Wednesday, March 17, 2010














De veroncas, restojos e caçuletas

Tadeu Martins é um grande sujeito das Minas Gerais, mais exatamente de Itaobim, cidadezinha do Vale do Jequitinhonha, fincada às margens da BR-116, a velha Rio-Bahia.
Trata-se de um amigo dos bons, daqueles que a gente coloca na prateleira de cima e que, à mesa, tem lugar cativo do nosso lado direito.
Professor de química em Belo Horizonte, cidade para onde se mudou após completar o ginásio em Teófilo Otoni, fez nome como funcionário da Secretaria de Turismo de Minas Gerais, tendo ajudado a criar vários festivais de música em todo o Estado. Hoje é diretor de operações da Belotur e, entre muitas outras façanhas, transformou Newark e Belo Horizonte em cidades irmãs.
Seu Vale do Jequitinhonha é uma das regiões mais ambíguas de Minas Gerais e do Brasil.
O povo é manso, com vocação para a arte, devotado, seresteiro, escultor do barro, adepto das folias de rei e do congado.
A terra onde pisa, nem tanto.
De suas entranhas ainda hoje saem pedras preciosas e semi­pre­ciosas, mas a riqueza quase que pára por aí.
O Vale é seco, um desperdício de terra árida e intrigantes contrastes.
Cortado pelo leito caudaloso do rio que lhe empresta o nome, o Jequitinhonha é um tremendo mosaico de grandezas e misérias, com sua gente valorosa dando alento ao mundo.
Os cantores Tadeu Franco, Paulinho Pedra Azul e Saulo Laranjeira e os poetas Gonzaga Medeiros e Saldanha Rolin são algumas destas pessoas de grande valor.
O poeta e cordelista Tadeu Martins é outra “onha desse Jequi”.
Lendo seu livro Jogando Conversa Fora - esse delicioso exercício cordelista -, tenho muitas surpresas boas. Numa delas, Tadeu mostra ao mundo o dialeto “jequitinhonhês”, que nada mais é que o jeito de sua gente falar.
De seus versos tirei algumas curiosidades, que divido aqui com vocês:

“Resfriado é difruço
Nome de rã é caçota
Quilo e meio pra nós é prato
E carro de mão é galinhota
Derrancado é estragado
Inginhar é encolher
Crocodilar é trair
Inricar é enriquecer
Conversa fiada é ingrisia
E bater caçuleta é morrer
Zanzar é andar sem rumo
E obrar é defecar
Apurado é caboclo nervoso
E ouvir é assuntar
Trabalho pesado é barrufo
E escrever é assentar
Veronca é uma moeda qualquer
Ana é o apelido de um cruzeiro
Nica também é moeda
E puba quer dizer dinheiro
Doutor é o nome do urinol
E goró é caboclo roceiro
Restojo é o mesmo que resto
E ruir é destiorar
Visage é assombração
E zunir é arremessar
Nascida é nome de furúnculo
E tinir alguém é matar
Gibeira é bolso da calça
Que nunca anda lotado
Ficar pensando é bistuntar
Cubar é olhar de lado
Desinxavido é inexpressivo
E caboclo elegante é espigado
Arrigestir é resistir
Melar quer dizer buzuntar
Ajutório é o mesmo que ajuda
Cobrir o corpo é ribuçar
Fôrgo é o apelido do fôlego
E dar fôrgo morto é roubar
Burriscar quer dizer rabiscar
A leitura é sabedoria
Coxé é quem manca muito
Encheção de saco é livuzia
Pipôco é o mesmo que estrondo
E cartilogência é categoria
Tiçar a mão, picar o tapa
Tudo significa bater
Pêia é caboclo esperto
Incapaz de esmorecer
Deu upoa é ficou difícil
Mas foi fácil você entender”

Entendeu?
Nem eu.



A Música Que Toca Sem Parar:
Paulinho Peadra Azul canta Jequitinhonha de Lery Faria e Paulinho Assumpção

12 comments:

ana p said...

Eu não entendi nada :)
Bj

Primeira Pessoa said...

e nem eu...rs
abração,
roberto.

Andy said...

:) hehehe
confesso que nada entendi mas tem melodia, não acham?
Bjinho!

Jorge Pimenta said...

:-) Não entendi, mas a verdade é que consegui dançar nos movimentos das palavras.

Um abraço, Amigo plural!

Primeira Pessoa said...

andy,
é engraçados vê-los proseando... parece um outro Brasil...
e o Brasil são muitos...

musicalíssimo, Brasil

Primeira Pessoa said...

Jorge,
é muito louco isto, é como se fosse um dialeto só deles.
Mas é uma região muito sofrida, de um gente linda...
e o artesanato de barro (como canta Paulinho Pedra Azul na canção que toca sem parar) é de rara beleza, tem um traço muito peculiar.

se ainda não conhece o Brasil, amigo nortenho... vá preparado para conhecer muitos, num só.

O Brasil não é só litoral... já dizia uma canção cantada por Milton Nascimento.

Abraço das geraes....

Roberto.

Anonymous said...

Muito bom! rs... Eu entendi quase tudo, adorei!

Beijo.

Anonymous said...

Roberto, também não entendi, :-)!
Mas pelo menos já sei o que é um mineiro, hihih!
Beijo aí para as Gerais!
Laura

Primeira Pessoa said...

larinha,
você não precisará de um dicionário de jequitinhonhês quando for ao jequi.

eu tinha esquecido que ce tem um pezinho nas geraes.

beijão,
R.

Primeira Pessoa said...

ah, laura...
minas geraes é um estado de espírito.

além do mais, minas produz os melhores bairristas do brasil (rs).

líria porto said...

um tantim intindi...
sô da roça, uai!

transitoriedade
líria porto

a vida
(al)gibeira furada
carrega os dias
pra lá
e pra cá

cada
d
i
a
pinga um
d
i
a
até que um
d
i
a
vida não há

*

besos

Primeira Pessoa said...

líria,
tava me lembrando do tadeu contando causos na casa de zé pãozim...
e dei de ficar rindo sozim...


noite mágica.... que vai e vem, volta...