
o poema
Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne.
Sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora existe o mundo. Fora, a explêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
e a miséria dos minutos,
e a força sustida das coisas,
e a redonda e livre harmonia do mundo.
- Em baixo, o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
-E o poema faz-se contra o tempo e a carne.
Herberto Helder
O Poema (excerto)
10 comments:
A construção do poema dita de forma única, esta de Herberto Helder...
L.B.
Outro grande poeta...
Beijo Roberto
Roberto, esse Herberto Helder é poeta portuga dos bons.
Belo, belo, "O Poema" postado no Primeira Pessoa.
"E o poema cresce tomando tudo em seu regaço. E já nenhum poder destrói o poema."
Comovente.
Ótimo saber que você está de volta.
Forte abraço.
Rapaz que galera da pesada, essa reunião em BH deve ter sido o bicho. Coisa boa como esse poema do Herberto. Abraço.
lidia,
postarei mais HH aqui nesse espaço. me aguarde... to nas garimpagens!
abração do
roberto.
magnolia,
ta vendo como to aprendendo?
mais e melhores...
poesia, sempre.
abração do
R.
Paulo Poeta,
to de volta, sim. E é bom demais encontrá-lo aqui, na minha volta.
abraço do seu amigo
roberto.
assis,
e a líria recitou bonitinho demais. fiquei feliz demais por tê-la lá, conosco. meus amigos são desbocados, bocas-sujas...
mas ela parecia peixe n´água... nem chegou a corar...
demos boas risadas... comemos boa comidinha... paulinho levou uma gameleira (pinga lá de pedra azul) e o pau comeu.
foi uma noite daquelas de emoldurar e pregar na parede.
na próxima quero-te cá, entre seus iguais.
cê topa?
beijão do
roberto.
Helberto Helder em sua forma plema. Por aqui há os máximos sopros das mais variadas poéticas que nos permeiam, nos circundam e nos atravessam com seus odores de rio ao relento e rumores que passam a ser uma alma (ou uma lama) ao lado de nossa alma (ou brejo). Abraços!
Nanini,
bom demais te reencontrar por aqui.
Eu também voltei.
Abração do
Roberto.
Post a Comment