Sunday, April 25, 2010

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Que fazes aqui?

Julgava que te tinha dito adeus,
um adeus contundente, ao deitar-me,
quando pude por fim fechar os olhos,
esquecer-me de ti, dessas argúcias,
dessa tua insistência, teu mau génio,
tua capacidade de anular-me.
Julgava que te tinha dito adeus
de todo e para sempre, mas acordo,
encontro-te de novo junto a mim,
dentro de mim, rodeias-me, a meu lado,
invades-me, afogas-me, diante
dos meus olhos, em frente à minha vida,
por sob a minha sombra, nas entranhas,
em cada golpe do meu sangue, entras
por meu nariz quando respiro, vês
pelas minhas pupilas, lanças fogo
nas palavras que minha boca diz.
E agora que faço?, como posso
desterrar-te de mim ou adaptar-me
a conviver contigo? Principie-se
por demonstrar maneiras impecáveis.
Bom dia, tristeza.



Amalia Bautista

**

A Música Que Toca Sem Parar:
Zeca Baleiro, se sua autoria, Meu Amor meu Bem Me Ame.

26 comments:

: A Letreira said...

Oi moço. adoro o quarteto (Braz, Salmaso, Mario e o Pinheiro). Atualmente, creio que são os melhores no Brasil... e o Mário... ah, ele pode não ter a belezura clássica, mas quando canta se alumia.. é lindo.

Unknown said...

Eu fico imaginando o poema na voz da outra Amália, a dos fados. Cada cadinho de tristeza é soluço da alma. Hoje é domingo (lembro de Caetano oh sunday, monday autumn pass by me) abração

Marcantonio said...

Que coisa! Ao que parece ela nunca vai embora; dá, quando muito, uma volta no quarteirão para um banho de sol, ou, à noite, para estranhar os portões alheios. Quando surpresos percebemos a sua ausência, já a estamos convocando ao retorno. Suas raízes elásticas tornam impossível o seu desterro definitivo. Retorna de algum breve exílio renovada e, talvez, mais sábia.

Um abraço.

Jorge Pimenta said...

Adeus

Talvez não saiba
escrever a palavra "adeus"...
ao traço frágil
sobrepõem-se
matizes coloridos
que compelem
o aparo e a memória
para a doçura dos frutos
que mordemos

Talvez não saiba
escrever a palavra "adeus"...
temo
o sol sem luz
e o luar sem pausa
que se escondem por detrás dos caracteres

Talvez não saiba
escrever a palavra "adeus"...
ainda que seja cedo para o mundo
e talvez tarde para nós...

Jorge Pimenta

Júlio Castellain said...

...
Tudo maravilha.
Letrinhas e música.
Abraços, amigo Roberto.
...

.maria. said...

o teu o nosso mau gênio; o teu o nosso adeus. é suave e tórrida companheira, essa insistente tristeza. abraço.

nina rizzi said...

nossa, o último verso dá uma quebrada absurda. e boa, claro, mesmo porque me lembra a minha própria voz a entoar "bom dia... trissssss-teeeee-zaaaaaaa..."

eu acrescentaria nos versos dela (porque posso ser muito pretensiosa): e gira luas dentro de mim, roda bicicletas, joga hóckey"... essas coisas absurdas que a gente pensa numa madrugada qualquer...

hare krishna? rsrsrs... desespero mesmo. lembra da calcanhotto que até destrói os discos. dizem que ela é doida mesmo, vai aos shows da roro e dá bafão. credo.

beijos.

Primeira Pessoa said...

moça letreira...
mario gil quase e matou quando ambos tinhamos 18 anos de idade e serviamos o exercito em juiz de fora, minas gerais.

não acredita?
pergunta pra ele...
rs


mas o quarteto é fantástico, sim.
sou fã dessa " mafiazinha"...

e o renato é mais que um irmão pra mim.

beijo domingueiro do
roberto.

Primeira Pessoa said...

assis,
acordei
com " O Ciume", de caetano (a parte de " tantas almas penduradas no cortume") me perambulando...

essa amalia aí é espanhola. até poucos dias atras eu também a imaginava lusitana.
e, depois que cê falou, readequei até o sotaque.


e ficou bonito.
e dolorido.

Primeira Pessoa said...

julio, meu principe...
te receber aqui, é sempre eum luxo.

que bom que gostou da " combinação" .

abraço domingueiro do
roberto.

Primeira Pessoa said...

nina,
veja no youtube uma entrevista da ro-rô pra hoje deputada cidinha campos, falando dos bafões com zizi possi...

desimportante, eu sei. mas é um registro.

e eu ja to pra lá de marrakesh.
pelo menos dez quilometros pra lá de casablanca, sei que já tô...

gin tonicas. cubas-libres. e , só agora meus amigos começam a chegar...

cerveja?
vinho?

foda-se!
fodo-me?...rs

a ressaca dirá.

e fico nesta peleja: cozinho, bebo, desço, posto... subo... enquanto conseguir me manter lúcido.
tô pela bola sete, confesso.

ah, suas intervenções no poema são bastante peculiares...rs

temos, teremos, licença poética?

amalia bautista que nos perdoe.

beijão domingueiro procê, poetinha mineiro-paulista-cearense...

dru-monidiana-mente.

