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Planejamento de férias
Estou indo de férias ao Brasil.
O tempo é curto, mas preciso correr trecho.
Se der, quero ir de uma ponta à outra em poucos dias e terei pouca ajuda.
Vou de carro, na asa de um passarinho, no lombo de um cavalo, vou até a pé, se preciso for. Mas eu vou.
Quero ir a São Paulo comer um pastel de feira, daqueles bem quentes e que, à primeira mordida, secam o topete da gente com o seu vapor.
Para acompanhar, um caldo de cana de cor duvidosa, quase uma água que acabou de lavar um pé sujo na poeira do estradão.
Em Sampa, ainda, passarei pelo Museu de Arte Moderna para ver um único trabalho: O Mulato.
Ficarei petrificado – me babando inteiro -, à frente de um dos quadros mais lindos que alguém um dia pintou.
Adoro Portinari.
De lá vou ao Rio de Janeiro.
Quero ver as moças bonitas – quase sereias - se refestelando nas areias da praia.
Sob o sol escaldante chuparei um picolé de limão, daqueles que refrescam até a alma do freguês.
Picolé de limão é mais gostoso no calor carioca.
Quando escorrer a tarde, vou fazer uma via-sacra pela Lapa.
Com um pouquinho de sorte, poderei conferir o violonista Yamandu Costa dando uma canja de final de noite num palquinho de um bar qualquer.
Numa viela do Pelourinho, em Salvador, ficarei observando uma baiana típica vendendo acarajé em seu tabuleiro.
Participarei, batendo palmas, de uma legítima roda de capoeira no Farol da Barra.
Tomarei banho em Itapoã.
Sentarei o corpo cansado nas escadarias da igreja do Bonfim, e de lá zarparei até Olinda.
Revigorado pela brisa de Olinda, subirei e descerei ladeiras vendo o verde do mar.
Em Recife reencontrarei amigos queridos e darei um cachê a dois violeiros que se destroem num furioso repente.
Após a peleja do diabo com o dono do céu, sentaremos, os três, para uma cerveja e mais prosa.
Irei dormir em Natal, após umas caipiróscas no Chaplin.
Mas irei amanhecer em Maceió, molhando meus pés nas águas da Pajuçara.
No mercado do Ver o Peso, em Belém, ficarei maravilhado com os frutos da Amazônia.
Peixes, frutas legumes, gente se esbarrando nos corredores, cheiros, matizes, texturas, tudo se misturando.
Tirarei uma fotografia na frente do teatro Nacional, em Manaus, lugar que sempre quis conhecer.
Deslizarei de canoa entre os igarapés de uma cidade pequena das cercanias da capital, e pescarei um peixe grande, daqueles que não cabem na fotografia, mas que realçam a mentira do pescador.
Adormecerei numa rede em Fortaleza, olhando a lua de uma varanda na praia do Futuro. Mas acordarei cedinho, com a volta dos jangadeiros do mar.
À Santa Catarina vou pra beber.
E pra comer marreco recheado.
Vou pra Blumenau, cidade de gente bonita – Vera Fisher nasceu lá - e acolhedora. Pernoitarei numa pousada de Serra e acordarei com o cantar dos galos.
Em Curitiba farei uma saudável caminhada no Parque Birigui.
De lá vou ao bairro do Pilarzinho, onde quero ser fotografado à frente da casa onde viveu Paulo Leminski, um de meus poetas favoritos.
Quero chegar a Cuiabá no meio da tarde.
Mas antes da chuva.
De lá esticarei até Campo Grande, onde apanharei um jipe que me levará a um pedaço do pantanal.
Presentearei meus olhos com as cores mais bonitas da fauna e da flora do Brasil.
Para Brasília eu não vou. O tempo anda sempre embaçado por lá.
Mas passarei em Goiânia para um arroz sem pequi, fruta da qual só me apetece o cheiro.
Em Vitória do Espírito Santo abraçarei meu amigo Tavares Dias.
E de lá seguirei para Minas Gerais, lugar onde nasci e até hoje bate o meu coração.
E o que eu vou fazer em Minas pode virar assunto para uma crônica inteira, aqui mesmo, neste minifúndio de papel.
A Música Que toca Sem Parar:
essa cantiga é "lugar" onde uma marimba toca dentro do meu coração.
Minha Sereia (gravação original de 1981), do alagoano Carlos Moura, na voz do próprio.
28 comments:
Faça, então, uma crônica em cada cidade, a sua visão sobre os lugares e pessoas sempre os enriquecem mais.
Abraços.
