Thursday, July 7, 2011

Survivor, Brazilian Style


















Fim de domingo, estatelado no sofá da sala, brincando com o controle remoto da tv, deparo-me com o Survivor, um reality show em que os participantes são despachados para um canto esquecido do planeta e tem que se virar nos trinta, como recomendaria o Faustão.
Passam cerca de 40 dias embrenhados na mata, vivendo em abrigos improvisados, caçando e pescando para comer com lanças feitas de madeira, extraem fogo de pedras, como na pré-história.
Mauricinhos, caipiras, aspirantes a modelo, desajustados, cowboys de meia-espora, manicures, donas de casa e pessoas de diferentes regiões do país são divididos em duas turmas e o bicho pega, com a realização de provas de sobrevivência que contam pontos e dão prêmios cobiçados como uma caixa de cerveja gelada, um café da manhã com direito a bacon e croissants, um canivete suíço ou uma sempre disputadíssima caixa de fósforos.
Uma vez por semana, os participantes votam pela saída de um dos seus. Eles vão se dizimando, como canibais de si próprios, até que seja apontado o vencedor.
O Brasil teve uma versão deste enlatado, que parece não ter emplacado muito bem, ao contrário do Big Brother, que virou mania nacional, transformando nulidades em celebridades e recheando as páginas das revistas masculinas de “carne novinha em folha”.
Abomino o Big Brother.
Não o assisto por aqui, não o assistiria se vivesse no Brasil ou em qualquer outra parte do mundo onde se fabrique sumidades do quilate de Alberto Cowboy, Diego Alemão e o filósofo Cléber Bambam, aquele que fez o país inteiro dizer “faiz pairte”.
Como sei o nome destes e de tantos outros big brothers? Ora, como não saber?
Em época de Big Brother, eles ganham mais espaço na mídia do que o lançamento do livro de Chico Buarque, o mais recente poço de petróleo descoberto à unha por Eike Batista ou o novo escândalo político em Brasília.
Aliás, político deve adorar o Big Brother.
Isso é garantia de que o olhar de quase 200 milhões de brasileiros está nas coxas de beldades do calibre de Sabrina Sato ou de Pryscila, uma indiazinha bem bonitinha do Mato Grosso, que mostrou seu piercing genital numa edição da Playboy.
Quem quer saber de mensalão, mensalinhos e deputados donos de castelos, quando o país inteiro rói as unhas para saber quem vai sair da casa?
Mas eu falava do Survivor (O Sobrevivente, para os recém-chegados e ainda não familiarizados com a língua inglesa)...
A edição deste ano foi realizada no Brasil. Para ser mais exato, em Tocantins.
Entre muriçocas, rios infestados de piranhas, aranhas caranguejeiras, cobras de todos os calibres e feras da fauna brasileira, a turma se engalfinhou pelo direito de levar para casa a bagatela de 1 milhão de dólares.
Fiquei pensando, enquanto admirava a belíssima paisagem que servia de pano de fundo para o programa, se a produção precisava mesmo tê-los mandado para os cafundós de Tocantins, quando a intenção era testar a resistência física e mental dos participantes.
E minha mente desocupada passou a bolar um Survivor brasileiríssimo, com provas bem mais difíceis para os participantes, do que atravessar rústicas pinguelas com os ombros carregados de balaios d’água.
Queria ver essa turma passar pelas provas diárias dos legítimos survivors brasileiros.
Para começo de conversa, queria vê-los alimentando uma família de 5 pessoas com um salário mínimo, como fazem milhões de pessoas.
Pensam que é moleza? Como prêmio para a equipe vencedora dessa prova, caberia um bolsa-família.
Embarque um mauricinho novaiorquino num lotação em São Paulo às 5 da manhã e, após repetir esse processo mais duas vezes todos os dias, deixem-no guardando carros numa avenida paulistana.
Uma patricinha, dessas aspirantes a modelo, enviem-na para uma casa de madame, e a deixem lá, uma semana inteira, comendo o pão que o diabo amassou com o rabo.
Esse countryboy do Alabama que venceu o Survivor no último domingo, eu mandaria para uma plantação de cana no sertão de Pernambuco, e veria a veridicidade de sua familiaridade com os outdoors, essa que supostamente foi seu passaporte para a vitória.
Ao invés de comerem peixe cru (quem não gosta de um bom sushi?), coloquemos em seus espetos um bom e apimentado acarajé, testículos de boi, buchada de bode e eles iriam mudar o nome do programa para Fear Factor, the Brazilian Edition.
Uma outra prova seria parar o carro de janela aberta, após as dez da noite, num sinal de trânsito de qualquer capital brasileira.
Outra prova dificílima seria trancar todo mundo num quarto assistindo os programas de Ratinho ou de Luciana Gimenez.
Quem resistisse mais tempo, ganharia o cordão de imunidade pelo resto da vida.
Numa das provas de resistência mais difíceis, mandaria os participantes para Jaguariúna ou Barretos e os deixaria lá por dias a fio, sentados em confortáveis cadeiras no centro da arena de rodeio, escutando shows consecutivos de Zezé di Camargo e Luciano, Leonardo, Daniel, e Bruno e Marroni.
Para dificultar um pouquinho mais, mandaria os finalistas vestirem uma camisa rubro-negra, os soltaria no Maracanã, bem no meio da torcida do Vasco, gritando Mengôôôô…
Quem sobrevivesse levaria para casa, merecidamente, o tão cobiçado milhão.


