Monday, March 12, 2012

Bouganville Vermelho





















(meu primeiríssimo conto, escrito em 7 de março de 2012)



Eu achava o bouganville a flor mais bonita deste mundo.
Olhava por cima dos muros das chácaras e casas da zona sul e tinha até uma ponta de inveja.
Eu não invejava as casas, grandes e arejadas.
Os muros é que me fascinavam.
Eu sempre quis ter um muro assim: caiado de branco, florido, como o daquelas casas da zona sul.
Mas meu marido não gosta de planta que só dá flor.
Meu marido gosta de planta que dá fruta.
E é por isto que, quando compramos a chácara na periferia, ele ficou um homem mais feliz.
Todos os dias ele se levanta bem cedinho, dá de comer às galinhas e ao pato Genésio, alimenta os cachorros, pega a enxada e vai pra capina.
Chega terra no pé das verduras e hortaliças, aduba com esmero, conversa com as plantas,acaricia troncos e folhas, todo carinhoso.
Às vezes, acho que meu marido gosta mais de planta do que de gente.
E as plantas também gostam dele. Afinal, tudo o que ele planta cresce e frutifica.
Que o digam as mangueiras, os limoeiros, o abacateiro ao lado da varanda e todas as outras árvores frutíferas que ele plantou como se construísse uma cidade.
Até a pitangueira gosta dele.
Meu marido tem a mão boa.
Ele é um homem fértil.
Um homem que me deu os dois filhos, que a vida tocou para bem longe de nossa casa.
Bernardo, o mais velho, mora no estrangeiro.
O mais novo vive em São Paulo e trabalha numa construtora que faz estradas e pontes.
Todos os anos eles vem nos visitar.
Há dois anos me queixei com Bernardo de que o pai dele não me deixava plantar flores no terreno.
No mesmo dia, Bernardo passou no horto florestal e comprou uma muda de bouganville vermelho.
Mal chegou em casa, pediu ao pai que a plantasse rente ao muro.
Um pouco confuso e a contragosto, o pai lhe perguntou que fruta era aquela, que ele não conhecia.
E o nosso filho respondeu: bouganville. Uma fruta que se come com os olhos.
Meu marido plantou a muda no lugar recomendado, e rapidamente ela já era uma árvore feita.
A planta cresceu escalando o muro e, no ano seguinte, ja sangrava a paisagem de uma maneira tão bonita, que eu gostava de sair para fora da propriedade só paravê-la em toda a sua glória e esplendor.
Encarnada como o batom de uma atriz, esparramava-se por boa parte do muro, sangrando a visão de quem viesse descendo a rua.
Na madrugadade ontem, no entanto, escutei dois pipocos.
Dois estampidos bem pertinho de nossa casa. E um carro que saiu cantando pneu.
Acordei assustada.
Meu marido, que tem o sono muito pesado, continuou dormindo.
Os cachorros da casa começaram a latir. Assim como os cães das casas vizinhas.
Dali a pouco tudo serenou.
Os latidos cessaram e o único barulho que se ouvia era o dos caminhões rodando, furiosos, na Fernão Dias.
Mal o dia clareou, pude ouvir, do lado de fora, um burburinho.
Marilda, a vizinha da casa em frente, gritava de dor, como se lhe retalhassem a pele com uma faca bem afiada.
Abri o portão e saí para a rua.
Na calçada de minha casa, um grupelho se aglomerara.
Duas vizinhas tentavam controlar Marilda, que descabelara-se e parecia querer se livrar de seu vestido verde-pantanal.
Marilda chorava e gritava.
Trocava de mal com Deus.
Praguejava.
Ao pé do muro de minha casa, debaixo do bouganville que meu filho me deu, o filho de Marilda jazia com dois buracos de bala.
Um na testa.
Outro no peito.
E doeu em mim, aquele vermelho do bouganville que escorria pelo muro.
Doeu mais ainda o vermelho do sangue de Fernando, filho de Marilda.
Os filetes,agora de um vermelho-escuro, quase vinho, praticamente secaram desde a hora em que ele caíra ali, algumas horas antes, sem que ninguém desse por conta e lhe socorresse.
"Foi dívida de tráfico", ouvi alguém dizer.
Meu marido finalmente saiu à porta, olhou a cena e voltou para dentro de casa,rapidamente.
Fui atrás.
Vi quando ele foi ao quartinho onde guarda as ferramentas, saindo de lá com o machado.
Passando por mim, na porta da cozinha, murmurou, raivoso:

- Não gostei da fruta que a sua planta deu.



