Saturday, September 18, 2010

Eugénio de Andrade, Entre os azuis...

.

















Nada podeis contra o amor,
Contra a cor da folhagem,
contra a carícia da espuma,
contra a luz, nada podeis.

Podeis dar-nos a morte,
a mais vil, isso podeis
e é tão pouco!

EUGÉNIO DE ANDRADE
Obra de Eugénio de Andrade


***

Haverá para os dias sem memória
outro nome que não seja morte?
Morte das coisas limpas, leves:
manhã rente às colinas,
a luz do corpo levada aos lábios,
os primeiros lilases do jardim.
Haverá outro nome para o lugar
onde não há lembrança de ti?

EUGÉNIO DE ANDRADE
O Outro Nome da Terra


A Música Que Toca Sem Parar:
de Cláudio Nucci e Paulinho Tapajós, na gravação antológica do Roupa Nova, Sapato Velho.

Você lembra, lembra!
Daquele tempo
Eu tinha estrelas nos olhos
Um jeito de herói
Era mais forte e veloz
Que qualquer mocinho
De cowboy...

Você lembra, lembra!
Eu costumava andar
Bem mais de mil léguas
Prá poder buscar
Flores-de-maio azuis
E os seus cabelos enfeitar...

Água da fonte
Cansei de beber
Prá não envelhecer
Como quisesse
Roubar da manhã
Um lindo pôr-de-sol
Hoje não colho mais
As flores-de-maio
Nem sou mais veloz
Como os heróis...

É! Talvez eu seja
Simplesmente
Como um sapato velho
Mas ainda sirvo
Se você quiser
Basta você me calçar
Que eu aqueço o frio
Dos seus pés...

Água da fonte
Cansei de beber
Prá não envelhecer
Como quisesse
Roubar da manhã
Um lindo pôr-de-sol
Hoje não colho mais
As flores-de-maio
Nem sou mais veloz
Como os heróis...

É! Talvez eu seja
Simplesmente
Como um sapato velho
Mas ainda sirvo
Se você quiser
Basta você me calçar
Que eu aqueço o frio
Dos seus pés...

Talvez eu seja
Simplesmente
Como um sapato velho
Mas ainda sirvo
Se você quiser
Basta você me calçar
Que eu aqueço o frio
Dos seus pés...

23 comments:

Zélia Guardiano said...

Amigo Roberto
Você não imagina como estou vulnerável para coisas lindas , assim...
Encantamento para um fim de tarde de sábado, ainda com um resto de sol vermelho , que o vento teima em carregar para lá e para cá...
Fico-lhe grata!
Forte abraço

Unknown said...

ROBERTO!

Mesmo que se saiba dessa grande verdade, "nada podeis contra o amor", vem outros uns e dizem o contrário!

Amo esses sapatos da Roupa Nova!

Beijos!

Mirze

Lua Nova said...

Os dois pequenos poemas de Eugénio de Andrade me emocionaram
e a música... bem, eu adoro cantar e essa música de Cláudio Nucci e Paulinho Tapajós é uma delícia de se cantar e de falar as palavras. Quando canto, sou muito ligada à "forma" da música, na dicção.
Além disso, o arranjo do Roupa Nova é lindíssimo.
Beijokas.

Unknown said...

poemas assim deveriam ser proibidos por sua excessiva beleza, são fantasmagóricos e ficam a nos perseguir, e o poeta punido com a pena capital. vá escrever assim na casa do caráleo, rs,rs,

esse sapato velho furou na minha vitrola de vinil.


abração

Primeira Pessoa said...

assis, nossa diferença é de mil quilometrinhos... rs
contemporâneos e, conterrâneos, não existiria acm e nem itamar...

e mais não direi...

abraço meu, meu bróda!

Primeira Pessoa said...

lua nova,
eugénio de andrade foi u dos melhores presentes que já ganhei...
compartilho, sem mesquinhês...

eugénio é grande o suficiente, pra todos nós.

abração,

r.

Daniela Damaris said...

Lindo poema! Linda música! (Adoro Roupa Nova)

Saudações poéticas.

Primeira Pessoa said...

daniela,
apesar de já não tão novo assim, nosso roupa nova continua na "moda", né? rs
perdoe o trocadilho infame...rs
sim, belo poema de eugénio.

abração do

roberto.

