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Alô, doçura! Assim começava o email da suposta ucraniana de 24 anos, que perguntava se eu gosto das moças nascidas na Ucrânia.
Objetiva, ela esboçou mais duas frases falando de seus atributos físicos e valores morais e se despediu, decretando: a hora de nos encontrarmos é agora.
Quem assinou o email foi uma agência de matrimônio internacional.
É óbvio que o destinatário estava equivocado.
Não estou procurando casamento. E processo quem estiver espalhando por aí o contrário.
Este é apenas um dos muitos emails que recebo todos os dias, entre os que conseguem driblar o filtro de lixo eletrônico de minha caixa de emails.
Deve ser uma cilada. Mais uma.
Durante muito tempo recebi uma mensagem de uma mulher que dizia-se viúva de um príncipe africano.
Na mensagem quilométrica, ela abria dizendo que herdara uma fortuna de alguns milhões de dólares do marido, e encerrava me pedindo conselhos sobre como investir o seu dinheiro.
Logo eu, que pouco ou nada sei destas coisas.
Eu, que nunca investi um centavo na bolsa de valores, e que não investiria mesmo se tivesse o que é necessário para se brincar de roleta-russa em Wall Street.
Não me manifestei, óbvio, e leria num jornal americano, algum tempo depois, que uma operação do FBI havia desbaratado uma quadrilha nigeriana que lesava incautos mais ambiciosos do que eu.
E, claro, não havia viúva alguma.
Confesso que, ultimamente, sinto-me desestimulado a abrir meus emails.
Passo mais tempo separando lixo eletrônico da correspondência diária com leitores e colaboradores do jornal, do que propriamente lendo e respondendo a cada um deles.
Sou do tempo em que se escrevia cartas e esperava-se pela passagem do carteiro.
Abrir o envelope era um ritual indizível.
Só quem é do meu tempo entende e sabe do que estou falando.
Uma carta de mãe, por exemplo, transboradava amor materno e trazia até um cheirinho de bolinho de chuva.
A carta de uma namorada trazia seu perfume e uma marca de batom no lugar da assinatura.
As correspondências de cunho triste traziam a essência dos cravos do luto e as badaladas do sino da igreja.
As que vinham de amigos traziam abraços afetuosos, energias solidárias e muito da certeza de que tudo daria certo.
Mas os tempos mudaram e a rapidez e comodidade de um email fizeram com que extinguíssimos a magia e o charme das cartas.
Voltando a falar do grande supermercado em que transformaram minha caixa postal eletrônica, é incrível a quantidade produtos que anunciam.
Como conseguiram o meu endereço eletrônico, até hoje eu não sei, mas tenho certeza de que existem companhias que vendem estas listas.
E que meu nome baila de um lado pro outro, como pau de enxurrada.
A imaginação da turma parece cartola de mágico e nada escapa ao faro das empresas que descobriram nesta inovadora forma de marketing, um novo e eficiente canal.
Já comprei um monte de coisas que não precisava, coisas do tipo fatiador de ovo cozido, aparador de pelos nasais e um ridículo par de pantufas de ursinho.
E tem ainda aqueles produtos em que mostram fotografias do “antes” e do “depois”, que são um verdadeiro engodo.
A promessa do abdome de "tanquinho" após três meses com o aparelhinho iônico recomendado não se concretizou, e até hoje não recebi o meu dinheiro de volta.
E eles diziam na propaganda: satisfação garantida ou o seu dinheiro de volta.
Mas nada desinquieta mais do que a turma que oferece comprimidos para desfunções eréteis, ou os que oferecem aumentar em apenas algumas semanas, o tamanho do "apetrecho" do freguês.
Para embasar com “fatos”, mostram o resultado de uma pesquisa realizada com um número xis de mulheres que atestam que, nos dias de hoje, tamanho é documento, sim.
O leitor que lê, fica inseguro na hora, coça o queixo e se pergunta:
- Será que andaram reclamando por aí?
A Música Que Toca Sem Parar:
de Sivuca e Glorinha Gadelha, este retrato do Brasil do interior: Feira de Mangaio.
Fumo de rolo arreio e cangalha
Eu tenho tudo pra vender, quem quer comprar
Bolo de milho broa e cocada
Eu tenho pra vender, quem quer comprar
Pé de moleque, alecrim, canela
Moleque sai daqui me deixa trabalhar
E zé saiu correndo pra feira de pássaros
E foi pássaro voando em todo lugar
Tinha uma vendinha no canto da rua
Onde o mangaieiro ia se animar
Tomar uma bicada com lambu assado
E olhar pra maria do joá
Cabresto de cavalo e rabichola
Eu tenho pra vender, quem quer comprar
Farinha rapadura e graviola
Eu tenho pra vender, quem quer comprar
Pavio de cadeeiro panela de barro
Menino vou me embora
Tenho que voltar
Xaxar o meu rocado
Que nem boide carro
Alpargata de arrasto não quer me levar
Porque tem um sanfoneiro no canto da rua
Fazendo floreio pra gente dançar
Tem zefa de purcina fazendo renda
E o ronco do fole sem parar
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40 comments:
alô coração bonito
é, é isso tudo, que você diz
comecei rindo a bom rir, mas não tem graça, não.