Ei, moço! E o Rio Grande do Sul??
tudo bem que por estas paragens anda a fazer um "frio de renguear cusco" como se diz por aqui, mas a terrinha é tri boa =)
muito bom perceber esta água na boca que te dá a vontade da nossa terra.
coisa boa é casa da gente, né?
beijo pra ti
Belo planejamento, Roberto, belo planejamento!
Dois pitacos:
1-Em Sampa, come um sanduba de mortadela, no Mercado Municipal... É só levar Alka-Seltzer.rs...
2-Fotografa muito, muito! Depois, põe tudo lá no Olho Lírico pra nós. Faz esse favor...
Um grande abraço, amigo.
Delima,
Minas inteira te aguarda, poeta, feito num conto de Guimarães Rosa, feito numa canção do Tadeu Franco, feito no teu jeito de ser mais mineiro mesmo longe: prece de valadarense em New Jersey...
De carona,
Darrama.
voa por onde quiseres, mas aterrissa aqui!!! e se o motor falhar, pula do alto - eu e o pedra azul seguramos a rede!
besos
larinha,
pó deixar que eu faço. e faço com gosto. faço com a alegria.
quero ficar pelo menos um mês em cada cidade... sabe como é, preciso prestar cbastante atenção nas coisas, absorver s cidade e suas pessoas...
o que? tenho que retornar pro trabalho?
responsabilidades? obrigações familiares?
como?
rs
uai.. eu já tinha até me me esquecido....
andrea,
na versão original tem uma passagem por pelotas, para um mate (morte) das 5 na casa da mãe do kledir.
aliás, uma dica: leia as cronicas de kledir ramil.
você precisa ler as cronicas dele. são ótimas.
http://blogkledirhome.blogspot.com/
veríssimo que se cuide! rs
beijo imenso procê.
r.
zélia,
sou freguês desse pão com mortadela. gosto mais na versão fria. a versão na chapa perde em essencia, ganha um outro sabor.
aliás, sou freguês de mercados. meu favorito? o da capital de minas.
e não é por bairrismo, não.
acho que bh é a cidade que mais e melhor abraçou o seu mercadão, transformando-o, muito mais do que um lugar onde voce compra coisas (e loisas), numa referencia cultural.
(eu sei, tem o "ver o peso"... tem o modelo... maiores... melhores, mas piores)
voce precisa conhecer o mercado de central bh. aliás, a proxima cronica será uma respostagem... falando desse mercado.
pergunta pra líria porto:
o mercado central de bh é mais que uma disney pra crianças de todas as idades.
ah, a xereta ja ta na mala. vou tirar foto até de eclipse.
beijão, zélia.
da rama,
o kledir compôs com o irmao kleiton (no ultimo disco) uma cançao tecendo loas a pelotas e me desafiou a fazer uma letra sobre são raimundo (até hoje ele nao entendeu que san remo é bairro de gov valadares...rs)...
sugeriu que começassemos pela parte turística de são raimundo.
e eu comecei pelo puteiro (naque tempo tinha puteiro, com 3 moças, incluindo aí a proprietária... e ele nao quis saber de conversa, de música, de nada...rs
magoei!
beijão,
do
r.
lírica,
vou ligar pro paulim.
sonhei com ele a noite inteira.
comíamos peixe assado na casa de minha mãe.
vou ligar assim que chegar ao jornal.
trem mais doido. eu sonho e ce escreve sobre ele.
e logo de manhãzinha...
eu, ein...
beijão
r.
O bom filho sempre vem (ou nunca sai porque o coração fica). Vem conhecer Nova Friburgo-RJ.
Boa Viagem e boas crônicas e fotografias (com xereta é?) sorrisos.
Viajar é Tudibão
o bom filho nunca sai (mesmo que tenha saido...rs).
eu, que nem sei se sou tão bom filho assim, sempre venho, e vou...
abração, mai.
ena, fiquei com os olhos em bico só de imaginar todos os lugares, rostos e aromas que terás o prazer de desembrulhar. verdadeiro guião turístico que vou guardar na algibeira para, se num dia ganhar o euromilhões, serpentear por todo o brasil. um abraço, poeta-cronista!
jorgíssimo,
nem precisa ganhar o euromilhões.
cê tá cheio de amigos no brasil.
cê não gasta com rango ou com hospedagem... rs
deixa comigo que eu ajeito isto.
abração procê, bracarense.
r.
roberto, valeu a dica!!! eu adoro esse guri, cresci escutando ele e o irmão...fazem bem parte da minha história
e o blog é tri bom mesmo
beijos muitos
essa é uma das coisas mais delicosamente - delicosaverdade - dolentes que já li por aqui. olha, do meu ponto na pf da pra ver o sol morrer e nascer e bem no meio do mar. é a coisa mais linda.
