Monday, September 13, 2010

Amador sem coisa amada

.





















Resolvi andar na rua
com os olhos postos no chão.
Quem me quiser que me chame
ou que me toque com a mão.

Quando a angústia embaciar
de tédio os olhos vidrados,
olharei para os prédios altos,
para as telhas dos telhados.

Amador sem coisa amada,
aprendiz colegial.
Sou amador da existência,
não chego a profissional.

(António Gedeão)


Rómulo Vasco da Gama de Carvalho é professor, investigador e poeta. Como pedagogo, foi autor de inúmeras obras de divulgação científica e, como poeta, sob o pseudónimo de António Gedeão, escreveu conhecidos poemas como Lágrima de Preta e Pedra Filosofal.


A Música Que Toca Sem Parar:
da autoria de Alvin L, esta canção que, numa única frase (quando ele fala na "solidão com vista pro mar") já se justificaria.
Na interpretação de Milton Nascimento, Não Sei Dançar.


Às vezes eu quero chorar
Mas o dia nasce e eu esqueço
Meus olhos se escondem
Onde explodem paixões
E tudo que eu posso te dar
É solidão com vista pro mar
Ou outra coisa p'ra lembrar
Às vezes eu quero demais
E eu nunca sei se eu mereço
Os quartos escuros pulsam
E pedem por nós
E tudo que eu posso te dar
É solidão com vista pro mar
Ou outra coisa p'ra lembrar
Se você quiser eu posso tentar mas
Eu não sei dançar
Tão devagar
Pra te acompanhar

39 comments:

Domingos Barroso said...

Absurdo mar
que traga a solidão
de quem o observa
e devolve outras oferendas
em forma de quietude
ou morte por dentro.

forte abraço,
camarada.

Primeira Pessoa said...

é uma alegria recebê-lo entre os meus, camarada domingos.

esteja em casa.

abraço retribuído, do

roberto.

Francisco de Sousa Vieira Filho said...

Ama.dor profissional da existência...

:)

.maria. said...

lindas escolhas, demais.

Anonymous said...

Amigo Roberto: o meu estranho silêncio não que dizer que não o visite, mas sinto-me sem forças para comentar!
Fico contente por ter descoberto o António Gedeão. Ele continua a ser para mim uma referência!
Força do lado de cá!
Beijos
Laura

Unknown said...

belo poema, bela canção, belas escolhas, eu sou todoouvidoseolhos,

abração

Primeira Pessoa said...

ofício difícil, poeta francisco.
imutável a condição humana.

abração,

r.

Primeira Pessoa said...

maria,
senti sua falta neste minifúndio de afetos.

alegro-me, hoje.

abração,
r.

Pólen Radioativo said...

Roberto, querido...

Aqui (no PP) não tem meio termo não... É o alto da telha ou ao rés do chão... O amador se lança aos céus ou ao precipício, não calcula nada não.
Tudo beira o absurdo...
Não se dança devagar...
E solidão só se for com vista pro mar...

Meu sorriso aqui está tanto que não cabe no rosto.

Beijão!!!

Primeira Pessoa said...

laura,
ainda bem que você achou um tempinho para vir aqui e deixar registrada suas sempre sensíveis palavras.

também estou te devendo umas visitas.

falho, mas não tardo...rs

abração,
r.

Primeira Pessoa said...

assis,
acima de tudo, você é todo-todo-parceiro.

tava pensando nisto, ontem. as pessoas aparecem, aproximam-se, descobrem outros amigos por aqui e vão tocar suas concertinas noutras freguesias...

sem citar nomes, você está dentro de um grupo do qual não abro mão.

bom demais te ver por aqui.

abração,

r.

Primeira Pessoa said...

ou, como diria Edson Balinha, um amigo querido lá de são raimundo, onde me criei... aqui é "calça de veludo ou bunda de fora"...rs

afeto e amizade do

roberto.

Lígia Guerra said...

Roberto,

Amei o seu Blog, amei, amei e amei, simplespemnet AMEI!

Beijos Av3ssos,
Lígia

Luiza Maciel Nogueira said...

poesia com canção

bom demais!

beijo

Marcantonio said...

Ora, um poema que me definiria estritamente. Nenhum sindicato me reconhece, nenhuma corporação me defende; não passei no vestibular para a universidade da vida, reprovado no teste de habilidade específica. Logo, não tenho diploma de existente. Amador sim, encanador bissexto e incompetente que sequer tem ciência das juntas corretas e recorre ao gatilho para evitar o desperdício. Enfim, perfil de elefante intrometido numa loja de porcelana. Única vantagem: liberdade, mas, frequentemente confundida com indolência e irresponsabilidade. Perdoe a interpretação reflexa, de narcisismo às avessas.

Abração, Roberto!

Daniela Delias said...

Fiquei tomada pelos versos "...olharei para os prédios altos, para as telhas dos telhado...". Poema lindo, Roberto. Seguirei em busca de mais António...beijão!

Andrea de Godoy Neto said...

Roberto, esta foi a segunda postagem hoje em que li antónio gedeão.
Gosto muito e há muito não o lia...vou já corrigir isso, que 2x no mesmo dia deve ser um aviso, né?..rsrsrs

como sempre, é um imenso prazer passar por aqui!

ps: fico esperando a música do sá e guarabyra...

beijão

Bípede Falante said...