... sabe do que tenho saudade? daquele tempo em que gastava todos os tostões da semanada que o pai dava para comprar os postalinhos de Natal e enviar a todas as amiguinhas, cada um com seu carinho diferente, e eram tantos, que a escola era grande, sem nunca esquecer ninguém...
é, já vou ao correio (email) só de vez em quando...
abração moço Roberto
Sempre espero que o carteiro traga algo mais comovente que impressos e boletos...
Vez ou outra, um cartão alimenta-me a esperança. rss
abraço
kkkkkkkkkkkk Muito bom teu texto!!!
Eu tbm recebo um avalanche de lixo eletrônico todos os dias, mas quem não recebe?
Me oferecem tanto dinheiro fácil, que quase respondi que fiz votos de pobreza rsrs.
Ah! e já me inscreveram num site de namoro, e pra explicar pro maridex? rsrs
Eu, como vc, ando farta desses emails e escrevi sobre isso, se quiser dar uma olhada: http://cronicasiagudas.blogspot.com/2010/11/histeria-virtual.html
Gde abço.
m. sueli,
vou ler sua crônica, sim. o tema é bom. dá pra se extrair alguma coisa desta tragédia, né?
bom te ler por aqui.
abs,
r.
ana,
é verdade... os carteiros de hoje também mudaram... e nos trazem uma imensidão de lixo em papel. e contas e mais contas.
tempos modernos, moça... tempos modernos...
abração do
r.
moça dos outros encantos,
a tecnologia trouxe e traz-nos enorme conforto. mas traz, também, dores de cabeça e quebras de encanto.
e isso é tema pra uma outra crônica, quero crer.
abraço grande do
r.
Você não está só, Roberto.
Recebo também enxurradas de e-mails dos tipos citados na sua excelente crônica.
As pessoas se julgam muito espertas quando usam desse expediente para tentar engabelar outrem.
Grandíssimo abraço e mantenha contato.
vamos formar uma espécie de clube do lixo, paulo poeta.
lixo eletrônico.
eles nos empapuçam disto, e aceitamos passivamente. uma hora a bolha estoura.
saudades de te ler por aqui, embaixador potiguar no mundo.
abração do
r.
Nossa Roberto! Pensei que era sua, a barriga de tanquinho da imagem.
Detesto barriga de tanquinho, à não ser que venham aqui lavar a tranqueira no tanque.
Esses cara fazem o seguinte> pegam a lista do gmail, por exemplo, e saem espalhando seu email para o hot-mail, facebook, Orkut etc... Outro dia recebi um e-mail do Wilson Nanini, dizendo para não adicioná-lo no Orkut. Eu nem sabia!!!! Fui lá e estava um pedido do Orkut para eu adicioná-lo. UM ABSURRRRRRDO!
Rejeitei como rejeito todos que não são familiares, ainda mais vindo de um policial.
Isso é crime!
Beijão Roberto!
Mirze
ô, mirze...
a barriga da foto é a minha....rs
eu não abro nada que não venha de gente conhecida, e se tem que abrir algum arquivo dentro do email, aí, nem que fosse de minha mãe eu abriria. isso é norma.
no outro dia o toni porto levou uma ferrada, achando que estava recebendo um pedido de socorro. chegou a subir uma fumacinha azul de seu laptop.
gente mais sem o que fazer, né?
beijão,
r.
ps: o nanini está entre os que abro email. adoro ele.
Já disse lá no Tertúlia, copio e colo cá:
Delícia de crônica, Roberto. É ler e rir das verdades de que vc fala com esse estilo que é só seu. Nossa, eu ainda sou, sim, do tempo em que se recebia cartas pelos correios, e amava receber, mas já sou também do tempo em que o lixo eletrônico esstá cheio de ofertas dos tais comprimidos para disfunções eréteis... Somos já de muitos tempos, é isso? O tempo passa. Mas a delícia de suas crônicas continua...
Beijos,
taninha,
você, sempre generosa e gentil, incentivando com palavras bonitas a nossa caminhada por aqui.
escrevo como converso, porque não tenho talento pra fazer melhor (sim, queroi aprender, mas a cada dia que passa acho que tô ficando mais velho pra aprender... não se ensina novos truques a um cachorro velho).
de teixo um beijo. e um tantão enorme de apreço e gratidão.
r.
ahahah!