meu pc, nem sei. terei o diagnóstico na terça. que será que será? talvez aceite uma vaca, um rinoceronte, uma ruma de neve com pólen, sei lá... rsrs...
ai, comé gostoso vir aqui. a gente lê coisa boa 'inda pode divagar. aiai, viu... nada como uma bom mineiro pra botar a prosa em dia.
beijos, pessoa, de primeira.
andrea,
mais importante ainda, é a grande pessoa que ele (eles) é (são).
a gente sempre fica achando que eles são uma pessoa. e isso é tão verdade, que no casamento do kleiton o padre perguntou à noiva:
- luciana, você aceita kleiton e kledir para ser seu esposo?
rs...
aconteceu... é o que contam.
dá uma zoiada nessa cronica aqui, ó:
http://cronicasderobertolima.blogspot.com/2010/04/blog-post_20.html
beijão procê.
r.
ô, nina, você, como sempre, gentil e generosa em suas palavras colhidas a dedo.
tomara que não seja nada mais grave com seu pc e você possa estar aqui semeando virtudes e bem querer entre nós, leitores devotos seus.
beijão desde new jersey, capital mundial de allen ginsberg.
r.
Nossa, vamos esperar que vai ter muito e muito pra ler depois dessas férias! rs
Beijo, Roberto!
tânia,
esta croniqueta é bem antiguinha...rs
e estas férias aí eu passei, inteirinhas, em BH.
e foi bão de doer.
faltou tempo e fígado.
beijão procê.
Esqueceu o boteco do Toninho em Sampa... já virou ponto turístico e parada obrigatória dos apreciadores do bom copo, da boa música e do bom papo.
Beijo
Diubs
PS: Se você me avisar que tá no Brasil só depois que já estiver aqui de novo eu arranco seu fígado e como com farinha e pimenta de bico.
diúbs,
ce acha que eu iria ao brasil sem abanar o rabo?
nem-fu!!!
é CRONICA VÉIA. PRÉ-TONINHO.
pré-tudo.
falando em pimenta de bico, o renato ficou doido com o "mineirinho valente", lá do casa cheia, no mercado central:
(canjiquinha, costelinha e linguicinha defumadas, fiote de espinafre - aquelas foínhas beeem novinhas -, queijo canastra derretendo no meio e 3 pimentinha de bico pra decorar... servido numa panelinha de ferro) ...
vamos lá detonar um. ou dois mineirim senvergonizim desses (que mineiro valente ninguem come...rs)
antes, uma farrista (ce tem que beber essa pinga)...
durante, uma original no copo lagoínha trincando de gelado... véu de noiva...
cê alinha?
eu desalinho-me.
beijão,
r.
O Brasil, com todos seus problemas,nos encanta como um todo, mas é Minas que ocupa nossas almas, material pra infinitos poemas e crônicas. Belo texto, meu amigo. Preciso vir mais aqui. Bjão pra vc tb.
Ah, tá! :-)) Bom, iria perguntar, mas você já respondeu em seguida que não cumpriu o seu roteiro! rs
Beijo
Tãnia
fernando,
precisa mesmo...rs
eu sinto imensa falta sua nesse minifúndia.
ah, sim, esqueci-me do sul de minas no roteiro...rs
é que a crônica é pré-fernando campanella...
abração, poeta...
tania,
conheço menos do que deveria do brasil... um cadico do noredeste... um cadico do sudeste... mais um cadico do sul...
um dia irei conhecer todos os estados brasileiros.
quando?
tenho pressa, não...rs
esse é um desejo antigo.
beijão procê.
r.
Apesar de fluminense-carioca, e da pertinente menção ao Rio, pensei em puxar a brasa para a minha outra sardinha: e a Paraíba sempre esquecida e desconhecida? E a bela João Pessoa? O que é que tem pra ver lá? Só indo ver.
Mas tem um marzão, um dos mais belos trechos do litoral brasileiro! E um tamanho de cidade mais ao meu feitio.
Eita comentário besta este meu! Deve ser saudade daquelas bandas... Minha alma que queria ser nordestina.
Abraço, Roberto.
marcantonio,
se eu nao fosse de minas e se me fosse dada a oportunidade de escolher, teria escolhido nascer no nordeste do brasil.
onde?
joão pessoa.... maceió (minha favorita)... recife... ou num interiorzão qualquer...
eu, que masterizo ter nascido num cafundó.
abração procê que, como eu, é mistura dos lugares que viu ou aprendeu a amar.
r.
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