A Música Que Toca Sem Parar:
Alceu Valença roubou a imagem de um flamboyant sangrando na tarde e a fez caber em sua bela toada Chuvas de Cajus.


Ela virá no verão
Com as chuvas de cajus
Os flamboyants estão sangrando
Nessas tardes tão azuis

Pastores da noite
Meu São Jorge amado
Livrai-me do ódio
Dos apaixonados
Pastores da noite
Meu São Jorge amado
Livrai-me do ódio
Dos abandonados

66 comments:

Sónia M. said...

Para ser o primeiro, esperemos que não seja o último...Gostei bastante!
Abraços
Sónia

Primeira Pessoa said...

tentarei, sónia... tentarei....
ando naquela fase em que escrevo um texto como se arrancasse um dente.


grande abraço do

roberto.

Tania regina Contreiras said...

Parabéns a você e a Lelena, que o convenceu, porque deu certíssimo! Que venham mais, porque ficou ótimo, e a sua poesia aí, permeando tudo...

beijos,

Primeira Pessoa said...

não ficou grande coisa, taninha.
mas, por ser o primeiro, até que não ficou muito aleijado, não.

vocês, amigos queridos, ficam estimulando a gente a "inventar moda" e a gente inventa, na esperança de um dia acertar a mão.

beijo meu,

r.

nina rizzi said...

eu AMEI esse conto. Sairei a cantá-lo, como a minha liberdade.

imprimi elevei pra casa no final da semana passada. deixei-o lá num canto, pra esquecer que era seu. li, como se fosse um texto achado num banco de ônibus. mas então, concluí: seria mesmo maravilhoso encontrar jóias nos bancos dos ônibus. como um dia encontrei na rua, o Nietzsche que me disparou a chispa pra beleza. Grata por compartilhar comigo, tanto de mim. Te amo.

Linda Simões said...

Roberto,

Inventar moda,não sei. Mas que o conto ficou bom,ah! ficou!
E espero a segunda parte deste mesmo conto,pois como gosto de jardins,com flores de todos os tipos,não me conformo com o fim...Delas.

Um abraço,

Linda Simões

Primeira Pessoa said...

nina, fiquei muto feliz que tenha você gostado.
na verdade, mandei para cinco pessoas, que são de grande importância pra mim. são essas pessoas entre as mais queridas, do meu círculo mais próximo, pessoas que amo, admiro e respeito. além do mais, só de te ter a paciência de ler um experimento, já me faria feliz.
cê gostando, jogou o sapo n'água... ganhei o dia.

beijão do

r.

Primeira Pessoa said...

Linda,
tô achando que escreverei todos os meus futuros contos sob a pele de uma mulher.

acho que gostei de vestir saia...rs

abração do

r.

Unknown said...

Um conto lindo e triste. mas escrito por mãos experientes de um mestre.

Excelente e comovente, Lelena sabe das coisas.

Beijos, mano!

Mirze

Primeira Pessoa said...

mirze,
vocês são uns queridos e queridas, e ficam me mimando com carinho excessivo, ficam incentivando, dando coragem pra fazer e acertar.

numa dessas a gente acaba acertando alguma coisa.

tenho os melhores amigos que o afeto pode comprar. amo todos vocês.

beijão do

r.

Anonymous said...

Favor enviar a receita da sopa de letrinha que, suspeito, faz parte da tua dieta diária. Lindo, Bob, um roteiro de curta! Sabias???

Primeira Pessoa said...

ô, tanira,
um cara sobrevive das palavras que tece por tanto tempo e, só aos 50 escreve seu primeiro conto (que é o começo pra todo mundo)...rs


isso não vai prestar, como diria o Luizinho Lopes...

beijão do
roberto.

Dario B. said...

Roberto, eu penso que diferente dos poemas, os contos precisam prender a atenção do leitor logo de inicio, despertar a curiosidade, e o teu tem esse visgo. Gostei muito e espero que outros venham rápido, Forte abraço.

Anonymous said...

Como vc me emociona com suas crônicas, que mais parecem filmes, também me emocionou com seu conto. Belíssimo, querido, de encher os olhos e a alma.

