.
TODAS AS PALAVRAS
As que procurei em vão,
principalmente as que estiveram muito perto,
como uma respiração,
e não reconheci,
ou desistiram e
partiram para sempre,
deixando no poema uma espécie de mágoa
como uma marca de água impresente;
as que (lembras-te?) não fui capaz de dizer-te
nem foram capazes de dizer-me;
as que calei por serem muito cedo,
as que calei por serem muito tarde,
e agora, sem tempo, me ardem;
as que troquei por outras (como poderei
esquecê-las desprendendo-se longamente de mim?);
as que perdi, verbos e
substantivos de que
por um momento foi feito o mundo.
E também aquelas que ficaram,
por cansaço, por inércia, por acaso,
e com quem agora, como velhos amantes sem
desejo, desfio memórias,
as minhas últimas palavras.
Manuel António Pina
Jornalista e escritor português
(Sabugal, Beira Interior, 18 de Novembro de 1943)
A Música Que Toca Sem Parar:
Roberto Mendes, Flor da Memória, melodia dele, vestindo as palavras de Capinam
29 comments:
Dá uma sensação de que certas palavras que escrevemos são sempre "últimas". Às vezes elas fazem isso conosco porque gostam de chamar nossa atenção, e os desfechos têm sempre cara de serem mais importantes...
É, dei uma viajada, mas para te alcançar, tenho que viajar mesmo =).
Muito bom o poema do amigo português aí.
Beijão, Robertinho do coração!
Confesso, não conheço a obra [o autor, só de nome] - o primeiro contato com sua poesia é aqui contigo... belíssimo!!!
Já reparaste como todas as palavras mais não são que silêncios disfarçando copos, risos e sonhos de cristal fino? Já reparaste como todas as palavras são, afinal, nada... e nós com elas... Satisfaço-me com os ecos da voz ou os borrões de tinta...
Um abraço, Roberto!
Larinha,
elas são sempre "últimas" porque deixam de nos pertencer.
jogadas no papel (mesmo aqui, nesse papel virtual do monitor) elas não voltam mais. algumas delas nos tocam de tal maneira, nos emocionam e sugam de tal forma que temos a sensação de que não brotarão as "proximas"...
fica essa sensação de deserto.
esse cariri.
ó, prestenção: de viagem em viagem.... a gente vai se fazendo.
Beijos, Larinha.
valeu, francisco.
fico feliz que tenha gostado.
abração.
Seu Jorge,
já reparou como você acordou inspirado hoje?
E as palavras?
Tudo.
E nós com elas...rs
abração, poeta.
nossa - tem poemas que nus pegam no figo!!!
besosssssssssss
ou na pleura...rs
esses portugas sabem tudo da lingua que inventaram.
t-u-d-o, lírica....
Eu quero todas as palavras contidas num silêncio ensurdecedor.
Beijoca.
Juliana,
as palavras... sempre as palavras... mesmo essas, embrulhadas (ou contidas) num silêncio ensurdecedor. (lembrei-me de uma música que tem essas duas palavras - silêncio ensurdecedor -. Pastores da Noite, parceria de hermínio Belo de carvalho e Vital Lima.... linda canção).
abração do
roberto.
As palavras são o melhor que conseguimos inventar para dizer o silêncio. A poesia é a sua morada. A música a sua cama.
Ai as palavras...que dizem tudo e nada.E podem dizer o contrário do que se diz, consoante quem as ouve. Ou também escondem...
Ai o silêncio... que sendo tão profundo e autosuficiente assusta tanta gente.
.
Obrigada pela tua visita e comentário, Roberto, assim como por teres postado o Manuel António Pina.
Abreijo
sempre aqui brilhantes escolhas... adoro seu brrog. rs. beijos, inté!
Especialmente as que calamos e depois nos doem tanto por dentro....
Beijo
magnólia,
daí a eterna dúvida: falar ou calar.
há quem prefira o consentimento.
estou entre os que verbalizam.
sempre. péssimo cabrito, morrerei berrando.
abração,
R.
uai, maria... quem faz o "brógui" é quem o frequenta.
sou um mero ascensorista deste "elevador".
beijão procê.
