Thursday, July 29, 2010

3 Poemas de Albano Martins

.
















Ainda te falta

Ainda te falta
dizer isto: que nem tudo
o que veio
chegou por acaso. Que há
flores que de ti
dependem, que foste
tu que deixaste
algumas lâmpadas
acesas. Que há
na brancura
do papel alguns
sinais de tinta
indecifráveis. E
que esse
é apenas
um dos capítulos do livro
em que tudo
se lê e nada
está escrito.


Ofício

O que aos dedos
emprestas
à mão
subtrais. Nocturno
ofício o teu: transbordas
para a luz como a polpa
macerada das maçãs.


A lâmina, o punhal


Não haverá futuro — e haverá
somente esta lâmina
de quartzo lacerando
a carne amarrotada. E haverá
somente este punhal
de cinza cravado
entre almofadas inúteis
e lençóis vazios.


A Música Que Toca Sem Parar:
do último disco do Trovante, Baltazarblimunda, bebida até a última gota dos personagens de José Saramago.

32 comments:

Unknown said...

rapaz, vc falando em égua barranqueira eu conheço a história de uma jumenta que trabalhava numa usina de cana aqui da região que já tava tão viciada que religiosamente ao final da tarde ela se posicionava estrategicamente à espera da rapaziada, o detalhe é que o barranquinho ficava perto do campo de futebol, arre égua


abração

Primeira Pessoa said...

por mais surreal que pareça, não é.
deve ser a legítima pocotó. rs

abração, assis.

Vanessa Vieira said...

"Foste tu quem deixaste algumas lâmpadas acesas"... "Esse é apenas um dos capítulos!" Muito significativo! É sempre importante percebermos que ainda falta alguma coisa e mais do que isso sempre temos contribuição sobre as coisas que acontecem em nossas vidas! Lindo Post! Bom dia pra você! CARO AMIGO! ABRAÇOS!

Anonymous said...

Ora rapaiz!

realmente sumi, e só mantive alguns posts irregulares sem visitar os amigos...

é que uns olhinhos de Pedro Leopoldo me cativaram a mais ou menos um mês e não dei conta de dividir o tempo com os amigos...rs

E se companheiro é quem come do mesmo pão, aproveito pra deixar a receita do bolinho de chuva:

2 ovos
1 xícara de açúcar
6 copos de farinha
1 copo de leite
1 colher de pó royal
1 pitada de sal

colocar tudo junto numa bacia e ir acrescentando os copos de farinha as poucos na massa, até dar liga e ela não ficar grudando nos dedos.

Enrolar os bolinhos e colocar no óleo quente e logo em seguida passar no açúcar com canela!

(Essa receita não é aquela de pingar os bolinhos na gordura, a massa fica mais durinha, mas se quiser é só por menos farinha...)

Tomar com um café coado na hora e uma roda de amigos...

bjo aí seu moço!

Primeira Pessoa said...

fouad,
vou fazer... no próximo dia de chuva. minha avó era campeã... minha mãe, não menos.
o biscoito de polvilho das duas também é de comer de joelhos. vou ver se descola a receita procê.

olhinhos em pedro leopoldo? mergulhe neles, fouad. mergulhe sem medo.

domingo tem crássico contra o atrético...rs cê vai?

eu? não vou. não me deixariam entrar na arena do jacaré. meu sangue é azul.

beijão,
r.

Primeira Pessoa said...

realmente, vanessa...
albano martins é mestre da palavra. e a gente vai bebendo, em goles pequenos, a genialidade do poeta.

bom te ver por aqui.

abração do
roberto.

Andrea de Godoy Neto said...

Roberto, aprecio muito Albano Martins, esses poemas aí são lindos.
Lembro de uns versos dele que dizem assim:
'nascemos sem passaporte,
entre fronteiras guardadas
por sentinelas de sal e de silêncio'

não consegui lembrar o nome do poema de que fazem parte,
estou com a cabeça vazia hoje...hoje, por dentro, sou toda ventania

beijo grande, querido!

Primeira Pessoa said...

você, andrea, como boa gaúcha que é tem autoridade de dizer que, hoje, por dentro, sopra o minuano.

beijo meu.
r.

