Wednesday, February 24, 2010

A Música Que Toca Sem Parar

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Junho

(Geraldo Valença e Alceu Valença)

Eu sei que é junho, o doido e gris seteiro
Com seu capuz escuro e bolorento
As setas que passaram com o vento
Zunindo pela noite, no terreiro
Eu sei que é junho!

Eu sei que é junho, esse relógio lento
Esse punhal de lesma, esse ponteiro,
Esse morcego em volta do candeeiro
E o chumbo de um velho pensamento

Eu sei que é junho, o barro dessas horas
O berro desses céus, ai, de anti-auroras
E essas cisternas, sombra, cinza, sul

E esses aquários fundos, cristalinos
Onde vão se afogar mudos meninos
Entre peixinhos de geléia azul
Eu sei que é junho!

17 comments:

Paulo Jorge Dumaresq said...

Letra poema de inspiração junina e divina. Alceu sabe das coisas e você também Roberto. Forte abraço.

Primeira Pessoa said...

paulo poeta,
geraldo valença é tio de alceu. dizem que ele tem um baú cheínho dessas belezuras.

abraço de amigo.
R.

nina rizzi said...

adoro esses dois, mais o zé. ô trio retado.
beijo.

a propósito, a música naquele dia, fela e miles, tava era no meu fone. já percebeu moça mais despistada que eu? rsrsrs

beijo.

Primeira Pessoa said...

nina,
acho que ce ta falando do geraldinho azevedo...
esse geraldo é outro, tio de alceu, poeta pernambucano.
aliás, geraldinho azevedo também é poeta e também pernambucano...
tantos geraldos... muitos deles, poetas...

e arretadíssimos.

romério rômulo said...

ótima letra/poema, roberto.
um abraço.
romério

Primeira Pessoa said...

romério,
vindo de quem entende do riscado, só me resta um sorriso feliz.
sua presença aqui, sempre uma alegria.

te vejo em OP, no segundo semestre.

abração do
r.

Fernando Campanella said...

Maravilha, o Junho, letra que é poesia pura, metáforas da maior qualidade. A música é demais também. Fiquei conhecendo aqui, obrigado, Roberto.

Primeira Pessoa said...

fernando,
eu ja sentia a sua falta.
quero te mandar umas músicas, véio.
posso?

abs,
r.

Sonia Parmigiano said...

Roberto,

Vander Lee tem uma alma poética que comove em cada sílaba...são belos poemas em forma de canção...

Alceu Valença, que poeta genial!

Grata por sua visita.Adorei estar aqui!

Grande abraço,

Reggina Moon Poesias
www.versoeprosapoemas.blogspot.com

Fernando Campanella said...

Oi, Roberto, sempre curti muito o Alceu, e, olha, não há preconceito contra sotaques não. Vou te confessar, rapaz, tem uma música do Zé Ranalho, o Chão de Giz, ah, e tb o Avorai, que me arrepiam, adoro o Fagner, o Zeca Baleiro, e adoro o sotaque. Vc sabia que os nordestinos trazem em sua música toda uma herança de música portuguesa medieval, renascentista? Não é pouca coisa não, véio.
Grande abraço.

25 de fevereiro de 2010 08:05

Primeira Pessoa said...

reggina,
vander lee tem um jeito direto de levar seu recado. suas firulas fazem pouca curva e acho que vem daí a identificação cada vez mais crescente das pessoas com seu trabalho.
não sei se você sabe, coincidência das coincidencias, a esposa dele também se chama regina (souza), e é uma excelente cantora.

sou fã de vander lee. escuto sempre.

Primeira Pessoa said...

fernando,
esse lance de sotaque é engraçado e eu falava exatamente sobre isso com o geraldinho azevedo.
ele, que mora no rio ha mais de 30 anos e ainda conversa como se ainda vivesse em petrolina. a turma dele (todinha!)fala e canta com o sotaque de onde veio.

gosto dos sotaques brasileiros. todos eles. e me divirto escutando as pessoas de diferentes lugares, soprando sílabas de maneiras diferentes, mas iguais.
fernando, somos contemporâneos. crescemos escutando as mesmas coisas.


e isso garante parte da empatia (rs).

abração do
r.

Cosmunicando said...

Roberto,
obrigada pela visita, volte sim!
eu voltarei por aqui também.
abração

Anonymous said...

R.
Linda poesia... deu vontade de mergulhar nesse baú do velho Geraldo...
Ultimamente me reencontrei com a poesia de Manoel de Barros e me reencantei como não poderia deixar de ser.
Como bem disse o Seu Mané de Barros "Poesia é voar pra fora da asa..."
Ando meio poesiólatra.
Beijos saudosos
Diubs

Primeira Pessoa said...

Cosmunicante...
ja bebi meu cafezinho la no seu cantinho.

seja bem vinda. a casa é sua.
Abraço grande do
Roberto.

Primeira Pessoa said...

diubs, ando com uma antipatia danada desses seu excessos pantaneiros... daqui a pouco, ce gosta mais de mané que de drummond (rs)...

ciumeira à parte, mané de barros é fodaço!
e to achando um barato essa estória de te ver redescobrindo a poesia.

diubs, a vida sem poesia não tem a menor graça.

putz... tao bom te ver por aqui!
beijão,
r.

líria porto said...

depois do alceu e pra exagerar o teu inferno, lá vai:

o visitante
líria porto

já o inverno me rodeia
tece sua teia branca
finca estaca lá na porta
entra por baixo das telhas
reclama lenha coberta
arranha-me a pele

eu quieta no meu canto
ele insiste pede leite
uma dose de conhaque
chá de cravo de canela
chocolate sopa quente
agasalho meias vela

o inverno veio cedo
com seus braços magricelas
respiração ofegante
pouco cabelo
misérias

*

besos