Beijo grande!

Ps.: No meu Teatro, sua entrada é grátis, nada de pagar meia, rs.

Primeira Pessoa said...

larinha, meu pai me disse, no outro dia, que adora andar de onibus coletivo sem pagar. pior: às vezes vai a lugares que nunca quis ir, só pra andar "de grátis"...rs

ô, eu quero o mesmo no seu teatro da vida...


posso, sobrinha querida???


beijão do tio

roberto.

Primeira Pessoa said...

Dario,
quando cê fala, eu presto sentido....


abraço meu
(o melhor que eu tiver),


o

roberto.

Andrea de Godoy Neto said...

Roberto, como eu te disse, pode se lançar que as palavras sempre te acolhem...

o conto é lindo, cheio de poesia, como tudo que tu escreve. Que venham outros, que venham as palavras que dançam em ti e que nos encantam.

Bravo, querido!

um beijo

Primeira Pessoa said...

dea, querida...
se cê num vem, fico achando que escrevi merda....rs


eu, que falo merda o tempo inteiro.

saudades de te ver por aqui.
beijo meu,

o
r.

Paulo Jorge Dumaresq said...

Máximo, Bob. Tragipoesia como gosto em contos, peças e romances luminares. Que venham outros rebentos com esse frescor de bouganville e uma certa tonalidade de vermelho sangue. Talento não lhe falta. Beijos, mestre.

CANTO GERAL DO BRASIL (e outros cantos) said...

Beto,
Muitas qualidades no seu conto, como em tudo que cê escreve, entornando para dentro. Muitas qualidades em vários minutos do seu conto, que dura pouco porque acaba logo, mas não acaba nunca. Fica na gente a perene lembrança de o ter lido; de ter conhecido Marilda, Fernando, o pato Genésio, Bernardo, e até a Fernão Dias como cenário de um crime banal e outro poético (o assassinato do bouganville vermelho), os cães da vizinhança e os cachorros de casa: tudo e todos em fim, num conto de muitas qualidades.
Mas quer saber qual a maior qualidade de seu conto, a meu ler? Ser seu primeeiro conto, com tanto de coragem e de beleza que há nisso!
E que não seja o último!
Agora, com sua licença: vou lá reler. Não sem antes dizer que amo e admiro muito você, e que o show do Vander Lee foi lindo por aqui.

Abração do Valadão,
da rama.

Eder said...

Rapaz,
Tem fruto que é amargo mesmo e nem é culpa da planta. E também tem flor que desabrocha pra dentro.
Agora o conto ficou bonito feito bougainvíllea. Também espero outros!

Bípede Falante said...

Então, não está nos frascos nem nos doces nem nas flores o perfume. E eu, euzinha, me, myself e toda a minha bipedice estamos muito contentes de ter ajudado a regar a sua vontade de escrever e de inspirar.
Obrigada :)
Obrigadíssima. O resultado ficou muito além do jardim!
Beijoss

Primeira Pessoa said...

Paulo Jorge,
poeta grande da esquina do continente, você que faz poemas, peça de teatro e congêneres...

um dia eu aprendo você.

abração do

r.

Primeira Pessoa said...

bipedíssima,
muito além da vontade mora e dá expediente a boa vontade dos amigos queridos, esses que incentivam, que fazem a gente pensar que consegue fazer as coisas.

eu, que mal consigo amarrar meu sapato todas as manhãs, sou todo gratidão.
um dia, espero retribuir.

um tantão de afeto e beijo grande do

r.

Primeira Pessoa said...

eder asa,

tem fruto de tudo quanto é jeito e feitio, e cheiro e sabor.
doce é a fruta do compartilhamento, da amizade e do bem querer.

essa que a gente vai semeando nesse buraco negro chamado humanidade.

abração.

fiquei feliz de te ver aqui, entre os meus.

r.

Primeira Pessoa said...

ô,
da rama, esse vander lee é da pá virada. foi sozinho, ou foi com banda?
deu público?
ele cantou galo x cruzeiro?
o cd novo tava disponível?
sambarroco?
será que vai prestar?


sua presença aqui, um luxo.

beijão do

r.

Anonymous said...

Roberto, quando Drummond se lançou no mundo dos contos e publicou seus "contos de aprendiz", sorvi cada gota deles...acostumada eu com os contos da Lygia e com as poesia deste, constatei que toda a humildade intitulada em sua obra tinha fundamento: ele era um GRANDE aprendiz!