R.
ema,
às vezes o silêncio é a melhor companhia. e a melhor música.
calar, nem sempre é consentir.
vixe, maria! embolei o trem todo.
abração do
roberto.
jad,
tenho comigo a teoria de que a palavra foi a maior invenção do homem.
e acho que é a primeira vez que digo isto.
abração do
roberto.
E dizes bem, Roberto. Foi assim que se fez e se faz mundo. Pelo menos é a dimensão demiúrgica que nos é acessível.
Abraço
Delima,
As melodias de Roberto Mendes vestindo as palavras (Todas as Palavras, ele que já musicou o Pessoa pra Bethânia gravar) de Capinam é sempre lindo: parceria ímpar, poeta. Eu que tive a sorte de ter um poeminha meu vestido pela melodia dele (quem sabe um dia alguém desavisadamente grave nosso "Doce Amaro Amor"), guardo a imensa felicidade de me ter tornado amigo pessoal dele, de frequentar sua família e amigos. Ele que o quer conhecer há muito, Roberto, pois já é seu fã e sempre falamos sobre você quando nos falamos. E por falar nisso, finalmente consegui (tarefa difícil em Valadólares, né!) um portador que vai levar-lhe o CD do Samuel de Abreu aí em Newark, que o Mendes generosamente produziu.
E fico a lhe dever mais este poeta: Manuel Antônio Pina que ainda era inédito e dirperso pra mim.
Admiração de sempre,
Ramúcio.
Nossa, assim que comecei a ler o poema fui trocando palavras por pessoas, lembrando das "que estiveram muito perto, como uma respiração, e não reconheci, ou desistiram e
partiram para sempre, deixando no poema uma espécie de mágoa como uma marca de água impresente".
Fabuloso o poema do Manuel António Pina que só você, Roberto, posta para nos brindar neste espaço virtual. Obrigado e forte abraço.
da rama,
o engraçado é que passei o dia escutando roberto mendes (que pra mim é uma nostalgia presente... forte e pulsante)...
compartilho a música dele com quem posso e se interessa.
a juliana assina caribé, como ele. serão primos distantes?
saberemos.
outra coincidência: ontem, falando com celso adolfo ao telefone combinamos uma viagem à bahia. sairíamos de avião de BH até Vitória da Conquista (tenho amigos lá... Evandro Correa, compositor de talento... Balinha e Mita, irmãos nascidos do ventre de outra mãe) e Celso tem uma conexão com Elomar Figueira de Mello.
Iríamos à Casa dos Carneiros, passaríamos uns 3 dias em Vitória da Conquista e de lá rumaríamos para Santo Amaro (num carro alugado) conhecer Roberto Mendes. Tudo seria combinadinho, obviamente.
Fique de olho no lance, meu menino.
quem sabe voce não vai junto?
abração do
roberto.
PJ, meu paulo poeta...
poesia mesmo é sua presença nesse cantinho.
um dia irei a Natal (onde tenho um amigo querido... Falcão, que tem um dos melhores blogs de musica brasileira
( http://poeiraecantos.blogspot.com/ ), repleto de tesouros da nossa música.
te deixo uma abraço, poeta, que asina paulo.
abração do
roberto.
Jad,
é por isso que eu bebo (rs)...
e por outros motivos menos nobres, obviamente...
enquanto isto, vamos aprendendo, juntos, um pouquinho mais sobre esse ofícil difícil e complicado, que é o viver.
abração do
roberto.
Roberto,
Muito obrigado pelo link.
Muito bom este português. Abraços!
os lusitanos inventaram essa bela língua, nanini...
e fazem dela gato e sapato...
é intimidante...rs
valeu, poeta!
Brindo, Roberto, à vida e às palavras com que a fazemos e nos fazemos.
Abraço.
então,
brindemos à palavra, Jad.
tintim!
viva ela! viva nós!
fio
líria porto
rio sobre a ponte
rio sobe a ponte
rio sob a ponte
rio só
ponte
um ponto sem nós
*
besos
Post a Comment