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Cínica
se apanhei castanholas sangrentas
na rede verdosa de minhas saias infantis
se caiei minha cara sem lisura
de pó e pingente enfeitada
é que o futuro é promessa
e quem não se arma de máscara boa de arame
tem arranhões no coração trançados
e um tumor seco entre as pernas recolhido.
Iara Maria, Currais Novos-RN
A augusta tradição II
Meu poema João Cabral melodiando,
nos Barros, na terra suja dos sem nomes,
alvíssima Bandeira, ser dos montes Drummond
arder Andrades, na Cruz de todos que sejam,
participo eco de Ferreira, som do sopro de um assovio,
daquela Adélia, fresta de lábios contra a luz,
fio de Cecília a esculpir, na vinda Hilda vida enfim.
Assis Freitas, Feira de Santana-BA
BANG!
Este verso inicial
esse est percipi
esse hábito sem monge
esse mapa sem linhas
esses monóculos irmanados
essa visão convertida
esse órgão orgíaco
essas esparsas partidas
esse poema maníaco
essa rima endêmica
essa folha anêmica
esse só dissolvido
esse pó apodrecendo
esse mar segmentado
essa lírica feira
essa vírgula ligeira
esse ponto artífice
essa língua de enganos
esses cúmulos na boca
esse mundo entre coxas
essa porta sob o púbis
esse focinho de Anúbis
esses páramos para o nunca
esse ânus de anis
essas floras fortificadas
essas pálpebras palmilhadas
esses seios insones
esses cabelos ciclones
essa fruta indefesa
essas maçãs zigomáticas
esses zaratrustas calados
esse édipos com binóculos
e essas esfinges distantes
essa cabeça em capítulos
essas ações em fascículos
esse Hegel silabado
esse divisor de mágoas
esses rins derrisórios
esses olhos calóricos
esse sujo sujeito
esse vogar de aliterações
esses veios abstratos
essa canção sem vértebras
essa dialética sem vértices
essas ágoras fechadas
esses verbos sem hélices
essas estátuas atualizadas
essas fezes cristãs
esse orbe mictório
esse particípio permanecendo
esse selo adiado
esse zelo encadeado
esses dentes descarrilados
esse pente sem paralelas
esse visgo em pronomes
essa vigas sob os nomes
esses netunos de aquário
esses ulisses divorciados
esses prometeus suturados
e seus abutres amestrados
esses piolhos fotogênicos
esse som essa fúria de astúcias
essas furnas de vaidades
essas taças afastadas
esse epicuro epicentro
esses trincos combalidos
esses profetas protéticos
essa profissão de fel
esse pólen sem sol
esses pólos sem marcos
essa régua no olhar
essa maré de janelas
essas esporas dos mitos
essas chaves sem voltas
essas lápides de estrelas
essas telas estelas
esses penteus autopsiados
esses blakes blindados
essa maiêutica hiperestésica
essas crenças anestésicas
esses narizes de ciranos
e suas roxanes iletradas
esses livros em vocalise
essa tocaia e fuga em ré
esses hipocampos selados
essas risadas grisalhas
esse varal de vespas
esse sarau das bestas
essa lama seca entre os astros
esse hermeneuta e seus cascos
essas absides sem pescoço
esse baralho cartesiano
essa dânae dos bancos
esses corvos abúlicos
essas luas em conserva
esses campos escalpelados
esses choque térmico das esferas
esses cabides de esperas
esses faetontes urbanos
esse cemitério de esboços
essas cimitarras verbais
essas odes abortadas
esses ódios em gavetas
essas enguias turísticas
essa folia arrivista
essas parábolas arquivadas
esse remorsos dos cataclismos
esse vômito dos canais
esse esgoto de digitais
essas franquias de córtex
essas ampolas de dúvidas
esse apóstrofo entre os dias
essas reticências sublevadas
essas traças no cabeçalho
esses vórtices de tédios
esse pensamento hemiplégico
esse rocio nas mãos
esse rodízio de inércias
esse eco de auroras
esse apego das células
esse diário dos danos
esses restos de Orfeu
essa lira desdentada
esses trem de pronomes
essa ânsia de final
essa paralalia
essa estação provisória
este verso terminal.
Marcantonio, Rio de Janeiro-RJ
A Música Que Toca Sem Parar:
da Grã-Bretanha, o rock progressivo do Marillion, na bela balada Beautiful.
Eu e minhas redundâncias, um homem-pleonasmo "solto" neste cubículo.
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35 comments:
Roberto!
Adorei a IARA!
Mas...meu amigo...MARCANTONIO é aux concour!
Impressionante!
Bela postagem
Um forte abraço!
Mirze
iara é tão jovem e escreve tão bonito, tão fundo.
assis é meticuloso, sensivel... gosto das invencionices dele...
e o marcantonio?
ah, a blogosfera ta criando um monstro.
ta cada vez melhor.
beijao, mirze.
Todos são belos exemplos.
belíssimos, gerana...
belíssimos...