Considerações à parte, vasculhando minha pequena obra, constatei que detesto minhas crônicas, gosto de uma ou outra poesia que escrevo e AMO meu segundo conto "bem resiliente".

Cada escritor tem um estilo que oredomina, alguns se arricam a váris, outros têm todos e, você, sempre surpreende!

Lindíssimo o seu conto, as descrições, analogias e, principalmente o desfecho.

Unknown said...

frutos rojos, de doer os olhos,assim é a existência.


abração

Primeira Pessoa said...

encarnados, zé de assis.

o beijo da morte. essa marca de batom.

abraço grande desse seu amigo,

r.

Primeira Pessoa said...

adriana,
roberto drummond era cobra em contos, ganhou vários concursos. seu livro do gênero "a morte de dj em paris" está na minha cabeceira.
adoro.

adoro, também, te ver por aqui, entre os meus.

abração do

roberto.

Thiago Bertoni said...

Muito bom, o trágico e o cômico transitando em uma harmonia inspiradora!Curti demais, Roberto!

Anonymous said...

Roberto, eu estava falando do Drumonnd de Andrade, só depois pensei que fui ambígua, me desculpe.
Quando puder, leia meu conto "bem resiliente".
Bjooo!

Primeira Pessoa said...

eu vi, adriana aleixo,,,

mas roberto drummond não era dos mais fracios, não...

se puder ler, leia.

beijo de um roberto qualquer...
desse aqui....rs


R.

Primeira Pessoa said...

fracos...rs


é essa corona traiçoeira, adriana....rs

beijão,

r.

Primeira Pessoa said...

thiago Bertoni, a vida tem essa medida aí, né?

do trágico e do cômico, claro. podendo me mande essa ilustração do coringa australiano (Heath Ledger) em alta resolucão.

quero fazer mágica com o seu chapéu, presenteando um menininho de 11, fã do coringa...

pago com uma garrafa de uísque

cê topa????

Daniela Delias said...

Muito lindo!

Beijão :)

Primeira Pessoa said...

que bom que cê gostou, dani.
obrigado pela visita.

beijão,

r.

Primeira Pessoa said...

berthoni,
bom mesmo são esses seus desenhos, seo menino.

sou fã sem carteirinha.

abração do

roberto.

Anonymous said...

Querido, estamos travando uma conversa de doidos...

O Roberto Drummond foi um romancista de primeira, além de torcedor fanático do meu Galo querido, sobre os romances dele fiz até trabalhos na faculdade de Letras.
Já o CDA, que era dado às poesias, quando começou a escrever contos se intitulou um mero aprendiz. Como você disse que esse era seu primeiro conto, lembrei-me do que disse o CDA sobre o mesmo assunto.

Confesso que seu primeiro conto está bem melhor que os dele...rs.

P.S.:Caso não queira postar, não tem problema

Primeira Pessoa said...

adriana,
perdoo voce por esse desvio de torcer pelo galo. tinha que ter um defeito.

ah, então cê gosta do romancista roberto drummond?
então, durma com esta: seu maior sucesso literário, hilda furacão, foi dedicado a este raso operário da palavra.
roberto drummond foi uma pessoa muito importante em minha vida, mentor, parceiro, um acreditador nesse eu pequeno.

ele vive em mim.

gagau said...

MEU IRMÃO, SÓ ESPERO, E TENHO TANTA CERTEZA QUE VC JAMAIS VAI COMETER ESTE SACRILÉGIO DE NOS PRIVAR DE COISAS TÃO MARAVILHOSAS,QUE É SEU CONTO EM FORMA DE POESIA,OUTROS VIRÃO SIM,PORQUE VC É GENEROSO E UM POETA BRILHANTE."ESTE APELO LHE FAÇO".PARABÉNS ,MARAVILHA FICOU MUITO LINDO.BJS NO CORAÇÃO
GAGAU

Thiago Bertoni said...

Fala, Roberto!Valeu demais!
Vou ver se ainda tenho o desenho do Joker em alta resolução no meu computador, infelizmente perdi o original.
E sempre que precisar os desenhos estão a disposição!
Abraços!!

