Tuesday, January 5, 2010













Com Trauma, Sem Prêmio


O governador do Rio de Janeiro anunciou hoje que pode se consumir um bilhão de reais para a renovação do Maracanã. Fiquei pensando com meus botões nesse absurdo de dinheiro e no que poderá se transformar o maior estádio do mundo, caso se gaste nele cada centavo, e o dinheiro seja realmente utilizado na obra e não vá parar em bolsos de empreiteiros espertalhões e políticos corruptos.
A arena de Newark, considerada uma das melhores e mais modernas do país, custou 310 milhões de dólares. E é uma beleza.
Moderna, limpa, organizada, higienizada, segura, mesmo tendo sido fincada numa localização que muitos apostavam que não daria certo.
Enganaram-se, os que torceram contra: a arena de Newark é um retumbante sucesso de publico e crítica. Estive lá ontem, assistindo um jogo de hóquei.
Talvez eu esteja mal acostumado.
As arenas americanas são maravilhosas, limpas.
Frequentei durante anos a arena do Meadowlands, em East Rutheford, considerada pelos especialistas como uma das piores do país. E lhes digo: se é a pior, imagino como possam ser as melhores.
No Madison Square Garden, em Nova York, apesar de se tratar de um complexo também bastante antigo, as condições são similares, senão melhores.
Urinóis e vasos sanitários, devidamente sanitizados, fazendo jus ao nome. Tudo funciona. E bem.
Pessoas com desajustes intestinais podem ir sem susto.
Não terão um ataque de vômito, caso esteja no meio de uma intempérie dos intestinos.
Sempre fui ao banheiro dos Meadowlands, sem me atormentar. E saí de lá absolutamente aliviado.
Nunca fui ao glorioso estádio carioca, por absoluta falta de oportunidade.
É um dos poucos estádios do mundo que realmente tenho vontade de ir.
Acho que apenas Wembley, em Londres, possui uma mística parecida. São dois templos sagrados, para os amantes do futebol.
Tomara que fique ‘show de bola’, o nosso Maracanã. E que fique à altura de seu nome.
Falávamos de estádios em Belo Horizonte, quando de minha última passagem por lá, e eu reclamava das condições dos banheiros do Mineirão. Brinquei que o governador Aécio Neves daria um Fiat zero quilômetro para a primeira pessoa que fizesse o “número dois” num dos banheiros destinados à torcida.
Juan Pablo Sorín, craque que já pisou os gramados mais sagrados do futebol, tratou de aclarar a situação: não é apenas o Mineirão que possui banheiro naquelas condições de higiene e conservação.
- Se você for ao Giuseppe Meazza, em Roma, é a mesma coisa -, disse ela com a tranquilidade que lhe é peculiar.
Sorin jogou na Espanha, na Itália, na Alemanha, Itália e Brasil. E já viajou o mundo inteiro defendendo as cores dos clubes que compõem seu currículo ou pela seleção argentina de futebol. Ele, obviamente, muito melhor do que eu, tem uma visão mais apropriada do quadro.
Alguns dias depois do encontro com Sorín, no meu ultimo Atlético x Cruzeiro, comi o famoso feijão tropeiro do Bar 13. Por seis reais, servem uma montanha de arroz, tropeiro, couve picada, bisteca de porco e um ovo frito.
Apesar de acostumado às iguarias da robusta culinária mineira, não imaginei que o legendário tropeiro do Mineirão fosse me derrubar. Mas derrubou.
Foi muito mais do que uma ode à escatologia.
Foi uma das experiências mais humilhantes de minha vida.
Um odor que não consigo descrever - e que não me sai das narinas tanto tempo depois -, provavelmente de urina de anos pichando as paredes do reduto solitário das necessidades fisiológicas, e um papel higiênico molhado sabe-se lá por qual substância líquida, e com a maciez de uma lixa destas usadas pelos marceneiros.
Na porta do banheiro, escrito a caneta e uma “tinta” marrom que imaginei não ser pasta de amendoim, ofensas a torcedores adversários, às mães destes e filosofias baratas não necessariamente apropriadas sequer à porta de banheiros de estádio de futebol.
Saí de lá completamente traumatizado, com o estômago ainda mais revirado do que entrei.
E sem o meu Fiat.