Roberto, puxo a brasa para o meu "elefante".
A Iara é um fenômeno curraisnovense.
Ótima escolha.
Aliás, a vida é feita delas.
E vamos tomar um vinho tinto da melhor cepa.
O destino decide.
Abraços sem tapinhas nas costas.
paulinho,
tomara que a Iara veja o poema dela aqui. escreve bem demais.
tomara que nosso abraço não demore muito a acontecer.
sem tapinhas nas costas, claro. eu não abraço quem eu daria um tapinha nas costas.
e você eu abraço. sem medo.
r.
Ah, amei a seleção! =)
Beijo e obrigada pela visita.
Pelo Assis e pelo Marcantonio eu me derreto!
Iara Maria, que eu não conhecia, encantou-me...
Abração, amigo Roberto!
uma dupla de responsa essa da Iara e do Marcantonio e eu fico como aquele cara da banda que não sabia tocar contrabaixo, mas alguém tinha que tocar. E vc meu dileto confrade de terras ianques nos impõe suas astúcias de mineiro na poesia das conversas, no aconchego das palavras e faz deste seu espaço uma rede para nos deleitarmos, sou teu fã
abração
acho que temos um "dever cívico" de propagar a palavra da boa... vou fazendo isto por aqui, a cada três dias... sinto-me recompensado fazendo isto, propagando, divulgando, mostrando a quem ainda não viu.
ah, assis cê é modesto... um artur maia... um luisão alves... um jamil joanes...
esse contra-baixo soa muito bem...
uai, eu é que sou seu fã, sô!
abraço de tamanduá,
r.
zélia,
nos derretemos juntos...rs
e a Iara é talentosa... escreve com alma, essa moça.
e ainda bem que existem os apreciadores, né?
derretamo-nos por eles, zélia...
derretamo-nos....
abração,
r.
larinha,
cê se esqueceu que tenho ingresso vitalíciao (carteirinha da terceia idade, algo assim) pra entrar "de grátis" no teatro da vida?
é parada obrigatória.
beijão,
r.
Noossa, que encontro bom, Assis e o Marcantonio no Primeira Pessoa: taí dois dos sujeitos que eu não deixo de ler, nem quando acordo virada, faça chuva ou sol, lê-los faz a diferença. Quero ter livros dos dois, fico na fila, vou ser das primeiras quando os livros vierem. Mas essa Iara Maria já foi me encantando de cara, veio na frente na leitura, li e gostei muito: quanta gente talentosa, heim? Vou atrás, pra ler mais.
Beijos, Roberto...Chego atrasada, porque ando enrolada com meu tempo interior, sobretudo, mas chego sempre...
T.
...mas, sim...diz aí o blog da Iara...
T.
taninha,
este é o blog da Iara:
http://diariamentenajanela.blogspot.com/
ela tem outro de prosa, também muito bom.
escreve direito. com o coração ao invés das mãos.
beijo meu.
r.
Obrigada, Roberto, vou conferir...
Beijo,
T.
belíssimas escolhas!
(mas... o de iara me arrebatou...
"a retidão tortuosa do amor")
beijoca!!
luciana,
onde roubei este, tem muito mais... ta como laranja madura em beirada de cerca...
http://diariamentenajanela.blogspot.com/
sirva-se.
beijao,
r.
taninha,
vai,
que ce nao se arrependerá.
bjs,
r.
Roberto,
Tô vindo lá do Assis, e vendo-o aqui ainda pareço que estou lá, onde te vejo amiúde e bem. Esse é o barato dos blogues, entrecruzar paisagens.
Tô guardando meu melhor abraço pra outubro: vou ou não vou ser convidado, poeta das crônicas mais lindas? Sei que dum jeito ou doutro estarei-me lá, pra lá de 'Beagá', pra cá de Gevê (eu não fiz uma cir'cu'ncisão do lado oposto à toa, né!!!!)...
E mencionar esses poemas que ainda gritam seu espaço nos sebos e livrarias é missão nobre, tarefa de quem gosta de espalhar bons ventos, e os versos reverberam já...
Gostei dos três: cê falou, tá explicado; bom-gosto é pra quem tem bom gosto, sua antena capta os sinais, amigo...
Já era fã do Assis e do Marcantonio, agora tô também da Iara, e zefini...
Fã de ser seu fã,
Ramúcio.
Belas e poéticas antologias no cotidiano dos versos lidos...
Sensíveis escolhas para três poemas de profundidades...
Sempre bom ler teu blog.