Vou já procurar por essa música. É umas das minhas favoritas. Nunca ouvi pelo Milton. Nossa! Chego a estar agitada!!!

MariaIvone said...

Oi Roberto!
Você chegou primeiro ( um niquinho, me atrazei na foto) mas a amante sou eu! :))
Adoro Gedeão!!!!

Beijos
MariaIvone

Jorge Pimenta said...

se houve quem conhecesse os mistérios da vida por dentro e por fora (como homem, poeta e cientista), esse alguém foi gedeão. as suas varandas sempre estiveram acima de todas as outras e os seus olhos em todo o lado, menos no chão. aliás, era o chão que tinha de se esgueirar por entre frestas para o poder ver num movimento vertical ascendente. admirável a sua obra!
um abraço de primeira (pessoa)!

Primeira Pessoa said...

jorgíssimo,
cada vez me encanto com os aturtores de "além-mar" (pra nós, do lado de cá do atlântico).
cada dia uma nova surpresa, um novo concerto de belas palavras...

abraço retribuído deste seu amigo cruzeirense, agora coladinho nos líderes do Brasileirão...rs

r.

Primeira Pessoa said...

Maria Ivone,
este Gedeão é um promíscuo...rs
ja viu o numero imenso de amantes de sua obra?

Fazemos uma fila imensa...

Abraço e apreço do

Roberto.

Primeira Pessoa said...

bípede,
caso não consiga a canção, dê um toque que lhe envio por email.

preciso encontrar uma forma de disponibilizar as canções do blog para aqueles que gostarem da seleção.

aí, sim, a música jamais parará de tocar.
sem parar.

abração do

roberto.

Primeira Pessoa said...

andrea,
vou enviar-lhe a música. não a tenho aqui em casa, mas sei que tenho no escritorio. sá e guarabyra estão entre meus artistas favoritos. o primeiro disco que comprei, foi da dupla.

abração do

roberto.

Primeira Pessoa said...

daniela,
levei quase meio século para descobrir gedeão. na verdade, fui presenteado com sua poesia esta semana... foi amor à primeira vista.

bom saber que você também gostou.

abração do

roberto.

Primeira Pessoa said...

marquinho,
mais esta similaridade entre nós dois...rs
entre tantas outras... embora eu me reconheça mais bagunçado, mais desorganizado e mnos um tantão de outras coisas...

como dizemos em são raimundo, onde me criei, um cão cheira o outro...rs

abração do

roberto.

Primeira Pessoa said...

luiza,
às vezes conseguimos encontrar a canção que veste apropriadamente o poema.

às vezes dá certo.
às vezes, não.

mas eu tento.rs

abração,

r.

Primeira Pessoa said...

lígia,
fico feliz que tenha chegado ao PP... venha sempre que apetecer, pois tem uma turma bacana que se encontra aqui... e, assim, a teia vai se estendendo... num crescendo de afeto que ainda fará a diferença nesse mundo louco em que habitamos.

abraço do

roberto.

Anonymous said...

é fiote!

profissional ou não,
sempre amadores.

e tem domínio a existência?

a vida é um potro xucro.

abração,
ft!

Maria Paula Alvim said...

Ficou muito bacana a combinação de escolhas. Vou te seguir, tá?

Unknown said...

Roberto!

Belo poema! Nosso Tom, o Jobim, já dizia: andar em New York, melhor de maca!

Serve para todas as grandes cidades.

Adorei o Marcantonio. Esse cara é gênio!

Beijos

Mirze

MariaIvone said...

Roberto, mais vale tarde que nunca! Mas meio século!!!

Se passasse no meu sítio ter percebido meu comentário anterior.

Vá não seja preguiçoso, dê uma espreitadela, nem precisa comentar. :)))

Primeira Pessoa said...

sim, quase meio século, moça do conta-gotas... às vezes quero ter nascido muito antes... àss vezes quero ter nascido hoje... ou, ontem, ou semana passada...rs... tanto faz...

oh, dúvida mais que cruel...rs


beijão,

r.

líria porto said...

betinho
ainda estou na muda...
besos

(gedeão é ph...d!}}}}})

Primeira Pessoa said...

lírica,

cantarolo procê:

"acorda e sorri
o dia chegou
o sol vai sair
e a vida continuou"

beijo grande


r.

Primeira Pessoa said...

mirze,
passei a tarde em NY, ontem. uma reuniao de trabalho que, tão logo acabou, continuou sendo uma outra coisa... tom jobim (e suas frases geniais) foram lembradas, lá no proseado da mesa...

nova york continua bela. belíssima.

beijão,

r.

Primeira Pessoa said...

ô, fouad...
como diria o paulim pedrazul... a vida é bela... nóis é que fod'ela...

potro chucro, boi-bandido.

vida-boi.

tempo-tempo-tempo...rs


beijão,

r.

Primeira Pessoa said...

maria paula,
façamos o seguinte: um persegue o outro...
e fica tudo zero a zero... tudo um a um...

ja tenho lido coisas suas e gostado. cê é a moça das terças, né?

bem vinda seja, entre os meus.

abração do

r.

Maria Janice said...

Com que excelente impressão fico ao vir aqui, sem que seja preciso pedir licença, me espalhar por este espaço, ser apresentada à esta mobília intelectual que preenche cada canto e, por hora, ir concluindo que sou 'amadora' desta decoração.

Parabéns pelo teu blog Guri.