Sunday, August 8, 2010

cês Viram Isto?

Flip: Poeta Ferreira Gullar critica Bienal do Livro de SP












Isaac Ismar
Paraty - Rio de Janeiro
Portal Terra





Conhecido pelos poemas e franqueza, o poeta maranhense Ferreira Gullar criticou a Bienal do Livro de São Paulo durante a 8ª Festa Literária Internacional de Paraty, na noite deste sábado (7).

De acordo com ele, o evento literário paulistano aceita obras sem qualidades para serem apresentadas no evento.

"A Bienal do Livro de São Paulo é de vanguarda, qualquer loucura que uma pessoa manda pra lá é aceita e exposta", debochou o poeta, que foi aplaudido pela plateia da Flip por essa declaração.

Amante das artes plásticas, Ferreira Gullar disse que pensa mais na pintura do que na poesia.

"A poesia é mais complexa. Sou um amante das artes plásticas. Posso dizer que hoje vou fazer um artigo para o jornal, mas um poema, não. É algo que nasce de situações do cotidiano, não chega a ser um milagre. Um galo cantando no quintal pode despertar o poeta. Não tem explicação", afirmou.

Nascido em 1930 na capital do Maranhão, ele vive no Rio de Janeiro desde 1951, onde foi presidente de uma das divisões da União Nacional dos Estudantes (UNE) e se filiou ao Partido Comunista. No Golpe Militar de 1954, precisou deixar o Brasil para não ser perseguido pelos militares e se exilou em países da América do Sul como Argentina e Chile.

"Quando fui para Brasília e conheci os operários que construíram a cidade, comecei a refletir sobre os problemas do País e me engajei na luta política. Queria ajudar a mudar o Brasil. Mas veio o golpe de 54 e provou que eu estava errado. Não é fácil mudar o País. Isso também foi um exemplo pra mim na literatura. Se é para não mudar nada, é preferível fazer boa poesia. Uma má poesia não vai mudar nada",

Em Buenos Aires, ainda durante o exílio, ele escreveu o seu poema mais famoso, Poema Sujo.

"Escrevi este poema de maio a outubro. Num determinado momento, a inspiração acabou. Até que um dia fiz os últimos versos. Minha esposa foi até lá e gostou do poema. Depois de muita insistência do Vinícius de Morais, li o poema. Ele se emocionou, o que não era muito difícil de acontecer. O Vinícius gravou o poema e trouxe para o Brasil, onde foi publicado em uma noite de autógrafos sem o autor", divertiu-se Ferreira Gullar.

Nos momentos finais da palestra, ele agradeceu à plateia pelo carinho.

"É bom escrever poesia. Ninguém te obriga a fazer. É mentira quando o poeta diz que sofre ao fazer poemas", voltou a brincar.

Aplaudido de pé por cerca de um minuto pelos seus fãs, Ferreira Gullar encerrou com uma simpática declaração:

"Fico feliz em saber que a poesia ainda tem o poder de comover as pessoas", disse.

15 comments:

Luciana Marinho said...

gosto da língua de ferreira gullar, move mundos.

Primeira Pessoa said...

sou fã de ferreira gullar, lu.
e não é de hoje. na adolescência eu recitava (com uma cara muito safada) o Poema Sujo nas mesas de bar de Governador Valadares.
as moças coravam. as velhas se benziam. as atentas gostavam da língua e da linguagem de ferreira gullar. rs

eu gosto muito.
to te mandando um presente.

beijos,
r.

líria porto said...

contei pra ti, betinho - fui ver ferreira gullar no palácio das artes faz uns dois meses - a palavra dele me comove, a figura dele! o prêmio camões nas mãos daquela simplicidade toda - eu acho ele lindo! a genialidade faz isso...
besos

Tania regina Contreiras said...

Imagino o Roberto adolescente recitando o poema...:-) Ah, sim, também gosto muito do Ferreira Gullar, e dessa lucidez toda, ainda, sempre...
Beijos,Roberto

Primeira Pessoa said...

líria,
eu tava pra te perguntar como é que tinha sido.
ó, pra lindo ele num serve não...rs

ferreira gullar é um ebrulho de mandioca, lírica...
mas é essa instituição, sim, esse facho de luz nessa escuridão que nem sempre consegimos atravessar.
é por isto que o sigo. sou mosquitinho de abajur de escrivaninha...rs

beijos,

r.

Primeira Pessoa said...

eu era até bonitinho, tania...tinha umas fãs...rs
e frequentava uma turma da pesada, boemios divertidos que recitavam, faziam serenatas, tocavam violao (e outros instrumentos) e, melhor de tudo, bebiam pra caráleo.

então, jogaram o sapo n'água quando os descobri.
tenho saudades deles e de mim, ali.

beijão,
rs.

Primeira Pessoa said...

zélia,
recebi sua postagem, li e autorizei a publicação, mas o guga deve ter fumado suas belas palavras.

doido, né?

sim, ferreira gullar é maravilhoso (assim como você).

que seu domingo seja de luz.

beijos, querida.

r.

Unknown said...

Roberto!

Não tinha visto. Li sim que ele tinha comparecido à FLIP. Como o encontro sempre, ("em carioquês: a gente se esbarra"), Ferreira é um figuraça!

Ele sabe que pode dizer o que quiser e será aplaudido. Não concordo com o que ele falou da poesia. Mas ele pode.

Você também pode, Roberto!

É sempre bom passar aqui!

Beijos, amigo!

Mirze

Primeira Pessoa said...

uai mirze,
cê também pode dizer o que quer e quiser...rs
ferreira gullar contou numa entrevista que discutia com a namorada, vencia a discussão, ela emputecia, pegava a bolsa e voltava pro apartamento, deixando ele pra trás, vitorioso, mas triste pra caraleo...
aí ele desistiu de ter razão. pra ser feliz.

a frase "eu não quero ter razão. eu quero é ser feliz", é dele. rs

beijos domingueiros procê.

r.

Fernando Campanella said...

Olá, Roberto, em abril do ano passado escrevi uma crônica para o blog, focalizando ideias poéticas do Goulart. Fantástico esse poeta. Ótima tua crônica, meu amigo, temos que batalhar pela boa poesia, pela boa literatura, boa arte, em geral.
Grande abraço.

Ada Fraga said...

Roberto, adorei sua crônica que fala
sobre esse estupendo escritor: Ferreira Gullar! Ele é maravilhoso!
Acho que a crítica que ele fez à Bienal deve ser cabível,partindo dele.

Saudações poéticas!

Primeira Pessoa said...

ferreira gullar sabe o que fala, ada.

competência, lastro e história lhe dão autoridade e, sim, são pertinentes as suas observações.

grande abraço do
roberto.

Primeira Pessoa said...

fernando, quero ler o seu texto sobre ferreira gullar.
está no seu blog?

vou fuçar.
abração,
roberto.

Marcantonio said...

Sou fã de carteirinha. Também o vi numa entrevista (se não me engano, dada ao Roberto D'Avila) mencionar esse episódio da desistência de ter razão. Rs. Como artista admiro a forma crítica com que ele tenta desmistificar certas ex-vanguardas, e toda a polêmica que criou a respeito dos excessos da arte contemporânea na década de 90, bem antes do Affonso Romano de Santana. Só a coragem com que ele rompeu com o concretismo já seria de se admirar. E aprecio muito a forma simples e despretensiosa com que ela fala da poesia. Digno das maiores admirações.

Abração, Roberto!

Andrea de Godoy Neto said...

Sou fã também, gosto das palavras francas com que ele nos choca e nos instiga.

ah, e sou tua fã também, roberto!
beijos...já tinha saudades daqui :)