Tuesday, September 7, 2010

















Ismália

Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu

Rutlaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...

(Transcrito de Poesias, vol. 1, pp. 318 - 319)

Alphonsus Guimaraens (Ouro Preto, MG, 1870 - Mariana, MG, 1921) Alphonsus de Guimaraens é considerado o poeta mais místico do nosso Simbolis mo. Seu misticismo, porém, "é tênue, esbatido pela ternura e pela melancolia" (Antonio Candido/José Aderaldo Castello). Chamado de "poeta lunar" por Alceu Amoroso Lima, tem como tema preferido a morte. Obras poéticas: Septenário das dores de Nossa Senhora (1899), Dona Mística (1899), Kyriale (1902), Pauvre lyre (1921), Pastoral aos crentes do amor e da morte (1923).

* Texto sobre o autor, surrupiado do livro Os Cem Maiores Poetas Brasileiros do Século, de José Nêumanne Pinto.


A Música Que Toca Sem Parar:
e eu que estava com (muita!) saudade de postar Renato Braz... esta semana escutamos, juntos, por telefone Papo de Passarim, o master do cd/dvd que ele gravou recentemente com o ex-Boca Livre Zé Renato, durante show em São Paulo.
O fato é que não consigo parar de escutar as canções do novo disco. E, como só poderei postá-las aqui após o lançamento oficial, registro Comunhão, de Mário Gil, que Renato dignifica e emoldura com sua bela voz.
Trata-se de uma daquelas canções que gosto de pregar em minha parede.



Zeca Boiadeiro de Caicó
Filho de João Brabo e de Mãe Filó
Corta ribanceira do cafundó
Vida de vaqueiro, escravo de Jô

Rosa Bordadeira de Guaporé
Filha de Olinda e de Josué
Corta e borda o manto de São Tomé
Vida costureira trançada na fé

Festa na Capela do Arpoador
Coco, arroz-doce e quentão
Zeca Boiadeiro de roupa de doutor
E Rosa de anel na mão
Dança na fogueira
Roda de calor
Zeca e Rosa em comunhão

Casco de cavalo batendo o pó
Couro de arreio amarrado a nó
Rasgo de punhal sob o paletó
Zeca Boiadeiro cansado e só

Linha, agulha, pano, retrós, dedal
Tanque, quarador, pregador, varal
Faca, escumadeira, feijão e sal
Rosa Bordadeira de vida igual

Joça cerca o gado no Pantanal
Nina é moça e já tem dedal
Diolinda, Chico
Juca, Sebastião
Zinho, que é temporão
Juca vai à escola
Zinho vai crescer
E outro que ainda vai nascer

24 comments:

nina rizzi said...

quantos poetas já não se inspiraram nessa ismália. até ellenizei: http://ellenismos.blogspot.com/2010/03/cest-lavi-nia-nina-rizzi-mamai-fiz-uma.html

no mais, tenho dedal e nem sei diabéisso que não aquele de costura... rsrsrs...

beijos.

Zélia Guardiano said...

Lindo, perfeito, querio Roberto!
Poema maravilhoso e música e letra e interpretação e instrumental encantadores...
Grande abraço
Zélia

Tania regina Contreiras said...

Olha só o que leio: sei esse poema todo de cor desde adolescente, Roberto, e costumava recitá-lo do tanto qua gostava. Mas faz tempo não lembrava dele.
A canção que toca é uma pérola...
Abraços,

Unknown said...

assisti domingo passado um programa, tipo o Ensaio, na Tv Camara com o Renato. Acompanhado de um percussionista, ele cantou uma penca de pérolas, maravilha o violão e a voz do menestrel,


abração

MariaIvone said...

Lindo!
bjos
MariaIvone

Primeira Pessoa said...

assis,
voce deve estar falando do zé luís bré, não apenas um grande percussionista, mas um grande conhecedor de folclore, ritmos brasileiros, essas coisas nossas que parecem estar meio que perdiadas. ele e renato são irmãos de mães diferentes... se complementam... e ficam muito bem atuando juntos.
ah, o disco novo tá lindo.
Papo de Passarim é tudo de bom.

beijão,
r.

Primeira Pessoa said...

putz, eu tambem nao me lembrava mais deste poema. ele voltou assim, meio que num estalo.
ah, sim, taninha, to devendo umas musiquinhas ne? rs

a monica salmaso eu mandei?

beijao,
r.

Primeira Pessoa said...

zélia, eu, se pudesse, seria seu garçom...
passaria o dia inteirinho lhe servindo... não existe nada melhor do que servir a quem aprecia.

beijão,
r.

