Monday, March 15, 2010



















estamos encostados a uma roulotte bebemos sangria
conversamos enquanto queimamos a noite
junto ao mar
o vento fresco surpreende-nos com as mãos nervosas
em redor dos copos embaciados a ternura dum olhar
não chega para iludir a embriaguez dos amores imperfeitos
sei que possuis ainda alguma juventude nesse sorriso
eu já só embebedo os lábios viciados pelas palavras
pouco tenho a dizer-te
toco-te no ombro faço promessas e tu ris
enquanto descobrimos no silêncio cúmplice do vinho
treme uma teia de luminoso sal onde a noite cai
sobreviveremos ao desgaste do amor
bebemos mais
para que haja só desejos e não amor entre nós e
o rapaz que tem a mania de espetar uma faca loura
no ombro do mar
La vie est une gare, je vais bientôt partir,
je ne dirai pas où.
calei-me
sabendo que me conduzirias até casa pelo caminho da praia
cambaleantes
e enquanto eu não conseguir abrir de novo os olhos
não partirás tenho a certeza
com a tua jaula cheia de luas mansas
apaziguadas

Al Berto


A Música Que Toca Sem Parar:
Caetano Veloso e Milton Nascimento cantam As Várias Pontas de Uma Estrela, de autoria dos dois.

12 comments:

Rafael Castellar das Neves said...

Mas que cena!! Bem detalhada que nos permite criá-la em nossa mente, mas proposta de forma simples...
Gostei do "enquanto eu não conseguir abrir de novo os olhos não partirás"! Sonhos...

[]s

Sueli Maia (Mai) said...

Há amizade que é assim - asa, brilho, eternidade.
Essa música me embebeu com sal, os olhos.
forte abraço

Primeira Pessoa said...

mai,
caetano e milton nos deram tatas coisas lindas, né?
chato é ver um e outro caindo em certas tentaçãos (milton, bem menos... que fique bem claro)...

adoro essa música. e milton é figurinha carimbada aqui nesse espaço. caetano, nem tanto.

abração do
roberto.

Primeira Pessoa said...

belo poema, né rafael?
é bom descobrir que existem jovens interessados por poesia.
costumo dizer que a vida sem poesia não tem graça nenhuma.

seja bem vindo ao blog.

abração do
roberto.

.maria. said...

habilidade sua a de unir as pontas dessas estrelas aqui.

Primeira Pessoa said...

maria,
ja tava com saudades de te ver por aqui.

bom demais te "re-ver"...

abraçào do
roberto.

ana p said...

Outro dos meus poetas preferidos...
Bj

Primeira Pessoa said...

vou aprendendo com vocês, magnólia...
vou aprendendo...rs

Anonymous said...

Ah, Al Berto, o que eu já andava a ressacar por ler alguma coisa dele! Obrigada
Beijinho
Laura

Primeira Pessoa said...

que bom que al berto te chegou em boa hora...
a boa poesia sempre sabe o momento certo de chegar.

abração, laura!

amizade, sempre, do
roberto.

Jorge Pimenta said...

Al Berto não é um Poeta; é toda a Poesia.
Há dois anos, a caminho do Sudoeste com amigos, em pleno Verão, visitei Sines pela primeira vez, a sua cidade-natal e aquela onde se fez poeta. Admirável! Como ele, a conjugação do belo e do horrível, do sentido e do non-sense, do céu e do inferno. Mas, não será isso, afinal, a essê3ncia da Poesia?...

Um abraço, Roberto!

Primeira Pessoa said...

Jorge,
já coloquei Sines em meu roteiro, quando de minha próxima ida a Portugal.
Toda vez que vou a Minas Gerais, gosto de ir a Cordisburgo, pequena vila onde nasceu João Guimarães Rosa, um dos maiores expoentes da literatura brasileira.
Trabalho a 5 km de onde está enterrado Allen Ginsberg e fico adiando o dia de colocar flores sobre a cama onde ele descansa.
Não, não é necrofilia. É respeito. Reverência.

É assim que sinto.
Abração, poeta!

R.