cresceu com a pele tostada pelo sol escaldante do deserto, que não viu sua família sofrer torturas em mãos de cupinchas de uma ditadura ou foi doutrinado para ser um homem-bomba.
Ele...
Ele, que não foi menino de rua.
Que não esmolou pelas ruas.
E não vendeu chicletes num sinal de trânsito.
Esse homem que nasceu e cresceu num dos lugares mais civilizados da Terra, que frequentou boas escolas e bem poderia ser um médico, um cientista, um poeta, um professor ou um jogador de hóquei sobre o gelo, tão abundante no lugar em que veio ao mundo.
Ele, que é louro e tem os olhos azuis.
Ele que escolheu o caminho que quis escolher, e a livre escolha é uma benesse, uma conquista ainda disponível nos países democráticos do chamado Primeiro Mundo.
Ele que, entre tantas escolhas, optou pelo ódio.
Pela intolerância.
Pelo terror.
Ele que optou pelo egoísmo e que não calçou – por um segundo que tenha sido – o sapato daqueles que vitimaria com seu desatino.
Ele que não pensou na ferida que abriria no peito de famílias inteiras, hoje, inconsoláveis.
Ele, que espalhou uma dor interminável.
Ele, que separou de uma vez por todas, pais, filhos, mães, irmãos, amigos…
Ele que, com seu egoísmo, sua inconsequência, sua irresponsabilidade, não pensou duas vezes antes de explodir um prédio em sua insuspeitável Noruega.
Ele que nos ensinou que o ódio e a intolerância campeiam, panfletados pelo demônio.
E que o demônio do ódio e da intolerância está recrutando dentro de nossas próprias casas, no seio de nossos lares.
O dono das trevas já não faz adeptos entre miseráveis mal-nascidos, revoltados com as injustiças sociais - infelizmente ainda abundantes neste planeta (o que talvez até nos fosse compreensível -, por civilizada compaixão).
Ele, que plantou o luto.
Que plantou a interminável dor.
E que sorriu diante das câmeras de televisão, esta manhã, em seu caminho para o tribunal.
Vaidoso, fez reluzir seus dentes brancos.
Flash!
Ele, que nos mostrou (de uma vez por todas) que o mal já não possui uma face, e que nosso preconceito erroneamente estigmatizou.
O mal não usa uma burca, um turbante, uma calça furada nos joelhos ou nas nádegas.
O mal que não é mulato e não é cafuso e não é mestiço. Jamais foi.
Somos, todos, ou quase todos, uma semente do mal.
Ele, o demônio, é bem-nascido.
Ele come e bebe e tem abundância de tudo.
Ele, o mau, é você e sou eu, escondidos nesta pele de cordeiro.
Ele, o diabo, é louro e tem os olhos azuis.
Ou castanhos-avermelhados, como os meus.
A Música Que Toca Sem Parar:
de um dos discos que mais me marcaram recolhi Calma Violência, de Fagner e Fausto Nilo.
Calma violência, violência calma
E a pureza da minh alma
E a minha inocência
Calma violência, violência calma
Calma violência, violência calma
E a pureza da minh alma
E a minha inocência
Calma violência, violência calma
Minha mão não tem mais palma
Dói a irreverência
Violência, calma
Brasileira é minha alma
A experiência, violência
Calma violência
A experiência, violência
Calma violência
22 comments:
sua crônica é simplesmente perfeita, Roberto... das melhores que já fez.
Contundente como uma lança afiada...
beijos,
Mercedes.
Roberto!
Não tenho palavras que possas fazer "jus" a este belo e verídico texto.
Fiquei algum tempo olhando a imagem, não me pareceu mendigo, pobre ou drogado. Imaginei um futuro louco absorvendo meus netos que tem essas características (ainda são pequenos).
Imaginei o mundo surpreendente que estamos vivendo. E pensei o que leva alguém tão jovem, e cheio de sonhos, a fazer isto.
Acho que este é o final dos tempos. Pelo menos, dos bons tempos.
Parabéns pela emoção que pulam da crônica para dentro da alma de quem lê.
Beijos!
Mirze
Já te li no Tertúlia e te reli aqui. Aliás, não me cando de ler tuas crônicas nunca, Roberto!
Beijos,
Quero o livro de crônicas do Roberto Lima...
Sem mais, pois não tenho palavras.
Um abraço,
Linda Simões
quando o ódio atravessa as retinas os olhos são mensageiros de aflição
abração
Roberto,
Um prazer enaltecido no lado esquerdo do meu peito pela sua crónica detentora de uma veracidade e, beleza rara. Os caracteres adornam-se e, formam palavras que demonstram o sentido verdadeiro do assunto objecto.
De facto, o “demónio” deixou de ser aquele que aterrorizava-me na infância, que possuia coloração vermelha, detinha chifres e, “rabinho” pontiagudo. O demónio passou a ser aquele que surpreende-me nefastamente, maltrata, corrói, destrói, mágoa sem dolo, sem piedade, sem arrependimento e, sem recuo.
Ruim … apresenta-se de dissemelhantes feições mas único na sua conduta.
Um laço sincero de admiração de mim para si.