é impossível ler-te sem deixar ir desfiando leves sorrisos à medida que os olhos bailam na tua voz líquida, cronista dos céus. olha, mas sempre te quero dizer que fiquei preocupado, antes da leitura, com a imagem escolhida. por momentos, imaginei que tivesses estado a fazer do boteco o mais sofisticado dos ginásios dos states :)
um abraço com todos os músculos ainda que de forma virtual (há-de chegar o dia em que seja de outra forma).
jorgíssimo,
mas essa abdome de tanquinho aí é meu, após usar por apenas um mês, o tal aparelhinho iônico que comprei após receber o email da crônica. o aludido aparelhinho transforma barrigas cervejeiras em tórax de deuses gregos e goianos.
na próxima crônica, usarei uma foto minha, nu como vim ao mundo. aliás, chamar-se-á "o apocalipse", ou, melhor ainda, "a visão do inferno"...rs
abração cheio de afeto, bardo da cidade dos arcebispos.
seu amigo das minas, o
roberto.
amigão, manda o contacto ou a referência do aparelho dos deuses para aqui, hehehe!
fico a aguardar a crónica de hades :)
abraço com quase neve nos dedos (raio de frio este. influência dos states, por certo) :)
jorgíssimo,
o aparelho da barrigota dos "deusos" é uma grande mentira. não embarca nessa, não...rs
quanto à cronica prometida, promessa é dúvida: será que terei capacidade pra escrevê-la? rs
tentarei meu melhor, como diria um jogador de futebol.
abraços, poeta.
r.
Santa poesia! Santo poeta!
E viva o carteiro... E o poeta!
Beijo coracao, no coracao!
e viva às pessoas sensíveis como você, mãe de artur e de cora (que tá chegando)...
beijão, lu!
hahaha, boa! Esses e-mails são fogo, a gente acaba vestindo a carapuça em algum deles.
Beijo, Robertim!
larinha,
não acredito que voce também comprou as pantufas de ursinho.
as minhas são da cor roxa!
fico feliz de te ver comentando novamente por aqui.
beijão do tio
roberto.
Mas antes fosse apenas o e-mail... mas não. Eles acharam também o telefone da gente. Antes eu corria pra atender ao telefone.
Hoje quero morrer quando o telefone toca...
: (
Lamentável...
Ahhhh...mas garanto que em certos casos você se diverte! Ri com muito gosto das coisas que encontra num ou noutro e-mail!
Eu não abro se não for dos meus amigos e amigos blogueiros, contudo, já me senti tentada a ver aquela tal foto que dizem que tiraram comigo naquela dita viagem... ainda estou forte - deleto - até quando eu não sei, pois a gente tende a esquecer das maldades conforme envelhece...acredita na sorte com a Telesena, com o Plano de Capitalização do Bco tal, no bilhete premiado vendido na esquina, até no vendedor de Planos de Saúde... e assim por diante (Tutte le pari). Um grande abraço!
não foi só pra te treler que vim - foi para beijar-te à madrugada...
besos
Una crónica cargada de humor hoy, de fina ironía y también de poesía: esa magia de las cartas de antes, esos verdaderos lutos, esas verdaderas alegrías del papel, lleno de sentimientos, esentimientos que se diluyen hoy entre e-mails vacíos y emoticones hueros que no transmiten una sola emoción y, aún así, a veces nos engañan... Abrazo y feliz fin de semana.
Estave eu aqui em Porto Alegre, procurando uma crônica do Luis Fernando Verissímo "A Primeira Pessoa" e ô que te encontro.
Deleite total para olhos e coração.
Tudibão!!!!
Indigo,
você consegue sentir em português, quando lê, e isso é muito interessante.
ah, claro, além de ser uma pessoa muito generosa e gentil.
este blog ganha cores galegas, quando você passa por aqui.
abração do
roberto.
moça dos pampas,
procurou veríssimo e me encontrou? ah, se ele sabe disto, processa o "dono" do goggle. rs
no outro dia o kledir contou que recebeu por email uma cronica de sua autoria, mas atribuída a veríssimo: "tipo assim" (nome da cronica que originou o livro homônimo, do irmão de kleiton e vitor ramil)...
e você, moça, agora que achou o caminho, volte sempre.
acima de tudo, isto aqui é um canto de amigos.
é chegar e sentar. pode trazer até o chimarrão.
abraço do
roberto.
