Saturday, July 17, 2010

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É março ou abril?
É um dia de sol
perto do mar,
é um dia
em que todo o meu sangue
é orvalho e carícia.

De que cor te vestiste?
De madrugada ou limão?
Que nuvens olhas, ou colinas
altas,
enquanto afastas o rosto
das palavras que escrevo
de pé, exigindo
o teu amor?

É um dia de maio?
É um dia em que tropeço
no ar
à procura do azul dos teus olhos,
em que a tua voz
dentro de mim pergunta,
insiste:
Se te fué la melancolia,
amigo mío del alma?

É junho? É setembro?
É um dia
em que estou carregado de ti
ou de frutos,
e tropeço na luz, como um cego,
a procurar-te.

Eugénio de Andrade

A Música Que Toca Sem Parar:
Va Safy Va Lomo - Orchestra Marrabenta Star De Mocambique

28 comments:

putas resolutas said...

ah que esse cara tem!!! adoro-o!
besos

Marcantonio said...

Nossa, como seria bom vislumbrar eu mesmo algumas dessas imagens, uma porcãozinha só de tudo que pode ser dito tão belamente:


é um dia
em que todo o meu sangue
é orvalho e carícia.

Que beleza!

Abração!

nina rizzi said...

eu que achava que minha tarde estava perdida (passarei num busum friorento do cão), acabo de ganha-la :)

obrigada, querido :)
beijos.

Unknown said...

Que nuvens olhas, ou colinas
altas,
enquanto afastas o rosto.

Lembrou-me outra música: que roupa você veste, que anéis?Pra quem você se troca....que bicho feroz tem seus cabelos, que à noite você solta....

Adorei o poema e o poeta.

Identifiquei-me com ele.

Beijos Roberto

Mirze

Anonymous said...

Roberto está para prosa como Eugénio para poesia, lindos vcs dois.

Beijo.

Zélia Guardiano said...

Fico pensando com meus botões: de que fonte bebe, quem escreve assim?
Que forma Deus usou para fazer um espírito com esse talento?
Queria saber...
E você, amigo Roberto, é outro que sabe tudo... Entre outras coisas, escolhe música como ninguém!
Enorme abraço!

Primeira Pessoa said...

ah,
nina,
esse inverno de fortaleza eu só não faço de cueca porque serei, certamente, vaiado, de iracema à praia do futuro.

olha a onda aí...rs

beijão do
r.

Primeira Pessoa said...

marcantonio,
a gente vai lendo e tudo vai decantandoi dentro de nós.
mais cedo do que tarde, isto se transforma em poesia própria.
acredite.

tudo se dilui em nós.

abraço, amigo...

r.

ps: em outubro queria que se juntasse a nós, em bh. vou combinar com a turma toda e vamos fazer uma tertúlia. vou tentar convencer o jorge pimenta a ser nosso mestre de cerimônia nas montanhas mineiras. o que você acha?

Primeira Pessoa said...

lírica,
e eu que demorei quase meio século pra descobrir eugénio?
mas, sempre é tempo, né?

a gente acaba descobrindo um par de sapatos perfeito para nossos tortos pés.

beijo.

roberto.

Primeira Pessoa said...

zélia,
eles bebem na mesma fonte que bebemos. a diferença é que descobrem o pulo do gato.

sabia que não perdi a esperança de encontrar o meu?

beijo maior.

só seu.

r.

Primeira Pessoa said...

mirze,
a gente se identifica sempre com nossos iguais.
sei exatamente o que você sente quando lê eugénio de andrade.

sei, porque sei o que sinto.

ou, melhor: intuo.

beijo meu,

r.

Primeira Pessoa said...

larinha,
cê escreve assim e fico todo bobo.
eu, que ainda não achei o fio de minha meada.

te deixo um beijo, poetinha do ar mais seco que existe: o do cerrado.

r.

Tania regina Contreiras said...

Minha intenção, Roberto, depois que você nos apresentou, é fazer desse Eugénio um companheiro meu. Haverão de dizer: lá está ela só! E saberei: qual nada, hoje estou com o Eugénio de Andrade, muito bem acompanhada.
Foi exatamente aqui (é ainda) que fui descobrindo um tanto de gente boa, de coisa boa, de versos, prosa e músicas, além desse seu coraçaozão Roberto...
Obrigada, amigo!
E a música cai como uma luva nesse domingo de sol que se insinua, mas não mostra a cara.
Beijo,
TÂnia

Primeira Pessoa said...

uai, taninha...
então eugénio da andrade nos tem, um em cada mão.
rs...

quem tem um poema nunca está sozinho né?

sol com domingo do lado de cá. isso mesmo, nessa ordem... o bicho vai pegar... e eu sem poder tomar uma cerveja, mas morrendo de vontade de desafinar...

seguuuuuuuuuuuuuura peão...rs

beijão,
r.

