Wednesday, June 9, 2010

.
















Encantos e desencantos de uma moça

Ela acha o chope da kaizer ruim. Prefere o da Brahma.
Sim, ela bebe chope.
E vai ao Mineirão - sempre que pode -, torce pelo Cruzeiro, é fã de Vander Lee, sabe de cor as letras das canções.
Já lhe disseram que é atleticana e que ela ainda não sabe disto. Mas prefere não se explicar.
Para que?
Seu sangue é azul, como o inigualável céu de Minas.
Nasceu no Vale do Aço. Tem aço nas veias. Ferros no coração.
Desfralda uma bandeira de Minas toda vez que fala.
Seu sotaque não nega: Libertas Quae Sera Tamem.
No recatamento, na forma como cruza as pernas, no jeito de andar e de existir, é toda Minas Gerais.
Parece franzina, pequenina, mas se agiganta nos momentos que a vida lhe exige isto.
Leonina, coração de leão, braba, brabíssima...
Adora os Beatles, mesmo sem ter sido contemporânea do quarteto de Liverpool.
Hoje acende velas para o U2.
Bono Vox é mais que um mito em seu caderno recheado de pessoas do bem.
Prefere estas, às pessoas de bens.
Em seu caderno de mitologias, figuras como as do Dalai Lama, Chico Xavier, Betinho e São Judas Tadeu repartem um pedaço de pão, compartilham um chá...
Essa moça sabe separar o joio da jóia.
Sempre soube.
Tem uma alma bonita. É espiritualista. Mas deixou de freqüentar as reuniões que faziam a mochila da vida lhe ficar mais leve.
E ela diz que vai retomá-las.
Ela precisa. Vem da fé a luz mais verdadeira.
Carrega um quê de irmã carmelita, o que explica certos tabus.
Certos receios.
Certas limitações.
Seu coração é generoso. É emotiva.
Ela canta e dança e se emociona.
Nos últimos tempos reaprendeu a chorar.
Chora durante filmes, assiste novela, é romântica, lê e faz parte de uma espécie em extinção: o das pessoas que lêem e apreciam poesia.
E ela reconhece poesia numa pedra do chão e nas pétalas de uma margarida. Tem vocação para musa, apesar dos dois pés fincados na ciência.
Em algum lugar de sua casa ergueu um oratório para Carlos Drummond de Andrade. E outro para os iguais a Albert Einstein:
Um admirador lhe ofereceu, certa vez, uma estrela do céu. Aceitou.
Hoje sabe dizer o nome da constelação e em qual galáxia essa zelação pulsa e brilha.
Parte de sua vida é drama.
A outra, genoma.
Costuma dizer que os olhos verdes, transparentes, são herança de algum antepassado escocês. Ninguém acredita.
Vem das esmeraldas dos garimpos, da grama da Praça da Liberdade, o verde bonito de suas pepitas.
Ultimamente anda triste, esta moça.
Caminha com os olhos presos ao chão, está decepcionada.
Perdeu a crença nas pessoas e a esperança no amor.
Perdeu a esperança no Brasil.
Era petista de colar cartaz, mas a turma do presidente Lula tirou dela muito mais que a vontade de testemunhar - em vida - um governo feito por gente do povo.
Essa cambada de políticos que aí vemos, roubou dela o sonho e a fé na existência de um governo que não rouba e não deixa roubar.
E o seu amor pelo rapaz com quem um dia ela planejou construir uma casa no campo, diluiu-se na fraqueza desses homens de papel que habitam a superfície do século XXI.
A ver, vamos, dona moça...
A ver, vamos...
Que Deus se apiede destes homens fracos das Minas Gerais.

*

A Música Que Toca Sem Parar:
Romance da Bela Inês, letra e música de Alceu Valença, na interpretação do próprio.

Uma musa matriz de tantas músicas
Melindrosa mulher e linda e única
Como o lado da lua que se oculta
Escondia o mistério e a sedução
Comovida com a revolução
De Guevara, Camilo e Sandino
Escutou me Espelho Cristalino
Viajou nosso sonho libertário
Bela Inês, com seu peito de operário
A burguesa que amava o Capitão

Acontece que a história não tem
pressa
E o amor se conquista passo a passo
O ciúme é a véspera do fracasso
E o fracasso provocar o desamor
Bela Inês teve medo do 'condor'
Queimou cartas. lembranças do
passado
E nessa guerra de Deus e do diabo
Entre fogo cruzado desertou
Bela Inês, com seu peito de operário
Não me esconde seu ar conservador

Mas eu tenho um espelho cristalino
Que uma baiana me mandou de
Maceió
Ele tem uma luz que me alumia
Ao meio dia, clareia a luz do sol

Apesar dos pesares não esquece
Nosso sonho real e atrevido
Bela Inês tem o peito dividido
Entre um porto seguro e o além-mar

14 comments:

Anonymous said...

Mulher de Minas!
Encantadoras!
Bjs.

Júlio Castellain said...

...
Olá, meu caro Roberto.
Beleza de letrinhas.
A música tbém.
Meu abraço.
...

Unknown said...

romance da bela inês nos campos verdes das minas geraes ou ainda peleja da bela do olhar em um dia de sol tropical,


abração

nina rizzi said...

ei, roberto, é claro que vale demaisdemais o repeteco, já te disse que essa é das tuas, das minhas preferidas.

e com geraldo? porra, direto na jugular.

beijos.

Wilson Torres Nanini said...

Minas ninguém sabe onde começa, onde termina. A minha mulher é paulista, paulistana, são-paulina, mas traz o cerne lapidado pela força de nossa terra querida.

Uma das melhores, Roberto! Realmente, emocionante!!!

Forte abraço!

Primeira Pessoa said...

wilson, tudo bem que sua musa seja paulista e paulistana... mas não tinha um jeitinho de trazê-la pras cores de Minas Gerais? rs
Já falou pra ela da existência do glorioso Cruzeiro Esporte Clube?

Ah, wilson... isto é imperdoável...rs

abração, poeta.

r.

Primeira Pessoa said...

nina, cê bebeu?
num é geraldinho não, sô...rs
a propósito, o primeiro disco de geraldinho foi gravado em parceria com alceu valença.
eles assinaram a quatro mãos o excelente "Quadrafônico". Qualquer dia destes te mando as cantigas.

beijão procê.

r.

Primeira Pessoa said...

assis,
essa mistureba é aquilo que poderíamols chamar de samba do mineiro maluco, né?

mas no final deu certo.

beijão, poeta!

Primeira Pessoa said...

julio,
vindo de você, que sabe tudo delas (as letrinhas) soa-me um baita elogio.

seu blog ta lindo, viu?

abração do
roberto.

Primeira Pessoa said...

fátima,
minas gerais é um lugar de gente especialíssima.

sou coruja que gaba o toco (rs).

abração procê, do
r.

líria porto said...

ontem um paulista me passou emei dando conselhos... risos

mineiro muda? mineira então é angu perdido - ou achado, sei lá...

besos

Primeira Pessoa said...

poxa, lirica, cresci escutando minha mãe dizer isto... pra mim... ou seja: num sô boa bisca, não...

essa era outra... o boa bisca...rs

beijão...

r.

Jorge Pimenta said...

o traço é o da genuinidade. por que será que isso se torna irrelevante na hora da distribuição da sopa da justiça dos homens? até deus se demitiu dessa tarefa...
um abraço, roberto de newark coração de minas!

Jorge Pimenta said...

o traço é o da genuinidade. por que será que isso se torna irrelevante na hora da distribuição da sopa da justiça dos homens? até deus se demitiu dessa tarefa...
um abraço, roberto de newark coração de minas!