"Há uma hora certa,
no meio da noite, uma hora morta,
em que a água dorme.
Todas as águas dormem:
no rio, na lagoa,
no açude, no brejão, nos olhos d’água,
nos grotões fundos.
E quem ficar acordado,
na barranca, a noite inteira,
há de ouvir a cachoeira
parar a queda e o choro,
que a água foi dormir...
Águas claras, barrentas, sonolentas,
todas vão cochilar.
Dormem gotas, caudais, seivas das plantas,
fios brancos, torrentes.
O orvalho sonha
nas placas da folhagem.
E adormece
até a água fervida,
nos copos de cabeceira dos agonizantes...
Mas nem todas dormem, nessa hora
de torpor líquido e inocente.
Muitos hão de estar vigiando,
e chorando, a noite toda,
porque a água dos olhos
nunca tem sono".
- Guimarães Rosa -
8 comments:
“... além dos estados líquidos e sólidos, porque não tentar trabalhar a língua também em estado gasoso?!” Guimarães Rosa
Assis,
ele escrevia como quem bebe água.
Aliás, Guimarães era um caso de polícia.
Em BH, após a sua morte, a casa que ele mantinha na cidade virou um boteco, chamado Lulu. Frequentei o lugar. E parecia-me, depois da quinta cerveja, que ele ainda estava por lá, observando o movimento, fazendo anotações para o seu proximo livro. rs
A vizinhança tentou, durante anos, alegando a barulheira, fechar o Lulu.
Acabou conseguindo.
Só não conseguiu fazer com que eu me esquecesse dos bons momentos que desfrutei na casa onde um dia viveu Guimarães.
Abraço do
Roberto.
Roberto,
Que sabor novo (êxtase das frutas) que há em ler o Rosa - e os Outros - por suas mãos: de Manassés! Seu condão é fé poesia, só podem ser. Pois que você reencanta magias.
"Mãos de Manassés", eu mexplico. É que tô trabalhando uma cançãozinha pro músico, no embrião ainda, começo de começo. Mais ou menos isto:
MÃOS DE MANASSÉS
Eu queria ter mãos de Manassés
Pra moer música com meus pés
Eu queria ter mãos de Manassés
Pra tecer líricas com meus pés
Eu queria ter mãos de Manassés
Pra coser sílabas com meus pés
Eu queria ter mãos de Manassés
Pra colher pássaros com meu pés
(por aí afora adentro...)
Você tem que ver as gargalhadas mais gostosas (coisa de criança no circo), quando pronuncio a palavra manassés pra musa-esposa - coitada, é a primeira que sofre com tudo que invento de escrever...
__ "O que é isso, mã-na-céis? Achei feio, num gostei não." E desata a rir toda vez que eu repito o nome do cidadão de Maranguape. Uma delícia! Só você ouvindo...
Voltando ao Rosa, no poema-homenagem "Um Chamado João", Drummond indaga se João existiu de se pegar. O poema é todo pontuado de interrogações. A resposta é sua que frequentou onde o homem viveu, poeta.
Sempre um fã,
Ramos de cio.
Assim que voce terminar seu invento, Ramúcio, me manda, que mando pro Manassés.
Tem um tempão que não nos falamos. Esse é om bom mote pra ligar pra ele.
Tô trabalhando num texto pro programa de abertura de Cacau Brasil, um artista mineiro que vive em Fortaleza. Depois te mostro.
Beijão,
Roberto.
E o poeta, esse, nunca dorme nessa hora.
Obrigada pelas suas visitas ao blog.
A admiração é mutua!
Abraço.
Laura,
o poeta não dorme em hora nenhuma, creio eu.
Ele é o que sonha as coisas mesmo quando está de olhos abertos.
Seu blog é muito especial.
Sou useiro e vezeiro.
Abraços,
Roberto.
ô meu deus, quem me pediu emprestado o livro magma, de poemas do guimarães rosa e não devolveu?
grrrrrrrrrrrrrr...
o velho guima, sempre genial!!!
besos
cê já foi a cordisbursgo?
eu já...
deu vontade de beber cafezinho em caneca esmaltada, na cozinha do velho guima...
ainda volto lá.
e não há de demorar.
ah, ainda volto lá...
e não há de demorar.
cuba libre?
to mais pra cordisburgo do que pra hamburgo...
e não não é de agora...rs
tem dia, que de noite é assim.
saudades da sua presença.
beijão do
R.
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