Foto de um dos banheiros do Mineirão, e que apareceu esta semana numa matéria sobre os banheiros dos estádios brasileiros, no portal Terra.

6 comments:

Úrsula Avner said...

Olá meu caro jornalista e escritor, prazer em conhecer seu blog e em poder contatá-lo. Também sou mineira, mas nasci e moro em B.H e é sempre bom conhecer novos talentos das Minas Gerais... Agradeço sua amável visita ao meu blog de poesias e seu comentário tão gentil que muito me alegrou. Volte sempre que desejar. Desculpe-me a demora em contatá-lo mas as festas de fim de ano me absorveram bastante. Feliz 2010, pleno em realizações ! Um abraço.

Úrsula

Primeira Pessoa said...

obrigado, ursula.
nós, os mineiros, nos entendemos bem, né?
eu também não nasci em bh. nasci no vale do rio doce, mas meus pais vivem lá. e bh é, pra mim, o umbigo do universo.
apareça sempre.
gostei de te ver por aqui.
abraço grande do
roberto.

Unknown said...

Cara, isso é que é uma epopéia trágica. Não quero nem imaginar o desatino. Mas é um triste retrato das nossas casas de diversão pelo país, até mesmo em restaurantes acontece. Se vc for ao banheiro não almoça. Abraço.

Primeira Pessoa said...

assis,
o sorín me disse que é assim nos maiores estadios da europa. e ele manja.
aqui nos eua, garanto que não.
vou a jogos de tudo quanto é esporte (mesmo beisebol, que demorei 20 anos pra entender as regras e que não gosto muito).
um grande amigo meu, carlos borges, era diretor da globo aí na bahia, fã do vitória, se diverte com essas estórias.é que ele só deve ir no banheiro de sua própria cas...rs
eu gosto de te ver sempre. por aqui, por aí... por acolá....
abração do
R.

nina rizzi said...

insanidade gastar tanto dinheiro com o maraca, mesmo sendo o maraca.

a história do banheiro me lembrou que, em 2004, na conferência nacional terra e água, em brasília, exatamente no estádio nilson nelson, os banheiros não eram suficientes pra nos comportar, cerca de 10 mil pessoas. pra piorar, a comida que serviam, acho que com muito salito (argh), fez mal geral. geral foi o piriri... era gente se aliviando em todo canto, literalmente. uma tragédia.

é mole? é bem, mais ficou mais: o evento que durou 1 semana, não tinha suporte algum, nem mesmo coleta de lixo, as imediações do estádio e dentro, nossa, uma lixaiada dos diabos. a coisa só melhorou quando ameaçamos ir até o palácio do planalto fazer furdunço...

melhorou, mas nós fomos mesmo assim.. hehehe...

sobre os esportes, também iria ver todos se pudesse. adoro futebol, mas as gatinhas do volei de praia... hehehe...

um cheiro.

ps: vai pro mercado central sentir uns cheiros, né? e dá pra fazer uma curva nesse teu mapa e experimentar as delícias da cozinha vegetariana?

Primeira Pessoa said...

nina,
o kledir tentou me convencer ao vegetarianismo. deu certo não.
fico medo de ficar verde, me transformar no incrível "rouco".
a coisa mais próxima de um vegetal que como, nessa vida, é maçã de peito...rs.. carne de segunda, mas gostosa demais da conta.

essa estória dos banheiros é uma catástrofe, né? e eu tenho mania de banheiro. às vezes passo um perrengue dos infernos.
mas, como diria o filósofo kleber bambam... "faiz pairte"...
abração do
roberto.