Luciana Marinho said...

lindo, lindo esse poema... tão longe e tão perto dessa bela imagem. bom domingo, roberto! beijoca!

Primeira Pessoa said...

nina,
o dedal deve ser mesmo esse... o da costureira... conheci a "dedeira", dos tocadores de violão das antigas... e os dedo-duros...rs

onde foram parar os parnasianos, os simbolistas?
o surgimento de uma coisa boa (to falando do modernismo, mesmo) não deveria significar o fim (mas o fim definitivo, mesmo!) de outras coisas boas.

ultimamente, so vemos coisas ruins se sobrepondo...
o que me referi não é o mesmo que a o pop/rock brasil enterrando a lambada, que enterrou a mpb... que devorou a bossa nova.... que dizimou o iê-iê-iê...

santo pai... rs
é cedo pra embolar meu meio de campo.

bom te ler por aqui.

beijão,

r.

Primeira Pessoa said...

todos os feriados soam a domingo, luciana...rs
aqui nos eua foi feriado. dia do trabalho. que aí é em maio.

fico feliz que tenha gostado desta viagem ao passado... vale até a pergunta: ismália ainda se ensina na escola?


beijão,
r.

Primeira Pessoa said...

maria ivone,
vou lançar um desafio aos blogs de escolhermos os 20 maiores poemas da literatura brasileira.
estou em fase de recolha, pesquisando...

depois, quero pedir que façamos a campanha juntos, e que os leitores escolham.

conto com você.

beijão do

roberto.

Juliana M. Mesquita said...

Ah, assim como a maioria dos seus leitores, adorei reler Ismália! Me trouxe muitas lembranças..
A canção que toca eu não escutei, mas posso dizer que vi e cheirei!
Adoro esse blog! Beijos e até breve!

Tania regina Contreiras said...

Mandou a mônica não, Roberto... Bem, cê manda as que quiser quando intuir que vou gostar...rs
Beijos

Primeira Pessoa said...

taninha,
pó deixá que eu mando.

segura as pontas aí.

abs,
r.

Primeira Pessoa said...

juliana,
seu computador deve ter um bloqueador...
a musiquinha so toca se você liberar.

tente.
se não der certo, mando por email, em mp3.

abração do

roberto.

nina rizzi said...

roberto, ontem estava a ouvir o jorge ben, das antigas aquela maravilha, com um amigo e comentei como a produção de qualidade era prolífica. chico, os mutantes, a tropicália, a bossa, o samba. e hoje, ó sóis, é muita merda pro pouco maracatu e renato's.

mas a gente segue garimpando e socializando ;)

beijos.

Primeira Pessoa said...

nina,
o engraçado é que acabo de postar no blod do da rama exatamente isto...

acordo todos os dias achando que vai pintar um novo grande de chico, milton, caetano... e vou dormir sem ela...

mas tem muita cois alegal nessa indústria falida (a fonográfica), sim.

a internet eliminou os vampiros. mas criou um problema.

beijo procê,

r.

Unknown said...

Roberto!

Ismália, hoje!

Grande idéia para o Dia da Pátria. Fôssemos todos Ismálias estaríamos serenos e tranquilos entre o mar e a lua. ( Eu disse LUA, não confundir com LULA).

Nada como reler este belíssimo poema. Afinal de médico e louco.....

Acabei de me enriquecer com o sotaque mineiro. Aprendi mais algumas palavras, tipo "carinhas" que meu neto generaliza. Pode ser um grupo de pessoas ou brinquedos...são "os carinhas".

Agora o Chico, o Meu Chico, depois que entrou em depressão quando ouviu sua própria música, cantada por um grupo, e tomou consciência da letra, lançou mais um CD e um livro. Ambos belíssimos.

Beijos, Mr !

Mirze

Primeira Pessoa said...

livro novo do chico não é nocidade... mas, disco?

será que ficou bom?~
os ultimos trabalhos do chico (fora a parte técnica) ficou menos chico do que eu esperava, devo confessar.

vou atrás.
correndinho.

abs,

r.

líria porto said...

ismália é a minha cara!
besos

Jorge Pimenta said...

a ascensão e a queda. conheces "a estrela", conto de vergílio ferreira? também aí se procura chegar ao intangível e acaba-se na queda. impossível sorrir a deus e piscar o olho ao diabo, verdade?...
um abraço, primeiríssimo amigo!

Karine Bass said...

Esta tudo muito lindo, tudo muito azul.

Primeira Pessoa said...

karine... tenho repetido sempre, como quem repete um mantra:

o azul é a cor mais azul que existe.

bem vinda!

abração do

r.