Primeira Pessoa said...

gagau,
a gente vai chegando num deserto tamanho, dentro da gente, que fica essa secura.
cada textículo parace um dente arrancado.
tô falando sério.

tentar, até que eu tento.

beijão, broda.

r.

Primeira Pessoa said...

bertoni,
você, talento e generosidade.
como diriam aquele meu amigo pagodeiro, "sangue bom"...rs

quero o joker, sim.

abração do

roberto.

Rejane Martins said...

...e o Milton interpreta da maneira mais bonita do mundo!,
e eu agradeço a honra da tua companhia naquela postagem,
e encanto-me com o primor de teu conto, os enlevos, os detalhes, os rumores, o final surpreendente e a saída com Machado.
um abraço pra ti, Roberto.

Primeira Pessoa said...

ô, rejane, é conto de aprendiz.
como diria um amigo meu, não vale "um conto".

mas eu vou pelejando, tentando aprender no serviço.

a, sim, claro... milton...
ah, o milton...


beijão do

roberto.

dade amorim said...

Roberto, você é um contista nato. Adorei.
Abraço grande.

Márcia Luz said...

Roberto, gostei demais. O final rompeu totalmente a minha expectativa. Pode continuar a escrever contos. Se está a perder os dentes, já vá se preparando para o implante...

Primeira Pessoa said...

uai, márcia luz...
se cê gostou eu tô começando a pensar em procurar um protético... sim, protético...
lá no meu interiorzão a gente compra dentadura na feira... vai experimentando, até achar a certa...rs

abração do

roberto.

Primeira Pessoa said...

dade,
vai que eu acredito nisso e começa a cometer essas estorietas que não vale um conto....

ja pensou no estrago?

abração do

roberto.

Tuca Zamagna said...

Se mestra Márcia Luz gostou, não preciso elogiar mais nada. Ela é pós-doutorada em “Mineirez Coloquial Erudito da Ralé Causeira”.

Só me resta então o melhor, que é sentar o mourão de braúna nesse lombo recurvado e rebolante.

(Mas, por "Chega terra no pé das verduras e hortaliças", não posso deixar de gritar gol – do Fogão, é claro!)

Tem uma vírgula aí que é herança maldita do jornalismo, mas não vou apontá-la. Você que trate de escrever novos contos respirando o tempo da sua alma de ficcionista, ivre das abjetas apnéias que grassam que nem tirica nas teclas das redações.

No mais, tem nuito sangue aí que não merece virar chouriço. Sangrando (a paisagem) pode, mas sangrando (a vista), de novo, não pode, porque é sangue coagulado. E bouganville é coisa de viado. Vermelho, então, é de viado menstruado.

E fim de papo. Vou é pra minha cesta, bem que sonhando sonhar o pio suspirante da narceja entocada no matagal ensopado de me querer por sob o vestido verde-pantanal.

Beijão, véio rúim de bão!

Primeira Pessoa said...

tá vendo, tuca?
o cara não sabe nem usar uma vírgula direito, e já quer sair por aí posando de contista.
tem que esfregar na cara dele, mesmo!!!!... rs

ô... fiz as anotações, farei os mínimos ajustes pra ficar mais palatável... a meleca é que eu gosto de repetir certas palavras em meus textículos.... é um vício, eu sei... e vício é vício... conheço um cabra de lepoldina que tem, como vício, coçar a buzanfa com espeto de churrasco...

e fico feliz que tenha encontrado paciência pra me ler.

beijo grande desse seu súdito e amigo, o

roberto.

Tuca Zamagna said...

Nada contra repetir palavras, não, Beto. Eu até gosto disso, no mínimo pra escorraçar da memória o tempo da ditadura dos manuais de redação dos jornais. Mas repetir imagem, sem o objetivo claro de somá-las, resulta sempre no esmaecimento da segunda. Isso, no caso específico do “sangrando” a paisagem e, mais adiante, do “sangrando a vista”. Porque se você fizesse isso, por exemplo, numa seqüência, a história poderia ser outra. “Sangrando a paisagem, sangrando a vista, sangrando a alma”... Aí não seria mera repetição, mas um somatório, uma seqüência de “fotos” gerando uma imagem “cinematográfica”: pegar o sangue da paisagem e enfiá-lo olhos adentro da pessoa até inundá-la.

Beijos hemorrágicos!

Rindo de nervoso... ainda said...