ô, líria... cê é uma linda.
sinto-me beijado, apreciado, querido... sinto muita e tanta coisa boa quando cê passa aqui e me lasca um beijo desses.
retribuo.
cê sabe que líria porto, no meu coração é nome de praça, né?
com um belo e bem cuidado jardim.
líria e lírios, aos montões.
saudades d'ocê,
beijão do
r.
fênix,
esse email dizendo que cê tá bem na foto, tá na foto, que a foto é comprometedora e etc, é o mais manjado de todos.
esses eu deleto com "pinça e luva e camisinha"... tenho um baita medão...
dizem que sai até uma fumacinha azul de cima do monitor, quando cê tenta abrir o arquivo.
grande abraço do
roberto.
moça da polícia,
esse lance do telefone é muito doido, e os caras aplicam um tal golpe do sequestro.... já ouviu falar?
a internet é responsável por uma revolução do bem na vida das pessoas, mas traz também malefícios. aos baldes. aos montes. gygamegamaldades.
trem mais de doido.
fico feliz de relê-la por aqui.
beijão do
r.
Esse título, "Alô, doçura", caiu muito bem. Pra começar, porque está cada dia mais raro ver as pessoar usarem esta vírgula que preserva a privacidade gramatical do vocativo. E depois, porque me soou como uma bela homenagem a John Herbert, falecido na última quarta-feira, protagonista, ao lado da ex-mulher Eva Wilma, do primeiro reality show da TV brasileira, um programa obrigatório na minha infância.
Me identifiquei muito com a postagem, por ser também mineiro, jornalista e amante nostálgico das cartas. Mas, diferentemente de você, não fui uma vítima do marqueting virtual. SOU. Há pouco mais de um mês me dei de aniversário um par de tênis, uma maravilha de 486 reais que me custou, na "promoção", apenas 89,90. Assim que o recebi pelo correio, calcei-o e saí para dar uma volta triunfal pela Lagoa Rodrigo de Freitas. Foi um sucesso tão grande que me empolguei e resolvi subir ao meu apê, no sétimo andar, pela escada. Na altura do terceiro andar, meu pisante maravilhoso teve a sola do pé esquerdo rachada...
O fornecedor se prontificou a trocá-lo, desde que eu arcasse com as despesas de remessa postal do tênis avariado e do novo par mais uma pequena taxa de expedição, que me custariam "apenas" 47,60 reais - mais caro que o valor promocional do pé avariado!
Abraços
tuca,
comprar coisas pela internet é como enfiar a mão num balaio de gatos... dificilmente não saímos arranhados.
mas é uma indústria que cresce assustadoramente, pela comodidadade da variedade a um clique de nós... tenho me dado bem e mal.
bom te receber entre os meus.
abração do
roberto.
nada mais apropriado que feira de mangaio para designar a parafernália consumista em nos metemos.
abraço desse De Santana
* a feira foi consumida pelo progresso
assis,
eu tava com saudades de você por aqui. quando você, o marquinho, a tania, a liria, a zélia e o jorge não aparecem, fico meio órfão.
um dia passei por "de santana"e ainda havia a feira.
levei de recordação uma das luas cheias mais lindas de que já tive notícia. eu tinha 17 anos de idade e era ingênuo que só o cacete...
um dia retorno a feira de santana.
cê me paga uma cerveja (no que ainda houver de feira)?
beijão,
r.
Pois,
vim aqui retribuir a visita
e encontro
como sempre,
uma bela página
bem escrita
e que leva o leitor
a imaginar
a cantar
a refletir.
Obrigada,
beijo
Linda Simões
estava com saudade de passar por seu blog, linda.
aliás, ando em falta com muitos dos meus amigos dos primórdios da experiência blogueira.
beijão do
roberto.
Bem a foto também me confundiu, mas a prosa está "um mimo".
Esses e-mails, eu nem abro.Vão directamente para "lixeira". Mas reparei que, há uns tempos recebo uns denominados "Príncipe Encantado" . São aos "montes". Não sei se tanta insistência não me fará abrir algum, um dia destes.
Um beijo
lidia,
esses emails é pra correr deles.
abriu, a carruagem vira abóbora num piscar de olhos.
abração do
roberto.
Saudações Roberto,
escritor mineiro nos isteitis
concordo com todas as letras sobre o que você coloca das cartas.
com um pouco de exagero, mas tem jovens que nem devem saber o que é isto.
E com toda chateação dos entulhamentos que fazem nas caixas dos emeios, seu texto, super bem humorado, ri um bocado.
Adorei "A música que toca sem parar"
Levo suas crônicas para por onde vão meus olhos
um abraço
Vais,
abordei com um amigo, esta semana, que havia ainda a questão da caligrafia.
a minha é horrível, mas vi letras lindíssimas, bordadas de mãos habilidosas...
tinha caligrafia machadiana (de assis), de "normalista"(futura professorinha), quadradas, redondas, miúdas, gordas, inclinadas, garatujos médicos, hieroglifos, e tantos outros...
confesso... se escrever um bilhete, hoje, terei cãimbras nos dedos...rs
grande abraço do
roberto.
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