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1.
Não há mais nenhum nome. Depois de ti
destinaram-me apenas corpos que não amei,
rostos onde não quis pousar os olhos por temor
de os fixar, mãos que eram sempre as sombras
das tuas mãos sob os lençóis. Nunca sequer as vi,
nem toquei esses dedos que, no escuro, celebravam
na minha a tua carne — se outro motivo os trazia,
por mais vago, também não quis ouvi-lo, nunca
o soube. Depois de ti, depois dos outros homens,
é ainda o teu nome que digo, e nenhum outro.
2.
De que me serviu ir correr mundo,
arrastar, de cidade em cidade, um amor
que pesava mais do que mil malas; mostrar
a mil homens o teu nome escrito em mil
alfabetos e uma estampa do teu rosto
que eu julgava feliz? De que me serviu
recusar esses mil homens, e os outros mil
que fizeram de tudo para parar-me, mil
vezes me penteando as pregas do vestido
cansado de viagens, ou dizendo o seu nome
tão bonito em mil línguas que eu nunca
entenderia? Porque era apenas atrás de ti
que eu corria o mundo, era com a tua voz
nos meus ouvidos que eu arrastava o fardo
do amor de cidade em cidade, o teu nome
nos meus lábios de cidade em cidade, o teu
rosto nos meus olhos durante toda a viagem,
mas tu partias sempre na véspera de eu chegar.
Poema de Maria do Rosário Pedreira
A Música que Toca sem parar é "Cálice", parceria de Chico buarque e Milton nascimento, na voz de ambos.
Ilustração de Nicoletta Ceccoli
14 comments:
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Belíssimo.
Abraços, Roberto.
...
Caro amigo.
As vezes parece que o amor que desejamos,
está sempre 10minutos a nossa frente.
Que os sonhos te acompanhem sempre.
julio,
a redescoberta da poesia tem sido algo muito importante pra mim.
fico feliz que tenha gostado do poema.
abração do
roberto.
aluisio,
achei o poema muito bonito. e faz parte de um "cardume" de grandes poemas (ao meu sentir)que tenho colocado no embornal de uns tempos pra cá. faz parte desse meu momento de redescobrir a beleza das palavras e do meu descomprometimento com os fatos noticiosos que representaram meu ganha-pão cotidiano ao longo dos últimos 20 anos.
sim, que nossos sonhos caminhem de mãos dadas conosco.
hoje e sempre.
abração do
roberto.
Roberto,
huMILdemente confesso que não conhecia a poeta, mas a partir de agora Maria do Rosário já é amor antigo... fiquei apaixonado pra sempre: passado, presente e futuros!
obrigado pelo presentaço,
da rama.
ramúcio,
eu também não a conhecia até pouco tempo atrás o que me faz pensar que ainda temos tempo.
ontem pedi alguns livros de mia couto e eugénio de andrade na submarino. e minha cunhada chega de portugal no domingo trazendo, na bagagem, alguma coisa de maria gabriela llansol e al berto, dois novos amores meus.
redescobrir a poesia ta me fazendo enorme bem.
beijão,
roberto.
tenho até raiva dessa maria - queria escrever como ela, pô!!!!!!!!!
logo hoje que estou triste - e nem sei por quê - leio esses versos assim tão lindos...
besos
Poema, música e ilustração se eclipsam e lançam fogos de artifícios. Muito obrigado, mais uma vez, pela deferência em meus quebrantos. Abraços!
inveja é uma merda (rs)...
mas essa Maria é fueda... jovem, ainda... escreve muitíssimo bem.
ei, lírica, desintristeça-se... tristeza dá acne.
beijão,
R.
seus encantos, Nanini... seus encantos...
abraço você,
amizade do
Roberto.
Obrigada pela partilha, Roberto.
Não conhecia,mas vou conhecer... Da música nem preciso falar,Chico é Chico! rsrs
Um abraço,
Linda Simões
linda, o chico é o francisco...rs
ou será o contrário?
e essa maria é "predreira"... gosto muito dela, tão jovem, tão funda.
abração do roberto.
Mas tu falaste de repente do meio do teu sono, estendeste o braço na minha direcção e chamaste baixinho. Chamaste duas vezes. Ou três. E sempre tão baixinho. Mas nenhuma foi pelo meu nome.
- Maria do Rosário Pedreira
Beijo
mais um belo presente, magnólia.
a maria do rosário é pedreira!
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