Posso? Com licença! Se demora houve, foi porque só agora levantei as milhagens emprestadas para chegar até aqui. Se gostei? Torço por sua banguelice... as gengivas todas floradas de bougainville escarlates. Amém!

Primeira Pessoa said...

paulinho,
cê é um querido.

se o trem engrenar e eu aprender a fazer esse trem, eu vou comprar uma dúzia de dentaduras numa feira da bahia (de preferência)....

beijo grande, à tião macalé...

do


r.

Primeira Pessoa said...

tá vendo como sou um despropositado, tuca?

é falta de recurso, mesmo. são limitações, meu caro...

mas vou me calçando, me escorando nos amigos e vou enganando cegos e surdos...e aprendendo no serviço.

beijo grande,

r.

Jorge Pimenta said...

o pior que se pode fazer ao olharmos a árvore é não a treparmos, recusarmo-nos a tocar os seus galhos ou esquecermo-nos de sentir o aroma das suas flores... porque esperamos o fruto.

há tantos inadiáveis na vida.

abraço, jornalista-poeta-cronista-amigo!

Primeira Pessoa said...

ô jorge,
saudades d'ocê, imperador de braga e arredores.'
to aqui, batalhando contra um gripe (daquelas que dão febre e garganta inflamada e que faz a gente desejar o colo da mãe....rs)... e preparando para receber dois amigos de infância... vamos arrumar a minha garagem (que serve pra guardar entulho, e não carros... fiz um arroz branco, um pirão com farinha de mandioca e o molho da iguaria: pés-de-porco assados no forno, com vinho branco e especiarias... rs...'

é pra lenhador.
pra gente deselegante...
pra estivador...
como eu...rs'


precisamos ajeitar aquela sua vinda sua aqui aos States... lugar pra ficar por aqui, cê tem... prometo fazer menus mais palatáveis a pessoas elegantes e bonitas...

abraço desse seu amigo,

o roberto.

Jorge Pimenta said...

robertílimo,
os teus amigos amigos meus são. olha aí o peter:) até porque o palato começa no céu da boca, mas termina na ponta do abraço!

abração, meu bom amigo!

Sílc said...

"E o nosso filho respondeu: bouganville. Uma fruta que se come com os olhos.
Meu marido plantou a muda no lugar recomendado, e rapidamente ela já era uma árvore feita..."
Roberto que mais plantas cresçam, escalem muros. Suas colocações tão bonitas, com graça e esplendor! Lindo meu querido amigo e mestre. Não pare e continue a nos deliciar com mais frutos. Amém Lelena!
Com carinho e encantada,
Sílvia

Primeira Pessoa said...

ah, jorgíssimo, o peter nem vale, porque ele é charmoso e me rouba todos os amigos... rs


mas sei que ele ficaria felicíssimo de te mostrar nova york e arredores.'

abraços meus,

r.

Primeira Pessoa said...

sim, Silc, e já tô me aventurando noutros dois contos.
ao contrário do primeiro, que saiu de primeira, estes outros dois estão se materializando aos pouquinhos... mas já consigo vê-los tomando forma.

obrigado pelo carinho

roberto.

ps: sim, amém!

Anonymous said...

Roberto,
só te posso dizer: quero mais contos teus!!!

Tu és do caraças [isto é um elogio à Porto] levas-nos na tua história, apaixonados, depois cega-nos com a morte e no fim, uma tirada à Roberto, não gosto da fruta que dá!!!

Adorei!

Beijinho

Primeira Pessoa said...

laur;issima,
já to chqmando dois para um fado-bailado... vai que um deles aceita? rs

saudades do porto. de ti e do jorgíssimo.

amiga querida, dona da torre dos clérigos e das águas do d'ouro...
já nem nem me fale em saudade. vira e mexe, ponho-me a sonhar com os bolinhos da bacalhau de dona helena da tasca do manel, a ponte que separa o porto de gaia (e que atravessamos a pé), a sizudez do dom tonho que dissolvemos com sorrisos, os trovante (que você não viu), a presença constante de jorgíssimo, nosso final de noite na cidade do porto...


qualquer dia destes, vamos reeditar.

beijos do

roberto.

Anonymous said...

reedita
reeditem...

adoro vos aos dois (e ao Peter também)

Primeira Pessoa said...

reeitemos, laura alberto.

reeditemos....

abração do

r.