Saturday, November 21, 2009


Limando o Lima


Fosse aqui nos Estados Unidos, alguém com o sobrenome Lima iria procurar quem inventou a expressão “Mandar o Lima” e processá-lo. O bordão é sinônimo de descaso e é usado toda vez que alguém não quer ir a algum compromisso, e resolve mandar o Lima em seu lugar. Dizem que Tim Maia mandou o Lima a muitos de seus shows, e que teria sido ele o cunhador do mote.
Estivesse vivo e morando nos Estados Unidos, algum distante parente meu arranjaria um jeito de processá-lo, demandando milhões. Aqui se processa por tudo. Teve uma dona que ganhou uma grana porque uma lanchonete McDonalds serviu-lhe um café quente. Já no carro, o copo de café caiu-lhe sobre o colo, queimando parte das coxas. Isto talvez explique o cafezinho morno que andam servindo por aí.
Nos anos noventa, “Bráulios” do Oiapoque ao Chuí bem que poderiam ter se manifestado em tribunal. Foram injustamente estigmatizados.
Fosse o Brasil os Estados Unidos, o processo teria sido movido contra o ministério da Saúde, que na campanha de prevenção contra a aids, sugeriu que se plastificasse, encapuzasse, encamisasse os suscetíveis a doenças sexualmente transmissíveis, Bráulios de todo o país.
Os imprudentes burocratas da Saúde teriam facilitado as coisas sem traumatizar ou ofender ninguém, tivessem escolhido um nome que não quisesse dizer outra coisa, que não o próprio dito-cujo. Qualquer slogan simpático resolveria:
“Não corra riscos desnecessários! Na hora da transa, plastifique o seu Bilau”.
Não conheço ninguém com esse nome. Bilau da Silva; Bilau Osório; Bilau de Andrade.
Essa de mandar o Lima é uma bossa relativamente nova. Mas existem registrados alguns casos bem antigos. Dizem que o Lima fez muitos dos exames anti-dopings de Diego Maradona, quando este jogava no Napoli. Aliás, era o Limone quem fazia o xixi no lugar do baixinho.
Aldir Blanc narra em seu livro Rua dos Artistas & Arredores, uma preciosidade, que conto aqui com algumas “adaptações”.
Um rapaz do bairro havia combinado de fazer uma serenata junto à janela de uma moça. Seria uma serenata em que pediria a mão da beldade em casamento, e para a qual já estavam confirmados alguns dos melhores músicos da região.
Os preparativos corriam dentro dos conformes e houve até quem consultasse a folhinha Mariana para ver se seria noite de lua cheia. Afinal, serenata e lua cheia ficam perfeitas juntas.
A uma semana da grande serenata, no entanto, o candidato a noivo classificou-se para as semifinais de um campeonato de sinuca no bairro vizinho. A partir daquele momento criou-se um impasse. E ele teria que tomar uma decisão importante.
Uma decisão que denotasse responsabilidade e bom senso.
Foi assim que ele acabou em terceiro lugar no campeonato, sem fazer feio na serenata.
Um amigo dele – provavelmente de sobrenome Lima – fez um emocionado discurso, declamando versos românticos e pedindo a mão da noiva em nome do ausente, informando que este tivera um “compromisso inadiável”.
Foi muito aplaudido e o pai da moça não só permitiu o namoro, como ainda abriu uma garrafa de uísque, que guardara durante muitos anos para uma ocasião especial.
Se aconteceu, verdadeiramente, eu não sei, mas o certo é que todos estamos sujeitos a levar um bolo. E muitos destes bolos são involuntários. Aconteceu, muito recentemente, comigo.
Kiko Sales descobriu que seria aniversário de César Augusto, amigo querido de ambos. Precisávamos homenageá-lo.
Combinamos com outros amigos comuns de sairmos juntos, e celebrarmos a data magna do jornalista. Só que César e a esposa Luciana estavam de viagem marcada para as Bahamas naquele dia, e não poderia participar. Na ausência deles, remarcamos para a volta.
Quando ligamos novamente para avisar da nova farra, ficamos sabendo que na data escolhida, eles estariam a trabalho em Boston.
Não desanimamos.
Saímos, jantamos, festejamos e ligamos para ele na hora do parabéns, com todos soltando a voz em desafinado uníssono. Até os garçons ajudaram a engrossar o coro ligeiramente alcoolizado.
No dia seguinte, logo pela manhã, encontro no celular uma mensagem do aniversariante:
- Foi minha melhor festa de aniversário de que não participei. Muito obrigado!
Espirituoso, César Augusto não perdeu a piada e nem os amigos. E ainda ganhou, de presente, esta crônica aqui.

*

2 comments:

Anonymous said...

Pensei...pensei; parabens ja enviei, entao entre " acertos feitos/desfeitos", nao da para fugir da breguice tipo" o acaso nos fez amigos, mas as circunstancias nos fez irmaos".............that,s it buddy

Primeira Pessoa said...

martíssima, a honra é minha.
chamam de brega, geralmente, as coisas expontaneas e verdadeiras que brotam do peito da gente.
a amizade é brega. o amor é brega. o arco-íris é brega. o beija-flor é brega. a ararinha zul é brega. os bluejays são bregas. roberto carlos é brega. os girassóis são bregas. o mar é brega.
ah, os chiques do mundo... geralmente são arrogantes, os que criticam os pieguismos dos que são incapazs de apunhalar pelas costas. dos que plantam flores e gostam de bolinhos de chuva.
você é brega. eu sou brega.
graças ao Dono de nós.
num é não?

beijão carinhoso do
R.