Monday, December 7, 2009

Definitivo

Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas,
mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.

Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos
o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções
irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado
do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter
tido
junto e não tivemos,por todos os shows e livros e silêncios que
gostaríamos de ter compartilhado,
e não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.

Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas
as horas livres que deixamos de ter
para ir ao cinema, para conversar com um
amigo, para nadar, para namorar.

Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os
momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas
angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.

Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.

Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo
confiscado de nós
, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam,
todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.

Por que sofremos tanto por amor?
O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma
pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez
companhia por um tempo razoável,um tempo feliz.

Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um
verso:

Se iludindo menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida
está no amor que não damos
, nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do
sofrimento,perdemos também a felicidade.


A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional...

Carlos Drummond de Andrade

6 comments:

Anonymous said...

De quando se cabe as dores, contidas em todas as palavras...

é este o sofrimento do Outono
o primeiro frio e a flor adiada
para um tempo que já não há-de
ser meu

Rosa Alice Branco

Do lado esquerdo do peito, bela opção em postar Drummond.

Rute Bráz.

Primeira Pessoa said...

Drummond é o poeta maior na minha mitologia pessoal. Eu, que gosto de tanta coisa, tenho-o no lugar mais alto da prateleira.
Nós, os mineiros, temos grande orgulho dele.
Obrigado pela visita ao blog. Volte sempre.
Abraço e amizade do
Roberto.

ana p said...

...Todo o sentimento do mundo...

Primeira Pessoa said...

Magnólia, Drummond é bem isto. Ele dizia sempre isto, de ter duas mãos e todo o sentimento do mundo.
é ou não é bonito?
drummond é, na minha opinião, o maior poeta brasileiro de todos os tempos.

abraço grande do
roberto.

líria porto said...

e eu concordo! é o maior de tantos!
besos

nirvana
líria porto

quintana e drummond
estavam lá na rua
quando a lua veio

então carlos falou
que bacana - senta-te ali
no colo de quintana

e a lua se sentou

*

besos

Primeira Pessoa said...

que poema mais lindinho, líria...
como falam as moças aí em bh: bunitim dimais!

ó, de sua lira, líria, só saem belas canções!
obrigado por tingir de azul esse cantinho aqui.
abraços,
roberto.