Monday, February 14, 2011
3 Poemas de Casimiro de Brito
o poema
Poemas, sim, mas de fogo
devorador. Redondos como punhos
diante do perigo. Barcos decididos
na tempestade. Cruéis. Mas de uma
crueldade pura: a do nascimento,
a do sono, a da morte.
Poemas, sim, mas rebeldes.
Inteiros como se de água, e,
como ela, abertos à geometria
de todos os corpos. Inteiros
apesar do barro e da ternura
do seu perfil de astros.
Poemas, sim, mas de sangue.
Que esses poemas brotem
do oculto. Que libertem o seu pus
na praça pública. Altos, vibrantes
como um sismo, um exorcismo
ou a morte de um filho.
In
Jardins de Guerra
Assírio & Alvim, 1974
**
Esta manhã não lavei os olhos -
pensei em ti.
*
Se o teu ouvido se fechou à minha boca
poderei escrever ainda poemas de amor?
A arte de amar não me serve para nada.
*
Um fogo em luz transformado.
Subitamente, a sombra.
*
Há dias em que morro de amor.
Nos outros, de tão desamado,
morro um pouco mais.
In
Arte de Bem Morrer
Roma Editora, 2008
**
O interrogatório de Rosa Luxemburgo
O interrogatório
de Rosa Luxemburgo
durou apenas algumas horas. Ela sabia
tão bem como os seus carcereiros
que palavras ali já não existiam. Caída
na batalha
contra o nervo vital do Estado; banhada
em sangue
e quase sem sentidos,
Rosa,
frágil camarada,
pediu aos caçadores seus assassinos
agulha e linha. E, silenciosamente,
com uma pistola apontada à têmpora,
coseu a bainha da saia que se encontrava
descosida. Pouco depois
o cadáver
foi lançado à água.
A Música Que Toca Sem Parar:
Desengano, música de Lula Cortes, um pernambucano que admiro muitíssimo. Música resgatada do baú de minhas memórias.
Toda vez que olho o desengano
Nas frases do canto fosco dessa juventude
Sinto meu sorriso magro,
Meu rosto suado se encarquilhar
E quando franzo a testa,
E são suo o rosto cor de madrugada
E quando me deprimo e curvo os ombros pra pensar
Penso nos martíos,
Todos os delírios loucos que vivenciamos
E vejo por quanto anos nos aventuramos querendo voar
Voar pra sair de perto,
De todo deserto desses abandonos,
E constatando o desengano se despedaçar.
Desfeito em pedaços,
Sigo no encalço desse sonho
Vejo meu sorriso magro,
Coração amargo se atrapalhar
Quando franzo a testa,
E são suo o rosto cor de madrugada
Quando abro os olhos, olhos claros para o mar.
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31 comments:
tão belo veio me lembrar de poder dizer em poesia isso:
"há dias em que morro de amor.
nos outros, de tão desamado,
morro um pouco mais."
beijo, roberto.
e ainda encontrei um conterrâneo seu, lula cortes, pra emoldurar com música, os poemas de casimiro.
tomara que tenha agradado.
beijão do
roberto.
Há dias em que morro de amor.
Nos outros, de tão desamado,
morro um pouco mais.
Demais ele, Roberto...
E a música também...
Beijos,
e é estranha demais essa sensação, taninha.
morri mais um dia hoje. e sei que está chegando o dia em que eu não terei mais dias pra morrer.
morri, no que parece o nascimento de um poema.
será?
se não nasceu um poema, nasceu mais uma dor.
morro aos pouquinhos.
beijão,
r.
Ah, um poema, sim!
Beijoa,Roberto
Bob, sempre aprendo mais quando me banho na fonte do Primeira Pessoa.
Hoje aprendi, por exemplo, a apreciar a poesia de Casimiro de Brito, poeta arretado, como foi/é o nosso Casimiro de Abreu.
Esses versos, então, são estupendos:
"Poemas, sim, mas de sangue.
Que esses poemas brotem
do oculto. Que libertem o seu pus
na praça pública. Altos, vibrantes
como um sismo, um exorcismo
ou a morte de um filho."
Abraço grande, mestre das palávoras.
este casemiro posto
que não é abreu
meus olhos encheu
abraço
p.s. o Lula Cortes e o Ze Ramalho juntos deu Paebiru
muito bom esse poeta, mal conheço suas poesias. essa do amor, comoa Tânia achei demais!
beijos
luiza,
a internet acabou se tornando uma imensa vitrine para grandes descobertas.
ainda bem, né?
abração,
r.
assis,
eu sabia que você sacava lula cortes.
"o gosto novo da vida" é um de meus 20 discos preferidos em todos os tempos. deixou marcas profundas.
abração,
roberto.
paulo poeta,
você é um imã para as coisas bonitas desta vida. sua sensibilidade lhe permite separar joio e jóia com o discernimento de poucos.
sou seu fã.
abração mineiro desse
roberto.
taninha, esse arremedo de poema, então, ficou assim:
morrimentos
morri mais um dia hoje
e sei que está chegando a hora
em que eu não terei
mais dias para renascer.
Morri minha primeira morte
No instante em que nasci.
beijão do
roberto.