Primeira Pessoa said...

ah, mirze...
os outros, sempre os outros...
já notrou que, se dependesse dos outros, nem existiria poesia?

outros?
prefiro pensar em nós.
que somos os outros dos outros...rs
os anti-outros.

beijão,

r.

Primeira Pessoa said...

zélia, querida, não sei se "vulnerável"é a palavra que se encaixa melhor, neste nosso caso.
você é muito sensível e, por isto, está sempre receptiva às belas e bem contruídas palavras... essas que edificam o coração de quem gosta de poesia, verdadeiramente.

beijão,

r.

Lívia Azzi said...

Belíssimo poema, remete-nos a profunda introspecção desse torpor paradoxal que é o amor...

"O único transformador, o único alquimista que muda tudo em ouro, é o amor. O único antídoto contra a morte, a idade, a vida vulgar, é o amor." (Anais Nin)

E...

"Quem será que inventou isso? Se nem mesmo do amor o amor nos salvaria". (Carola Saavedra)


Um beijo!

Pólen Radioativo said...

Roberto e suas combinações...
Podeis sempre motivar-nos os suspiros pela beleza e os risos dos olhos.

Um beijinho, chéri!

Primeira Pessoa said...

lívia,
eu, que entendo tão pouco dessas coisas de amor (e de dinheiro), mas que me derreto todo quando dou de cara com um poema fundo, como este de eugénio.

eu, que aprecio sua presença no blog.

e, de imenso.

abração do

r.

Primeira Pessoa said...

moça do pólem,
já to é pensando na próxima combinação, só pra agradar vocês.

sou assim... de tentar agradar.

beijão,

r.

Aleatoriamente said...

Roberto, que preciosidade!
Quanta beleza acaba de presentear meus olhos.
Humildemente agradeço.
Obrigada por tantas poesias.

Fernanda.

CANTO GERAL DO BRASIL (e outros cantos) said...

Delima,
Passei só pra te deixar um abraço fosse leve feito a voz de Simone Guimarães, já te disse essas palavras um dia, mas senti vontade de as repetir nesse inicinho de mais uma segundona, essa que manda na gente...
Eugênio conheci numa crônica sua no BV, e adotei-o de 'emediato', como fazia quando lia as coisas do seu amigo-xará Drummond de Santana dos Ferros...
Té mais que daqui a pouco tem zapatos novos p'reu vender, amigo...
Outubro tá pela bola dez...

Abraço one, sim:
Do cio, do rio.

Andrea de Godoy Neto said...

"nada podeis contra o amor"
e o resto mesmo é tão pouco...

Eugénio de Andrade é mesmo dos melhores, eu adoro!
E a música lembrou minha infância, adolescência...ouvi muito roupa nova

beijo grande, roberto

ana p said...

A musica podia não existir se toda a poesia fosse como a de Eugénio... O " meu poeta "
Beijo

Primeira Pessoa said...

é seu, mas é nosso, magnólia...
eugéio, do mundo...rs

compartilhe, uai!

Primeira Pessoa said...

roupa nova é véio, né andrea?

cê falou e passou um filme na minha cabeça... e os caras são ótimos músicos...

bom te ler novamente.

beijão,

r.

Luciana Marinho said...

"o outro nome da terra" deixou meu coração miudinho diante da beleza.

beijinho.

Wania said...

Oi, Roberto

Liiiiindo post!
A poesia de Eugenio De Andrade é belíssima, gosto demais. Impossível não se deixar "tocar" pela profundidade das suas palavras!


Quanto a música, eu lembro, eu lembro siiiiimmmmmmmmmmm. Gastei o disco, assim como Assis, porque quando eu gosto de uma música eu escuto até cansar...rsrsrs! Sou do tempo da fita K7, quando gravava um lado todinho com a mesma música para não ter que apertar a tecla repeat...rsrsrs, coisinhas de Wania, mas não espalha! ;))))


Bj grande e boa semana pra ti.

Andrea de Godoy Neto said...

rsrsrrs...ô roberto, assim eu me senti velhaaa..rs

mas são ótimos músicos sim

beijo