Saturday, November 27, 2010

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Limando o Lima

Fosse aqui nos Estados Unidos, alguém com o sobrenome Lima iria procurar quem inventou a expressão “Mandar o Lima” e processá-lo. O bordão é sinônimo de descaso e é usado toda vez que alguém não quer ir a algum compromisso, e resolve mandar o Lima em seu lugar. Dizem que Tim Maia mandou o Lima a muitos de seus shows, e que teria sido ele o cunhador do mote.
Estivesse vivo e morando nos Estados Unidos, algum distante parente meu arranjaria um jeito de processá-lo, demandando milhões. Aqui se processa por tudo. Teve uma dona que ganhou uma grana porque uma lanchonete McDonalds serviu-lhe um café quente. Já no carro, o copo de café caiu-lhe sobre o colo, queimando parte das coxas. Isto talvez explique o cafezinho morno que andam servindo por aí.
Nos anos noventa, “Bráulios” do Oiapoque ao Chuí bem que poderiam ter se manifestado em tribunal. Foram injustamente estigmatizados.
Fosse o Brasil os Estados Unidos, o processo teria sido movido contra o ministério da Saúde, que na campanha de prevenção contra a aids, sugeriu que se plastificasse, encapuzasse, encamisasse os suscetíveis a doenças sexualmente transmissíveis, Bráulios de todo o país.
Os imprudentes burocratas da Saúde teriam facilitado as coisas sem traumatizar ou ofender ninguém, tivessem escolhido um nome que não quisesse dizer outra coisa, que não o próprio dito-cujo. Qualquer slogan simpático resolveria:
“Não corra riscos desnecessários! Na hora da transa, plastifique o seu Bilau”.
Não conheço ninguém com esse nome. Bilau da Silva; Bilau Osório; Bilau de Andrade.
Essa de mandar o Lima é uma bossa relativamente nova. Mas existem registrados alguns casos bem antigos. Dizem que o Lima fez muitos dos exames anti-dopings de Diego Maradona, quando este jogava no Napoli. Aliás, era o Limone quem fazia o xixi no lugar do baixinho.
Aldir Blanc narra em seu livro Rua dos Artistas & Arredores, uma preciosidade, que conto aqui com algumas “adaptações”.
Um rapaz do bairro havia combinado de fazer uma serenata junto à janela de uma moça. Seria uma serenata em que pediria a mão da beldade em casamento, e para a qual já estavam confirmados alguns dos melhores músicos da região.
Os preparativos corriam dentro dos conformes e houve até quem consultasse a folhinha Mariana para ver se seria noite de lua cheia. Afinal, serenata e lua cheia ficam perfeitas juntas.
A uma semana da grande serenata, no entanto, o candidato a noivo classificou-se para as semifinais de um campeonato de sinuca no bairro vizinho. A partir daquele momento criou-se um impasse. E ele teria que tomar uma decisão importante.
Uma decisão que denotasse responsabilidade e bom senso.
Foi assim que ele acabou em terceiro lugar no campeonato, sem fazer feio na serenata.
Um amigo dele – provavelmente de sobrenome Lima – fez um emocionado discurso, declamando versos românticos e pedindo a mão da noiva em nome do ausente, informando que este tivera um “compromisso inadiável”.
Foi muito aplaudido e o pai da moça não só permitiu o namoro, como ainda abriu uma garrafa de uísque, que guardara durante muitos anos para uma ocasião especial.
Se aconteceu, verdadeiramente, eu não sei, mas o certo é que todos estamos sujeitos a levar um bolo. E muitos destes bolos são involuntários. Aconteceu, muito recentemente, comigo.
Kiko Sales descobriu que seria aniversário de César Augusto, amigo querido de ambos. Precisávamos homenageá-lo.
Combinamos com outros amigos comuns de sairmos juntos, e celebrarmos a data magna do jornalista. Só que César e a esposa Luciana estavam de viagem marcada para as Bahamas naquele dia, e não poderia participar. Na ausência deles, remarcamos para a volta.
Quando ligamos novamente para avisar da nova farra, ficamos sabendo que na data escolhida, eles estariam a trabalho em Boston.
Não desanimamos.
Saímos, jantamos, festejamos e ligamos para ele na hora do parabéns, com todos soltando a voz em desafinado uníssono. Até os garçons ajudaram a engrossar o coro ligeiramente alcoolizado.
No dia seguinte, logo pela manhã, encontro no celular uma mensagem do aniversariante:
- Foi minha melhor festa de aniversário de que não participei. Muito obrigado!
Espirituoso, César Augusto não perdeu a piada e nem os amigos.
E ainda ganhou, de presente, esta crônica aqui.

A Música Que Toca Sem Parar:
porque César Augusto (foto) é fã de Vander Lee, uma canção do último disco (Faro) do cantor e compositor do bairro Olhas d'Água, em Belo Horizonte.
De Vander Lee, a delicada e melódica Farol.

Você é meu farol
Meu talismã, meu sol
Meu dia, meu dial

Você é meu astral
Meu mapa virtual
Meu raio-x emocional

Você é minha foz
metade de nós
Meu adubo meu sal

você é minha e só
E nunca vai ser só
nem de fulano de tal

Quando caminho no escuro
É por você que procuro
Somando tudo é tão raro
Meu paladar e seu faro

20 comments:

ÍndigoHorizonte said...