Delima,
Essa música do Lula Cortes mora num ontem que para sempre me habitará, e sei que te habita também, poeta (ò, se eu roubar uma frase sua por dia - pérolas ao povo -, que cê destila nos comentários que vai deixando pelos bróguis, garanto que escrevo um livro de poesia por ano, do mais puro e lírico licor: duvida?; então tome do seu próprio veneno antimonotonia, como aperitivo: "morri mais um dia hoje, e sei que está chegando o dia em que eu não terei mais dias pra morrer.").
Ò, esse Casimiro é fraco não (e eu ignaramente ainda não o conhecia), reconheço de cara como um dedo indicador apontando pra minha turva alma. Obrigado pelo brinde, por mais esse...
Sábado agora estive rapidamente com o Bispo no Filadélfia antes do show da Maria Gadú, "a grande revelação da música brasileira", e lembrei de você na hora, e gostaria que você estivesse lá (aqui) pra uma resenha boa, umas geladas da mais alta temperatura...
Estiquei a corda de novo...
Abraço de admiração maior,
Darrama.
robertílimo,
casimiro de brito é soberbo. sublinho, se me permites, este
"Há dias em que morro de amor.
Nos outros, de tão desamado,
morro um pouco mais.", até porque acabo de ler "“[o amor] É a única coisa que há para acreditar. O único contacto que temos com o sagrado e fizeram dele uma coisa muito triste, quando não cruel. O amor é o que nos resta do sagrado.”, em cesariny.
um abração, querido amigo!
jorgíssimo,
cesariny está na ninha alça e massa de mira. é o próximo grande portuga a ser reproduzido aqui. e sei que você sabe tudo dessa turma bacana que não dá tapa em biscoito molhado.
mencionei você num comentário que fiz, lá no assis. cê viu?
depois, jorgíssimo, queria que desse uma vista de olhos na tertúlia do pão de queijo. tem um pessoal muito legal postando poesia por lá.
abraço carnhoso desse seu amigo de minas, o
roberto.
ramúcio,
recebesse eu em notas de cem o tanto de vezes que escutei lula cortes com seus irmãos naquela casa em vocês habitavam, estaria rico. rs
aliás, se me permite, eu os "apliquei" em lula cortes. e eles me aplicaram em ednardo. num futuro, você me aplicaria esse indizível roberto mendes, que é hoje um dos meus favoritos...
nenhum deles, mais favorito que você.
saiba.
beijão do
roberto.
Eu gosto das palavras que me devoram com fome e sem pudor, deve ser por isso que gosto tanto de poesia.
bjs.
é devorar e ser devorado, bípede.
sirva-se!
abração do
roberto.
Belíssimos poemas.
Algo assim, meio longe me lembrou Augusto dos Anjos.
A pobre da Rosa deve ter pedido a agulha para ver se dava tempo de ferir o algoz, será?
Maninho, hoje jorrou sangue por aqui.
Compensou a bela música!
Beijos
Mirze
uai, mirze,
se é sangue bom, que jorre...
profusamente...
beijão (e dor de cabeça) desse roberto.
poetásso esse aí em meu velho?
nos meus tempos de militância política, precisei ler "reforma ou revolução" pelo menos umas 3 vezes pra começar a entender tudo o que a Rosa queria dizer...
manda notícias!
bjão!
e eu que até hoje acho que rosa é a mulher de vanderlei luxemburgo? rs
saudade d'ocê, fouad talal.
tá marcada aquela pêia?
beijão,
r.
tô contigo e não abro, tu sabe!
abraços alvinegros! rs
cê estragou tudo com esse "abraço alvinegro", fouad. agora fiquei com medo. principalmente depois dos 4 x 3 de sábado último, com direito a apito amigo e os cambaus. só pode ser um plano sinistro...
vou reanalizar esse projeto...rs
atleticano é danado pra assassinar cruzeirense (cê viu o video no uai?)
abração,
r.
vi nada, mas isso é coisa dos porraloucas da máfia azul e da galoucura... eu sou tranquilo.
você é que nunca pegou o ônibus que volta do mineirão em dia de clássico... loucura! a gente anda trincando dentro dele.
é nós!
abração!
Gosto das poesias desse moço!
===
Não conheço Lula Cortes, vou pesquisar. Se está conjugado na Primeira Pessoa, deve valer a pena aprender o verbo todo.
Beijo,
Inês
que surpresa agradável, inês... muito tempo que c6e não dava o ar de sua graça por esses cantos. aliás, cê é semore muito bem vinda por aqui.
beijão do
roberto.
cara, estupidez não tem cor de camisa... são piratas, fouad...
não, nunca encarei um buzunga pós-clássico... tenho juízo...rs
repito: ainda vamos ao mineirão juntos.
à paisana, que fique claro.
beijão,
roberto.
como não vi/li, robertílimo de jersey coração-de-minas?! passo no assis todos os dias; romagem obrigatória. não escapa nenhuma das 1001 capelinhas :)
volta e meia passo lá no pão de queijo. é zona bem frequentada, mesmo :)
um abração, amigo!
passar no assis é um compromisso diário, jorgíssimo. o gajo é maluco.
um por dia?
não sei o queé "uma" por dia desde os oitenta...rs
abração do
roberto.
Obrigado por nos apresentar o artista "Lula Cortes"; revela em suor amarguras da alma mostrando a fragilidade toda um ser.
Irineu Magalhães
Convido-o a visitar o meu blog, também arranho algumas letras, será bem vindo.Te espero. www.poemasamusicas.blogspot.com
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