R.

Primeira Pessoa said...

maria,
um dia diremos bye-bye à tristeza.

ela não larga do meu pé, mas a driblo, o melhor que consigo.

um dia ela se esquece de mim e eu sigo.

pra shangrilá.

abraçao destes de domingo, do

roberto.

Primeira Pessoa said...

marcantônio,
se bobear, driblar dona tristeza, é a receita pra uma vida feliz.
será que é isto?

quero ser garrincha, se assim for.

e te abraço, porque sei que você me entende e me é solidário.

domingo de futebol na tv por aqui.

abração,
r.

Anonymous said...

Quase um monólogo frente ao espelho...
Beijo, Roberto.

Tania regina Contreiras said...

Estou assinando embaixo dos comentários todos. Domingo que finda (ai, que bom!...) e eu aqui solidária com tudo que foi dito e sem nada meu pra dizer. Em fim de domingo já não se diz nada mesmo, vou ouvindo o Baleiro...e concordando que todo mundo tem mistério.

Abraços

Zélia Guardiano said...

Show!
Eu, que divido quarto-cozinha com a tristeza há várias décadas( reservo-me o direito de omitir o número delas, até pra preservar seu blog de algum eventual comentário do tipo "isto está parecendo um asilo"...), li e reli o poema até que meus olhos ameaçassem saltar das órbitas... Funcionou , no meu caso, como se fosse um bálsamo, cuja bula não contivesse nenhuma ameaça de efeito colateral e/ou reação adversa. Lindo e leve...Deixou-me com uma tranquilizante sensação de que não estou só nesta encrenca. Sugeriu-me divisão da carga... Acenou-me com a possibilidade de estar eu incluída numa confraria, numa corporação, numa comunidade , num sindicato, numa congregação de tristes.
E ainda, pra completar, você me coloca o Zeca Baleiro cantando justo Meu Amor Meu Bem Me Ame... Terminei a leitura "com vontade danada de mandar flores ao delegado, de bater na porta do vizinho e desejar bom dia, de beijar o português da padaria"...

Um abraço

PS- Você poderá considerar paradoxal o fato de um texto versar sobre a tristeza e provocar euforia... Idiossincrasia! :)))

Outro abraço

Primeira Pessoa said...

zélia,
o texto fala da tristeza, mas a poeta foi feliz ao concebê-lo.
deve vir daí a sua alegria. essa alegria que se repete sempre que você depara um poema bonito (falando do que for), de uma bela canção...

é um lance meio kármico, essa relação das pessoas encantadas pelas palavras e estas.

beijão procê,
roberto.

Primeira Pessoa said...

tânia,
sim, concordo com você: todo mundo tem mistério.

mas todo mistério tem sua chave.

e esse é um novelo sem fim.

abração do
roberto.

Primeira Pessoa said...

juliana,
eu já sentia sua falta por aqui.
estive vendo suas fotos esta semana.

trem medõim de bunito, sô. gosto do seu jeito de olhar as coisas.

a propósito, tirei uma fotos em ouro preto, vou ver se acho uma maneira de postar aqui. maquininha "xereta", olhar de amador. mas, ainda sim, um jeito de olhar as coisas.

beijo grande procê,

R.

Primeira Pessoa said...

jorge, meu poeta em braga...
escrever ou dizer adeus, a palavra, e o que ela representa e decreta.

a dor de quem fica é invariavelmente maior que a de quem parte.


não conheço adeus sem dor.
nasci com olhos de estação rodoviária.


abração, meu poeta

R.

Juan Moravagine Carneiro said...

A dor presente mesmo na ausência...O olhar para um retrato, para um pente que tal pessoa hoje ausente usava, pegar ele na mão e tentar sentir seu toque nele...a cama vazia...A tristeza pode se materializar de diversas formas...Todavia, quando é pela música, pela poesia...é muito bom!


Belo espaço


abraço!

Primeira Pessoa said...

juan,
a tristeza é irmã da melancolia, filha da dor.
e são parentes muito próximos de todos nós.

já notou?

abraço de final de domingo do
roberto.

Anonymous said...

Lindo!

Beijos

Primeira Pessoa said...

e triste, né, laura?

e inventaram de colocar uma generosa pitada de beleza, na tristeza...



fica bem em poesia...rs

ana p said...

Sabes que adoro essa senhora...
Bj

Primeira Pessoa said...

somos dois, magnólia.
aliás, somos muitos!

beijão,
r.