La crónica de hoy envuelve, hablando de esa amistad que comparte, incluso en la ausencia y ¿qué decir de la música que recuerda esa amistad? Mi paladar, su faro... y esos acordes sencillos que acompañan la voz y la mecen, la acunan. Todo un descubrimiento. Vuelvo a tus crónicas y siempre me voy de ellas con una sonrisa, emocionada, incluso cuando camino en la oscuridad. Gracias. Um abraço.

Zélia Guardiano said...

Crônica deliciosa, música feita de
mel...
Tudo perfeito para fazer do meu domingo "um domingo daqueles que ninguém precisa dizer que é domingo"(João Antonio em Meninão do Caixote)
Enorme abraço, meu querido amigo Roberto!

Unknown said...

Roberto!

Tudo aqui dito, é novo para mim. Porque será Lima o testa de ferro, então?

Adorei e já tenho uma lista para colocar esse nome.

Beijos

Mirze

Paulo Jorge Dumaresq said...

Crônica com o padrão de qualidade Roberto Lima.
Massa, amigo e colega de ofício.
Curti pacas a canção do Vander Lee. Deu o recado certinho, certinho.
Se não comento mais com tanta frequência é porque estou um pouco afastado da net.
Abraço grande, Bob Lima.

OutrosEncantos said...

Bom dia amigão!

com a intenção do costume... e

No sítio do costume, carinhos para ti
http://meusamigosseusmimosmeusencantos.blogspot.com/2010/11/sempre.html

Beijos.

desculpa a visita corrida, mais logo venho te ler
Abração.

Unknown said...

estou precisando de um Lima urgente,


abração

p.s. também gosto do Wander Lee

Anonymous said...

bela prenda, não há papel que a embrulhe, nem Lima que lhe valha!
:-)!
Beijos
Laura

Jorge Pimenta said...

hei, jersey boy, i'm back! :)
e regressar, para mim, é passar aqui, neste cantinho amigo, sem ter de mandar o lima em meu lugar :)
pois, robertílimo, estive quase uma semana na grécia, com alunos comenius, numa experiência verdadeiramente revitalizante. aos poucos devolvo-me à normalidade que, em mim, tem sempre a excepcionalidade dos meus amigos reais, mesmo que por meios virtuais. é o caso aqui.
um abração!

CANTO GERAL DO BRASIL (e outros cantos) said...

Delima,
Um brogueiro sem tempo é um artilheiro em jejum de gols. Cadê você, poeta? Prefeito não-eleito de Newark? Voto em você até pra síndico do meu tédio!

Abraço sublimado,
Darrama.

Wilson Torres Nanini said...

Roberto,
c tá cada vez mais afiado. Dá até pra te imaginar rindo enquanto escreve. O trecho do Lima pedindo a mão da noiva no lugar do outro é impagável.

Um forte abraço,
do sempre fã!

Primeira Pessoa said...

nanini,
comecei a escrever cronicas porque a poesia desertou de mim...rs
mas é divertido escrever cronicas, sim. e muito mais fácil e menos doloroso do que parir um poema, ofício que voce domina tão bem.

abraço do seu colega de tertulia,
roberto.

Primeira Pessoa said...

da rama,
passei dias corridos no rio, trabalhando, com direito a estar bem pertinho do ainda presidente do brasil.
levo daqui o que vim buscar, o que valeu toda a pena.

daqui a pouco embarco para nova york, retornando ao frio e às minhas obrigações cotidianas.

abraço grande, desde o aeroporto tom jobim.

seu amigo,

roberto.

Primeira Pessoa said...

jorgíssimo,
eu que estor retornando...
e acabo de ver pela tv a vitória do nosso cruzeiro, que chega ao final do campeonato com um honroso (porque fomos roubados á mão armada!) segundo lugar.

existe motivo para comemorar.

nos falamos de new jersey, príncipe de Braga.

abração do

roberto.

Primeira Pessoa said...

laura,
qeuria eu ter um lima para mandar em meu lugar em muitos dos compromissos que me são impostos pelas obrigações.

abração do
roberto.

Primeira Pessoa said...

moça dos outrosEncantos,
passarei pelo seu blog para conferir as novidades.

afeição do
roberto.

Primeira Pessoa said...

paulo poeta,
vander lee é bom de serviço. assim como você, embaixador de natal no mundo.

saudades da prosa amiga que você sempre me serve em generosas quantidades.

abraço farto desse seu amigo das terras altas de minas, o

roberto.

Primeira Pessoa said...

ah, mirze,
pegaram o lima pra cristo... assim como pegaram o pobre bráulio...

mas, se tinha que ser alguém...rs

abraço maior do

roberto.

Primeira Pessoa said...

zélia, amiga querida,
apenas um domingo depois tenho acesso (e tempo para vir) ao blog.

e encontro o mel da amizade, nestas doces palavras suas.

sempre uma alegria te ver por aqui,

roberto.

Primeira Pessoa said...

Indigo,
a amizade é feita de ausências e presenças, afeto e compreensão. perdoa-se até o amigo que não vem à própria festa de aniversário.

deixo um abraço e muito de amizade, só pra você.

roberto.

Primeira Pessoa said...

assis,
precisando de um lima, não exite em me chamar.
mando o meu no nosso lugar.

vander lee?
é fera!

abraço deste seu fã, o
roberto.