Jorge Pimenta said...

pois, digo-te que não deve haver muitos portugueses que promovam tanto as letras do seu país como tu, querido amigo. já sei que argumentas que nisto da literatura não há nacionalidades ou fronteiras; inteiramente verdade, razão pela qual pela palavra se é o que nunca se foi, aqui e em todo o lado.
belíssimos textos!
um abraço, amigo!
p.s. ontem o braga espetou três secas a um celtic de glasgow que se deu mal com os quase 40 graus que tostaram a cidade... :)

Primeira Pessoa said...

então, jorgíssimo, não ficaria mal se dissessemos que os escoceceses foram tostados em braga...
entrei há pouco no café bocage (belo nome) aqui ao lado da redação pra pedir um prego no pão e vi o gol do sporting contra uns dinamarqueses... pareceu-me fora de jogo. foi o primeiro "golo"...rs

uai, a língua é portuguesa, num é não?
escrevemos e sentimos em português.

abração, bardo bracarense.

Má Salvatori said...

Encantada com teu espaço.
Tudo de muito bom gosto! Publicações de grandes mestres.

qto a Albano Martins, as palavras...os poemas dele me seduzem calma e docemente...

Um beijo
Má Salvatori

Primeira Pessoa said...

Má Salvatori,
sinta-se em casa.
este espaço é de todos os que se interessam em compartilhar palavras de bem-querer.

fiquei feliz com sua presença.

abraço grande do

roberto.

Zélia Guardiano said...

Três poemas...
Cada um mais lindo que o outro!
Fico aqui imaginando o contentamento do autor, ao terminar de escrever cada um.
E vou reler . É difícil sair daqui... Ainda mais com esta música, a me envolver o espírito ...
Tudo perfeito, meu querido amigo!
Abraço apertado

Tania regina Contreiras said...

Teus escritos e os poemas que postas, Roberto, parecem que já vêm cantantes e tocantes, leio com música. Esses daí são de uma boniteza grande e pesquei umas palavras que era mesmo preu ler hoje, couberam direitinho nessa hora. Assim, como dizer..."Ainda te falta dizer isto: que nem tudo
o que veio chegou por acaso"...É isso, eu nem acredito no acaso.
Ah, antes que eu me esqueça, os florais de Bach ajudam um bocado nas bronquites alérgicas, viu?
Beijos,
Tânia

Unknown said...

Que poeta!

Adorei! Os três, colocando duas estrelinhas no primeiro!

Até mais, Roberto!

Beijos

Mirze

Primeira Pessoa said...

mirze,
no primeiro eu poria 3 estrelas (rs).

ó, essa turma de além-mar bate forte e colocado.
às vezes chega a doer na gente.

beijão,
r.

Primeira Pessoa said...

é engraçada essa sensaçao, tania. é como certas músicas que escutamos no rádio e pensamos que foram compostas pra nós. doido, né?

o ser humano é genérico.

beijo,

r.

Primeira Pessoa said...

zélia,
eu imagino que saia muito naturalmente, neles, este processo da fazeção, da construção dos textos.

esses caras fazem poesia como se bebessem água num dia de muito calor.
artesão e palavra são água e sede, tão naturais, tão inerentes uma ao outro.

beijão,

r.

Wilson Torres Nanini said...

roberto,

o Albano que vc nos trouxe exprime bem aquilo que nos atravessa: rios sensíveis que somos.

Quanto a ser expulso de uma Tourada, isso não me surpreende. Sua alma inquieta, seu espírito inconformado com a insensatez vem de uma vertente muito, muito nore.

Forte abraço!

Primeira Pessoa said...

nanini,
o lance da tourada se passou em 1989... já fui jovem. rs
hoje seria diferente, pois eu não teria comparecido ao programa.

albano? muito bom.

abração do
roberto.

Adriana Riess Karnal said...

"como a polpa macerada das maçãs...lindo este, lindo todos.

Primeira Pessoa said...

imagem bonita, a da maçã... também me tocou, adriana.

como me toca a sua presença nesse minifúndio de afetos.

abração do

roberto.

Anonymous said...