Beijos
Genny
ramucio,
anota aí:
http://diariamentenajanela.blogspot.com/
tem um tantão de trem bão da Iara neste endereço. outubro? uai, pede pra líria... ela é que ficou de olhos postos no portão enquanto voce não chegava...rs
ô, mas é claro. vou conversar com o fouad, porque ta rolando uma tertulia do pão de queijo... quem sabe não fazemos nosso primeiro encontro em bh?
quem sabe?
todo mundo enfurnado num buteco... dá até pra umas recitâncias...
mas, bom mesmo, é revê-lo aqui, entre os meus.
beijào, da rama.
r.
genny,
a sensibilidade reside nos olhos de quem lê.
fico feliz que tenha gostado.
abração,
roberto.
um brinde aos poetas, betinho: tim tim!
besos
aos poetas, lírica!
tim tim!
beijão,
r.
dom roberto, ora aí está um movimento que tem tanto de novo quanto de justo; tu, que dás a volta ao mundo às costas da poesia, agarras, agora, em alguns dos poetas deste nosso círculo que emergem com toda a pujança. o meu aplauso!
tive a oportunidade de ler nos blogues respectivos os textos do assis e do marcantónio. verdadeiras pérolas. com o da iara contacto agora pela primeira vez. parabéns a ti e aos três poetas!
um forte abraço!
p.s. o ramires lá se foi para inglaterra onde não será, seguramente, tão feliz quanto foi em portugal e no glorioso. já se fala, para o substituir, num tal de wesley, do santos!?...
jorgíssimo,
você ja ta na ponta da agulha para uma antologia cotidiana... me aguarde.
ó, esse weley é um genérico do ramires, tem algumas características diferenciadas, mas não tem a rapidez e o fôlego do nosso neguinho de partida pro chelsea.
vai sobrar até pro cruzeiro na transação, que receberá cerca de 400 mil euros, por ter formado ramires.
o farias canela dura se apresentou hoje em belo horizonte. fizeram até festa para ele.
abração, poeta.
r.
oh, amigo roberto, também me parece que não vai ser fácil substituir o queniano azul (só depois que percebi a cor da camisola do cruzeiro percebi a sua alcunha:)). temo pela saída dos dois extremos (di maria e ramires), mas tenho uma confiança infinita no meu clube e na sua capacidade de se auto-regenerar. amanhã já temos a primeira prova de fogo: um Benfica vs Porto, final da Supertaça de Portugal.
Olha, esse Farias é mesmo canela dura, mas marcou uns golitos. mas o jardel também era e todos o queriam. oxalá vingue no cruzeiro.
um abraço!
um abracílimo!
jorgíssimo,'
jardel tinha um par de cornos que ia do minho ao algarve... foi o que acabou com a carreira dele... mais a cachaça, mas a coca... a pepsi, os jogos de azar... ele ainda joga em times da oitava divisão no brasil... ele, que teve a europa a seus pés (duros, que se diga).
rapaz, o benfica tentou levar o fabio, goleiro do cruzeiro... mas parece que é o sporting quem vai levá-lo.. é uma parede...
o cruzeiro sempre exportou jogadores pra portugal... douglas, luizinho, careca no sporting... entre outros, luizão, ramires, no benfica...
geraldão foi o primeiro cruzeirense a ir pro porto, que contratou uns dez...
agora, o braga começa a trilhar os mesmos passos... rs
abração, poeta.
r.
ps: ja foi ver a tertúlia do pão de queijo?
perdoa-me a ignorância, amigo do mundo, mas o que é a tertúlia do pão de queijo?...
jorge,
invençao do fouad talal... da uma espiada...
http://tertuliapaodequeijo.blogspot.com/
depois me conta o que acha.
beijao,
r.
Ô Roberto, estou envergonhado. Como é que não vi isso? Estive aqui lendo o Piquenique nas Alturas, e o post anterior me passou despercebido. Deve ser a gripe que me pegou nesta semana depois desse Bang! A Atenção se ressente junto com a garganta e as vias aéreas.
Eu, que estou sempre elogiando o seu bom gosto nas coisas que você seleciona e publica, caí na armadilha de ver aqui publicado um poema meu. Mas, a verdade é que a sensação é muito boa e a honra é imensa, aumentando a minha autoconfiança em geral não muito alta.
E ainda mais estando ao lado desses poetas; a Iara, cujo poema é excepcional, e a quem é urgente conhecer melhor; e esse Assis modesto, uma das minhas maiores admirações e que, sozinho, é toda uma orquestra poética.
Obrigado, Roberto,
E um abraço enorme pra você.
bestagem, marquinho... bestagem...
pega essa flor de laranjeira e ponha no cabelo... fica bonita em ti.
merecido, viu?
tenho me deparado com tanta coisa bonita por aqui... tanta coisa... você, uma dessas "coisas"...rs
abração de final de semana.
carinho e admiração, sempre
do
r.
Meu querido amigo Roberto!
Que honra ter minha poesia fixada nas suas paredes que escondem botijas sagradas...
Ler você, conhecer você e todos que passam aqui pra te dar um abraço de verdade, "sem tapinha nas costas", me são caros em (re)conhecer lá pela minha Janela.
Obrigada mais uma vez.
Um beijo seridoense!
Iara,
a honra é nossa.
este é o grande barado, poder compartilhar coisas belas com pessoas atentas, interessadas.
continuarei esta peleja.
grande abraço do
roberto.
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