Ana
mê,
a crônica até que ficou boazinha, mas bom mesmo, foi você aqui de novo, entre os meus.
fiquei feliz.
beijão do
roberto.
mirze,
pudéssemos nós surpreender a surpresa do mundo, semeando por aqui boas sementes.
o que será do mundo na mão de nossos filhos, nossos netos?
sim, entregeui os pontos: fracassei.
o mundo que deixo pra quem chegou e ainda chegará é cheio de malucos que bebem sangue humano em crâneos transformados em taça.
beijo proce,
r.
taninha,
entre todos os generosos e gentis que me habitam, o quarto com janela pro mar de ondina é seu.
beijo grande
roberto.
linda,
prometo que um dia destes eu tomo coragem e publico um livro de cronicas. ja tem até título:
"as 50 mais mais ou menos de RL"....
existe um projeto, sim, mas perdi 20 anos de cronicas no disco rígido de meu computador, o ano passado. quase enlouqueci.
assim que tiver um material mais "mais ou menos", publico.
e te mando um exemplar com dedicatória e tudo.
beijão do
roberto.
Verdade mais verdadeira...mas a ruindade e maldade não tem cor...e os mais abastados são mais capazis de tamanha crueldade...
Parabéns Roberto!!!...vc escreveu com vocabulario nosso,claro e simples.
Ele é o estereótipo do anjo... seria o modelito martirizado de um santo, caso não soubéssemos os seus delitos...um, dentre tantos mocinhos "bonzinhos" que povoam o imaginário dos cineastas que reproduzem o "tipo ideal", cristalizado na figura do herói...
Quanto ao fracasso, de forma alguma. Você não fracassou. Cada um de nós faz a própria parte e, duvido que as sementes que lançou têm o cerne do mal. Pelo contrário, o que vem fracassando são as lideranças mundiais com seus planos retrógrados, omissos ou apenas paliativos em relação ao OUTRO. Gente pensada como "categoria" dá nisso...violência e morte.
Aqui no Brasil, pessoas bem diferentes do "anjo caido" se acham portadoras das mesmas verdades - ignoram que se estivessem diante de um cara desses, seriam também o OUTRO: o ALVO.
Oi Roberto, acho que depois de ler essa sua crônica tão contundente, não há mais muito o que dizer sobre esse episódio lamentável. Fica então apenas a pergunta que não quer calar: O que leva um H bem nascido e bem formado a cometer tamanha atrocidade? E eu cada vez mais me convenço que só pode ser uma falta enorme de amor no coração.
Adoro seus textos e a forma como vc os conduz. Eu volto... Um bj carinhoso
cinha,
suas palavras carinhosas me deixam feliz.
quanto ao episódio, ele fala por si.
onde iremos parar, cinha?
massacre em realengo, oslo, ou columbine?
tudo vinagre da mesma pipa.
abração do
roberto.
fenix,
como disse o poeta bispo filho na tertuluia pão de queijo, esse é o diabo louro.
e existe diabo de tudo quanto é cor.
abração do
roberto.
o diabo é um ser mutante, ana.
e ele vive dentro de nós.
ele, e Deus.
dá um medo, né?
viver é muito perigoso, já dizia Guimarães Rosa.
e continuamos sem aprender seus melindres.
beijão do
roberto.
dalvinha,
escolher entre o bem e o mal nasce com o homem (e com a mulher).
é uma peleja diária, escolher o caminho a seguir.
e eu tenho conseguido plantar margaridas, até aqui.
abração do
roberto.
asis,
passageiros da agonia.
lúcios flávios, é o que somos.
beijao do roberto.
ps: nada a ver com aquele meia do botafogo. aquele que batia umas faltinhas.
Toda forma de terrorismo é abominável,
mas esse terrorismo sem "causa" e solitário merece reflexão profunda.
E você, estilista antenado e conhecedor das cousas desse nosso mundinho, não deixou por menos.
Soube colocar bem a questão.
Ótimo texto.
E tem o meu aval.
Minha reverência, Bob, diretamente das dunas de Genipabu.
é mesmo assim, primeiro amigo: "o diabo veste prada" da mesma forma que esfola a sola dos pés no asfalto sedento de sangue.
mas, quantas vezes não somos nós, sociedade egoísta e de umbigo imenso, quem aduba, rega e estimula esta semente malévola que vai sendo atirada, enquanto dormimos (até mesmo de olhos abertos) para aqui, para bem juntinho dos nossos pés? somos, afinal, e tantas vezes, como fausto, de goethe; não o próprio diabo, mas o que o alimenta; não o criminoso que carrega no gatilho, mas o que carrega a arma.
um abraço com saudades tuas!
amigo jorgísdsimo,
está provado que, hoje, mais do que nunca, o diabo veste prada. belíssima intervenção. aliás, eu teria sampleado isto (rs), caso lesse sua observação antes.
caso eu republique esta crônica em algum lugar, farei a adaptação, picaretamente...rs
abraço desse seu amigo lá das minas, o
roberto.
terrorismo com ou sem causa, paulo poeta, a palavra já diz tudo: terror.
e o terror é uma das piores invenções do homem.
abração, desde new jersey, poeta das dunas lindas de genipabu.
r.
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