Albano Martins! TCHI, o que eu venho encontrar neste blog... na verdade, muito poucos portugueses conhecem Albano Martins. O mesmo não direi de Trovante é claro,... ou de Saramago... já Baltazar e Blimunda tenho algumas dúvidas...
Beijão!

Luciana Marinho said...

acabo de descobrir que roberto acertou-me com 3 dardos.

Marcantonio said...

Roberto, falar dos poemas já seria redundante: belos.
Mas, fiquei aqui pensando nesses bolinhos de chuva e biscoitos de polvilho. Por acaso gosto demais dos dois. Já tropecei nesses bolinhos lá no blog do Fouad. Será que essa receita dele é confiável? Rsrs. Na minha família esses bolinhos tinham o nome nada poético de mata-fome, e eram daqueles de fritar às colheradas. Quanto aos biscoitos de polvilho, já tentei fazê-los (faço alguma bagunça na cozinha, vez ou outra), mas foi um fracasso de público e de crítica. Se você descolar essa receita, faça o favor de enviar pra mim também.

Grande abraço!

Vanessa Vieira said...

Pois é caro amigo, tenho aproveitado carinhosamente os goles dos poemas que tenho bebido por aqui e dos que tenho bebido no blog de nosso amigo Assis Freitas. O resultado está lá no meu blog! Dá uma passadinha por lá! Tem um especialmente dedicado a você e ao Assis! Estou iniciando no ramo da poesia mas espero que goste do que verás por lá. Abraços
http://pensamentosvalemmaisqueouro.blogspot.com/2010/07/faca-amor-com-as-palavras.html

Primeira Pessoa said...

vanessa,
passei por lá e retribuí o carinho e o abraço.
e, que bom que descobriu o ramo (e os ramos) da palavra, né?
e este compartilhar... ah, o compartilhar é que é bacana... nos humaniza mais.

beijão do
r.

Primeira Pessoa said...

capitu,
você, sempre bem humorada, sempre atenta... antenada... tem os olhinhos vivos da capitu.
pois, então, permita-me dizer: sou antigo... do século passado... e, tive o prazer de ver o trovante se apresentar numa noite de lua num festival que jorrava vinho no xafariz da praça... e eu ainda nem tinha bebido..
foi no bombarral, numa festa das vindimas... algo assim... já bem no finalzinho da banda, pouco antes de luís represas querer ser sting fora do "the police"... mas estavam ótimos no palco... e foi uma noite linda.

beijo grande,
r.

Primeira Pessoa said...

marquinho,
essa receita do fouad estava na embalagem antiga de pó royal no século passado... rs
é ótima. pode confiar. e usa a colher, sim.
tem um blog de uma moça com que me identifico muito e que se chama "meu divã é na cozinha"... pois é lá (na cozinha) onde eu desenlouqueço.
basta a vida me dar um puxão de orelhas pra eu correr pra lá... pras panelas... pra alquimia... bruxedos...
e, lembre que a fome é sagrada e a gula um excesso, não necessariamente um pecado.

eu, que ganhei a vida durante quatro anos na cozinha de um bom restaurante ibérico daqui e aprendi a fazer umas coizecas... me "agaranto" no fogão, modéstia às favas.

e, como nosso papo é de compadres (ou comadres, já nem sei) vou pegar a receita do biscoito de polvilho com minha mãe e te passo. rs

beijo grande do

roberto.

Anonymous said...

Pois saiba, amigo Roberto, que fui fã dos Trovante durante anos. fez sentido no seu tempo. Hoje já não. O Luís Represas só vê dinheiro. Deixou de ver ideais.
Beijão, pá 'ocê...

Primeira Pessoa said...

pois é, capitu, mas aquelas canções eram muito boas, por isso não desbotaram com o tempo...
ainda ouço os discos de antanho, e compro todos de luís represas (aquele primeiro, após o rompimento é excelente... aquele de pablo milanés didivindo os vocais de feiticeira)...

represas dinheirista?
é como diria caetano veloso... a força da grana que ergue e destrói coisas belas...

beijo procê.

r.

Primeira Pessoa said...

lu,
três dardos?
assim inté eu quero ser alvejado...rs

poesia da boa dói mas é bom...

beijo meu.
r.