Wednesday, December 2, 2009

Um amigo é às vezes o deserto

Um amigo é às vezes o deserto,
outras a água.
Desprende-te do ínfimo rumor
de agosto; nem sempre

um corpo é o lugar da furtiva
luz despida, de carregados
limoeiros de pássaros
e o verão nos cabelos;

é na escura folhagem do sono
que brilha
a pele molhada,
a difícil floração da língua.

O real é a palavra.

(Eugénio de Andrade)

9 comments:

ana p said...

Os amigos amei
despido de ternura
fatigada;
uns iam, outros vinham,
a nenhum perguntava
porque partia,
porque ficava;
era pouco o que tinha,
pouco o que dava,
mas também só queria
partilhar
a sede de alegria —
por mais amarga.

EUGÉNIO DE ANDRADE

Primeira Pessoa said...

Eugénio de Andrade é uma grande alegria pra mim. Trata-se de um de meus poetas favoritos e deixou uma obra brilhante.
Gosto muito das coisas dele.
Escrevia com estômago, com esôfago, bílis, coração e alma.
Evoé!!!

Babi Burdett said...

É verdade... Cecília Meireles é maravilhosa e aquele poema é um ensinamento para nós!
Fiquei muito contente com a sua visita... volte sempre, viu? Estarei sempre aqui apreciando os lindos poema que vc posta! Abraços da amiga Babi!!

Primeira Pessoa said...

Babi,
a democracia dos blogs acaba facilitando essa troca de aprendizados e a partilha desse tesouro esquecido pelas pessoas que é a poisia (entre tantas outras). Acho muito bom encontrar pessoas com as mesmas preferencias literárias.
E viva a blogosfera! Viva a literatura! Viva nós!

líria porto said...

vivamos nozes!
besos

Luciana Marinho said...

"a difícil floração da língua.
o real é a palavra"

belíssimo eugênio de andrade,
deixando-nos carregados de sentidos.

Primeira Pessoa said...

eugénio de andrade é o máximo.
acho-o um dos maiores poetas da lingua portuguesa de todos os tempos.
escrevia carregado de sentimentos e esse "sentir" está cada vez mais raro na literatura e no viver que testemunhamos.
talvez porque as pessoas andam demasiadamente "anestesiadas", perdidas na velocidade do passar dos dias.
alguém precisa nos relembrar - cotidianamente -de que calma não quer dizer frouxidão;
não confundir bravura e bravata, hombridade e machismo, bom humor e cinismo... atrofiam a admiração transformando-a em inveja...

e por aí vai... por aí vamos...
o que é uma pena.
ainda bem que temos a poesia, né? pode ser que a poesia resgate a raça humana. tenho essa esperança.

abraço grande do
roberto.

Anonymous said...

Poeta,

Fincar uma bandeira branca(talvez azul)no ponto mais alto da palavra Im-possível.

Isto é real.

Obrigada por partilhar Eugénio por cá.

Rute Bráz.

Primeira Pessoa said...

Rute,
azul é a cor mais azul que existe. Gosto da cor (meu clube de coração, o nem sempre glorioso Cruzeiro Esporte Clube) joga de azul.
Quanto a Eugénio, é gênio.
Ele, Drummond, Braga, Pessoa, Manoel de Barros, Gamoneda, Cortazar, Lorca, Ginsberg...
Esses caras são incomparáveis.
O grande barato da blogosfera é que estamos democratizando a literatura e as artes em geral.
Partilhemos, sempre.
Evoé!
Admiração do
Roberto.