Tuesday, February 2, 2010


















Isabella Sonhava

Será que ela tinha uma boneca Hello Kitty?
Assistiria Bob Esponja na televisão?
Gostaria de A Bela e a Fera e da Pequena Sereia?
Qual seria a sua favorita fábula infantil?
Será que seu cabelo ficava bonito amarrado por laço de fita?
Usava trancinhas? Tererês?
Será que ela gostava de sorvete de morango?
Será que comia brócolis?
Do que gostava de brincar?
Amarelinha, videogame, bonecas de pano – às quais tratava como pequenas filhas e lhes dava amor e cuidados -, ou esconde-esconde?
Pedra, papel e tesoura?
O que gostava de cantar Isabella?
Ciranda-Cirandinha? Twinkle twinkle little star?
Nos seus sonhos, feitos de inocência e nuvens, será que ela conversava com animais de estimação?
Falaria com anjos?
Teria amiguinhos imaginários, daqueles que só as crianças vêem e que os adultos dizem ser o anjo da guarda?
Nos seus pesadelos, feitos de monstros de outras dimensões e bruxas malvadas, quem era o herói que a salvava?
O Pai? O amiguinho imaginário? Ou despencaria de um precipício até beijar o chão?
Será que Isabella acordava chorando no meio da noite?
Será que sorria?
Quando nasceu o seu primeiro dentinho?
Quando caiu o primeiro?
Gostaria de cães e gatos? Teria um? Gostaria de ter um?
Amaria passear pelo zoológico?
Gostaria de livros, de desenhar? Gostaria de flores?
Qual a flor favorita de Isabella Nardoni?
Cravo, lírio ou jasmim?
O que desenhava Isabella Nardoni?
Os irmãos? Bichinhos? Criaturas como as dos cartoons?
Qual era a sua cor predileta?
Azul? Rosa? Cobalto? Carvão?
Qual o tamanho de seus sapatos? Já teria pintado suas unhas?
Será que algum dia mergulhou no oceano? Teria gostado do carinho das águas deslizando pelo corpo?
Gostaria de mar e brisa, de vento e verão?
Seria fogo ou água, essa menina tão linda?
Qual seria o seu signo no horóscopo chinês?
O que lhe reservaria o futuro?
Na adolescência iria ter acne no rosto? Sardas quando exposta ao sol?
O que estaria escondido nas cartas da cartomante, ou nas linhas desenhadas na palminha de sua mão?
Quando se apaixonaria pela primeira vez? Estaria, em seu futuro, reservado um grande amor?
Que profissão teria a adulta Isabella Nardoni?
Médica-veterinária? Trabalharia num banco? Venderia passagens aéreas para ilhas paradisíacas e pacotes para a Disney? Seria dona de casa?
Se casaria? Teria filhos?
Ninguém sabe. Ninguém saberá.
Isabella Nardoni voou.
Foi atirada do 6º andar do edifício em que vivia com o pai, a madrasta e dois irmãos.
Saiu pela janela e voou. Virou anjo.
Como aqueles com os quais conversava nas noites em que sonhava.
Sim, Isabella sonhava.

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10 comments:

Anonymous said...

Escrevi o poema "Não pare a menina" em homenagem a ela também.

História inacreditável, de tão absurda...

Triste e belo o seu texto dedicado a ela.

Abraço grande para ti.

Unknown said...

Cante lá que eu canto cá. Patativa deu palavras a muita voz. Você deu voz a alguém que fizeram calar. Abraço.

Anonymous said...

Arrepiei-me Roberto. Bem mais que uma vez.
Lindíssima crónica.
Custa crer que seja real...

Abraço,
Sofia.

Fernando Campanella said...

Já estava com saudade de vc, meu amigo, sumiu.
Sim, concordo com a Lara, belo e triste texto, quantas vidas ceifadas pela estupidez humana. O noticiário tem sido um inferno dantesco, ai dos delicados, como mais ou menos dizia Drummond, viver dói.
Grande abraço, feliz com tua volta, gostei muito

Muito bom o Patativa do Assaré. Poesia, sempre, esteja onde estiver, venha de onde vier.

Anonymous said...

Não conheço a história da menina, mas estava a ler o seu texto tão entusiasmada, que quando cheguei a "Foi atirada do 6º andar do edifício em que vivia com o pai, a madrasta e dois irmãos." não consegui deter as lágrimas que começaram a cair.

Abraço

Primeira Pessoa said...

Lara,
mande-me o poema que escreveu pra Isabella?
Fiquei com imensa vontade de ler.
Abração do Roberto.

Primeira Pessoa said...

Fernando,
ando passeando aqui pelas terras altas de Minas Gerais.
Bom te ler por aqui.
Abração do
Roberto.

Primeira Pessoa said...

Sofia,
a natureza humana é tão difícil de entender, né?
no dia que não nos chocarmos mais, terá se perdido toda a esperança.

eu resisto, Sofia... Eu resisto...

Abração do
Roberto.

Primeira Pessoa said...

Assis,
eu estava no Ceará quando da morte do poeta. Nunca vi algo igual, tamanha a comoção.
Ele continua en-cantando de lá...
Enquanto nós cantamos de cá.
Tão bom te ter por aqui.
Roberto.

Primeira Pessoa said...

Laura,
o pai e madrasta de Isabella Nardoni estão presos, aguardando julgamento pela morte da menina.
O crime chocou (e ainda choca) o Brasil.
Tenho imensa dificuldade de aceitar certas coisas... fico naquela retórica, naquela dízima periódica... naquele novelo sem fim...

Consolo-me na esperança de um futuro de paz.
abração do
roberto.