A Música Que Toca Sem Parar:
de e com Zé Ramalho, Admirável Gado Novo.

14 comments:

Unknown said...

loucura mesmo é estar vivo e não se indignar, vamos tangendo os males e tecendo loas de esperança


abração

Anonymous said...

Já fiz as mesmas perguntas sobre este
reality show .
bja.

Unknown said...

Roberto!

Que mente prodigiosa, a sua. Há algum tempo passava no fantástico, ou depois, um "survivor" desses. Eu adorava. Só não olhava quando tinha cobra e eles comiam carne crua.

Mas o que mais gostei foi a "sua imaginação para os perdedores". Quem aguentaria ouvir por mais de i minuto Bruno e Marroni?

Você é mau, mano! eu não sabia,!

Beijos

Mirze

Primeira Pessoa said...

pis é, zé de assis...
e a gente enlouquece se indignando... ja percebeu o tamanho desse buraco?

beijao do

roberto.

Primeira Pessoa said...

fatima,
o brasil inteiro se rende aos BBBs... e eu fico me perguntando os porquês.... teve um que virou deputado...
e outros que viraram outra coisa.
so nao conseguiram virar a minha cabeça.

beijao,

r.

Primeira Pessoa said...

carne crua não é ruim... tem uns carpacios bacaninhas nas boas casas do ramo... rs

ce falou e me lembrei que la em governador valadares tinha o buteco do maforte, que servia entre tantas iguarias, carne de cobra.

e tinha quem gostasse.

confesso, não é minha praia.

beijao,

r.

Tania regina Contreiras said...

Abomino o Big Brother também. Nunca assisti um. E as suas ideias aí pras Pat e pros Mauricinhos é ótima!

Beijos,
tania

Anonymous said...

cada vez mais há mais gente em frente da televisão, babando e esquecendo o ceu cerebro

Beijo

Laura Alberto

cinha said...

Oi Roberto, vim ler as novidades e me deparei com esse novo post. Só pra te alegrar um pouco, te digo que a mim nenhum desses programas citados por vc conseguiram me contaminar. Me nego terminantemente desperdiçar minhas noites preciosas com essas baixarias que nada acrescentam à minha cultura geral. E com o frio que agora está fazendo aqui na Serra, prefiro a companhia de um livro que aprecio com um bom vinho ou fico a escrever na companhia do Ivan Lins ou do Bob Dilan tocando ao fundo. Adorei o texto e a forma como o conduziu. Eu volto, um bj carinhoso.

Primeira Pessoa said...

ivan lins e bob dylan sao otimas companhias, cinha.
eu assisto televisao. noticiarios, filmes, esporte (tenho esse defeito...rs) e, principalmente, programas de culinaria.

descobri agora onde foi parar o tempo em que eu deveria estar lendo alguma coisa bacana...rs


abração,
r.

Primeira Pessoa said...

lauríssima,
cérebro é um negocio de comer ou passar no cabelo?...


te dou inteira razão.

abraço grande do

roberto.

Primeira Pessoa said...

taninha,
tenho certeza absoluta que sua praia é outra.

é por isso que te admiro tanto.

beijao do

r.

Jorge Pimenta said...

será que tudo tem mesmo um preço, robertílimo?
sei não :)
um abraço, poeta, cronista, melómano, sociólogo... e, para além de [acima de] tudo o mais, amigo!

Primeira Pessoa said...

jorgíssimo, principe da cidade dos arcebispos...

tudo tem o preço.
o nosso, é pago em afeto, poesia e canção.

e eu aqui, amarrando um porre de cuba libre, sonhando com as serras de minas, um trpeiro e uma cachacinha.

ando bento, não.

mas eu me curo, poeta.

juro que me curo.


saudades de te ver, por aqui.

beijão,

roberto.