Mulher na Polícia said...

Ainda acho que deveriam ensinar poesia nas Academias de Polícia. Tudo faria mais sentido.

Beijos, Ro.

Primeira Pessoa said...

moça da polícia,
precisam ensinar poesia na vida.

talvez a vida da polícia (e dos cidadãos) fosse bem mais fácil, caso se ensinasse poesia na vida.

mas, fica aí a pergunta: poesia seria uma coisa que se ensina?

beijão,
roberto.

Anonymous said...

"... e tropeço na luz, como um cego, a procurar-te..."
Que imagem... Lindo, lindo...
Érre... preciso dessa música. Aliás, preciso encontrar esse disco pra baixar. Tenho aqui "Nwahulwana - Mazimbo e Orchestra Marrabenta" - maravilhoso, de ouvir com os olhos fechados...
Preciso garimpar o resto...
Beijo
Diubs

Primeira Pessoa said...

diubs,
ja mandei proce a musiquinha... podendo, me manda essa da trilha do filme "the pledge", pois quero postá-la aqui no blog.

vamos fazendo esse troca-troca, pangaroa....

beijoca,

r.

Unknown said...

acabo de vir lá do Pedro Darama que postou biscoito novo, ele que estava avariado das partes, rs,rs se é possível brincar com as dores alheias.
Tropeçar na luz produz que tipo choque? Hoje acordei com uma saudade retada do Maradona de Amaralina e fiquei de banzo. Mas fazer o quê? A existência urge com sua obrigações,

abração

Primeira Pessoa said...

vou la ver o que o da rama aprontou...
tava pensando em mandar um email pra ele perguntando se 100 reais resolveriam... rs
passei o domingo em família, meus pais por aqui, minha filha que mora na flórida veio se juntar às duas que vivem aqui... rolou um franguinho caipira com angu mole, guisado de xuxu e abobrinha e feijão...
um calor do cacete... passei umas quatro horas so com a cabeça fora da água... tive uma semana cacete pra cacete...
saí da água pra aocmpanhar a vitoria magra do cruzeiro sobre o goiás e lá se foi meu domingo... amanhã é dia de labutar...
como diria o filósofo kleber bambam, faiz pairte...

vim fechar meu domingo deixando um abraço procê.

r.

Vanessa Vieira said...

Fantástico! Sem palavras para descrever a emoção trazida por essas palavras!! Saudações!

Andrea de Godoy Neto said...

Ah, roberto...Eugênio é mesmo de entontecer. E este dedo cuidadoso com que tu escolhes os posts a nos presentear...

Lembras-me desses versos dele:
"Nos teus dedos nasceram horizontes
e aves verdes vieram desvairadas
beber neles julgando serem fontes."

é isso, acho que tu é um fazedor de horizontes...

(então, será que dá pra me fazer um com sol e um tantinho de calor? Tô congelando por aqui...rsrs.Inda bem que logo vou dar um pulinho alí no RJ - que pelo menos é quentinho, mesmo com chuva)

beijão

ana p said...

Nunca canso de o ler....
Beijo

Luciana Marinho said...

...e a saudade sempre a nos embalar.

beijão, roberto!

Primeira Pessoa said...

não se canse, magnólia...
não se canse...

ler saramago não é esforço. é prazer.

abração,
r.

Primeira Pessoa said...

lu, respondi seu post e o guga engoliu-o... vou reclamar. vou ligar pro procom...rs

ô,
a impressionante obra de eugénio jamais deixará a impressão de que ele partiu.

bom te ver aqui.

beijão,
r.

Primeira Pessoa said...

andrea,
você ja leu A Estética do Frio, do vitor ramil?
não leu?
ô, leia. é fundo. é denso. você se achará dentro dele. tremerá. pedirá um chá.

beijão,
r.

Primeira Pessoa said...

vanessa, perdão pela demora na resposta. meu blog tá todo atravessado. espero que a resposta ainda lhe venha a tempo.

fico feliz que tenha gostado do post.
eugénio de andrade é um tantão de bem-querer.

abração do
roberto.